A imagem singela e carregada de sentidos com o
seguinte texto
“Deus não te prometeu uma vida sem problemas...
(a imagem de Daniel na cova dos leões)
Mas prometeu que se tiveres fé, te ajudará a
resolvê-los.
Quero mais é ser feliz! (na vertical)”
Sempre digo algo mais ou menos assim: a gente precisa
conseguir enfrentar os cavacos do ofício e os percalços da vida. Não há nenhuma
profissão cujo tarefa não envolva superar dificuldades e não há nenhuma
biografia que não tenha seus obstáculos.
Um aluno me perguntou se eu acreditava em Deus.
Eu respondi assim: “não discuto crenças...é uma discussão que não
resolve nenhum problema...sou um ateu abalado digamos assim...e é só...”
Isto aborrece um pouco as pessoas
que ficam patrulhando tua fé.
O aluno me respondeu: somos dois!
Um amigo, por seu lado, me
respondeu assim:
“A palavra crença não se remete
somente na crença de um criador; que isso para mim é obvio, pois tudo o que
existe, e em perfeita harmonia no Universo, não pode ser obra do acaso. Mas
crença é acreditar em algo.
Se tu dizes que não discute crenças, acreditas no nada? E a
tua ideologia política também é nada? Abraço...”
Posto isto, respondi assim:
Aprendi que quem cobra confissões
ou exige justificativas de opções pessoais dificilmente aceita opções pessoais
diferentes das suas.
Já desisti de julgar as crenças das
pessoas a muito tempo.
Outra coisa é simplesmente usar a
argumentação ou toda a tua capacidade argumentativa para tentar provar que o
outro está errado ou que está em contradição.
E o que segue
agora são excertos das minhas respostas e propostas de diálogo organizados em
forma de texto.
Porque você precisa provar que o
outro está errado? Com que direito? Qual o seu propósito?
E não culpo nem ideologias nem
religiões pelos atos das pessoas.
Age certo quem tem a percepção
correta e a sensibilidade correta das situações e pouco isso tem haver com suas
ideias ou crenças.
A tentativa de emparedar as pessoas
por suas crenças me é muito ofensiva.
Cada um deve saber, da melhor forma
possível, escolher as suas próprias crenças, sejam elas políticas ou
religiosas.
E se não conseguir não pode ser
condenado.
Já tentou selecionar de todas as
tuas crenças quais merecem revisão ou quais são mais sólidas. Esta tarefa
cartesiana pertence a cada um de nós. Mas disso não se segue que cada um de nós
será feliz nesta empreitada.
As escolhas de crenças, a eleição das melhores crenças
a adesão a crenças é algo extremamente pessoal mesmo. Não posso culpar a
televisão, a igreja, o partido político, os professores, os pais ou as más
influências o tempo todo. O sujeito com maior ou menor consciência consulta seu
coração e pensa e vai lá e escolhe.
Não me cabe julgar estas escolhas.
Posso ter opinião, mas não juízo a
respeito destas escolhas.
Posso estar errado nesta matéria,
por mais que eu saiba A ou saiba B.
Um velho colega dizia que há uma
assimetria entre certas crenças nossas. Por exemplo, podemos dominar a física
teórica e, no entanto, não ser capaz realizar operações triviais por
simplesmente não ter certas crenças.
O tema das promessas de Deus,
também remete ao nosso tema sobre as expectativas que temos em relação aos
outros.
E isso também é uma questão de
crença.
Ou seja, nossa convicção sobre as
promessas de Deus é tão plausível quanto nossas expectativas em relação ao
próximo. Quer dizer podemos acabar frustrados e sendo Deus ou o próximo, não a
grandeza nem nível superior de garantia em relação a isto.
Este é um argumento que nos leva
para o terreno do ceticismo e do ateísmo, mas ele não é resultado da maldade
nossa ou de nossa imoralidade, simplesmente é plausível e contrasta
radicalmente com a crença e as apostas de muitos amigos nossos.
Compreender, nesta matéria é, as
vezes, muito mais importante do que julgar.
Se eu compreendo que pode haver
esta frustração da minha expectativa e se eu aceito isto, posso renunciar ao
julgamento sem me sentir obrigado a condenações ou avaliações de
intencionalidade.
Sobre a importância fundamental de
uma crença eu diria que eu creio sim que devo crer em algo, devo ter alguma
esperança para conseguir prosseguir andando neste grande vale de lágrimas que é
o mundo.
Para resolver os problemas.
Penso sem arrogância e com muita
humildade que na minha vida tenho conseguido coisas maravilhosas acreditando na
força do trabalho e também acreditando nas pessoas.
Mesmo quando as pessoas erram,
compreendendo seus erros, consigo melhores resultados com elas do que as
condenando.
Não seria mais professor se não
tivesse fé na educação.
Com todos os problemas que a
educação possa ter.
A única prova que eu conheço para
este tema da importância das crenças fundamentais nas quais apostamos é a vida
prática.
E nesta matéria cada um sabe de si
porque boa parte delas pertencem muito à intimidade da gente. Não saímos por ai
dando discurso sobre isto.
Quando alguém não está entendendo o
que digo aqui fico me esforçando para esclarecer mais.
Pelo menos a acepção e os usos que
dei aqui a expressões como crença e ou fé.
É um bom debate filosófico se o
viés é cognitivo, mas é comum as pessoas usarem, segundo entendo, uma acepção
que pula do domínio do conhecido - da diferença entre saber ou não saber ( com
a confusão sobre crença e saber aí) para o domínio do ser do que é ou não é, ou
do ser e do nada.
Suponho que esta resposta e este discurso
subestima este detalhe: que você tenta refutar o que digo apelando para o tema
da política por algum motivo de sua própria preferência ou predileção.
Não tem problema. Devemos respeito
igual ao interlocutor.
Vejo certa arrogância desnecessária
na pretensão dele de tentar encontrar uma contradição em mim quanto ao tema de
não discutir as crenças privadas ou pessoais das pessoas.
Jamais devemos renunciar ao ato de
julgar, em matéria de conhecimento, julgamos sim, assim como podemos julgar
racionalmente se a aplicação de certos conceitos é pertinente.
E julgar pelo conceito de crença ou
o conceito de crença que cada um de nós foi capaz de construir ou compreender.
Julga uma crença é o que, aliás, me parece estranho quando se está confundindo
ser e conhecer ou ser e pensar.
Estou copiando e relendo o que
dizes para não cometer nenhuma injustiça. Mas veja bem a expressão que você
usou: "Mas crença é acreditar em algo. Se tu dizes que não discute crenças,
acreditas no nada?" Quando digo que não discuto crenças quer dizer que só
discuto aquilo que é matéria de conhecimento. E isso não me faz acreditar no
nada, quanto menos ainda no nada político.
Apesar de qualquer diferença que
pode haver entre minhas crenças religiosas e políticas e as sua, te afirmo que
ainda acredito sim e conheço sim muitas coisas que são melhores que outras.
E não acho tolice que meu juízo
sobre o que é melhor ou pior tem natureza ou a pretensão de ser superior a uma
mera crença.
Trata-se aí de conhecimento, não de
mera opinião ou crença.
É legal o debate que nos leva a
pensar também e de novo no fato (olha só) de que todo conhecimento tem em si
uma crença, mas que nem toda crença é um conhecimento.
Ou seja, a verdade de nossas
proposições não decorre da nossa mera compreensão delas.
Mas o debate aqui caminha cada vez
mais para detalhes mais técnicos de filosofia e não quero levar até este ponto
sem o teu consentimento.
Conduzir um interlocutor contra a
sua vontade para dentro de um esquema lógico é um abuso no diálogo.
Trazer para o terreno do debate
filosófico deixa as coisas mais difíceis para a gente, porque daí não dá para
ter uma compreensão genérica ou carregada de concessões conceituais que são
inaceitáveis de um ponto de vista lógico mínimo.
Espero que o que disse acima
esclareça este ponto.
Porque neste caso não é só questão
de opinião não.
Ou você confundiu crença e
conhecimento ou você nâo confundiu.
Ficar forçando uma prova exige
levarmos o debate para uma disputa de razão. E isto vai acabar refutando um dos
lados então.
Eu estava aliviando, desde o início
da discissão, em relação às crenças religiosas ou preferenciais das pessoas e
vir me refutar por isto, exigindo uma crença na divindade não nos ajuda em
nada.
Não tenho nenhuma dúvida sobre
isto.
Qualquer sujeito pensante tem
plenas condições de debater qualquer coisa assim como eu, mas isto não
significa que o que importa aqui é quem tem razão.
O que nos importa aqui é o que é
racional.
Para ser mais correto não discuto
crenças que não precisam ser demonstradas como conhecimento.
As vezes a gente escreve mais e as
vezes a gente escreve menos do que deveria.
Se você concorda que todo
conhecimento é uma crença em algum sentido, então você admite uma das premissas
aqui.
E agora, se você concorda que nem
toda crença ou fé é uma questão de conhecimento e que as que não são questão de
conhecimento não devem ser discutidas por nós, então, por fim, você deve reconhecer
que minha afirmação:
Não discuto crenças!
Corresponde sim a uma posição
sensata e que não há nenhuma contradição nisto.
Temos que botar Deus e Cristo fora
disso.
Não quero negar nem afirmar o
criador.
Porque acho que isso cabe a cada um
crer ou não crer. É uma matéria de crença.
E ninguém tem o direito de me impor
a necessidade de fazê-lo.
Acabar por ficar recaindo na tua
prórpia fé e querer converter o outro não é uma atitrude de respeito com as
crenças alheias.
Cada um pode acreditar no que
quiser.
Neste sentido não posso julgar tuas
crenças.
E o crente pode também acreditar
tranquilamente que sabe com certeza de todo o seu poder.
Mas ele continuará com isso, esta
crença e esta pregação, não porque é importante para mim, mas sim porque é
importante para ele.
Não posso atestar as tuas crenças.
E você não pode atestar as minhas.
Pois não tratamos aqui de
testemunhos de fé.
Mas sim do fato que cada um de nós
possui suas crenças.
Independente do contraste ou da
força que cada um ergue a favor ou contra elas.
Forçar a barra não tem nenhum
efeito aqui.
E isto acabou de me ajudar a
mostrar que sim, que não posso discutir tuas crenças.
Repito: não discuto crenças...é uma
discussão que não resolve nenhum problema....sou um ateu abalado digamos
assim...e é só..
Quero, por fim, fazer um paralelo
aqui entre este debate e Daniel na cova dos leões.
Aquela imagem que aparece lá em
cima no início.
Ele só foi parar ali porque tinha
fé.
E só saiu dali porque também tinha
fé.
Só entro neste debate, porque tento
compreender e só quero sair dele com uma compreensão.
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