As vezes podemos dar a impressão
de estar fazendo troça de um intelectual quando o citamos arrevezadamente ou
quando analisamos resumos de suas idéias. E no domínio político este risco me
parece maior. Ontem citei aqui Max Weber através de um resumo cujo texto
interessa a um debate que devemos fazer sempre sobre as pessoas que vivem para
a política e as pessoas que vivem da política. Procurei problematizar na superfície
alguns problemas da abordagem dele. Mas isto não significa que destruí o
pensamento dele ou que não reconheço toda sua grandiosa e extraordinária importância
para qualquer discussão sobre política. E o texto do qual usei paráfrase é um
clássico indispensável e básico para quem quer se aventurar ou se dedicar a
este tema, seja em mero pensamento, seja na ação. Agora me parece ser um
momento privilegiado por necessidade e por “acidente” para a reflexão serena
sobre a ação, preparando uma nova ação e refletindo sobre o que se passou. Max
Weber conclui seu ensaio de 1918 – num contexto muito interessante aliás, com as seguintes palavras:
“A política é como a perfuração
lenta de tábuas duras. Exige tanto paixão como perspectiva. Certamente, toda
experiência histórica confirma a verdade – que o homem não teria alcançado o
possível se repetidas vezes não tivesse tentado o impossível. Mas, para isso, o
homem deve ser um líder, e não apenas um líder, mas também um herói, num
sentido muito sóbrio da palavra. E mesmo os que não são líderes nem heróis
devem armar-se com a fortaleza de coração que pode enfrentar até mesmo o
desmoronar de todas as esperanças. Isso é necessário neste momento mesmo, ou os
homens não poderão alcançar nem mesmo aquilo que é possível hoje. Somente quem
tem a vocação da política terá certeza de não desmoronar quando o mundo, do seu
ponto de vista, for demasiado estúpido ou demasiado mesquinho para o que ele
deseja oferecer. Somente quem frente a tudo isso, pode dizer “Apesar de tudo”
tem a vocação para a política.”
WEBER, Max. Política como Vocação.
Texto traduzido por Waltensir Dutra. In; Ensaios de Sociologia. p.89
Que elas sirvam para distinguir e
reconhecer identidades políticas e vocações políticas.
Por fim, li um texto paralelo no Facebook que me atiçou bastante.
Como eu gostaria que a clareza, a
precisão e o rigor fossem instantâneos nos nossos textos. Mas nem a realidade é
compreendida instantaneamente e nem a linguagem é assim também compreendida e
utilizada. Apesar da minha dedicação passageira a filosofia analítica, esta
escol em nada garante que as coisas sejam comunicadas tão claramente assim. Se
a clareza fosse o único requisito para resolver os problemas, milhares de homens
e mulheres antes de nós e mais brilhantes que nós, já teriam resolvido todos os
problemas do mundo e da humanidade. O problema é que os problemas mudam de
forma, as pessoas mudam de compreensão e de incompreensão também ao longo do
tempo, e as pessoas também mudam. Eu gostaria que todas as pessoas que dão palpites
em política ou que se aventuram a julgar os políticos dedicassem algum tempinho
maior de suas vidas para estudar este tema. Não são somente os políticos que
devem evoluir, mas aqueles que ficam sentados nas arquibancadas da política
também precisam evoluir e descobrir que preconceitos e juízos precipitados não trazem
bons resultados políticos.
Tenho convicção de que a
democracia brasileira evolui e que todos os agentes e cidadãos passam num
processo de aprendizagem. Nunca podemos esquecer que temos nos últimos anos o período
mais longo de democracia no Brasil, mas que são somente 23 anos de democracia
plena no Brasil em todos estes 123 anos de República. Assim, creio que impugnar
a democracia brasileira por este ou aquele resultado, a partir desta ou aquela
perspectiva é um ato de ignorância histórica ou de má intenção política.
“Apesar de tudo” devemos, então,
seguir em frente de cabeça erguida e aceitando e compreendendo todas as lições
da história e do povo que é o verdadeiro soberano numa democracia republicana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário