UM COMENTÁRIO A CARTA
A Carta é de 1992. Me parece um
tempo carregado de perturbações e o conteúdo é muito sintomático para aquela
época. Não subscrevo, entretanto, nenhuma tese de Derrida, abordo aqui apenas
os termos dos nossos autores dessa missiva desabonatória que é razoavelmente
superficial e que exibe razões que não me parecem tão convincentes nos dias de
hoje e a luz do nosso tempo atual, trinta anos após. Abordo parágrafo por parágrafo
e despachadamente.
No segundo paragráfo:
“Sua influência, no entanto, foi
em um grau surpreendente quase inteiramente em campos fora da filosofia - em
departamentos de estudos de cinema, por exemplo, ou de literatura francesa e
inglesa.”
Isso dignifica um filósofo no
nosso tempo atual. Nem vou citar os exemplos que são bem conhecidos por todos
aqui.
No terceiro parágrafo:
“não atende aos padrões aceitos
de clareza e rigor.”
No quarto parágrafo, me lembrei
de Thomas Kuhn. Posso estar, porém, errado nessa associação.
No quinto parágrafo, “os dias
inebriantes da década de 1960” deram origem a muitas coisas que acredito que a
filosofia ainda não resolveu. Para citar apenas alguns: a questão da paz e da
luta contra as guerras, a respeito do colonialismo, a revolta anti
psiquiátrica, o tema dos direitos civis, a questão do amor e a própria música
do jazz ao rock e também toda a mudança dos costumes das gerações hippies e
power flower, sem falar aqui do papel da juventude em confronto com os sistemas
e as instituições. Onde esses filósofos estavam naquele tempo? À margem desses
movimentos? Observando de suas torres a vida mundana. Lembro muito e com
carinho aqui do nosso compromisso com o mundo. Nesse quinto parágrafo há um
ranço com a cultura que é inadmissível para nós hoje, através da platitude
contra os poetas, dadaístas e etc.
No sexto parágrafo: “a tal
originalidade não dá crédito”. Ora, boa parte de nós todos hoje temos muito
clara a necessidade de que se construam abordagens originais. Poder discutir a
qualidade delas não pode estar dissociado do fato de que nem sempre a
originalidade se mostra de um modo acabado ou assimilável pela tradição. O que
mais ocorre é o contrário. A tradição tem certa aversão a originalidade e gosta
mais da reprodução bem comportada e dentro do paradigma dominante.
No sétimo parágrafo, a voz da
tradição cito: “Muitos filósofos franceses vêem em M. Derrida apenas motivo
para constrangimento silencioso, suas travessuras tendo contribuído
significativamente para a impressão generalizada de que a filosofia francesa
contemporânea é pouco mais do que um objeto de ridículo.” Sem comentários.
No oitavo parágrafo, eu adorei a
seguinte expressão: “um estilo de escrita que desafia a compreensão”.
Pulo o nono para o décimo
parágrafo, para encontram in fine o Pecado Capital de Derrida, ainda que sem as
provas e parecendo aqui uma expressão coletiva de convicção: “Quando o esforço
é feito para penetrá-lo, entretanto, torna-se claro, pelo menos para nós, que,
onde afirmações coerentes estão sendo feitas, elas são falsas ou triviais.”
No décimo primeiro e último
parágrafo temos a condenação derradeira: “ataques semi-inteligíveis aos valores
da razão, verdade e erudição não é, acreditamos, fundamento suficiente para a
concessão de um título honorário em uma universidade distinta.”
E, em síntese aqui, eu teria
muita dificuldade para resumir a obra de Derrida a isso e se for isso, poderia
lembrar que tal Pecado Nietzsche e outros também cometeram. Lembrando
Wittgenstein aqui, Nietzsche certamente não seria bem aceito também por estes
senhores.
Daniel Adams Boeira, em abril de
2021.
Nenhum comentário:
Postar um comentário