Olhei toda a série Trotski da produtora russa que assumiu
essa grande tarefa de fazer séries em homenagem ao centenário da Revolução
Russa. Acho - uma opinião minha sujeita a crítica e revisão - que ela peca em
vários aspectos.
O primeiro, para mim o pior de todos porque exagera muito na
simbologia e culpa, é essa demonização forçada de Leon. Segundo, a completa
faxina na reflexão intelectual, política, econômica e cultural dele que só
aparece superficialmente. Trotski era um homem de elevada reflexão e jamais
pode ser resumido a um sujeito passional ou meramente de ação. É um
empobrecimento medíocre. A terceira, que pode em parte ser perdoada, pelo
perfil ofensivo de Trotski que o afasta da pequena burguesia e do campesinato,
é o exagero no voluntarismo e no esquerdismo de Trotski.
A série, porém, permite vislumbrar a capacidade tática e
estratégica dele que não era calcada apenas em atos de violência estupida e
extrema, ao qual ele é resumido. Pelo menos em alguns momentos vemos a
combinação da disposição para a luta com a noção de tempo e oportunidade de
agir corretamente. Também desvaloriza demais os colaboradores construindo mais
uma vez a mitologia do homem heróico e individual e não prestando atenção ao
intelectual coletivo do partido bolchevique que era muito mais dinâmico e
intenso do que um partido dividido em pequenas caixinhas de reflexão. Eu não
tenho a menor dúvida de que a dinâmica coletiva dos líderes da revolução era
muito mais intensa e íntima do que aquela que é resumida a três personagens
apenas. Trótski, Lênin, Stalin não pensaram, não agiram, não decidiram e não
planejaram sozinhos. Não se pode subestimar e nem diminuir todas as demais
personagens dessa revolução. Para mim,
isso é extremamente deseducativo e explica porque atrás desse mito heróico
raramente ocorrem outras revoluções. A desconsideração sobre as demais peças
dessa engrenagem política – o que inclui as muitas mulheres que atuavam no
processo também, pesa contra o entendimento do processo. O conselho político,
sua composição, formação e dinâmica de decisão e reflexão, é para mim o
principal segredo de toda revolução ou processo histórico. Um personagem não
atua sozinho, nem três personagens. O coletivo envolve no mínimo entre 20 a 50
personagens articulados, afinados e com múltiplas relações, informações e
orientações sociais, culturais, políticas, religiosas e econômicas que se
fundem numa síntese que ora está em disputa e ora está em harmonia. A tomada de
decisão e a síntese final sempre é mais mediada do que é apresentada por essa
forma que mitologiza alguns indivíduos e enfeitiça as fantasias mais subjetivas
e personalistas dos expectadores. É a síntese disso o segredo guardado atrás
dessa mitologia. Por fim, me deu aquela coceira da práxis coletiva no espírito.
Outro aspecto que citei acima é o papel secundário das
mulheres na revolução que também é encobridor do sujeito real. Que é também um
dos sujeitos ou sujeitas revolucionárias cruciais na revolução.
A melhor parte desse seriado é que no oitavo episódio me
reconciliei ou, melhor, me reaproximei de vez com Trótski. Eu fiquei mais
trotskista do que nunca. Uma chama de coragem e virtude ferve em mim. Se unindo
em minha mente e em meu coração. Então, embaixo da camada grossa de
fetichização, deminização e personalização culpada do individuo histórico
consigo entender porque e qual tipo de honra revolucionária há nele.
Vale a dica.
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