Desde já reconheço meus limites.
Mas vou ousar em algumas linhas expressar o que penso com esses limites. Admiro
muito o trabalho de apreciação crítica e interpretação histórica, tanto quanto
o trabalho de facilitar a compreensão de uma obra ou obras, autor ou autores,
escola ou escolas em suas relações que atravessam tanto os limites da filosofia
no sentido restrito, quanto das relações com teorias de outros campos. Creio
que parte do trabalho filosófico é sim fazer a exegese interna, mas que também
é necessário situar certos tratamentos em sua relação com outros tratamentos do
mesmo tema ou de tema semelhantes. Tendo a simpatizar mais com certa ruptura
dessa dicotomia entre leitura interna e leitura contextual. Essa dicotomia me parece simplesmente ser produto da
especialização e também de um espírito de escola com altas pretensões à originalidade,
mas que muitas vezes desconhece tanto o que a tradição já elaborou ou
reproduziu melhor. A interpretação de uma obra filosófica e a construção de uma
história da filosofia mais ampla não poderá ser trabalho de poucos. Para mim,
não deixa de ser um trabalho necessário tanto pelo seu caráter formativo quanto
informativo. Eu creio que a leitura da
história da filosofia deve lidar com ambas as questões simultaneamente ou
sucessivamente. De um lado, apurar a leitura de contexto, de influências, de
ambiente e escola e também identificar os pares ou os bastidores de confirmação
ou negação de determinada obra, teoria concepção e, nesse sentido, deve-se -
porque é necessário compreender a obra internamente e nas suas relações com as
demais obras do mesmo autor e sua biografia - cotejar ou comparar uma filosofia
e uma abordagem filosófica à outras sim em especial quando tratam do mesmo
tema. A tentativa de montar um esquema conceitual simplificador e mais
analítico não precisa excluir o trabalho de investigação da estrutura profunda
de uma obra e suas relações externas epocais ou históricas. Não creio mesmo que
seja necessário fazer terra arrazada de tudo que não concordamos por que muitas
vezes talvez nos falte a compreensão da inserção disso em seu contexto de
produção e formação. Também simpatizo mais com um estilo de leitura mais
generosa que tenta fazer um esforço para conceder o ponto nos termos em que o
autor ou sua tradição o apresenta para só, então, passar a avaliar ou a pretender, com alguma modéstia e prudência,
investigar e esboçar sua legitimidade e relevância. Tenho por isso certa
simpatia a Foucault e Delleuze, por que eles justamente pertencem a uma
tradição que ousa ler a filosofia à contrapelo, o que não me parece apenas uma
questão de negação ou de inversão de valores ou perspectivas interpretativas.
Também leio ambos atento muito mais a fecundidade e a ousadia deles do que
propriamente por usarem um metro ou cânone reconhecido. Não subestimo certas
intuições de Nietzsche e Heidegger sobre o logos e a técnica. Creio que é
razoável desconfiar mais daquilo que chamamos de racionalidade e lógica, não
por sua consistência interna, mas por seu papel nas relações e nas questões
externas ao mundo filosófico e ao edifício da razão ocidental. Ainda acho que
devemos desconfiar muito de nós mesmos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário