Creio que é um dos filmes mais
intrigantes do ponto de vista dos envolvimentos amorosos e do compromisso
consigo e com o outro. O amor parece nele algo sagrado, mas impalpável e o sexo
algo trivial e palpável. Mas a ênfase mais importante para mim, aparece no
estabelecimento de um vínculo de confiança e segurança que não parece mais
possível, após certos acontecimentos. Dos encontros emocionantes e acidentais
aos provocados e procurados, você percebe uma dinâmica que oscila entre o jogo,
a sedução, a atração e a permanência ou impermanência seja pelo abandono do
objeto do desejo, seja pela traição simples, que só é possível porque alguns e
algumas acreditam mesmo que amor é posse. Daquela gotinha de maldade e
perversidade, à malícia e perversidade que leva à vingança e a retaliação.
Todas as cenas aparecem nos intrigando com as condutas e ocupações ambíguas das
personagens.
Spoiler: Alice é uma stripper que
parece estar fugindo de uma desilusão amorosa e que encontra um jornalista, Dan
Woolf, ocupado da coluna de obituários do jornal e que sonha em publicar um
livro e virar escritor. Num lance de olhos entre os dois na rua, Dan se
apaixona por Alice à primeira vista. Anna é uma fotógrafa profissional que conhece
Larry e casa com ele. No meio disso, Dan é seduzido por Anna e mantém um caso
com ela até que Larry descobre e resolve lhe dar um revés que vai acabar
revelando a personagem de Alice como alguém superior em caráter em relação a
todos eles. Caráter aqui é caráter amoroso e afetivo.
Não só nos tais tempos líquidos e
frágeis em que vivemos - Bauman era tão pessimista quanto a possibilidade de um
vínculo estável nesses tempos, mas também no fato de que ele representa bem o
caráter ambíguo e difícil das aproximações, reciprocidades e do respeito pelo
outro. Navegação em tempestade e sob o regime da insegurança e da incerteza. A
possibilidade do amor depende de uma firmeza de intenções, da persistência no
propósito e tal coisa parece exigir pessoas muito mais determinadas. É a
personagem da Natalie Portman que concentra em si o melhor caráter, apesar do
seu ofício. Sua personagem é menos volúvel do que os demais e isso deve nos
lembrar nesse filme que de fato no amor e nas relações nem tudo é somente o que
parece, mas que há em algumas pessoas um caráter radical que mistura coragem de
amar e decisão de se libertar de relações doentias ou fugazes.
No ciclo dos afetos - e isso
parece mesmo uma figura de retórica - em que os altos e os baixos, essa
oscilação e instabilidade, nos desafia. É tal como uma espécie de situação
instável e oscilante em que os oportunistas, os jogadores, os interessados e os
comprometidos se misturam e se confundem. Nós nos vemos envolvidos apaixonada e
desapaixonadamente e essa intensidade nos engana na maior parte dos casos. Não
temos um medidor ou um termômetro exato para deliberar. É preciso intuir e ser
mais sensível aos sinais revelados e ocultos para sair desse labirinto de
encontros e desencontros, perfeições e perdições, descobertas e esquecimentos.
Recomendo sim
CLOSER...
Aqui um dos temas de estudo do
meu núcleo temático e existencial. O amor, a moralidade e a cognição.
Depois de revisar e reeditar este
texto do ano passado, fui dar uma volta e lembrei de uns insights que eu tive
na última vez em que vi este filme. O principal é que Closer, ou Closet (a
analogia de Fechado ou guardado). Perto Demais é uma analogia com algumas
questões cognitivas bem importantes para mim. Muito próximo, pois a primeira questão
é que ao estar perto demais às vezes não se enxerga nada. Que é preciso tomar
uma certa distância para compreender o peso das paixões, do amor e dos afetos.
A segunda é que perto demais é quase fechado e exclusivo e a exclusividade não
ajuda mesmo a evitar certos riscos quando não se está fechado, próximo ou perto
demais. Que a ideia de confinamento na relação nos engana muito a respeito da
segurança ou firmeza da relação.
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