Ontem eu dei uma aula sobre
Platão para o primeiro ano da manhã. É a mesma aula que eu sempre dou quando
passo a abordar o tema das diferenças entre aparências e essências e também
sobre a diversidade de nossas crenças. Tratando do famoso mito da caverna
(livro 7 da República), que é talvez a alegoria mais importante da história da
filosofia. Tão importante que eu creio que por ofício nenhum professor de filosofia
pode negligenciar ou sonegar aos seus alunos e alunas uma aula sobre isto. Para
mim e outros ela tem grande serventia, seja como base de introdução ao
pensamento crítico, seja como base para esclarecer as posições céticas em
relação à possibilidade de sabermos algo sobre a realidade ou termos crenças
seguras sobre ela. Minha exposição sobre o mito da caverna tem diversas etapas,
mas não vou expor aqui isto agora. Ao tratar dos motivos que levaram às pessoas
que saem da caverna à voltar a ela para tentar libertar os demais dos grilhões
da percepção, da ignorância, dos costumes ou dos hábitos ou das correntes que
nos prendem à certas crenças, eu sempre faço uso de uma expressão familiar,
dizendo que o liberto volta para tentar libertar também seus irmãozinhos. Mas
ontem foi um pouco diferente, porque acabei explorando um pouco mais este
vínculo familiar e a virtude do que vivo agora e também do que já vivi antes.
Disse que devemos educar as pessoas para dar mais valor aos seus irmãos - sem
desprezar aqueles que se tornam membros da nossa família e aos seus irmãos por
acaso - mas eu disse que os irmãos naturais são importantes porque de fato são
aqueles que em muitos casos melhor nós conhecemos e nos conhecem e que de certa
forma nos acompanham muito próximos de nós em muitas coisas e assuntos ao longo
da vida. Exceptuando-se aqueles que não tem irmãos, creio que todos conseguem
entender do que falo aqui. Desde a mais simples cumplicidade no primeiro
segredo até as grandes alegrias, as dificuldades e desafios da vida. É tão bom
ter um irmão próximo, mesmo que ele só esteja ali, mas quem dirá quando ele
participa e quando ele é único a fazer o necessário para nos ajudar, corrigir,
criticar ou elogiar. Depois que eu disse isto, mais ou menos assim, uma aluna
começou a chorar. Prossegui na aula, na saída questionei ou perguntei o motivo
da aluna chorar e ela me respondeu que havia brigado com o irmão. Eu dei um
abraço e disse vai lá então é faz às pazes com ele. Não vais te arrepender...
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