“Um dia, há trinta anos, quando
eu tinha 15 anos de idade, fui encontrar minha mãe no seu trabalho, no horário
do almoço. Ela então trabalhava na Fundação de Economia e Estatística, em Porto
Alegre. Enquanto esperava na portaria do prédio, uma mulher negra, muito magra
e, pela aparência, muito pobre, pediu ao porteiro um copo d'água. Visivelmente,
estava passando mal. O porteiro pediu para ela sentar-se. Parecia estar tonta,
seu rosto era de sofrimento. Ficou alguns minutos ali, à minha frente, bebendo
seu copo d'água. Nesse meio tempo, entrou no prédio a chefe de minha mãe, que
imediatamente viu qual era o problema. Virou-se para a mulher que sofria,
cumprimentou-a e perguntou: "Comeste alguma coisa hoje, tomaste café da
manhã?" Constrangida, ela respondeu que não. Dilma Rousseff então tirou de
sua carteira dois vales-refeição e disse para essa mulher: "tome, coma
alguma coisa". Ao porteiro, disse: "ela não estava com sede, nem
estava passando mal, está é com fome". Despediu-se de todos e foi para o
seu trabalho. E eu fiquei ali, observando a cena toda. Foi uma lição para mim.
Lembro dela perfeitamente, ainda hoje. Assisti ao discurso de Dilma no Senado e
acho que ela se saiu muito bem. Esteve desta vez, como da outra, há trinta
anos, acima das suas circunstâncias.”
A dignidade e o caráter de quem
está "acima de sua circunstâncias" é para mim também sempre uma lição
do que há de mais nobre em nossa humanidade. Também tive o prazer de conhecer
Dilma naquela instituição. Coube à mim aplicar uma entrevista nela. É na época
me ocorreu a mesma percepção que você aqui descreveu. Ela era muito superior às
suas circunstâncias. E foi inclusive este o tema de nossa conversa fora da
tarefa que me cabia executar. Ela me perguntou o que eu fazia. E eu disse que
estudava filosofia e estava desempregado fazendo algumas pesquisas para me
manter estudando. Ela então se apresentou para mim e disse que estava ali
naquela mesa em meio à sala de passagem entre uma tarefa maior ou outra e que
tinha bons projetos que logo se iniciariam. Três anos depois ela assumia como
Secretária de Minas e Energia do Governo Olívio Dutra de onde n passo de alta
performance e grande perícia passou em sete anos para a equipe de transição de
Lula, para o Ministério de Energia e logo após em 2005 substitui José Dirceu
como chefe da casa civil. E ontem quando vi os olhos dela marejados fazendo
aquele discurso logo após a confirmação do golpe, me lembrei disto de novo e
fiquei olhando ela é ouvindo até o final com Maiakovski e tudo. Ela sempre
estará muito acima de suas circunstâncias e das nossas também. O contraste
disto com o usurpador é para mim assombroso. É nestas horas que penso mais
ainda de que nossa educação precisa mesmo conter componente de educação da
sensibilidade. Mas este é outro papo. Esta bela memória do Rogério me fez
lembrar e repetir o relato desta minha também de novo.
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