Meu aluno Felipe: “Não necessariamente...”
Respondi assim: sim Felipe!
E agora passo a revisão do
meu comentário, porque este é um belo tema para estudo, discussão e
investigação em filosofia, em especial agora com meus afazeres teóricos e
práticos.
A perspectiva de
Schopenhauer é justamente diferenciada de outros filósofos por isto: a vontade
é superior a razão.
E esta vontade submete a
razão aos seus ditames.
Sendo assim a música uma
expressão de vontade, logo...
Um racionalista tradicional
repugna isto por diversas razões.
Entre elas o fato de que a
vontade não tem orientação possível que não seja da razão.
Aquela velha expressão vem
à tona aqui: A vontade é cega.
O ato da vontade pode se
dirigir a um objeto...ou o belo...mas quem comanda é a razão.
Na música...bem, segundo Schpenhauer
pareceria quere dizer aí, na música temos um ato puro da vontade.
Pois a música expressa uma
vontade que só conhecemos através da sua manifestação.
Que e cuja única expressão
possível é através de sons.
Deste modo teríamos que
decodificar aquilo que a vontade expressa.
(abro um parênteses aqui: é
claro que nem toda música tem esta grandeza, ou seja, é claro que tem música s
que são inferiores a este nível de vontade, seja porque expressam uma vontade
fraca – incapaz e sem sentido, seja porque expressam uma vontade excessivamente
racionalizada, uma vontade toda subordinada à razão que é esvaziada pro assim dizer
dos eu sentido puro)
Como, por força de uma
dádiva política, ando tendo experiências musicais eu diria que algumas destas
experiências parecem atingir o sublime.
Ou pelo menos me parecem
expressar o sentido de sublime que Kant (Crítica da Faculdade do Juízo),
parecia sugerir com o juízo de gosto que de certa forma contrabalança razão,
entendimento e sensibilidade numa síntese superior que não é meramente
cognitiva, que tem conteúdo cognitivo, porque é assim que a reconhecemos e a
apontamos como uma experiência superior a outras, mas que possui um algo mais
aí, aparentemente indecifrável, portanto, que não se expressa simplesmente em
palavras.
Ou seja algo que é da
natureza da sensibilidade pura.
E aqui temos a maravilhosa
e destacada relação entre Kant e Schpenhauer.
E não vejo uma direção da
razão ou uma concretização de um ato objetivo ou singular da vontade aí.
Um exemplo disto derivado
da minha experiência atual com música é que , como disse o meu regente de coral
após uma determinada experiência:
“as vezes acontece algo que
não é da natureza da técnica ou da natureza do metrônomo”
“uma certa sinergia na
execução de uma peça ou de um conjunto que parece ser um segredo, um mistério,
um enigma a ser interpretado”
Ele que é um regente bem
experiente e tarimbado confessa, com uma modéstia notável, que não sabe este
segredo, só sabe que as vezes acontece.
Assim, suplementando e comentando aqui o esclarecimento dele: os
ensaios ajudam, o entusiasmo ajuda, mas nem sempre acontece.
Ou seja, repetindo
Schopenhauer aqui: existem momentos em que toda a potência da nossa razão é
incapaz de dirigir ou produzir tal resultado.
Eu tenho uma formação
razoavelmente racionalista e te diria que me surpreendo tanto quanto ele com
isto.
Mas admitir tal coisa não
me parece irracional.
Muito antes pelo contrário.
Aqui uso Kant para
finalizar: não há nada mais racional do que ser capaz de reconhecer os limites
da razão pura.
Ou seja, é bem racional
dizer que a potência e o poder da nossa razão só chega até aqui.
Irracional seria julgar que
se vai além, sem de fato ter nenhuma garantia disto.
Por fim, recomendo que leia
Kant e Rousseau, não necessariamente nesta ordem, antes de ler Schopenhauer.
Antes de concluir o
diálogo, meu aluno postou o seguinte: “eu tambem ando ouvindo muita musica mas
acho que o motivo seja depressão.”
Daí surgiu outro tema que
também me chama atenção.
O fato de que em algumas
composições parece que a vontade se expressa como dor e como sintoma de dor que
é aquilo que nos faz chorar ou lembrar sentimentos dolorosos ao ouvir uma
canção ou composição.
Assim, como o cinema
escolhe trilha sonora para filmes de terror e são composições que agravam o
temor e o medo.
Vou só resumir aqui.
Não sou capaz te explicar
nem o motivo, nem a depressão, mas eu tive uma experiência muito interessante
ao estudar filosofia: compreender que determinadas concepções filosóficas levam
sim para a depressão.
Compreender que
determinados sistemas metafísicos parecem oprimir aqueles que os estudam.
Vou falar rapidamente de
dois.
Por exemplo, quando estudo
Hegel sinto uma espécie de opressão metafísica.
Tudo é muito bonito, tudo é
muito legal, mas a perfeição do sistema deixa pouca liberdade para o homem.
E isto não significa que
não gosto de Hegel, gosto e tento compreendê-lo, mas procuro dosar o seu
estudo.
Já quando leio Kant me
sinto respirando ar puro e me sinto andando livre com o meu destino.
Ainda que esta não seja a
intenção original de nenhum destes dois filósofos.
(se bem que Kant tem uma visão
com um alcance que sempre me surpreende)
Mas a música às vezes
dialoga com coisas que não conseguimos pensar efetivamente.
Neste sentido reponho Schopenhauer
para você e talvez seja justamente esta a solução:
Admitir que não há uma
explicação que resolva certas coisas.
Concluindo, gosto muito de
Kant muito por isto: a razão tem limites!!!!
E para o jovem pretensioso,
racionalista e arrogante intelectualmente que eu fui um dia, me foi um grande conforto entender e aceitar isto.
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