Na semana passada foi o tempo de
avançar no estudo da desigualdade social e das estruturas sociais sobre o
sistema de castas. Após a leitura do texto didático que tratava desse tema
clássico na sociologia, me lembrei da novela da Rede Globo Caminho das Índias
de 2009, para ilustrar o conteúdo. Perguntei se alguns alunos ou alunas
lembravam da novela em que as personagens viviam numa sociedade em que a
identidade distintiva de castas era sempre tema de discriminação e preconceito.
Muitos lembravam e haviam visto ela nesse exato horário das aulas, há dez anos
atrás. Quando eles tinham entre seis e dez anos, em sua maioria viram a novela
e guardaram as suas lembranças. Eles arregalaram os olhos quando perguntei quem
viu a novela.
Lembrei de um aspecto no drama de
uma difícil relação social ou mudança impossível de status de um dalid, por
exemplo, se apaixonar por uma brâmane ou
de um brâmane se apaixonar por uma dalid - podes pensar em outras combinações.
A censura e a pressão ou veto das famílias e da sociedade recai sobre eles por
pressão dos costumes que tem mais de três mil anos já. Mas também lembrei desse
tipo de divisão econômica na nossa sociedade que é herdeira dos estamentos e
divisões de classes do período colonial ainda, e que também é encenada em quase
todas as novelas. Isso aparece como um dilema romântico nas novelas em que um
pobre não pode se envolver com a filha da madame ou do patrão ou vice-versa ou
recombinado. Lembrei de meus testemunhos desse fenômeno de inclusão ou exclusão
de classe. Das perguntas sobre quem é o pai ou a mãe, para saber com quem você
estava se metendo, andando ou se envolvendo ou das histórias dramáticas,
juvenis e às vezes bizarras dos tais amores ou amizades proibidas. Lembrei da
expressão corrente das boas ou más companhias que encobria só a questão
econômica sob um manto moral ou comportamental. Por fim, ou quase fim como
verás, acabei pautando o quanto essa encenação ou drama permanece de enredo em
todas as novelas, de uma ascenção social por relação, casamento, amor ou
amizade ou mero convívio é ilusória. É a velha fantasia de uma espécie de paz
social inexistente. Ou de uma democracia racial plena e tranquila. E o quanto
essa separação de classes, castas ou estamentos exibe a desigualdade social e
também os mecanismos de dominação e exploração, sujeição e submissão dos
inferiores aos superiores seja por qual critério for. Por um instante parei e
perguntei aos alunos e alunas quem representa a classe social deles nos
parlamentos ou governos e baixou um silêncio profundo na sala. Deixei o tempo
correr e fiquei fitando eles e esperando. Um menino me perguntou: isso não é
uma inversão? Eu respondi, entendendo bem a aplicação alargada dele daquela
palavra naquele contexto, dizendo que não era bem uma inversão, mas sim um
logro, o fato de alguém que não tem nenhuma identidade de classe comigo ser
eleito por mim e atuar contra os interesses da minha classe, como no caso da
reforma da previdência. Em instantes a aula acabou e ele saiu balançando a
cabeça e resmungando de cenho franzido. Então, eu que votei nesse cara, votei
nele para ele fazer algo contra mim só porque tinha a ilusão de que ele estava
do meu lado. Nominou o candidato, seus colegas baixaram a cabeça, um citou
aquele meio frango grátis e outra aluna passou com os olhos expressivos que
suspendiam todas as interrogações da sala e a aula acabou.
Sim, é a triste verdade, o povo
brasileiro parece um bando de dalids votando em bramanes para preservar o
sistema de castas e a desigualdade social arrasadora e massacrante que vivemos
nesse país.
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