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terça-feira, 17 de março de 2020

O SONHO DO MARINHEIRO



O SONHO DO MARINHEIRO

Essa é a minha vida, pensei. Esse é o meu lugar, mas algo me atraia em seguida em pensamentos e fantasias recorrentes após um longo êxtase alcançado. Deixar, ficar, sair e voltar. Nem tive tempo de me segurar aqui e logo já era a partida.

Amanheceu, a aurora dourava as cortinas e fazia os vidros das janelas brilharem com reflexos por todo quarto. Vi meu corpo sobre o leito e voltei aos meus sonhos.  

E se foi minha alma para outro lugar como a névoa dissipada de uma manhã em que os ventos do mar chegam para me lembrar que o meu lugar não é em terra firme ou no regaço de uma dama, mas sim no balançar da rede entre uma pilastra e outra de uma caravela. Com uma garrafa de rum esgotada entre os braços e o negrume da noite a proteger nosso navegar entre os canhões.

Ainda que tente me agarrar em terra firme e em teu belo colo manter minha cabeça, nas curvas alvas de tua pele perder o meu olhar, sob teus braços acalentado e aos cuidados de tuas mãos bem repousado, não fico aqui. O sonho me chama devo voltar ao mar, como aquele homem que encontra um tesouro no deserto, mas que não possui água para beber e só vai viver se a encontrar. Uma força me impele para longe de tua suavidade. Do teu tesouro eu sigo o mar de volta.

Penso que sem você não viveria, mas que sem o mar não acreditaria mais em minha vida e em minha existência, porque em cada sonho em que eu voltava, era minha vida que eu encontrava.

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