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sexta-feira, 14 de maio de 2021

O AFFAIR DERRIDA COM ALGUNS FILÓSOFOS DE CAMBRIDGE: UM COMENTÁRIO

 

UM COMENTÁRIO A CARTA

A Carta é de 1992. Me parece um tempo carregado de perturbações e o conteúdo é muito sintomático para aquela época. Não subscrevo, entretanto, nenhuma tese de Derrida, abordo aqui apenas os termos dos nossos autores dessa missiva desabonatória que é razoavelmente superficial e que exibe razões que não me parecem tão convincentes nos dias de hoje e a luz do nosso tempo atual, trinta anos após. Abordo parágrafo por parágrafo e despachadamente.

No segundo paragráfo:

“Sua influência, no entanto, foi em um grau surpreendente quase inteiramente em campos fora da filosofia - em departamentos de estudos de cinema, por exemplo, ou de literatura francesa e inglesa.”

Isso dignifica um filósofo no nosso tempo atual. Nem vou citar os exemplos que são bem conhecidos por todos aqui.

No terceiro parágrafo:

“não atende aos padrões aceitos de clareza e rigor.”

No quarto parágrafo, me lembrei de Thomas Kuhn. Posso estar, porém, errado nessa associação.

No quinto parágrafo, “os dias inebriantes da década de 1960” deram origem a muitas coisas que acredito que a filosofia ainda não resolveu. Para citar apenas alguns: a questão da paz e da luta contra as guerras, a respeito do colonialismo, a revolta anti psiquiátrica, o tema dos direitos civis, a questão do amor e a própria música do jazz ao rock e também toda a mudança dos costumes das gerações hippies e power flower, sem falar aqui do papel da juventude em confronto com os sistemas e as instituições. Onde esses filósofos estavam naquele tempo? À margem desses movimentos? Observando de suas torres a vida mundana. Lembro muito e com carinho aqui do nosso compromisso com o mundo. Nesse quinto parágrafo há um ranço com a cultura que é inadmissível para nós hoje, através da platitude contra os poetas, dadaístas e etc.

No sexto parágrafo: “a tal originalidade não dá crédito”. Ora, boa parte de nós todos hoje temos muito clara a necessidade de que se construam abordagens originais. Poder discutir a qualidade delas não pode estar dissociado do fato de que nem sempre a originalidade se mostra de um modo acabado ou assimilável pela tradição. O que mais ocorre é o contrário. A tradição tem certa aversão a originalidade e gosta mais da reprodução bem comportada e dentro do paradigma dominante.  

No sétimo parágrafo, a voz da tradição cito: “Muitos filósofos franceses vêem em M. Derrida apenas motivo para constrangimento silencioso, suas travessuras tendo contribuído significativamente para a impressão generalizada de que a filosofia francesa contemporânea é pouco mais do que um objeto de ridículo.” Sem comentários.

No oitavo parágrafo, eu adorei a seguinte expressão: “um estilo de escrita que desafia a compreensão”.

Pulo o nono para o décimo parágrafo, para encontram in fine o Pecado Capital de Derrida, ainda que sem as provas e parecendo aqui uma expressão coletiva de convicção: “Quando o esforço é feito para penetrá-lo, entretanto, torna-se claro, pelo menos para nós, que, onde afirmações coerentes estão sendo feitas, elas são falsas ou triviais.”

No décimo primeiro e último parágrafo temos a condenação derradeira: “ataques semi-inteligíveis aos valores da razão, verdade e erudição não é, acreditamos, fundamento suficiente para a concessão de um título honorário em uma universidade distinta.”

E, em síntese aqui, eu teria muita dificuldade para resumir a obra de Derrida a isso e se for isso, poderia lembrar que tal Pecado Nietzsche e outros também cometeram. Lembrando Wittgenstein aqui, Nietzsche certamente não seria bem aceito também por estes senhores.

 

Daniel Adams Boeira, em abril de 2021.

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