Estava seguindo a pista interessante na palestra do meu amigo e ex-colega de graduação Eduardo ("Lispector e Nussbaum: ensaio para um monólogo", com Eduardo Vicentini de Medeiros ) sobre a Paixão Segundo GH de Clarice Lispector, no que toca ao
pensamento desorganizado e achei esta reflexão cheia de anotações inconclusas e
com reticências ainda de 2012, sobre o mesmo assunto e outras coisas ligadas ao
desentendimento:
A característica mais
interessante do pensamento desorganizado é que ele desorganiza o dono e faz um
tremendo esforço para tentar desorganizar os ouvintes também...
Isso, quando vem expresso em
frases ambíguas, lacunares, com confusões incríveis entre sujeito/objeto e com
conexões lógicas de difícil compreensão...
E nas vezes que você conversa com
alguém assim e se dá conta de quanto esforço uma pessoa destas requer para se
expressar - e muitas vezes sorte - para obter os resultados que ambiciona ou a
que se propõe...me parece muito assim quando a linguagem se constitui numa
gaiola, numa falsa prisão, simplesmente construída através de algumas
incompreensões gramaticais e de algumas operações lógicas não bem
compreendidas....
Exclama o ouvinte: ó senhor, dai-me
a santa e bendita paciência....
E também porque nestas vezes
acabamos por suspeitar também do caráter do sujeito que se comunica desta
forma...Mas não devemos chegar a tanto.
E para aqueles que gostam de se
comunicar muito e claramente e que zelam não por uma moral da linguagem, mas
talvez muito mais por uma comunicação satisfatória é um grande desafio isso....
É porque você precisa de novo
apreender e ensinar coisas elementares...Aprender a ser generoso com seu
interlocutor e ajudar ele.
Com algumas partículas
elementares da nossa linguagem que também significam uma atitude de respeito
para com o outro....
E mesmo que ele não te entenda
tanto, mesmo que ele nem saiba ou tenha consciência de que está errado ou
habitando como um estrangeiro numa linguagem e num ambiente estranho,
desconhecido e não dominado...
E não é, no meu ponto de vista
aqui, muito correto afirmar que é de dar dó ou que não dá para conversar - numa
situação destas....porque estas pessoas também tem direitos e também merecem
respeito...
Veja que não podemos culpá-las ou
excluí-las de um diálogo por tais dificuldades...
E esta não é um indireta - é
somente uma reflexão inicial sobre algumas dificuldades e desafios sociais
provocadas por uma certa incompreensão da linguagem e de suas regras...E também
pela desorganização do pensamento em que estas pessoas habitam com sérias
dificuldades.
E isso aqui também não é um
diário - nem muito menos uma provocação...
Creio que temos que pensar nisto
- seja como professores e professoras, seja como cidadãos e cidadãs...Em nossas
comunidades de diálogo e em nossas diversas formas de interações sociais.
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