Quando li o trabalho do Professor
Renato Janine Ribeiro, sobre Hobbes no final dos 80, com meus limites de
entendimento e de leituras do contratualismo, de Hobbes e da Política ou
Ciência Política, eu imaginava que ele trataria deste tema do medo na política
também. O título da Obra era muito atraente: AO LEITOR SEM MEDO;. (Hoje quando
leio Locke e se confirma o fato de que o mesmo manteve suas obras e posições
políticas de certa forma anonimas até os 57 anos, devo reconhecer o destemor de
Hobbes.) A edição de AO LEITOR SEM MEDO saiu pela Brasiliense e foi algo ler
aquilo.
Porque nas aulas de filosofia
política - em especial com o nosso mestre Brum Torres e o memorável BBF - a
gente aprendia que o medo era uma espécie de primeiro motor para o pacto
social. Ele determinava como uma paixão ou força motriz a necessidade de um
pacto para se conseguir superar uma condição original desconfortável e
insuportável. E tenho tratado desde então em minhas aulas que a origem do
estado só poderá ser resultado de uma equação entre necessidade e
racionalidade. De que isto não aconteceu por acaso, acidente ou por algo
displicente, ou seja, que os agentes que geraram esta forma de associação por
mais primitiva que ela tenha sido estavam interessados, comprometidos e que
reconheciam a necessidade de fazer tal coisa.
A pressão do medo entre os homens
- homini lupus homini - passa a provocar a reflexão deles, promove o
reconhecimento de alternativas e opções e gera uma escolha que moveria os
homens a um acordo entre eles. Penso em uma forma de opção pelo melhor. Desta
forma arriscar se associar é melhor do que ficar como está. A confiança por
mais limitada e imprevisível em seus resultados que pareça de um ponto de vista
a priori - não havendo maior garantia do que a palavra ou algum assentimento -
seria uma aposta em algo melhor e constituída e observada dia após dia a partir
de então.
Tenho, assim, desde então, uma
intuição que me marca de que o oposto ao medo é a confiança. Nem é a segurança
ou a esperança, mas a confiança num sistema que tem sua eficácia. O pacto deve,
então ter passado por uma espécie de arranjo e rearranjo de confiança em que
vencidas certas etapas se avança nos acordos ou se retrocede, como aliás tem
ocorrido na história. Não há nada que garanta ou confirme mais as expectativas
do que a verificação constante e reciproca das ações e dos compromissos,
promessas ou declarações de intenções. Podemos chamar este sistema de organização
ou instituição.
O problema que vemos aqui é sobre
certa visão desta confiança não se sustentar na prática. os indivíduos tem em
si mesmos um sentimento de que podem trair ou ser traídos ao sistema. Há
sempre, por mais documentos que se assinem ou discursos que se profiram uma
certa insegurança e esta insegurança ou aposta menor gera expectativas
negativas ou positivas. E mesmo com uma organização estável em seus estatutos
ou omertás podem haver enganos, porque as organizações dependem de indivíduos
que cumprem papéis chaves nelas e que também são suscetíveis, instáveis e
mutáveis.
Os indivíduos por melhores que
sejam vivem ciclos e sofrem abalos, tem seus altos e baixos e suas
fragilidades. Aqui me parece haver a situação que consagra o individualismo
como uma terra em que os fracos não tem vez e em que há sempre a lei do mais
forte.
A saída recente do AGU atirando
para todo lado e afirmando que o governo Temer quer abafar a lava-jato, me
lembra muito isto como característica na direita: eles não confiam na própria
sombra e nem são leais entre eles mesmos. E este é o vetor que os aniquila no
médio prazo também. Por isto creio que esta dialética é instável na história. E
oscila de forma contraditória em diversas estruturas.
O fato do PMDB mandar em tudo
hoje associado a isto me lembra que este é o começo do fim deles também. Mesmo
que se diga que estão nesta posição a mais de 30 anos.
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