O FOGO E A LENHA
Plutarco saca aqui duas grandes
linhas ou estilos de pensamento.
A metáfora não exige uma grande
explicação. Me interessa apenas sugerir a exploração do que talvez seja uma
falsa dicotomia, desde que não se esteja disposto a sentar em um extremo ou
outro dessa diferença e julgar que a partir dali tudo mais é desprezível.
Muitos filósofos e filósofas
podem ser considerados como sistemáticos ou cumulativos e é assim também na
ciências e nas artes. Não há neles algo como um brilho de gênio ou uma faísca
ou raio mágico do pensamento. Eles acumulam conhecimento, organizam, introduzem
e fazem quase algo como um jornalismo engenhoso do pensamento. A originalidade
deles aparece nos detalhes e aqui e ali, num ponto ou outro percebemos algo
notável. Muitas vezes é preciso se dar ao trabalho de compreender o ponto de
vista deles, seus métodos e estilos e comparar a outros de seu tempo para
perceber ou apreender algo realmente importante.
Outros filósofos e filósofas tem
um gênio mais surpreendente. Percebemos a chama prometeica da sua sabedoria num
pequeno fragmento de texto, em um aforismo ou nas primeiras linhas de seus
textos. Em geral, são esses que despertam paixões, adesões mais duradouras e
também dão mais prazer na leitura e geram uma cadeia de descobertas e surpresas
quase incessante. Eles tem essa chama da qual fala Plutarco e são notáveis de
forma até escandalosa. Não raramente participam de grandes controvérsias,
enfrentam as tradições consolidadas e as autoridades de muitos domínios, mas, o
que me parece mais importante geram em nós a espécie de espírito de liberdade e
impulso para topar certas paradas e não deixar assim.
Porém, me parece um bom desafio
compreender a ambos. E eu recomendaria ver como alguns filósofos ou pensadores
transitam de um extremo ao outro em suas obras. Porque parte dessa dicotomia me
parece estar ligada tanto ao próprio estilo, mas também em um modo de se
enfrentar os demais pensadores/as.
É evidente que todos que se apaixonam pelos incendiários
brilhantes e geniais tem pouca paciência para aqueles que são acumuladores e
ruminantes quase infinitos. Mas a fagulha depende da lenha para gerar um grande
incêndio.