CORAÇÃO PARTIDO: BART E O AMOR
O filme que está sendo exibido na
Netflix, O Recepcionista (The Night Clerk, 2020), tem lá pelos últimos 26
minutos, um último diálogo de despedida entre uma bela jovem, Ana de Armas – a
mesma que fez Joi em Blade Runner 2049,
com um jovem com Síndrome de
Asperger, muito bem interpretado por Tye Sheridan. Segue um spoiler.
Esta síndrome também conhecida
como uma síndrome de espectro autista, uma forma de autismo um pouco mais suave
e que permite alguma forma de adaptação social. Nesse diálogo, com uma jovem
pela qual ele, seduzido e tocado, se apaixonou, sem receber correspondência e
reciprocidade, fica claramente exposta as dores do coração partido.
Bart - Meu coração partiu.
Andrea - É mesmo?
B. Sim, dói muito.
A. Eu imagino.
B. Num estudo de 1993, pessoas
que se diziam apaixonadas tiveram o cérebro escaneado para ver a atividade
mental. O resultado mostrou cores vibrantes sobre a massa cinzenta que indicavam
claramente que esse fenômeno do amor romântico libera um fluxo de dopamina
sobre o núcleo caudado exatamente como a cocaína e a nicotina afetam o cérebro
mostrando que o amor não é uma emoção como se julga, é um vício.
Quando essas substâncias são
liberadas no cérebro, nós ficamos felizes e extasiados e a paixão pode ser tão
intensa que nós perdemos a vontade de comer e dormir.
Então, é bom quando se tema droga ou o amor. Mas quando fica sem, você
sofre.
A. Coração Partido
B. Sim.
A. Eu sinto muito.
B. Os vícios são uma coisa muito perigosa.
A. É, eu sei. Pode acreditar.
B. As pessoas morrem de amor.
A. `Pois é.
B. É o fim. Elas morrem e é o fim.
A. Bart....que se foda...Bart, sinto muito.
Eu sinto muito por tudo. Porque
você é uma pessoa boa. É muito especial.
E se as coisas fossem diferentes,
eu...mas não são.
Então, as coisas são assim.
Escute.
Estou feliz por ter te conhecido.
Não vou mais incomodá-lo.
Eu prometo.
Nunca mais.
Cuide-se.
Ela expressa alguma piedade pelo
sofrimento dele ao final, porém o que importa aqui é uma mensagem muito
importante sobre amor, o tal “coração partido” e os “riscos” do romantismo não
correspondido.
Achei excelente a forma adotada
na narrativa de Bart, e toda a história e, em especial, de que nessa passagem
temos uma ótima reflexão de um menino apaixonado, com Síndrome de Asperger, que
olha para os seus próprios sentimentos de um modo muito objetivo e para
explicar o que ele sente se serve de uma informação sobre os efeitos do amor no
cérebro dos que amam que ele encontrou.
O diálogo resume de forma clara a
assimetria e a perspectiva distinta entre o apaixonado e o objeto de sua
paixão. E encerra com essa espécie de non sense declarado entre a amada que na
alteridade é compassiva, mas sem conseguir oferecer reciprocidade, porque de
fato não ama quem a ama.
Cuide-se.
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