Por Daniel Adams Boeira*
O Partido dos Trabalhadores do
Rio Grande do Sul homologou no domingo, 5 de agosto, em sua Convenção Estadual,
as chapas majoritária e proporcional para a disputa no estado neste ano de
2018. O Clube do Comércio, local que sediou o encontro partidário, é simbólico:
nele, da década de 20 à de 60 do século XX, os maiores oradores e líderes da
política gaúcha fizeram discursos da sacada para o público que se espalhava
pela Rua da Praia, em frente à Praça da Alfândega. Os mais de 600 delegados e
delegadas do PT-RS saíram do Clube do Comércio unificados para a décima eleição
que o partido disputa no Rio Grande do Sul (sem contar a de 1989, quando o RS foi
determinante para levar Lula ao segundo turno contra Collor). Após acordo com o
aliado histórico PCdoB, anunciado na segunda-feira, 6 de agosto, a
pré-candidata Abigail Pereira (PcdoB) ao governo do RS abriu mão da disputa
para ocupar a pré-candidatura na segunda vaga para o Senado, ao lado do senador
Paulo Paim (PT) que busca a reeleição. E o PT, ora veja, volta a apresentar uma
“chapa pura” ao governo do estado. A última vez em que isso ocorreu, em 1998,
significou a primeira vitória estadual do partido, liderado então por Olívio
Dutra tendo como vice o atual postulante petista ao comando do Palácio
Piratini.
A chapa ao governo do estado está
composta pelo sociólogo Miguel Soldatelli Rosseto para governador e a pela
professora Ana Affonso para vice-governadora. Ambos carregam consigo signos
importantes de militância partidária e respeitáveis trajetórias políticas
dentro do partido e nos cenários políticos regional, nacional e internacional.
Construíram toda a sua trajetória de militância no Partido dos Trabalhadores.
Pertencem a gerações distintas, Rossetto com 58 anos e Ana Affonso com 45. No
entanto, ambos marcam uma importante renovação partidária, pois sucedem os
candidatos e ex-governadores Olívio Dutra (1999- 2002), de quem Rossetto foi o
vice quando era ainda mais jovem do que Ana; e Tarso Genro (que governou de
2011 a 2014). Olívio e Tarso foram forjados na luta civil, urbana, acadêmica e
sindical, contra a ditadura midiática-civil-militar brasileira que perdurou de
1964 a 1985. Olívio foi fundador do PT e Tarso ingressou na legenda em meados
dos anos 80. Miguel Rossetto iniciou sua militância já na fundação do PT, no
início dos anos 80. Ana Affonso, por sua vez, inicia sua atuação partidária em
meados dos anos 90. Ambos já tiveram mandatos parlamentares: Miguel foi
deputado federal eleito no pleito de 1994. Ana foi vereadora de São Leopoldo
por dois mandatos (2005-2008, 2009-2010) e foi eleita deputada estadual no
pleito de 2010. Atualmente, Ana está no terceiro mandato como vereadora e dá um
passo importante na sua luta política ao assumir a pré-candidatura a
vice-governadora.
Uma das destacadas afinidades
entre Miguel e Ana é que eles têm relações políticas e tiveram domicílio
eleitoral em São Leopoldo, cidade mais antiga do Vale do Sinos e da qual se
desmembraram, por emancipações em sequência desde o século XIX, a maioria das
cidades da região. Rossetto nasceu em São Leopoldo, em 1960, reside em Porto
Alegre desde os anos 90, e iniciou sua militância estudantil e sindical sendo
fundador e dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) – a maior central
sindical da América Latina e a 5ª maior do mundo. Também foi presidente do
Sindipolo – Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Polo Petroquímico de
Triunfo, de 1986 a 1992. Os pais de Rossetto são de origem italiana e vieram
dos Campos de Cima da Serra para São Leopoldo. Já Ana Affonso nasceu em
Maldonado, no Uruguai e veio ainda meninota para o Brasil, sendo, portanto, uma
cidadã brasileira. Os pais de Ana, sindicalistas, trouxeram a menina
acompanhada dos irmãos mais velhos para São Leopoldo – onde é professora da
rede pública municipal com mais de 25 anos de magistério, tendo sido também
presidente do Ceprol-Sindicato, das professoras e dos professores municipais.
Ambos, Miguel Rossetto e Ana
Affonso, foram forjados na luta social e sindical nessa importante e dinâmica
cidade da imigração alemã originária no Brasil e de importância histórica para
o estado e para a luta dos trabalhadores. São Leopoldo é terra de imigrantes e
seus descendentes, não só alemães – tem na cultura da diversidade, e da
tolerância ao diferente, uma das suas marcas e valores. O lema, inclusive,
revela: “Fé, Cultura e Trabalho”. O município, situado a 34 quilômetros da
capital, continua recebendo imigrantes – como é hoje o caso da comunidade
senegalesa. É curioso porque o leopoldense Rossetto é um emigrante da cidade
levado pela militância política. Desde muito jovem saiu da terra natal, morou e
mora há muitos anos em Porto Alegre; durante o período como deputado federal e
depois ministro dos governos Lula e Dilma Rousseff, em Brasília. E ainda um
breve período no Rio de Janeiro.
Conhecendo Rossetto e Ana
acredito, contudo, que a principal característica comum a ambos é a forma
amorosa, ou a amorosidade, como dizia Paulo Freire, com que fazem política. E,
principalmente, gostam das gentes. Quem não gosta de gente não deveria meter o
bedelho na política.
O PT e a Esquerda gaúcha podem
ter certeza de quem têm dois grandes quadros políticos muito comprometidos
nessa disputa, com paridade de gênero, e com unidade programática para mudar o
Rio Grande. Afinal, é isso o que o povo quer. E eu vivi para ver isso, com
muito orgulho, carinho e esperança. Aposto no nosso companheiro e na nossa companheira
e em todos os militantes sociais para essa boa luta!
*Daniel Adams Boeira, licenciado
em Filosofia na UFRGS, é professor da rede pública estadual de São Leopoldo.
Ativista na luta ambiental, cultural e da educação. É militante orgânico do
Partido dos Trabalhadores.
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