Powered By Blogger

quarta-feira, 31 de março de 2021

CORAÇÃO PARTIDO: BART E O AMOR

 

CORAÇÃO PARTIDO: BART E O AMOR

 

O filme que está sendo exibido na Netflix, O Recepcionista (The Night Clerk, 2020), tem lá pelos últimos 26 minutos, um último diálogo de despedida entre uma bela jovem, Ana de Armas – a mesma que fez Joi em Blade Runner 2049,  com um jovem com Síndrome  de Asperger, muito bem interpretado por Tye Sheridan. Segue um spoiler.




 

Esta síndrome também conhecida como uma síndrome de espectro autista, uma forma de autismo um pouco mais suave e que permite alguma forma de adaptação social. Nesse diálogo, com uma jovem pela qual ele, seduzido e tocado, se apaixonou, sem receber correspondência e reciprocidade, fica claramente exposta as dores do coração partido.

 

Bart - Meu coração partiu.

Andrea - É mesmo?

B. Sim, dói muito.

A. Eu imagino.

B. Num estudo de 1993, pessoas que se diziam apaixonadas tiveram o cérebro escaneado para ver a atividade mental. O resultado mostrou cores vibrantes sobre a massa cinzenta que indicavam claramente que esse fenômeno do amor romântico libera um fluxo de dopamina sobre o núcleo caudado exatamente como a cocaína e a nicotina afetam o cérebro mostrando que o amor não é uma emoção como se julga, é um vício.

Quando essas substâncias são liberadas no cérebro, nós ficamos felizes e extasiados e a paixão pode ser tão intensa que nós perdemos a vontade de comer e dormir.

Então, é bom quando se tema  droga ou o amor. Mas quando fica sem, você sofre.

A.           Coração Partido

B.            Sim.

A.           Eu sinto muito.

B.            Os vícios são uma coisa muito perigosa.

A.           É, eu sei. Pode acreditar.

B.            As pessoas morrem de amor.

A.           `Pois é.

B.            É o fim. Elas morrem e é o fim.

A.           Bart....que se foda...Bart, sinto muito.

Eu sinto muito por tudo. Porque você é uma pessoa boa. É muito especial.

E se as coisas fossem diferentes, eu...mas não são.

Então, as coisas são assim.

Escute.

Estou feliz por ter te conhecido.

Não vou mais incomodá-lo.

Eu prometo.

Nunca mais.

Cuide-se.      

 

Ela expressa alguma piedade pelo sofrimento dele ao final, porém o que importa aqui é uma mensagem muito importante sobre amor, o tal “coração partido” e os “riscos” do romantismo não correspondido.

 

Achei excelente a forma adotada na narrativa de Bart, e toda a história e, em especial, de que nessa passagem temos uma ótima reflexão de um menino apaixonado, com Síndrome de Asperger, que olha para os seus próprios sentimentos de um modo muito objetivo e para explicar o que ele sente se serve de uma informação sobre os efeitos do amor no cérebro dos que amam que ele encontrou.

 

O diálogo resume de forma clara a assimetria e a perspectiva distinta entre o apaixonado e o objeto de sua paixão. E encerra com essa espécie de non sense declarado entre a amada que na alteridade é compassiva, mas sem conseguir oferecer reciprocidade, porque de fato não ama quem a ama.

 

Cuide-se.

Nenhum comentário:

Postar um comentário