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terça-feira, 7 de agosto de 2012

SCHOPENHAUER E A MÚSICA

“A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende.” Arthur Schopenhauer

Meu aluno Felipe: “Não necessariamente...”

Respondi assim: sim Felipe!

E agora passo a revisão do meu comentário, porque este é um belo tema para estudo, discussão e investigação em filosofia, em especial agora com meus afazeres teóricos e práticos.

A perspectiva de Schopenhauer é justamente diferenciada de outros filósofos por isto: a vontade é superior a razão.

E esta vontade submete a razão aos seus ditames.

Sendo assim a música uma expressão de vontade, logo...

Um racionalista tradicional repugna isto por diversas razões.

Entre elas o fato de que a vontade não tem orientação possível que não seja da razão.

Aquela velha expressão vem à tona aqui: A vontade é cega.

O ato da vontade pode se dirigir a um objeto...ou o belo...mas quem comanda é a razão.

Na música...bem, segundo Schpenhauer pareceria quere dizer aí, na música temos um ato puro da vontade.

Pois a música expressa uma vontade que só conhecemos através da sua manifestação.

Que e cuja única expressão possível é através de sons.

Deste modo teríamos que decodificar aquilo que a vontade expressa.

(abro um parênteses aqui: é claro que nem toda música tem esta grandeza, ou seja, é claro que tem música s que são inferiores a este nível de vontade, seja porque expressam uma vontade fraca – incapaz e sem sentido, seja porque expressam uma vontade excessivamente racionalizada, uma vontade toda subordinada à razão que é esvaziada pro assim dizer dos eu sentido puro)

Como, por força de uma dádiva política, ando tendo experiências musicais eu diria que algumas destas experiências parecem atingir o sublime.

Ou pelo menos me parecem expressar o sentido de sublime que Kant (Crítica da Faculdade do Juízo), parecia sugerir com o juízo de gosto que de certa forma contrabalança razão, entendimento e sensibilidade numa síntese superior que não é meramente cognitiva, que tem conteúdo cognitivo, porque é assim que a reconhecemos e a apontamos como uma experiência superior a outras, mas que possui um algo mais aí, aparentemente indecifrável, portanto, que não se expressa simplesmente em palavras.

Ou seja algo que é da natureza da sensibilidade pura.

E aqui temos a maravilhosa e destacada relação entre Kant e Schpenhauer.

E não vejo uma direção da razão ou uma concretização de um ato objetivo ou singular da vontade aí.

Um exemplo disto derivado da minha experiência atual com música é que , como disse o meu regente de coral após uma determinada experiência:

“as vezes acontece algo que não é da natureza da técnica ou da natureza do metrônomo”

“uma certa sinergia na execução de uma peça ou de um conjunto que parece ser um segredo, um mistério, um enigma a ser interpretado”

Ele que é um regente bem experiente e tarimbado confessa, com uma modéstia notável, que não sabe este segredo, só sabe que as vezes acontece.

Assim, suplementando e  comentando aqui o esclarecimento dele: os ensaios ajudam, o entusiasmo ajuda, mas nem sempre acontece.

Ou seja, repetindo Schopenhauer aqui: existem momentos em que toda a potência da nossa razão é incapaz de dirigir ou produzir tal resultado.

Eu tenho uma formação razoavelmente racionalista e te diria que me surpreendo tanto quanto ele com isto.

Mas admitir tal coisa não me parece irracional.

Muito antes pelo contrário.

Aqui uso Kant para finalizar: não há nada mais racional do que ser capaz de reconhecer os limites da razão pura.

Ou seja, é bem racional dizer que a potência e o poder da nossa razão só chega até aqui.

Irracional seria julgar que se vai além, sem de fato ter nenhuma garantia disto. 

Por fim, recomendo que leia Kant e Rousseau, não necessariamente nesta ordem, antes de ler Schopenhauer.

Antes de concluir o diálogo, meu aluno postou o seguinte: “eu tambem ando ouvindo muita musica mas acho que o motivo seja depressão.”

Daí surgiu outro tema que também me chama atenção.

O fato de que em algumas composições parece que a vontade se expressa como dor e como sintoma de dor que é aquilo que nos faz chorar ou lembrar sentimentos dolorosos ao ouvir uma canção ou composição.

Assim, como o cinema escolhe trilha sonora para filmes de terror e são composições que agravam o temor e o medo.

Vou só resumir aqui.

Não sou capaz te explicar nem o motivo, nem a depressão, mas eu tive uma experiência muito interessante ao estudar filosofia: compreender que determinadas concepções filosóficas levam sim para a depressão.

Compreender que determinados sistemas metafísicos parecem oprimir aqueles que os estudam.

Vou falar rapidamente de dois.

Por exemplo, quando estudo Hegel sinto uma espécie de opressão metafísica.

Tudo é muito bonito, tudo é muito legal, mas a perfeição do sistema deixa pouca liberdade para o homem.

E isto não significa que não gosto de Hegel, gosto e tento compreendê-lo, mas procuro dosar o seu estudo.

Já quando leio Kant me sinto respirando ar puro e me sinto andando livre com o meu destino.

Ainda que esta não seja a intenção original de nenhum destes dois filósofos.

(se bem que Kant tem uma visão com um alcance que sempre me surpreende)

Mas a música às vezes dialoga com coisas que não conseguimos pensar efetivamente.

Neste sentido reponho Schopenhauer para você e talvez seja justamente esta a solução:

Admitir que não há uma explicação que resolva certas coisas.

Concluindo, gosto muito de Kant muito por isto: a razão tem limites!!!!

E para o jovem pretensioso, racionalista e arrogante intelectualmente que eu fui um dia, me foi um  grande conforto entender e aceitar isto. 

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