PODER E
VERDADE: SIGNIFICADO E ANÁLISE
O poder é
uma relação significativa e também analisável entre pessoas.
Envolve assimetrias e também paralelismos e sua forma de exercício
ou de constituição já não depende mais de uma hierarquia pré
construída ou dada. O poder pode ser constituído e é constituído em
diversas esferas de atuação nas relações humanas. Aqui nosso
desafio ao pensamento é procurar compreender essas diferenças e
suas conexões na realidade. Porque é na realidade que o poder se
conecta com a verdade e nela que ele eventualmente aumenta sua força,
seja por simulação, seja por valorização.
Enquanto
a verdade parece ser mais extensa, seu conceito abrange mais relações
e mais objetos, pois é uma relação significativa entre pessoas e
fatos – aqui a coleção de fatos abrange muito mais do que as
relações de poder - e que, por isso, possui a característica de
ser mais transitiva socialmente e reger uma quantidade ou universo de
objetos bem maior no tempo e no espaço por conta do significado
presente e de certa forma hereditária e temporal do que é verdade
com o tempo. O poder sofre uma restrição no âmbito da verdade e
isso lhe parece ser congênito e permanente, pois sempre escapa da
verdade trabalhando nos domínios do possível, do interpretável e
daquilo que é crível ou incrível.
Nesse
sentido, assim me parece e reconheço que talvez possa estar errado
aqui, mas avanço nessa análise, o poder parece avançar pelo
caminho das aparencias e ficar mais amplificado no domínio das
crenças e percepções, enquanto a verdade acaba sendo se
objetificando ou procurando se objetificar no conhecimento mais
preciso, metódico e justificado dos seus objetos. São dois
conjuntos amplos que se conectam quando há relação entre Poder e
Verdade pela via do pensamento.
Parece
haver, então, uma espécie de genética a ser descoberta para ambos.
E essa genética ou genealogia para quem gosta mais dessa expressão
nos leva para a dimensão temporal onde a universalidade ganha suas
planícies e exibe os relevos de uma paisagem aparentemente
acidentada e errônea, mas que pode ser determinada em suas
coordenadas e medidas. O tempo aqui parece ser uma espécie de
depósito ou arquivo vivo da verdade. Já o poder precisa ser
sustentado ou repetido – ele necessita de sua reafirmação através
de registos ou informes – ele é atualizado no tempo numa dimensão
bem mais revisável do que a verdade. O poder parece ser mais exposto
à opinião. Isso me faz considerar que tem certas consequências
outras quando vamos relacionar e conectar poder e verdade.
A análise
desse processo me leva rapidamente para uma certa conclusão: O poder
precisa mais da verdade do que esta dele. Pois o poder pode sofrer
maior dissolução e perda de significado com mais facilidade. Sendo
assim devo considerar que poder e verdade se encontram em relações
assimétricas de níveis e em níveis diferentes de consideração,
pois as instancias de revisão do poder são mais suscetíveis e
menos resistentes que as instâncias de revisão da verdade. Quando
falo em instâncias aqui, estou a tratar principalmente dos momentos
de legitimação, reconhecimento e da possibilidade de reprodução
ou sustentação do significado do poder e da verdade. Por isso, ao
poder que depende mais da verdade do que o inverso é tão forte a
impressão de que não lhe vale apenas a verdade simplesmente.
Tudo se
passa como se a verdade tivesse uma maior relação ou uma relação
mais privilegiada com o tempo. Poderia chamar isso de duração, mas
creio que legitimação é aqui seu resultado mais conveniente porque
refere ao processo que sustenta e ao modo como se sustenta o
significado tanto de poder quanto da verdade. Logo, a legitimação
do poder pela verdade parece ser essencial a ele. Legitimar aqui
funciona como atualização do significado e presentificação do
poder. O significado, na acepção que uso aqui, não permanece ou
sobrevive se não for reforçado, repetido ou atualizado no jogo
social de linguagem. E o significado do poder tem, então, sua
sobrevivência mantida ou não, derrisória ou dissolvida,
fortalecida e ou reconstituída e instituída pelo jogo de linguagem e
suas dominâncias sociais.
Aqui
entra uma espécie de jogo de reconhecimento, aceitação ou
assentimento – para usar os três conceitos que me parecem clássicos
nesse caso – em que tanto o poder quanto a verdade passam por
processos eletivos diversos, porém combinados na análise que aqui
realizamos.
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