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terça-feira, 7 de agosto de 2018

ROSSETTO E ANA AFFONSO



Por Daniel Adams Boeira*

O Partido dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul homologou no domingo, 5 de agosto, em sua Convenção Estadual, as chapas majoritária e proporcional para a disputa no estado neste ano de 2018. O Clube do Comércio, local que sediou o encontro partidário, é simbólico: nele, da década de 20 à de 60 do século XX, os maiores oradores e líderes da política gaúcha fizeram discursos da sacada para o público que se espalhava pela Rua da Praia, em frente à Praça da Alfândega. Os mais de 600 delegados e delegadas do PT-RS saíram do Clube do Comércio unificados para a décima eleição que o partido disputa no Rio Grande do Sul (sem contar a de 1989, quando o RS foi determinante para levar Lula ao segundo turno contra Collor). Após acordo com o aliado histórico PCdoB, anunciado na segunda-feira, 6 de agosto, a pré-candidata Abigail Pereira (PcdoB) ao governo do RS abriu mão da disputa para ocupar a pré-candidatura na segunda vaga para o Senado, ao lado do senador Paulo Paim (PT) que busca a reeleição. E o PT, ora veja, volta a apresentar uma “chapa pura” ao governo do estado. A última vez em que isso ocorreu, em 1998, significou a primeira vitória estadual do partido, liderado então por Olívio Dutra tendo como vice o atual postulante petista ao comando do Palácio Piratini.

A chapa ao governo do estado está composta pelo sociólogo Miguel Soldatelli Rosseto para governador e a pela professora Ana Affonso para vice-governadora. Ambos carregam consigo signos importantes de militância partidária e respeitáveis trajetórias políticas dentro do partido e nos cenários políticos regional, nacional e internacional. Construíram toda a sua trajetória de militância no Partido dos Trabalhadores. Pertencem a gerações distintas, Rossetto com 58 anos e Ana Affonso com 45. No entanto, ambos marcam uma importante renovação partidária, pois sucedem os candidatos e ex-governadores Olívio Dutra (1999- 2002), de quem Rossetto foi o vice quando era ainda mais jovem do que Ana; e Tarso Genro (que governou de 2011 a 2014). Olívio e Tarso foram forjados na luta civil, urbana, acadêmica e sindical, contra a ditadura midiática-civil-militar brasileira que perdurou de 1964 a 1985. Olívio foi fundador do PT e Tarso ingressou na legenda em meados dos anos 80. Miguel Rossetto iniciou sua militância já na fundação do PT, no início dos anos 80. Ana Affonso, por sua vez, inicia sua atuação partidária em meados dos anos 90. Ambos já tiveram mandatos parlamentares: Miguel foi deputado federal eleito no pleito de 1994. Ana foi vereadora de São Leopoldo por dois mandatos (2005-2008, 2009-2010) e foi eleita deputada estadual no pleito de 2010. Atualmente, Ana está no terceiro mandato como vereadora e dá um passo importante na sua luta política ao assumir a pré-candidatura a vice-governadora.


Uma das destacadas afinidades entre Miguel e Ana é que eles têm relações políticas e tiveram domicílio eleitoral em São Leopoldo, cidade mais antiga do Vale do Sinos e da qual se desmembraram, por emancipações em sequência desde o século XIX, a maioria das cidades da região. Rossetto nasceu em São Leopoldo, em 1960, reside em Porto Alegre desde os anos 90, e iniciou sua militância estudantil e sindical sendo fundador e dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) – a maior central sindical da América Latina e a 5ª maior do mundo. Também foi presidente do Sindipolo – Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Polo Petroquímico de Triunfo, de 1986 a 1992. Os pais de Rossetto são de origem italiana e vieram dos Campos de Cima da Serra para São Leopoldo. Já Ana Affonso nasceu em Maldonado, no Uruguai e veio ainda meninota para o Brasil, sendo, portanto, uma cidadã brasileira. Os pais de Ana, sindicalistas, trouxeram a menina acompanhada dos irmãos mais velhos para São Leopoldo – onde é professora da rede pública municipal com mais de 25 anos de magistério, tendo sido também presidente do Ceprol-Sindicato, das professoras e dos professores municipais.

Ambos, Miguel Rossetto e Ana Affonso, foram forjados na luta social e sindical nessa importante e dinâmica cidade da imigração alemã originária no Brasil e de importância histórica para o estado e para a luta dos trabalhadores. São Leopoldo é terra de imigrantes e seus descendentes, não só alemães – tem na cultura da diversidade, e da tolerância ao diferente, uma das suas marcas e valores. O lema, inclusive, revela: “Fé, Cultura e Trabalho”. O município, situado a 34 quilômetros da capital, continua recebendo imigrantes – como é hoje o caso da comunidade senegalesa. É curioso porque o leopoldense Rossetto é um emigrante da cidade levado pela militância política. Desde muito jovem saiu da terra natal, morou e mora há muitos anos em Porto Alegre; durante o período como deputado federal e depois ministro dos governos Lula e Dilma Rousseff, em Brasília. E ainda um breve período no Rio de Janeiro.

Conhecendo Rossetto e Ana acredito, contudo, que a principal característica comum a ambos é a forma amorosa, ou a amorosidade, como dizia Paulo Freire, com que fazem política. E, principalmente, gostam das gentes. Quem não gosta de gente não deveria meter o bedelho na política.

O PT e a Esquerda gaúcha podem ter certeza de quem têm dois grandes quadros políticos muito comprometidos nessa disputa, com paridade de gênero, e com unidade programática para mudar o Rio Grande. Afinal, é isso o que o povo quer. E eu vivi para ver isso, com muito orgulho, carinho e esperança. Aposto no nosso companheiro e na nossa companheira e em todos os militantes sociais para essa boa luta!

*Daniel Adams Boeira, licenciado em Filosofia na UFRGS, é professor da rede pública estadual de São Leopoldo. Ativista na luta ambiental, cultural e da educação. É militante orgânico do Partido dos Trabalhadores.

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