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quarta-feira, 20 de março de 2019

TROTSKI; A SÉRIE E O PERSONAGEM


Olhei toda a série Trotski da produtora russa que assumiu essa grande tarefa de fazer séries em homenagem ao centenário da Revolução Russa. Acho - uma opinião minha sujeita a crítica e revisão - que ela peca em vários aspectos.

O primeiro, para mim o pior de todos porque exagera muito na simbologia e culpa, é essa demonização forçada de Leon. Segundo, a completa faxina na reflexão intelectual, política, econômica e cultural dele que só aparece superficialmente. Trotski era um homem de elevada reflexão e jamais pode ser resumido a um sujeito passional ou meramente de ação. É um empobrecimento medíocre. A terceira, que pode em parte ser perdoada, pelo perfil ofensivo de Trotski que o afasta da pequena burguesia e do campesinato, é o exagero no voluntarismo e no esquerdismo de Trotski.

A série, porém, permite vislumbrar a capacidade tática e estratégica dele que não era calcada apenas em atos de violência estupida e extrema, ao qual ele é resumido. Pelo menos em alguns momentos vemos a combinação da disposição para a luta com a noção de tempo e oportunidade de agir corretamente. Também desvaloriza demais os colaboradores construindo mais uma vez a mitologia do homem heróico e individual e não prestando atenção ao intelectual coletivo do partido bolchevique que era muito mais dinâmico e intenso do que um partido dividido em pequenas caixinhas de reflexão. Eu não tenho a menor dúvida de que a dinâmica coletiva dos líderes da revolução era muito mais intensa e íntima do que aquela que é resumida a três personagens apenas. Trótski, Lênin, Stalin não pensaram, não agiram, não decidiram e não planejaram sozinhos. Não se pode subestimar e nem diminuir todas as demais personagens dessa revolução.  Para mim, isso é extremamente deseducativo e explica porque atrás desse mito heróico raramente ocorrem outras revoluções. A desconsideração sobre as demais peças dessa engrenagem política – o que inclui as muitas mulheres que atuavam no processo também, pesa contra o entendimento do processo. O conselho político, sua composição, formação e dinâmica de decisão e reflexão, é para mim o principal segredo de toda revolução ou processo histórico. Um personagem não atua sozinho, nem três personagens. O coletivo envolve no mínimo entre 20 a 50 personagens articulados, afinados e com múltiplas relações, informações e orientações sociais, culturais, políticas, religiosas e econômicas que se fundem numa síntese que ora está em disputa e ora está em harmonia. A tomada de decisão e a síntese final sempre é mais mediada do que é apresentada por essa forma que mitologiza alguns indivíduos e enfeitiça as fantasias mais subjetivas e personalistas dos expectadores. É a síntese disso o segredo guardado atrás dessa mitologia. Por fim, me deu aquela coceira da práxis coletiva no espírito.

Outro aspecto que citei acima é o papel secundário das mulheres na revolução que também é encobridor do sujeito real. Que é também um dos sujeitos ou sujeitas revolucionárias cruciais na revolução.

A melhor parte desse seriado é que no oitavo episódio me reconciliei ou, melhor, me reaproximei de vez com Trótski. Eu fiquei mais trotskista do que nunca. Uma chama de coragem e virtude ferve em mim. Se unindo em minha mente e em meu coração. Então, embaixo da camada grossa de fetichização, deminização e personalização culpada do individuo histórico consigo entender porque e qual tipo de honra revolucionária há nele.

Vale a dica.


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