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terça-feira, 16 de maio de 2017

ENTREVISTA PARA UM EX-ALUNO: GUILHERME CABRAL, ABRIL DE 2017

1) Conta-me como te tornastes professor(a)! Por que escolhestes essa profissão? Como te sentes, hoje, no exercício do magistério? O que te dá mais satisfação na profissão? Quais são tuas dificuldades e frustrações?

Me tornei professor muito pelo exemplo de meus professores. Tive professoras e professores maravilhosos. Quando optei pela licenciatura pensava também no fato de manter parte de meu espírito juvenil se renovando e na questão de manter a vida conectada com a juventude e construindo conhecimento e compartilhando o prazer de aprender. Sempre fui muito investigativo e minha curiosidade é quase infinita e inesgotável. Esta curiosidade se realiza e muito na preparação das aulas e também em descobrir a forma como os jovens refletem e reagem sobre aquilo que a gente leciona. A verdade é que eu amo ser professor. Esta é a profissão que eu escolhi. Mas eu também sei que poderia ter dado errado, que eu poderia não conseguir ser um professor. Tinha este elemento de incerteza no começo, mas assim que comecei a lecionar, mesmo nos estágios já sentia o acerto da escolha. Os professores vivem muitas dificuldades hoje, em especial as materiais. Talvez isso sempre tenha ocorrido, mas eu sobrevivo a elas e não me frustro tanto. Consigo ter prazer, portanto, com esta atividade e creio que sei lidar com seus cavacos, dificuldades e com eventuais situações que fogem a minha formação para tal. Não tenho grandes dificuldades e frustrações, salvo a questão salarial que aborrece, mas contra a qual luto e milito no sindicato e nos espaços públicos em que atuo. 

2) Se pudesses escolher, deixarias de ser professor/a? Por quê?

Não deixaria de ser professor, por que tenho convicção na escolha, satisfação no exercício e muito prazer nas relações cognitivas, afetivas e pessoais com os alunos e alunas do ensino médio. E eu adoro ser professor, mesmo que sinta a desvalorização salarial, o desrespeito e desprestígio da nossa profissão com meus colegas. Apesar de tudo não consigo desistir de ser professor, persisto lecionando e lutando pela educação pública e pela nossa dignidade profissional.

3) Como construíste/constróis a tua forma de ser professor/a? Que influências mais marcaram a tua formação? O que ou quem inspira a tua docência? 

Construo a minha forma de ser professor a partir da experiência e da reflexão sobre ela. Tento articular sempre a prática docente com teorias e idéias pedagógicas, psicológicas, sociológicas e filosóficas. Baseio muito minha docência sobre o contexto histórico que vivemos e sobre o qual devemos refletir, interpretar e nos posicionar. Além da aquisição de teorias, creio que é preciso incorporar a sabedoria prática ou técnica de outras pessoas. Também é importante defender e construir uma compreensão sobre certos valores humanos e culturais. Seguir exemplos de paciência, boa vontade, boa fé e respeito a dignidade das pessoas. As influências de meus pais, irmãos e parentes foram muito importantes nesse sentido, de meus professores e professoras são decisivas, e sou permeável também às influências de muitos amigos e amigas, alunos e alunas, colegas e, também, de pessoas comuns de outras profissões e atividades. Meus professores de história, geografia, letras e artes foram fundamentais durante a educação básica. No ensino superior, muitos professores e professoras e, também, colegas me influenciaram em aulas e em diversos tipos de discussões, painéis, defesas de teses e dissertações e apresentações de trabalhos. Recebo muitas influências de diversos teóricos da educação e a participação em seminários, debates, projetos, programas e também minha participação sindical me influenciaram muito. Mas também recebo no meu ofício de professor uma forte influência do teatro, do cinema, da música e de muitas outras artes. Minha forma de ser professor é baseada nesta apreensão de exemplos e no exercício de construir a experiência em sala de aula e na preparação das aulas, das atividades e das avaliações e feed backs dos alunos e alunas.

4) Que professor/a gostarias de ser hoje? Crês que, na prática, te aproximas desse perfil? O que precisaria ocorrer para realizares essa perspectiva?

Eu me sinto muito feliz com minha forma de exercer o ofício hoje. Misturo muita arte e música nas aulas, abro os temas e conteúdos para o tempo atual e as vivências dos alunos e alunas e, também, sempre procuro conectar as temáticas com as experiências, fatos e acontecimentos do presente. Tenho investido mais energia no conhecimento e no relacionamento humano e compreensivo dos alunos. Minha realização está baseada no objetivo de conhecer e compreender os alunos, construir conhecimento com eles e trabalhar com as opiniões deles, somando a isso a oferta de informação precisa sobre os fatos e reflexão conceitual rigorosa. Creio que me aproximo sim na prática deste ideal.  
Escola e seu projeto

5) Na tua opinião, qual o papel da escola na sociedade? O que, para ti, seria uma escola ideal? Na prática, a tua escola se aproxima dessa perspectiva? Em que dimensões? Em que deveria avançar para alcançá-la?

A escola deve contribuir na construção e na aquisição de conhecimento. Deve ser democrática e realizar-se com diálogo, busca de entendimento e respeito às diferenças. Deve formar os jovens para serem boas e excelentes pessoas, profissionais e cidadãos. Vejo na minha escola um grande esforço e trabalho neste sentido. Diria que me sinto nela um professor realizado. Em colaboração com os colegas, professores e funcionários de escola, com os alunos e alunas e com os pais e demais membros da comunidade temos desenvolvido um trabalho que dignifica a escola e as pessoas que passam e atuam nela. Sou muito orgulhoso da escola que construímos juntos. Vamos avançar muito no sentido de humanizar ela cada vez mais, introduzir mais atividades culturais e desenvolver projetos alternativos e progressistas com a participação intensa dos alunos como já temos feito.

6) O Projeto Político-Pedagógico da tua escola é do conhecimento de todos os que com ela interagem? Como se deu o seu processo de construção? Foi construído de forma coletiva? Indica crenças e valores da comunidade escolar? Qual é sua linha pedagógica (princípios pedagógicos que segue)?  Interfere nas decisões cotidianas da escola?

O Projeto Político-Pedagógico da escola incorpora as idéias que apresentei acima. Queremos aumentar a divulgação dele e já propomos avaliação anual pela comunidade escolar do mesmo ao final do ano letivo de modo a conferir os resultados e a aplicação dos seus princípios e valores.

Docência e políticas educacionais

7) Crês que o/a professor/a pode interferir nas políticas educacionais? Na escola em que trabalhas costuma haver espaço para discuti-las? Como as políticas educacionais repercutem no trabalho cotidiano de tua escola? E de tua sala de aula?

O professor deve interferir em todas as políticas educacionais. Não faz sentido algum impor política educacional sobre os educadores e os educandos. Quando isso ocorre a educação perde sua capacidade transformadora e as resistências a toda imposição dessa ordem são legitimas. A educação e os projetos de educação não fazem sentido sem a participação dos educadores, alunos e cidadãos. Mas, na minha opinião, é preciso resgatar em muito isso, porque existem muitos gestores que tem predileção por implementação de projetos sem discussão, sem questionamentos e sem contestação ou sequer aceitando o aperfeiçoamento das propostas. Isso é um desrespeito com os trabalhadores em educação.

8) Quais são as propostas de políticas educacionais para teu município? Podes relatar alguma que te é simpática? Acreditas que podes, como cidadão(ã), interferir nessas políticas? De que forma?

Vou priorizar aqui na minha resposta a este ponto sobre a participação dos cidadãos e cidadãs na construção de uma escola democrática e plural, com respeito às diferenças, na defesa dos direitos dos cidadãos e trabalhadores e na promoção de uma cidadania responsável e comprometida com os destinos da sociedade. A melhor interferência é participar de todos os fóruns de discussão sobre a escola, a gestão escolar e seus projetos.

9) Como a escola participou: da elaboração do Plano Municipal de Educação de sua cidade; do estudo e contribuição na Base Nacional Comum de Currículo da Educação Básica?

Nossa escola pertence a rede estadual de educação. Participamos, apesar disto, do processo de construção do plano via representação sindical em conferências municipais. Eu mesmo participei e dialoguei muito sobre este tema.


Foi um prazer participar desta entrevista e contribuir para a formação docente de um ex-aluno meu.

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