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quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

A MULHER QUE MENTIA PARA SI MESMA

Ela era uma mulher muito linda, charmosa e alegre. Pelo menos, era isso que a minha miopia e sensibilidade enxergava nela. A beleza dela, porém, para confirmar minha fantasia, provocava suspiros até nas demais mulheres que andavam por perto ou que a conheciam. Seu charme dobrava todos os metais e chaves quando ela passava. Ela emanava um certo calor por assim dizer. Sua alegria – naquele riso desbragado - dava uma bela abalada em todos os amigos e amigas que chegavam muito perto ou que a conheciam.

Mas ela só possuía um defeito: mentia, mas não mentia para os outros não, mentia para si mesma, muito mais para si do que para qualquer um que andasse por perto. Assim, ela se salvava de qualquer acusação e ninguém podia chamar ela de mentirosa. Seria uma injustiça com ela. A injustiça ficava toda dessa forma na conta dela mesma. Ela podia falar o que quisesse, mas nas dobras de certas coisas que dizia revelava seu engano próprio e a injustiça que cometia consigo mesma. E esta foi, enfim, a impressão mais forte que eu tive dela quando ela me disse certas coisas e depois disse outras. Eu acreditava nela, mas duvidava muito que ela acreditava no que dizia. Eu não tinha coragem de julgar ela uma bela moça contraditória, não conseguia admitir tamanha ambivalência em uma pessoa só.
Sabe de que forma eu sabia disso? Simplesmente porque eu tinha uma boa memória e pegava ela indo e vindo com significados diferentes para as mesmas palavras. Até mesmo alguns dos conectivos, operadores lógicos e partículas da nossa linguagem elementar mais conhecidas como: sim, não, ou, e, então, possível, necessário, algum, um, vários, a maioria ou a minoria, muitos ou poucos mudavam de significado e alteravam o sentido do que ela dizia ao longo do tempo.    

E eu sabia disso, então, sabia que ela estava no fundo a mentir sobre os seus sentimentos e a negar ou afirmar o seu desejo de uma forma tíbia ou fraca, suscetível à certas variações espontâneas ao longo do tempo. E, então, eu dobrava a minha vontade de falar e de contestar – intuía o tamanho disso e como já havia tido a experiência de outros insucessos na vida, ficava ali calado e admirado. Olhava bem nos olhos dela para ver o modo como ela fazia aquilo, me admirava com o que via e ficava bem quieto. Não podia dizer nada mais, nem menos, senão seria envolvido nessa trama, seja por concordar e assentir, seja por discordar e entrar no jogo de espelhos quebrados que a cercava. E não estava disposto de acompanhar a transmutação dos significados do que ela dizia ao longo do tempo. Percebia nisso uma espécie de catarse interna na moça e ficava ali observando a progressão do espetáculo.  

E eu aprendi a ficar assim à certa distância vendo o que acontecia com os cachorrinhos de estimação que ela possuía. Nenhum deles passava fome, mas eu sabia que cada um deles só recebia migalhas do que ela realmente tinha ou me parecia ter para dar.

Um dia ela disse que queria receber muito mais e eu fiquei pensando. Bem garota, vais ter que dar bem mais, para ter mais. E nunca mais falei disso com ela, porque eu não podia me envolver mesmo em uma trama destas.

Kerouac já havia me ensinado que a gente não pode se envolver muito com quem não sabe o que quer ou com quem sabe demais o que quer. Dizia que a demasia tornava insuficiente qualquer coisa, mesmo que fosse o máximo que você tivesse para oferecer. E, então, eu fiquei só observando como as coisas iriam se desenrolar. Como acontecia essa mutação nas convicções dela e que me deixavam tão espantado ao ver um caso objetivo de um mais que vira menos e de um menos que vira mais. Era como se eu assistisse o detalhe virar totalidade e a totalidade se transformar em detalhe durante um certo período de tempo razoavelmente curto que oscilava de uma semana para outra ou de um mês para outro. Isso foi feito por mim até que aquela bela imagem se dissipasse no retrovisor da minha vida e nunca mais falei disso, salvo agora que me coloquei a reescrever essa anotação de 2013.

Hoje me lembrei disso de novo. Porque acabei de tomar um banho e ler 10 páginas bem saborosas de um livro muito legal. E o Sol e o Mar em sua beleza sempre me trazem na lembrança a esperança de que tudo podia ser diferente, pelo menos comigo...sopra a brisa e escuto um som suave...e a música enuncia outra vez a repetição da mesma trama e do mesmo desfecho. E desta vez comecei a me vigiar mais celeremente para ver se isso não era contagioso. E saber, enfim, se agora tal coisa não estava acontecendo comigo de novo, mas desta vez com outras pessoas ou personagens.

Ao final do dia me olhei no espelho da sala e assisti minha própria imagem se dissipando e conclui que isso era perigoso. Porém pensei que assim como as coisas podem vir a ser, assim como as coisas podem acontecer como aconteceram com ela, comigo e com outras pessoas, talvez um dia elas deixem de acontecer e essa mentira se dissipe e fique apenas no  lugar de suas mensagem a imagem das pessoas vivendo em paz e no mais pleno auto entendimento e entendimento com os demais.

Eis que acordo do sonho e eis que o pesadelo se extingue e restam deles apenas essas mensagens acima, registradas numa folha branca, sem guardar nenhuma relação com alguém em particular, salvo comigo mesmo que deitei em palavras o que minhas percepções, minhas ideias e minha imaginação tentavam dizer sobre essa mulher que era uma mulher muito linda, charmosa e alegre.   
      


segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

NIRVANA – CHARLES BUKOVSKI

Nenhuma chance, completamente sem propósito.
Ele era um jovem viajando num ônibus
através da Carolina do Norte e em algum ponto
começou a nevar.

O ônibus parou em um pequeno café
nas colinas e os passageiros entraram.
Ele sentou no balcão, como os outros,
pediu um lanche rápido e a refeição foi
particularmente boa como o café.

A garçonete era o contrário das mulheres
que ele tinha conhecido.
Ela não era  afetada, havia um humor
natural vindo dela.

O cozinheiro da chapa disse coisas loucas.
o lavador de louça, na parte de trás,
riu um sorriso límpido, bom e
agradável.

O jovem olhou para a neve através das
janelas.
Ele queria ficar ali naquele café
para sempre.

Um sentimento curioso atravessou ele
de que tudo estava
ótimo, de que sempre  fica belo lá.

Então o motorista do ônibus
disse aos passageiros que era a hora de
embarcar.

O jovem pensou, vou ficar sentado aqui,
quero ficar aqui.

Mas então levantou-se e seguiu
com os outros no ônibus.

Encontrou seu assento
e olhou para o café mais uma vez
através da janela do ônibus.

Então o ônibus moveu-se,
desceu uma curva, para baixo, para longe
daquelas colinas.

E o jovem mirou uma reta para trás,
E ouviu os outros passageiros
Falando de outras coisas,
alguns liam ou estavam
tentando dormir.

Eles não tinham notado
aquela mágica.

O jovem colocou a cabeça para
o lado,
fechou os seus olhos e fingiu
dormir.

Não havia nada mais a fazer -
apenas ouvir o som do motor,

o som dos pneus na neve.

VERSÃO MINHA DE 24 DE DEZEMBRO DE 2017
DANIEL ADAMS BOEIRA
6 anos após a primeira leitura.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

SOBRE O PAI CULPADO

A gente leu muita coisa neste domingo aqui. Ontem foi dia dos pais. Fica sempre uma sombra sobre os pais culpados rondando esse dia. Tem uma contradição de fundo que ninguém ousou tocar ainda. Pelo que li pelo menos. Parte da luta feminista para mim consiste também em se aceitar que as mulheres não são obrigadas a serem mães e também não são obrigadas a serem boas mães, simplesmente - ainda que não seja simples isso - porque elas podem não conseguir ser mães ou boas mães. Mas com os homens o papo continua igual. Tudo se passa como se os homens fossem obrigados a ser pais ou bons pais, fora isso o inferno para eles. Eu creio sinceramente que ninguém é obrigado a nada. A lei pode impor tuas responsabilidades, cobrar compromissos, mas não será por ela ou por força dela que serás uma boa mãe ou um bom pai. Portanto, eu tenho orgulho de ser pai e me acho um  pai razoável, mas não creio mesmo que todo homem deve ser pai ou bom pai, porque pode não conseguir ser isso, assim como muitas mulheres também não conseguem ser boas mães. O episódio da última música do Chico Buarque mostra isso também. Conheci crianças abandonadas por mães e por pais. Conheci pais e mães naturais que não conseguiram ser tal coisa. E eu não vou ficar fazendo aquele jogo de culpa e pecado, condenação ou martírio por isso com eles. Desejo que eles sejam compreendidos e que se auto-compreendam também. Eu acho ótimo ser pai - é uma das principais experiências da minha vida - e conheço outros pais e mães maravilhosas e impressionantes, mas também conheço super mães e super pais de pessoas medíocres e mesquinhas, mimadas e que são tão super protegidas que são incapazes de compreender as dificuldades dos outros, são tão auto suficientes por conta de todo o apoio que receberam que não conseguem compreender ou ter qualquer empatia com quem não teve todo esse apoio. E ai entra o meu fulcro nesse debate. Ser pai ou ser mãe não é questão de culpa ou de mérito, é apenas uma entre tantas outras experiências da vida e alguns podem ser infelizes nisso e, se pode ser infeliz nisso tanto por excesso quanto por escassez, no entanto, nós não precisamos desprezar ou condenar essas pessoas, nossos juízos sobre elas sempre vão precisar ser relativizados e suavizados pelos elementos desconhecidos e imponderáveis que nos impedem de julgar, mas que podem nos abrir para compreender eles como são, como conseguiram ser e talvez pensar como eles podem ser. Ainda há, para terminar, por força das coisas e das gentes, pais e mães que foram infelizes em certas paternidades ou maternidades e felizes em outras. Penso que é bom deixar então um espaço para a redenção, assim como é bom compreender melhor os insucessos pelos limites não pela vontade ou apenas disposição de uma pessoa. Sei muito bem que amor, boa vontade para com o próximo e disposição incansável ajudam muito, mas nem todos conseguem ter. Portanto, é razoável não somente suspender o juízo sobre bons pais e boas mães e suas contrapartidas negativas, mas também ir mais devagar com o andor nessa procissão da vida.    

P.S. Minha primeira publicação no blog após quase dois meses sem colocar nada aqui. Muita coisa no facebook não veio para cá e ainda tem uma tonelada de inéditos e não publicados de uma vasta produção que desde o incio do ano tem ocorrido quase de forma incontrolável. Creio que nos próximos dois meses estas coisas todas vão acabar aqui. Abraços.       

sábado, 24 de junho de 2017

O PESO DO PASSADO

Eu entendo em parte o que acontece com muitas pessoas em relação ao seu próprio passado.

O passado cumpre uma espécie de papel de peso na sua forma de ver as coisas no presente e construir perspectivas de futuro.

Muita coisa as prende às perdas ou ganhos do passado.

Mas o passado não pode e não deve ser o guia para deliberar o tempo todo sobre o futuro.

Também as nossas experiências e as nossas crenças sobre elas precisam ser postas em questão.

Não existe e nem precisa haver interpretação definitiva ou questão fechada sobre o nosso próprio passado.

Ou seja, você não é obrigado a ficar preso a interpretação que você tinha de suas experiências.

Pode mudar isso e parece mesmo que fazer isso facilita na sua libertação desse peso.

Somos mais justos com nossas experiências quando fazemos isso.

Tanto o nosso peso quanto as culpas e também o papel dos outros em relação ao teu passado podem mudar.

Se você não mudar isso pode passar o resto da vida ruminando com os mesmos elementos e o mesmo sofrimento ou as mesmas ilusões do seu passado.

Salvo se você deixar que isso aconteça.

Nossa avaliação do passado incide sobre nossas decisões atuais.

Comparamos experiências e projetamos a sombra e a luz delas sobre as nossas perspectivas atuais.

E quando as justificativas para a decisão sobre o presente e o futuro, são inferiores a ela, então é só uma questão de decisão mesmo.

Creio que as razões do passado e da experiência pregressa devem sempre ser levadas em conta, mas são na maior parte dos casos inferiores às questões e aos elementos postos no presente.

Olho para isso como se houvessem camadas diferentes de razões.

As razões do passado são apenas a base, mas não a base definitiva dos nossos raciocínios.

Precisamos atualizar elas com os elementos do presente.

Pressupor que algo pode estar oculto também pela sombra do passado e que as expectativas do futuro também podem encobrir isso.

Então, eu discordo mesmo deste recurso generoso da gente em buscar as razões principais onde elas não se encontram mais.

Será isso um impulso neurótico ou paranóico?

Será isso o reflexo de um impulso a se auto boicotar?

Será isso uma espécie de negação inconsciente de si mesmo e talvez do outro?

São perguntas possíveis para se pensar nesse peso do passado.

Não sei, mas desconfio que é algo que acaba sempre limitando os cursos de ação e as possibilidades do presente e do futuro.

Se as razões do passado fossem definitivas, não haveriam variações nos cursos de ação frente às circunstâncias semelhantes.

Veja que não é um tema conceitual, de mérito ou de princípio, a decisão de não fazer ou fazer é só uma decisão.


E ela começa justamente quando as condições para fazer não são criadas ou quando são e você percebe que é possível se diferenciar do passado adverso ou diverso do presente e do futuro aberto em perspectiva.

CLARICE CLAREANDO

"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."


Clarice Lispector

Intervalo entre um pensamento libertador por não pensar com Clarice e um pensar além.

ALÉM DO LIMITE, PENSAR MAIS

E quando te disserem abra sua mente, entenda simplesmente: pense mais.

Que você tenha coragem de pensar mais. Talvez isso seja bem mais fácil e bem mais importante do que você tem imaginado. Sim, você pode andar fazendo pouco caso do pensamento.

Creio que para isso o foco é repetir este esforço como um exercício. Repetir até dar certo. Até você se libertar do seu limite anterior.

Exercitar o pensamento para além do seu limite. Esticar e espichar o seu alcance. Ir além, muito além do que você tem ido. Isto é, ali onde você tem dito chega, não precisa mais nada, já é suficiente, avançar e prosseguir. Sair desse limite auto imposto por sua insegurança.

Veja isso é só um começo. Você vai descobrir muitas coisas se ousar fazer isso. Se você passar do seu limite tradicional.

Ouse ultrapassar a idéia enganadora e limitadora de que só é possível pensar uma coisa de cada vez, tente parar de pensar de um único modo já habitual e já conhecido, não se prenda em um modo ou em uma única direção.


E não reprima sua mente. Aceite algumas besteiras. Porque talvez ela possa ser melhor e mais ágil por ser a possibilidade de pensar livremente, a possibilidade de te libertar de uma cadeia já conhecida é muito frequentada dos teus pensamentos.

domingo, 28 de maio de 2017

SOBRE CRENÇAS AINDA – 2011 REDIT

Em uma aula de filosofia nos confrontamos com muitas crenças, suspeitas e dúvidas geradas em profusão nos tempos de hoje. De certa forma parece ter sido aberta a porteira para isso nos últimos tempos. Muita gente tem desconfiado que o homem ou que os americanos não pisaram na lua. Ok pessoal!!! Vamos lá. Não vou provar nem que sim e nem que não. Vou deixar apenas uma dúvida no ar. Qualquer um de nós sabe que a verdade de uma proposição não depende da quantidade de pessoas que acreditam nela como verdadeira. Isso não prova que pisaram na lua, mas também não prova que não pisaram na lua. Bem, nossas crenças podem ser erradas ou errôneas. Ou seja, podem ser erradas porque não correspondem aos fatos ou que nossas alegadas razões alegadas para reforçá-las não são lógicas.

A TERRA EM VOLTA DO SOL – 2011 REDIT

Sobre crenças ultrapassadas. O velho exemplo da terra em órbita do sol. 100% dos medievais ocupados com este tema. Assim, salvo prova em contrário, acreditavam que a terra era o centro do sistema. Quando as provas começaram a aparecer eles continuaram acreditando. No entanto, Copérnico pensava diferente e depois Galileu provou que sim; O sol é o centro do sistema onde a terra e os hominídeos estão. Foi Kepler quem construiu o modelo do sistema. O heliocentrismo é já uma teoria demonstrada. E as crenças dos nossos falecidos medievais estão lá no passado.

NEUTRALIDADE E COVARDIA

Dentre as diversas formas de covardia, a pior de todas não é ter lado e não lutar, que já é uma covardia, mas ter tido lado e visto o pior vencer e por temor ao seu poder não ter posição sequer, e assim arguir neutralidade, o que equivale a deixar assim ou ser indiferente ao mal. Se decidir pelo mais forte, pelo que possui poder, pelo que usurpou é também indício de que a neutralidade é somente uma concessão desarmada aos que abuso do poder. Imagino mesmo os colaboracionistas na ocupação nazista da França, se omitindo da barbárie e das diversas perseguições sofridas não somente pelos membros da resistência, mas também pelos cidadãos e cidadãs comuns. Neutralidade só há de ser possível quando não há lados e opções o resto é como o lava mais de Pôncio Pilatos, vai para a história como um ato de faz de conta que eu não sou responsável mais por nada. 



SIM: VIAJAR, LER LIVROS E AMAR

Outro meme que eu gosto - e não estou botando defeito - mas eu também completaria ele dizendo que somos o resultado do que fazemos com o que vivemos em nossas viagens, que somos o resultado do que fazemos com os livros que lemos e do modo como lemos estes livros e, além disso, somos resultado do modo como amamos e como somos amados. Por que não basta viajar, ler e amar, é preciso fazer isso de um certo modo. Para mim - e que cada um faça como quiser, souber ou crer que é melhor - todas estas "experiências e vivências", só produzem bom resultado no modo da abertura e do cuidado, da coragem e da ousadia, do desapego e do descolamento de si e de suas crenças. Uma experiência pode nos deixar pior, nos deixar iguais ou nos mudar, dependendo do nosso modo e disposição em aceitar esta última dimensão para ela. A vida pode ser uma cilada, uma emboscada, um labirinto, uma prisão, mas também pode nos lançar além de onde estamos, além do que pensamos e além do que sentimos. Sem abertura não adianta mesmo fazer nada disso.


CÉREBRO: PAIXÃO E RAZÃO

Gosto desse meme, mas também completaria dizendo que o cérebro é incrível mesmo até você achar que está com toda a razão ou que é o único portador dela, mesmo quando muitos ou aqueles que te amam de verdade te dizem que não.



DEMOCRACIA E CORRIGIBILIDADE

Um povo pode ter problemas em qualquer quadrante deste planeta. A democracia não é o regime da infalibilidade, mas pode ser o único regime em que pode haver corrigibilidade. Porém, deve ser um indício do fim da democracia quando se perde a corrigibilidade. #ForaTemer

HOJE É AQUELE DIA - 2014

Em que me sinto muito feliz

de ter escolhido esta profissão...

Sou só professor, não sou aviador...

Não sou rico e não sou pobre...

Não sou mais do que ninguém...

Não sou um brinco nem sou podre...

Nada me falta desse bem...

O que eu quero simplesmente...

É uma vida com paixão...

Não aprendo e não ensino...

Nem dou aula prá ninguém...

O que eu faço simplesmente...

É somente querer bem....

E enquanto isso acontece faço algo ir além...

Nem ideia nova eu tenho para te fazer um bem.....

Graças por ter escolhido esta profissão...

ainda que depois desse rap 

nenhuma folha daquela pilha 

de provas mudou de lugar....


Valeu....

terça-feira, 16 de maio de 2017

Uma Nota Histórica sobre São Leopoldo dos anos 20 - de 2012: sobre Ciclos econômcos - para rever

Estive debruçado em abril de 2012, sobre um certo panorama da história de São Leopoldo. Na época interessava olhar de perto a formação e conformação da cidade para o primeiro centenário da imigração alemã. O que levou a construção da Praça do Imigrante e do Monumento. Mas apareciam aqui e ali sinais do nível de desenvolvimento econômico da cidade nos anos 20 e de sua importância, não somente regional, mas em relação à economia do estado e  à capital. Poderia ser, imaginei à época, um bom viés explorar os períodos econômicos de expansão, estabilização e contração da cidade relacionando isso ao desenvolvimento agrícola, comercial e industrial da cidade sustentado ou não pelo empreendedorismo local e insumos estatais de alguma natureza. Atentar, no detalhe e com precisão, para investimentos públicos e privados. Incrementos imobiliários e também atividades culturais. O que me chamou a atenção em 2012 foi, em especial, os ciclos de desenvolvimento e mediocridade na cidade, ou seja, o caso e o ocaso  dos pactos com governo federal e estadual na história da cidade e seus vetores internos...e externos. Me pareceu muito interessante a tese superficialmente entrevista de uma espécie de pacto político externo que acaba beneficiando a cidade e também a superveniência de sua ruptura ou fragilidade que mesmo com relação à política agremiada (PRR-PL-PTB-PSD), mas não estável ou/e fluida que pode prejudicar a cidade. A hipótese foi gerada, primeiro, a partir de uma intuição sobre o ciclo de expansão econômica dos anos 20 e 30. Isso junto e após a emancipação de Novo Hamburgo (?). A interrogação aqui leva em conta os argumentos de que o bolo cresceu e se dividiu ou que ele se minguou e foi um salve-se quem puder. Que precisam ser todos relativizados é claro. O que pode parecer muito duvidoso, inclusive, mas que foi entrevisto superficialmente. Porem deve se ver isso tudo ainda muito mais de perto...

ENTREVISTA PARA UM EX-ALUNO: GUILHERME CABRAL, ABRIL DE 2017

1) Conta-me como te tornastes professor(a)! Por que escolhestes essa profissão? Como te sentes, hoje, no exercício do magistério? O que te dá mais satisfação na profissão? Quais são tuas dificuldades e frustrações?

Me tornei professor muito pelo exemplo de meus professores. Tive professoras e professores maravilhosos. Quando optei pela licenciatura pensava também no fato de manter parte de meu espírito juvenil se renovando e na questão de manter a vida conectada com a juventude e construindo conhecimento e compartilhando o prazer de aprender. Sempre fui muito investigativo e minha curiosidade é quase infinita e inesgotável. Esta curiosidade se realiza e muito na preparação das aulas e também em descobrir a forma como os jovens refletem e reagem sobre aquilo que a gente leciona. A verdade é que eu amo ser professor. Esta é a profissão que eu escolhi. Mas eu também sei que poderia ter dado errado, que eu poderia não conseguir ser um professor. Tinha este elemento de incerteza no começo, mas assim que comecei a lecionar, mesmo nos estágios já sentia o acerto da escolha. Os professores vivem muitas dificuldades hoje, em especial as materiais. Talvez isso sempre tenha ocorrido, mas eu sobrevivo a elas e não me frustro tanto. Consigo ter prazer, portanto, com esta atividade e creio que sei lidar com seus cavacos, dificuldades e com eventuais situações que fogem a minha formação para tal. Não tenho grandes dificuldades e frustrações, salvo a questão salarial que aborrece, mas contra a qual luto e milito no sindicato e nos espaços públicos em que atuo. 

2) Se pudesses escolher, deixarias de ser professor/a? Por quê?

Não deixaria de ser professor, por que tenho convicção na escolha, satisfação no exercício e muito prazer nas relações cognitivas, afetivas e pessoais com os alunos e alunas do ensino médio. E eu adoro ser professor, mesmo que sinta a desvalorização salarial, o desrespeito e desprestígio da nossa profissão com meus colegas. Apesar de tudo não consigo desistir de ser professor, persisto lecionando e lutando pela educação pública e pela nossa dignidade profissional.

3) Como construíste/constróis a tua forma de ser professor/a? Que influências mais marcaram a tua formação? O que ou quem inspira a tua docência? 

Construo a minha forma de ser professor a partir da experiência e da reflexão sobre ela. Tento articular sempre a prática docente com teorias e idéias pedagógicas, psicológicas, sociológicas e filosóficas. Baseio muito minha docência sobre o contexto histórico que vivemos e sobre o qual devemos refletir, interpretar e nos posicionar. Além da aquisição de teorias, creio que é preciso incorporar a sabedoria prática ou técnica de outras pessoas. Também é importante defender e construir uma compreensão sobre certos valores humanos e culturais. Seguir exemplos de paciência, boa vontade, boa fé e respeito a dignidade das pessoas. As influências de meus pais, irmãos e parentes foram muito importantes nesse sentido, de meus professores e professoras são decisivas, e sou permeável também às influências de muitos amigos e amigas, alunos e alunas, colegas e, também, de pessoas comuns de outras profissões e atividades. Meus professores de história, geografia, letras e artes foram fundamentais durante a educação básica. No ensino superior, muitos professores e professoras e, também, colegas me influenciaram em aulas e em diversos tipos de discussões, painéis, defesas de teses e dissertações e apresentações de trabalhos. Recebo muitas influências de diversos teóricos da educação e a participação em seminários, debates, projetos, programas e também minha participação sindical me influenciaram muito. Mas também recebo no meu ofício de professor uma forte influência do teatro, do cinema, da música e de muitas outras artes. Minha forma de ser professor é baseada nesta apreensão de exemplos e no exercício de construir a experiência em sala de aula e na preparação das aulas, das atividades e das avaliações e feed backs dos alunos e alunas.

4) Que professor/a gostarias de ser hoje? Crês que, na prática, te aproximas desse perfil? O que precisaria ocorrer para realizares essa perspectiva?

Eu me sinto muito feliz com minha forma de exercer o ofício hoje. Misturo muita arte e música nas aulas, abro os temas e conteúdos para o tempo atual e as vivências dos alunos e alunas e, também, sempre procuro conectar as temáticas com as experiências, fatos e acontecimentos do presente. Tenho investido mais energia no conhecimento e no relacionamento humano e compreensivo dos alunos. Minha realização está baseada no objetivo de conhecer e compreender os alunos, construir conhecimento com eles e trabalhar com as opiniões deles, somando a isso a oferta de informação precisa sobre os fatos e reflexão conceitual rigorosa. Creio que me aproximo sim na prática deste ideal.  
Escola e seu projeto

5) Na tua opinião, qual o papel da escola na sociedade? O que, para ti, seria uma escola ideal? Na prática, a tua escola se aproxima dessa perspectiva? Em que dimensões? Em que deveria avançar para alcançá-la?

A escola deve contribuir na construção e na aquisição de conhecimento. Deve ser democrática e realizar-se com diálogo, busca de entendimento e respeito às diferenças. Deve formar os jovens para serem boas e excelentes pessoas, profissionais e cidadãos. Vejo na minha escola um grande esforço e trabalho neste sentido. Diria que me sinto nela um professor realizado. Em colaboração com os colegas, professores e funcionários de escola, com os alunos e alunas e com os pais e demais membros da comunidade temos desenvolvido um trabalho que dignifica a escola e as pessoas que passam e atuam nela. Sou muito orgulhoso da escola que construímos juntos. Vamos avançar muito no sentido de humanizar ela cada vez mais, introduzir mais atividades culturais e desenvolver projetos alternativos e progressistas com a participação intensa dos alunos como já temos feito.

6) O Projeto Político-Pedagógico da tua escola é do conhecimento de todos os que com ela interagem? Como se deu o seu processo de construção? Foi construído de forma coletiva? Indica crenças e valores da comunidade escolar? Qual é sua linha pedagógica (princípios pedagógicos que segue)?  Interfere nas decisões cotidianas da escola?

O Projeto Político-Pedagógico da escola incorpora as idéias que apresentei acima. Queremos aumentar a divulgação dele e já propomos avaliação anual pela comunidade escolar do mesmo ao final do ano letivo de modo a conferir os resultados e a aplicação dos seus princípios e valores.

Docência e políticas educacionais

7) Crês que o/a professor/a pode interferir nas políticas educacionais? Na escola em que trabalhas costuma haver espaço para discuti-las? Como as políticas educacionais repercutem no trabalho cotidiano de tua escola? E de tua sala de aula?

O professor deve interferir em todas as políticas educacionais. Não faz sentido algum impor política educacional sobre os educadores e os educandos. Quando isso ocorre a educação perde sua capacidade transformadora e as resistências a toda imposição dessa ordem são legitimas. A educação e os projetos de educação não fazem sentido sem a participação dos educadores, alunos e cidadãos. Mas, na minha opinião, é preciso resgatar em muito isso, porque existem muitos gestores que tem predileção por implementação de projetos sem discussão, sem questionamentos e sem contestação ou sequer aceitando o aperfeiçoamento das propostas. Isso é um desrespeito com os trabalhadores em educação.

8) Quais são as propostas de políticas educacionais para teu município? Podes relatar alguma que te é simpática? Acreditas que podes, como cidadão(ã), interferir nessas políticas? De que forma?

Vou priorizar aqui na minha resposta a este ponto sobre a participação dos cidadãos e cidadãs na construção de uma escola democrática e plural, com respeito às diferenças, na defesa dos direitos dos cidadãos e trabalhadores e na promoção de uma cidadania responsável e comprometida com os destinos da sociedade. A melhor interferência é participar de todos os fóruns de discussão sobre a escola, a gestão escolar e seus projetos.

9) Como a escola participou: da elaboração do Plano Municipal de Educação de sua cidade; do estudo e contribuição na Base Nacional Comum de Currículo da Educação Básica?

Nossa escola pertence a rede estadual de educação. Participamos, apesar disto, do processo de construção do plano via representação sindical em conferências municipais. Eu mesmo participei e dialoguei muito sobre este tema.


Foi um prazer participar desta entrevista e contribuir para a formação docente de um ex-aluno meu.

sábado, 13 de maio de 2017

MAIS GENTILEZA E ELEGÂNCIA POR FAVOR

Enquanto a Rede Globo - através de todos os seus veículos - e outras revistas e empresas de comunicação, mais as lojas Marisa, tripudiam de Lula. E outros covardes seguem na mesma direção se gabolizando e se jactando de sua própria grosseria e leviandade. Nós vamos contrariar esta lógica rebaixada e vil.

Eles fazem isto apelando da forma mais covarde e perversa possível. Ao estar dizendo que Lula culpa sua esposa, já falecida, justamente por conta do desgosto da intensa e impiedosa perseguição que Lula, sua família, filhos e partido sofrem, pelos seus problemas, nós seres humanos comuns que possuímos empatia e respeito ao próximo, que consideramos a dignidade do outro inviolável sob qualquer pretexto, que somos orientados por uma boa educação que dá limite ao ímpeto e às ofensas, vamos contra isto.

Nós vamos prosseguir, por mais duras que sejam nossas posições, sendo guiados pela gentileza e cordialidade, vamos lutar com elegância e altivez para vencer esta baixa política do vale tudo que assola o pais desde que a oposição e o PMDB (e a elite nacional abrigada nestas agremiações e entidades) resolveram perder todos os escrúpulos para se manter no poder e preservar seus interesses, privilégios e se proteger do fim de um tempo que resiste em não acabar. Sabe porquê?

Porque gentileza é uma coisa que a gente nunca esquece. A pessoa pode te criticar, acusar, trair e etc, mas deixar ela sem palavras por um gesto de gentileza é ótimo. É a melhor resposta às ofensas de toda ordem e reconduz pelo exemplo as pessoas ao leito natural da nossa vida cotidiana e civilizada.

Nosso papel humano e civilizatório nunca pode ser esquecido em nossa conduta, decisões e ideias. A importância do aspecto humano é crucial para nós todos, sem isso nosso capital econômico ou político se reduz à pó. Isso é um capital cultural. Nenhum poder econômico ou político terá algum valor sem isto. Nenhuma forma de poder ou de exercício do poder que prescinde disso, deve durar muito tempo.

E cabe a nós não tolerar isto de forma exemplar. Repudiar aqueles que cruzam este limite e fazer frente a estes absurdos impostos pelo desespero de causa deles. E este limite atravessado pelo golpismo e pela agenda golpista há de ser destroçado pela vontade do povo brasileiro nas urnas e fora delas também.  

BOAS PROPOSTAS PRECISAM TER BONS MÉTODOS – REPLAY REVISADO DE 2014

Veja meu caro que não é indício de sabedoria nem de racionalidade fazer a coisa certa da forma errada. Por isso, se tua proposta é realmente boa decline de toda alternativa ou metodologia que envolva impor ela ao demais, seja por necessidade e urgência seja por necessidade de mostrar força ou exibir ou aumentar tua autoridade. Se você quer de fato obter êxito em teu intento cuida mais disto. Pois você  nunca conseguirá ser compreendido se proceder assim de maneira torta ou aos vacilos com algo que deve ser reto e seguro. Se você está respondendo a uma necessidade muito importante, mas criando uma desmedida para satisfazer sua ambição e urgência ao mesmo tempo, vais te dar muito mal e não vai obter a metade do resultado almejado. E perceba meu amigo ou amiga que quando isso depende dos demais, quando isso depende do juízo e da recepção dos demais, se estais enfiando goela abaixo aquilo que tem valor e que mereceria mais mediação para ter sua dignidade preservada, então você está cometendo um erro grave que põe  a perder toda a qualidade de teu nobre objetivo. É preciso convir que o método não é somente uma questão epistêmica – que garante reconhecimento e entendimento – mas é também uma questão essencialmente política – que pode garantir aceitação, adesão e não resistência e rejeição. Então, se a medida, proposta ou projeto é realmente bom e importante, razoável e adequada, não destrua ela adotando a imposição como quem exibe seu poder – por insegurança – ou exige pressa, por um sentido de urgência que é direcionado somente por ansiedade, angustia e não sabedoria ou juízo.


Obs.: Não vou referir aqui o contexto crítico e original desta fala. Meus colegas educadores, sindicalistas e militantes de esquerda sabem exatamente disto, ainda que alguns esqueçam isso, em determinados contextos e situações. Porém, creio que é fundamental a adoção do método correto e creio que quanto mais importante a medida ou proposta, mais se exige dela o bom método. Quando isso envolve compreensão, colaboração e engajamento das pessoas, então é bom dialogar, tergiversar e conceder não só voz, mas incidência das pessoas na formatação do projeto e no processo de concepção, elaboração e finalização. Quando a gente sabe que a democracia é o melhor método de tomada de decisão mesmo, não existe razão para jogar no segredo, no sigilo e no fundo de uma sala a esfera de decisão. O poder não é um atributo pessoal, mas relacional. E todo aquele que sabe disso evita ao máximo atribuir a si mesmo tal atributo. Isso pode lhe ser conferido, pode lhe ser entregue, mas está todo dia sendo renovado e autorizado pelo método e pelas medidas que se toma.       

domingo, 7 de maio de 2017

PENSAR E VIVER ANTECIPADO

"Pensar anticipado: hoi para mañana, y aun para muchos días. La mayor providencia es tener horas della; para prevenidos no ai acasos, ni para apercibidos aprietos. No se ha de aguardar el discurrir para el ahogo, y á de ir de antemano; prevenga con la madurez del reconsejo el punto más crudo. Es la almohada Sibila muda, y el dormir sobre los puntos vale más que el desvelarse debaxo dellos. Algunos obran, y después piensan: aquello más es buscar escusas que conseqüencias. Otros, ni antes ni después. Toda la vida ha de ser pensar para acertar el rumbo: el reconsejo y providencia dan arbitrio de vivir anticipado."


Baltasar Gracián, in 'Oráculo manual y arte de prudencia' (1647)

GH E O PENSAMENTO DESORGANIZADO

Estava seguindo a pista interessante na palestra do meu amigo e ex-colega de graduação Eduardo ("Lispector e Nussbaum: ensaio para um monólogo", com Eduardo Vicentini de Medeiros  ) sobre a Paixão Segundo GH de Clarice Lispector, no que toca ao pensamento desorganizado e achei esta reflexão cheia de anotações inconclusas e com reticências ainda de 2012, sobre o mesmo assunto e outras coisas ligadas ao desentendimento:

A característica mais interessante do pensamento desorganizado é que ele desorganiza o dono e faz um tremendo esforço para tentar desorganizar os ouvintes também...

Isso, quando vem expresso em frases ambíguas, lacunares, com confusões incríveis entre sujeito/objeto e com conexões lógicas de difícil compreensão...

E nas vezes que você conversa com alguém assim e se dá conta de quanto esforço uma pessoa destas requer para se expressar - e muitas vezes sorte - para obter os resultados que ambiciona ou a que se propõe...me parece muito assim quando a linguagem se constitui numa gaiola, numa falsa prisão, simplesmente construída através de algumas incompreensões gramaticais e de algumas operações lógicas não bem compreendidas....

Exclama o ouvinte: ó senhor, dai-me a santa e bendita paciência....

E também porque nestas vezes acabamos por suspeitar também do caráter do sujeito que se comunica desta forma...Mas não devemos chegar a tanto.

E para aqueles que gostam de se comunicar muito e claramente e que zelam não por uma moral da linguagem, mas talvez muito mais por uma comunicação satisfatória é um grande desafio isso....

É porque você precisa de novo apreender e ensinar coisas elementares...Aprender a ser generoso com seu interlocutor e ajudar ele.

Com algumas partículas elementares da nossa linguagem que também significam uma atitude de respeito para com o outro....

E mesmo que ele não te entenda tanto, mesmo que ele nem saiba ou tenha consciência de que está errado ou habitando como um estrangeiro numa linguagem e num ambiente estranho, desconhecido e não dominado...

E não é, no meu ponto de vista aqui, muito correto afirmar que é de dar dó ou que não dá para conversar - numa situação destas....porque estas pessoas também tem direitos e também merecem respeito...

Veja que não podemos culpá-las ou excluí-las de um diálogo por tais dificuldades...

E esta não é um indireta - é somente uma reflexão inicial sobre algumas dificuldades e desafios sociais provocadas por uma certa incompreensão da linguagem e de suas regras...E também pela desorganização do pensamento em que estas pessoas habitam com sérias dificuldades.

E isso aqui também não é um diário - nem muito menos uma provocação...


Creio que temos que pensar nisto - seja como professores e professoras, seja como cidadãos e cidadãs...Em nossas comunidades de diálogo e em nossas diversas formas de interações sociais.

AS POSSIBILIDADES DE UM ESTÓICO - NÃO SEI




Não se trata, como poderia parecer, de uma crise de meia idade, mas sim da minha completa insatisfação em ver a abundância e a fartura de juízos sobre isso e aquilo cuja única base é sempre parcial, subjetiva e precipitada. E estes juízos orientam ações, relações, omissões e comissões. Tipo; ando enjoado de tanta meia verdade ou verdade e meia. Então dá uma vontade de escrever cadernos secretos, críticas reservadas, cadernos do cárcere para que um dia talvez sejam bem queimados no gigantesco incinerador da história que é o tempo. Porém devo confessar que entre as surpresas e decepções, também tem as boas e as ótimas surpresas. Como tem gente boa escrevendo bem e pensando melhor que a média e o tal senso comum, que vem dos mesmos preguiçosos e acomodados em suas sabedorias e experiências. Talvez eu comece somente a agir e deixe de lado a necessidade de dar razões, avisos, alertas e pare de ficar aguardando alguma coisa dali de onde num vai sair nada mesmo. Talvez assim, me sinta mais reconfortado e pleno e acabe de vez com essa aparente crise existencial de engajamento e desengajamento, intervenção e não intervenção e aguarde apenas o andar natural das coisas, o fluxo contínuo e previsível de alguns fenômenos que na história dos homens parecem extraordinários e impressionantes, mas que da perspectiva de uma existência plena e econômica, discreta e subjetiva, não tem nenhuma relevância, importância ou singularidade a oferecer. Não é bom, nem é ruim, é normal ou natural que eu tente me entrincheirar em uma perspectiva mais distanciada, isso poderia acontecer por força da idade que, avançando, me impedisse de perceber as coisas e responder a elas, mas também pode acontecer por um exílio precoce causado pelo alijamento ou falta de qualquer correspondência com o mundo exterior e seus representantes oficiais nos assuntos humanos. Sim, a incomunicabilidade nos tempos de hoje, poderia ser a causa, diz-se tanto, mas tão pouco de fato é dito. Então, já que é assim, porque tanta prolixidade? Que causa ou efeito ela teria em meio ao espetáculo natural? E que diferença faz? Não sei...meu sentimento estóico se avoluma em meu coração e me apequena a mente, me deixa com aquela serenidade em que menos é mais, e mais é apenas u m menos amplificado e alardeado. E dá aquela vontade de tirar o time e fazer só coisas prazerosas e modestas, simples e comezinhas, já que aqueles que deveriam fazer grandes coisas, só com estas pequenas ocupações pessoais realmente se ocupam. Vendo então um mundo do faz de conta se avolumando à minha frente, fico pensando em coisas mais transcendentais do tipo: não se escolhe pai e mãe, nem o lugar onde nascemos, nem o tempo em que nascemos, mas ainda assim podemos tentar escolher - naquele pequeno quadrado que resta a cada um de nós cuidar - como vivemos, com aquelas pequenas e conhecidas limitações que conhecemos e que envolvem a disposição dos outros sobre como devemos viver e também o interesse de outros em nos fazer servir ao sistema, a uma causa ou mesmo cumprir algum papel na máquina deste grande moedor de carne que é o mundo, ocupar com sua contribuição vermelha ou quase carmin uma vírgula ou ponto de algum livro de uma história que talvez seja escrita e talvez seja apenas vivida e esquecida. Neste, e agora vou usar emprestada a grandiloquência e a precisão de alguns outros, grande vale de lágrimas que é o mundo assistimos tanto o choro dos insensatos, quanto riso cínico das Hienas, assistimos ao Leão buscar sua presa e ao Urubu que aguarda a parte que lhe cabe no banquete selvagem entre caninos e felinos da savana, mas também assistimos tanto a graça, quanto o riso e o choro também daqueles que são apenas ingênuos, inocentes, crédulos, agressivos, pacíficos, comedidos, tímidos, medrosos e covardes, vacilantes e inseguros, mas que ao dar opinião sequer se dão conta da frequência ou sintonia de humor em que se encontram e que afinam suas vozes em diapasões instáveis, de tal modo que jamais encontram um Lá ou um Sol, uma além e um lugar para brilhar ou iluminar. São só trevas, obscuridades e os horizontes que nos ofertam não nos agradam. Não posso orientar minha vida, minha opinião sobre o mundo, minha existência por profetas, videntes, cartomantes ou penitentes cuja fé é tão instável, ou o conhecimento é tão seguro quanto a capa de um jornal, matéria de uma revista, ou o editorial deslocado e distorcido de uma vontade suscetível ao livre jogo do mercado e suas marés de vontades e disposições transitórias. Sim, eu sei que não somos importantes, eu sei que pouco posso fazer, mas enquanto eu puder resistir, liderar a mínima resistência em meu ser, aqui eu ficarei sem me deixar levar por tuas vontades e juízos insanos. Não sou caça, não sou caçador, não porto armas nem canhões e não quero nenhuma forma de poder absoluto ou relativo que dependa de se ludibriar, enganar, prometer ou recontar as mesmas histórias de sempre, não acredito em milagres pessoais nem em pessoas milagrosas, não vejo nenhuma possibilidade de melhorar o mundo com votos ou crenças na infalibilidade, mas nem por isso aceito teus erros ou tuas intenções e pelos meios e entremeios que visualizo sei bem para onde vais e de onde bem vens. Mas tudo que digo aqui é só uma ficção, um espelho quebrado, que não significa nada, não representa nada e não conclui coisa alguma. Por assim dizer, dizer e não dizer, fazer e não fazer e escolher como pensar...não é o Grau Zero, mas também não é um nem menos um, é enfim pouca coisa que resta dos escombros doa achatamento em que me parece que vivemos hoje...e me parece mesmo que é melhor não falar e é melhor não dizer, ainda que eu ouse esboçar em palavras sorteadas um porque e um como...Não sei...Velho texto de minha vida.

A PRISÃO NOS DETALHES

E a prisão nos detalhes jamais passa a discutir o todo, o argumento central. Dizem que assim não dá nem para começar. Sim, por isso mesmo não começam nada, não informam nada, precisam de um nível de idealismo e superioridade tal que jamais será possível fazer alguma coisa. E são os mesmos que se queixam depois da falta de esperança das pessoas e da falta de determinação delas. Avistam defeito em tudo e passam o resto da vida em busca de uma perfeição que não existe.

RETÓRICA E TOM DE VOZ

Assim, acontece frequentemente em muitas situações. Não se refutam os argumentos e as razões, mas se tenta impugnar a arguição por sua forma, por seu tom ou por sua voz. A mercadoria precisa ter uma embalagem melhor que o conteúdo para eles. Boa apresentação basta, mesmo quando o conteúdo é uma porcaria.

AS FLECHAS




A revolução das flechas!

Setas para o futuro

Sinais no céu

Sim

S

s

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SOBRE VOLTAR A SER ÍNDIO




Para mim seria uma honra. Algumas pessoas vieram aqui me criticar pelo meu título aplicado sobre uma imagem da Mídia Ninja de um índio encarando o batalhão de choque com os olhos fechados e num aparente transe espiritual ou concentração para o combate. Não me importei tanto e disse:

Tudo bem com sua opinião. Eu discordo e proponho livremente outra reflexão. Você pode aceitar ou não. E é apenas uma interpretação. Creio que ainda temos liberdade para criar, para interpretar e que não há bada de errado com o que pensei. O TÍTULO É MEU...nem sempre gosto de explicar os títulos que dou para imagens...porque isso parece presumir ignorância ou incapacidade de interpretação no outro, ou pior que isto para mim, presumir que o outro não tem generosidade, caridade e boa vontade com você e te interpreta sempre escolhendo a pior alternativa que consegue pensar sobre o tema proposto e tua posição. Para mim isto é uma espécie de super crítica ou hiper crítica. Que eu aceito, mas contesto assim como faço aqui agora.



Para pensar, então, o que eu quero dizer é muito simples. Os índios estão tendo a dignidade de lutar, que muitos não tem, enquanto muitos branquelos e europeus pseudo evoluídos estão sendo exterminados em seus direitos sem reação alguma. Caíram como patinhos num golpe do que há de pior na política brasileira e estão engolindo sem regorjitar toda a agenda golpista porque são civilizados e covardes com canalhas e rebeldes e corajosos com a esquerda.

Por fim, voltar a ser índio é para mim voltar a ter a dignidade de enfrentar o opressor. Encarar a guarda e o que houver pela frente por sua dignidade, seus direitos e se rebelar. Capice?




É assim que devemos passar a viver em tempos de guerra? Lutando contra nós mesmos? Ou encarar de vez os cara pálidas?

"O problema da greve é você!"

Sim, meu caro e minha cara: o problema da greve é a barricada; o problema da greve é apresentar obstáculo ao ir e vir; o problema da greve é a fumaça dos pneus queimados; o problema da greve é o partido X; o problema da greve é a bandeira; o problema da greve é a insegurança; o problema da greve é a violência; o problema da greve é o candidato Y; o problema da greve é a central sindical; o problema da greve é a baderna; o problema da greve é os vagabundos; o problema da greve é quebrar a rotina; sim, meu caro e minha cara, seguindo assim você vai descobrir que o problema da greve é a forma como você pensa ou como você não pensa. Ou seja, o problema da greve - e desta greve em especial - será, por fim, você. 

(SOBRE A GREVE GERAL DE 28 DE ABRIL DE 2017 - Daniel Adams Boeira)