Powered By Blogger

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

PERSONALISMO E FACCIOSISMO: AVALIAÇÕES POLÍTICAS 2012

"...em uma sociedade como a nossa, 
mas no fundo em qualquer sociedade, 
existem relações de poder múltiplas 
que atravessam, caracterizam e constituem 
o corpo social e  que estas relações de poder 
não podem dissociar, se estabelecer, 
nem funcionar sem uma produção, 
uma acumulação, uma circulação 
e um funcionamento do discurso. 
Não há possibilidade de exercício do poder 
sem uma certa economia dos discursos de verdade 
que funcione dentro e a partir desta dupla exigência. 
Somos submetidos pelo poder á produção da verdade 
e só podemos exercê-lo através da produção da verdade." 
Michel Foucault. Microfísica do Poder.

Avaliações, análises e diagnósticos na política possuem em si e trazem consigo propósitos. Mesmo em situações de vitória, as avaliações por mais brilhantes, claras e precisas tem propósitos. Avaliações apresentam motivações sob a camada retórica e também sentimentos que muitas vezes não são tão bem analisadas assim por seus autores. É por isto que alguns autores chamam e confundem discursos políticos com ações. Porque o discurso neste terreno age, faz algo não somente interpreta, descreve ou conceitua. Dá, este discurso, realidade a fatos, cria situações e condiciona as ações dos outros.  Assim, para traçar um paralelo libertador aqui, estamos em uma situação em que quando dizer é fazer, se transforma aqui em dizer com pretensão de fazer.

No caso de derrota nem todos os discursos e fazeres são bem vindos, porque é exatamente nesta situação que você não pode dar nenhum passo adiante partindo somente das pretensões ou das ilusões individuais. A não ser que você pretende andar sozinho ou construir uma perspectiva particular ou um projeto particular. Mas também é preciso entender que nem todo discurso é somente individual, pois também ocorre que alguns discursos aparentemente individuais introduzem de fato pretensões coletivas, ou seja, pretensões de células ou organizações parciais do partido. Talvez tenhamos que ser mais rigorosos aqui na nossa discussão e diferenciar “personalismo” de “espírito de facção”. São, na prática, dois tipos de desvios do projeto coletivo que geram vários desencaminhamentos. Mas é claro que um partido democrático deve chegar em uma boa síntese de todos estes discursos e reduzir ao máximo a ilusão e o auto-engano em seu seio e em suas decisões. Porque é basicamente isto que leva para uma derrota. Por mais maravilhoso que seja o nosso projeto ao se acrescentar a ele a hegemonia de personalismos ou o espírito de facção se engendra a derrota que tivemos. Assim, quando se avalia a coordenação de campanha, os caciques, os candidatos, o slogan, o projeto e as atitudes individuais de cada um devemos ser capazes de olhar sim para os erros em todos nós. Na medida exata de nossas responsabilidades.

Eu adoro falar em renovação também, aliás creio que todos os quadros intermediários gostam disto por sua própria natureza, mas a forma como se fala disto e as pretensões que se apresentam ao tratar disto dizem muito sobre se a renovação é real ou somente de aparência. Não me serve de nada uma renovação que reproduza os mesmos erros anteriores ou que engendre de novo ilusões pessoais e fantasias de grandeza. Não me serve de nada se isto vier a gerar mais degeneração burocrática e maior submissão a uma ordem externa para a qual pouco importam os resultados locais, mas sim a contribuição do local nos resultados regionais ou proporcionais. E nós sofremos disto no último período. Há que se fazer algum esforço para que o PT de São Leopoldo não se resuma em um curral eleitoral para aqueles que querem apenas lavrar votos proporcionais em 2014, sem pensar nas consequências da derrota local ou da dissolução da representação local no cenário estadual e nacional. E percebo nitidamente estas pretensões aqui.  

No nosso caso, em especial, temos que levar em consideração que a própria derrota foi causada por estes desvios – que alguns chamam de personalismo aqui e ali. Mas é preciso, como tentei mostrar aqui, esclarecer melhor o que é o personalismo ai. Não creio que seja possível, como já disse antes, recuperar os prejuízos e perdas do último período sem fazer certas avaliações sobre nossos erros para reconstruir – porque já tivemos isto sim – uma forma de atuação coletiva acertada e que reconstrua a confiança do povo em nosso projeto e nossa forma de atuação. Para isso é preciso cuidar muito o que se diz sim. Porque a unidade é mais necessária do que parece. Mesmo aqueles que olham para a atual circunstância vislumbrando uma oportunidade de ascenção, de substituição de caciques ou de mera vingança, tem ou não responsabilidade sobre o futuro que devemos construir. E nós devemos dizer claramente que propósitos e quais pretensões são cabíveis para o futuro próximo, excluindo sim aquelas que vão nos levar de novo para o facciosismo e o personalismo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário