A PROFESSORA DA ALEGRIA
“(O conhecimento enferruja / Se a mente não pode amar.)”
Flowers and Leaves (1966), Guy Davenport.
Hoje é um dia muito triste para muitos humanistas e
civilizados, porque faleceu a Grande Professora da Alegria, Eloísa Helena
Capovilla da Luz Ramos. Foi professora estadual e do curso de História, incluso
pós-graduação em História da Unisinos.
Todos que a conheceram tem um testemunho para dar sobre essa
querida Professora da Alegria, além das muitas lições e trabalhos que ela
deixou com rigor científico e espírito de descoberta. E todos vão guardar ela
na memória e vão continuar vivendo, lecionando história ou outras disciplinas,
com esse mesmo espírito que é invencível em questões sérias e críticas.
Não fui aluno dela, mas a conheci e com ela privei de alguns
momentos maravilhosos que merecem registro. Eu teria muitos episódios para
apresentar aqui, como exemplos da sua extrema graça e precisão. Vou citar
apenas um. Íamos marcar um encontro para dialogar sobre minhas pretensões,
e-mails vem e e-mails vão, todos muito preciosos para mim, e de repente estamos
fechando, após abundante troca de longos textos, com um laconismo preciso, um
horário para nossa conversa e ela tasca “em horário civilizado, depois das 10
horas”.
Para esse pretenso historiador, ela foi de uma benevolência
e generosidade muito animadora e espero poder honrar a sua influência e
inspiração. Me incentivou muito a ingressar no mestrado de história a partir
daquele meu trabalho memorial sobre a praça do imigrante.
Ela era uma das professoras de história mais incríveis e
generosas que eu conheci. E conheci muitos professores e professoras de
história. Pertencia a uma rara tradição na história que muitas vezes é
subestimada como folclórica, quando de fato é história cultural e social.
Daqueles e daquelas que estudam as festas, os monumentos, as
cerimônias, as sociabilidades e as dinâmicas sociais que se encenam nos palcos
da vida com uma certa dose de astúcia e de benevolência perante a história da
humanidade e suas idiossincrasias de classes, gêneros, identidades e etnias,
sem nenhum sacrifício do rigor. É mais uma dessas pessoas maravilhosas que
tinha uma sobrante luz na alma e que nós perdemos para a Covid 19.
Assim, este é mais um dia que amanheceu muito triste e dá
sequência a essa grande tragédia que o Mundo vive. Com mais essa nota mais
triste ainda para o Brasil, para o nosso estado e nossa região metropolitana de
Porto Alegre que vem perdendo muitas pessoas inestimáveis.
Deixo meu grande abraço aos seus familiares, colegas, amigos
e amigas, alunos e alunas, orientandos e desorientandos. Vamos honrar a sua
memória e o seu espírito!
Muito obrigado Capô, por essa passagem linda e fértil de
amor e conhecimento!
Com muita gratidão!
Daniel Adams Boeira, Professor de Filosofia e História da
Rede Estadual.
Em 13 de abril de 2021.
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