"Uma coisa em todo caso é certa: é que o homem não é o mais velho e nem o mais constante problema que se tenha colocado ao saber humano (...)
O homem é uma invenção cuja recente data a arqueologia de nosso pensamento mostra facilmente. E talvez o fim próximo.
Se estas disposições viessem a desaparecer tal como apareceram, se, por algum acontecimento de que podemos quando muito pressentir a possibilidade, mas de que nesse momento não conhecemos ainda nem a forma nem a promessa, se desvanecessem, como aconteceu, na curva do século XVIII, como solo do pensamento clássico — então se pode apostar que o homem se desvaneceria, como, na orla do mar ( na beira do mar, n.m.), um rosto na areia".
Michel Foucault. As Palavras e as Coisas
NOTA DO BLOG - Sempre me lembrarei de uma aula magistral do Professor Balthazar sobre filosofia moderna que ia desaguar em Descartes e as Ilusões da Razão, em que ele inicia no primeiro dia do curso com esta citação (sem a fonte) gerando na mente dos pupilos um sei-lá-o-quê . Todods embasbacados porque julgavam que o professor era um racionalista de primeira linha e de repente ele nos tasca com esta gigantesca ignorãncia do homem sobre si mesmo.
Mais tarde se descobriu de onde vinha esta expressão "o homem é uma invenção recente" em que ele emendava dizendo que a razão humana mal ocupa-se de si mesma ainda em menos de 300 anos.
À época a expressão nos suscitou um problema básico de epistemologia: então o que é que Sócrates queria dizer com o conhece-te a ti mesmo. Mais tarde fui entender que não é de uma antropologia que se fala aí não. Ecce Homo.
O problema é que antes de tematizar um homem como problema a nossa episteme tratou mais de Deus e da Natureza. E mesmo após o século de Descartes que marca o surgimento do homem como ocupação e tematização filosófica me pareec que ainda estamos engatinhando nesta questão.
E não disse mada aqui sobre As Palavras e as Coisas de Michel Foucault obra na qual esta passagem é suas últimas e derradeiras linhas conclusivas, que merece mais atenção hoje, não pela originalidade, mas por seus extraordinários efeitos em ciências sociais e outras epistemes.
Agora Chega.
Avant les infants
A teoria de Foucault, vinte anos após sua morte, causa-nos um espanto que será ainda maior quando pudermos perceber a enormidade do alcance de sua investigação como diagnóstico do que vivemos, do que somos, do que deixamos de ser, do modo como inventamos a nós mesmos.
ResponderExcluirEu estou estudando o Foucault e gostaria de ver mais post sobre ele. É um autor imprescindível de conhecer.
òtimo Blog. Parabéns! [Admarino Júnior]