Powered By Blogger

terça-feira, 5 de junho de 2018

REBATIMENTO ENTRE HISTÓRIA E FILOSOFIA NA MODERNIDADE - RELATO ESQUEMA EXPLICATIVO DE AULAS - 2012


REBATIMENTO ENTRE HISTÓRIA E FILOSOFIA NA MODERNIDADE
Na minha introdução à Filosofia Moderna, inserida no curso de filosofia para o ensino médio, em especial para as turmas de segundos anos do mesmo, me senti desafiado a relacionar a História da Idade Moderna com a Filosofia Moderna. Em parte, porque há uma determinada relação e uma determinada ligação para mim evidente entre os avanços científicos modernos e os avanços políticos modernos e o curso do desenvolvimento dos fatos e processos históricos e das obras e vidas de muitos filósofos ou pensadores modernos. Esta ligação ou relação nos envolve num problema que poderia ser discriminado de diversas formas. De um lado, a relação entre a modernidade e as tradições da antiguidade, medievalidade, e as tradições judaico cristãs e as tradições Greco-romanas. Isto em relação ao passado, aos fatos do passado e as obras e idéias dos pensadores anteriores aos modernos. Creio que poderíamos tratar isto como influencias, heranças e diferenças. E descobrir e compreender estes regimes de relações no ensina muito sobre o que realmente é moderno ou novo no pensamento moderno. De outro lado as relações entre os fatos modernos e as idéias modernas o que requer certa capacidade de dar atenção a detalhes, pequenos fatos e ingredientes que compõem o cenário e seus elementos modernos e também perceber grandes linhas de desenvolvimento dentro da história moderna. Algumas que representam grandes processos históricos de natureza complexa, tanto política quanto economicamente, quanto religiosa ou culturalmente, para usar as categorias que tenho usado para discriminar e classificar em fatores os fatos ou processos históricos. E ainda é preciso traçar as relações e os contatos entre estes dois universos de coisas distintas como idéias e fatos. Vejo um problema razoável ai. Ocorre talvez na idade moderna maios do que antes ou depois uma relação aparentemente causal entre idéias e fatos e fatos e idéias. Porém sendo mais rigoroso nãos e pode tracejar tão facilmente isto e seria de prudência e maior clareza se evitar justamente aqui a atribuição de causalidade e determinação haja visto que as idéias provém de indivíduos, no limite grupos de indivíduos, que elas sofrem alterações na recepção ou reprodução, que elas sejam interpretadas ou compreendidas de forma diferenciada do que foram concebidas e também são traduzidas para a realidade dos fatos co acréscimos ou faltas ou, melhor seria dizer, são alteradas ou até mesmo adulteradas em seus conceitos em vias de sua realização ou institucionalização. Então em parte por estas razões e em parte por outras vou adotar aqui neste ponto na conexão, ligação ou relação entre História e Filosofia, fatos e processos históricos e idéias e obras filosóficas a expressão de rebatimento. Retiro esta expressão do meu Professor João Carlos Brum Torres cujo uso tem certa regularidade, de alguns textos de arquitetura e planejamento urbano, de algumas análises econômicas de impacto entre esferas inferiores ou superiores de estado ou de organizações políticas. Ao dar uma busca sobre o termo reconheci o seu universo de origem na geometria plana.  Bem não vou me dedicar e detalhar as acepções de cada um destes registros de uso, mas sim passar a forma como o compreendo e ao que creio que ele permite compreender ou exemplificar em uma linguagem mais coloquial. Uso rebatimento pensando no que ocorre dentro de um jogo de tênis quando após o saque – a iniciativa do adversário cabe a você responder ou rebater a bola lançada ao teu campo devolvendo-a ao campo do adversário. Caso você não rebata ou a bola vá fora ou o ponto é dele ou o ponto é seu. Caso ele dê um saque tão forte que você não consiga sequer rebater e a bola passe por você em alta velocidade será chamado de Ace. E isto me basta para resumir a relação entre fatos históricos e idéias como uns respondendo aos outros ou não através de sujeitos históricos que assimilam ou não a bola lançada ou a jogada lançado por um ou outro. Então explicar a relação entre filosofia e história na idade moderna evolveria descriminar e compreender os rebatimentos entre uma esfera e outra de assuntos humanos. Como há certa e notória dificuldade inicial, de determinar quem saca primeiro ou quem rebate depois a gente adota a orientação de reconstruir um cenário com os elementos do inicio da idade moderna para se perceber em que ambiente os filósofos modernos iniciam o seu processo de formulação e construção de idéias seja para a política seja apara ciência ou outros assuntos.              

PLANO DE OBRA 2013 - ESBOÇO DE LIVRO SOBRE FILOSOFIA - O IMPENSÁVEL


A - ANOTAÇÕES SOBRE A FELICIDADE EM ARISTÓTELES
A - O QUE ME FEZ ESTUDAR OUTRAS COISAS?
A - REFUTAÇÃO DE ARISTÓTELES EM GAMMA 4 (SOBRE OP PNC)
A - SOBRE A VERDADEIRA CORAGEM – ARISTÓTELES
A CRISE – EINSTEIN
AA - O QUE ME FEZ ESTUDAR FILOSOFIA? – PORQUE FILÓSOFO? E SUA JUSTIFICAÇÃO
AAA - APRESENTAÇÃO
AAA - DO RISO E DA GRAÇA – REFLEXÃO PREPARATÓRIA
AAA - IMPENSÁVEL - ESQUEMA DO LIVRO
AAA - O QUE EU REÚNO AQUI?

BIO - SCHOPENHAUER POR SAFRANSKI – BIOGRAFIAS

C - AINDA SOBRE A GLÓRIA – ALICE NO ESPELHO
C - CARTA À MINHA MÃE (FALTA)
C - CLAUDE LEVI-STRAUSS
C - CRÍTICA E AUTO-CRÍTICA: A CURA PELA DÚVIDA
C - FILOSOFIA E POESIA, HOLDERLIN, PLATÃO, SÓCRATES E JOBS
C - GENEROSIDADE E CETICISMO – 2012
C - JOVENS E SEUS POETAS
C - MÚSICA E FILOSOFIA – RUDIGER SAFRANSKI
C - MÚSICA E PENSAMENTO
C - O CAMINHO DAS LETRAS, DAS ARTES E DA CULTURA: UMA DÁDIVA
C - ODISSÉIA – O ENCONTRO DE ULISSES E AQUILES
C - PORQUE JOBS AQUI?
C - REFUTAÇÃO DO CETICISMO DE BERKELEY POR SAMUEL JOHNSON
C - SCHOPENHAUER E A MÚSICA
C - SOBRE CALVINO, BORGES E A IMAGINAÇÃO
C - SOBRE EDUCAÇÃO ESTÉTICA
C - SOBRE O DIÁLOGO POR BORGES
C - WALTER BENJAMIN - DOCUMENTO DE CULTURA E DOCUMENTO DE BARBÁRIE

D - A FILOSOFIA EM PRIMEIRA PESSOA
D - DESCARTES – PREPARANDO UMA PROVA
D - O FUNDAMENTO DO SUCESSO NO SUJEITO
D - O PROBLEMA DO PENSAMENTO –
D - O QUE É VIVER SEM FILOSOFAR? DESCARTES
D - OS 400 ANOS DE RENÉ DESCARTES (TEXTO COMEMORATIVO DE 1996 REVISTO E AMPLIADO)

D - RENE DESCARTES - A DÚVIDA NOS PRINCÍPIOS DE FILOSOFIA
D – W - O TRACTATUS E A RÉS COGITANS

E - A REPRODUÇÃO E A EDUCAÇÃO
E - MELANCOLIA FILOSÓFICA POR DAVID HUME
E - SANTO TOMÁS DE AQUINO – COMO É POSSÍVEL ENSINAR?

E - SOBRE A MELANCOLIA DE DURER (HEIDEGGER E BEETHOVEN)
F - A ACME DOS FILÓSOFOS ATUAIS
F - A APOLOGIA DE SÓCRATES
F - A BUSCA DA FELICIDADE  - PURSUIT OF HAPPYNESS
F - A CONDENAÇÃO DE SÓCRATES: PLATÃO E A DEMOCRACIA
F - A INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
F - A METÁFORA DO CAVALO
F - A REPÚBLICA DE PLATÃO
F - A VIDA QUE VALE A PENA SER VIVIDA EM PLATÃO
F - ARISTÓTELES - METAFÍSICA - LIVRO 1 CAPÍTULO 1
F - ARISTÓTELES E KANT NA CABEÇA
F - AS MALDADES E PERVERSÕES
F - CASTORIADIS – DAS CERTEZAS E DAS MIGALHAS
F - CHEGA DE MEDIOCRIDADE – CASTORIADIS
F - COERÊNCIA E PLATÃO
F - COMEÇANDO A LER HEGEL
F - COMO EDUCAR OS JOVENS PARA SEREM HONESTOS E NÃO EXPERTOS?
F - DOS HOMENS E ANIMAIS – PASCAL
F - E JEAN PAUL SARTRE INVADIU A AULA HOJE
F - EXTERNALISMO – PEQUENA REFLEXÃO
F - FILOSOFIA ANALÍTICA VERSUS FILOSOFIA CONTINENTAL
F - FILOSOFIA E AMOR A FILOSOFIA
F - FREUD – MOISÉS E O MONOTEÍSMO – DOGMATISMO E RELATIVISMO
F - FREUD E A MEMÓRIA DA CARNE
F - FREUD E O MAL-ESTAR DA CIVILIZAÇÃO
F - FREUD NA BBC
F - FREUD, IRLANDESES E CRAIC
F - HÁ MONSTROS EM TODAS AS COISAS
F - HEIDEGGER COMEÇA JUSTAMENTE PELO FIM ÚLTIMO OU PELO FIM DE TODAS AS COISAS
F - HOLDERLIN E O FRAGMENTO DO HYPERION
F - K - A BOA LÓGICA DE KANT E A INTRODUÇÃO AO FILOSOFAR
F - KANT E ARISTÓTELES E O GOSTO
F - LENDO SOBRE SÓCRATES
F - MEU PRIMEIRO TRABALHO DE FILOSOFIA
F - MINHA CAVERNINHA QUERIDA 0 CRÍTICA A DAVID COIMBRA
F - NOTAS SOBRE FILOSOFIA ANALÍTICA - FREGE E DUMMETT
F - O DESEJO DE UM OUTRO – KOJEVE
F - O EU DESGRAÇADO DA FILOSOFIA: HEIDEGGER E WITTGENSTEIN
F - O FILÓSOFO E O ERRO
F - O HOMEM UMA INVENÇÃO RECENTE – MICHEL FOUCAULT
F - O MILAGRE GREGO
F - O SOL DE SPINOZA
F - OS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS
F - PARAR DE FILOSOFAR?
F - PLATÃO – VIDA E OBRA
F - PLATÃO A ALEGORIA DA CAVERNA
F - PODER - FOUCAULT
F - QUAL É MESMO A LINHA DE FRONTEIRA ENTRE LÓGICA E FILOSOFIA?
F - SARTRE - A IDADE DA RAZÃO
F - SERÁ QUE A FILOSOFIA VAI PARAR UM DIA?
F - SOBRE A FILOSOFIA ALEMÃ
F - SOBRE A IRRELEVÂNCIA DA FILOSOFIA BRASILEIRA
F - SOBRE A RELAÇÃO ENTRE VIDA PRÁTICA E A VIDA TEÓRICA
F - SOBRE AS CRISES DOS ADOLESCENTES
F - SOBRE INTERPRETAÇÕES FILOSÓFICAS – PIERRE AUBENQUE
F - SOBRE MUDAR NOSSO ESTILO DE PENSAR
F - SOBRE O ESTALO DO PENSAMENTO E DO FILOSOFAR
F - SOBRE SER DURO NA VIDA - A MEDIDA EXATA
F - SOBRE USAR A CABEÇA PARA SE DISTRAIR
F - SUJEITO E VERDADE – CORNELIUS CASTORIADIS
F - TALES DE MILETO – NOTAS 1
F - TALES DE MILETO CONTRA OS DEUSES?
F - TRANSIÇÃO DE PARADIGMAS – THOMAS KUHN
F - VERDADE E MÉTODO & MÉTODO E VERDADE
F - VERITAS TEMPORIS FILIA
F - VOCÊ NÃO ESTÁ SEGURO NO QUE DIZ? – MICHEL FOUCALT

FA - MINHA PRIMEIRA AULA DE FILOSOFIA 1992 – 2012 – MEMÓRIA
FA - SUBFUNÇÃO PENSAMENTO FILOSÓFICO – AULAS
FAZER O ANTES, DEPOIS & O DEPOIS, ANTES
 FILOSOFIA, O AMOR E AS IMPOSSIBILIDADES

H - HEIDEGGER – POR SAFRANSKI

I - O PERIGO DAS IDEIAS – CIORAN

ITALO SVEVO – A CONSCIÊNCIA DE ZENO E A AUTO-IRONIA

JANEIRO DE 2013 – O QUE FAÇO AQUI E AGORA

K - AQUI OS DOIS CONCEITOS DE FAZER FILOSOFIA DE KANT – APONTADO POR PROF. DR. PAULO FARIA
K - ARTE, ABELHAS E LIBERDADE EM KANT
K - KANT – A CRÍTICA
K - KANT E O PNC DE ARISTÓTELES: UM ESBOÇO (1996)
K - SOBRE A POSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO HUMANO – KANT E DESCARTES

L - SOBRE O MELHOR DOS MUNDOS POSSÍVEIS DE LEIBNIZ

M - A MEMÓRIA É UM EXCESSO
M - MEMÓRIAS DE UM HOMEM SILENCIOSO – DIGRESSÃO
M - SOBRE ESCREVER MEMÓRIAS

N - APRENDER A LER OS DETALHES – NIETZSCHE
N - DISTANCIAMENTO DO OBJETO DE NIETZSCHE
N - FRIEDRICH NIETZSCHE - VONTADE DE PODER - FRAGMENTO 1066 - ITEM 5
N - FRIEDRICH NIETZSCHE - VONTADE DE PODER - FRAGMENTO 1067
N - NEGAMOS AS CAUSAS FINAIS - NIETZSCHE
N - NIETZSCHE – SOBRE CONVICÇÃO
N - NIETZSCHE POR FOUCAULT
N - SOBRE A DOMINAÇÃO NO PENSAMENTO

O - ANOTAÇÕES SOBRE OPINIÕES
O - PORQUE NÃO DISCUTO CRENÇAS?
O - PREÂMBULO PARA UM DEBATE DE CRENÇAS, OPINIÕES E JUÍZOS
O - SILÊNCIO, PENSAMENTO E JUÍZOS
O ARGUMENTO DE MOORE SOBRE O “BEM”
O DESAFIO – GOETHE
O PESO DE PAPÉIS DE GILBERT RYLE

P - MAX WEBER – POLÍTICA COMO VOCAÇÃO
P - SOBRE PERSPECTIVA, SUPERVISÃO, VISÃO, PROXIMIDADE E DISTANCIAMENTO DAS COISAS
P - SOBRE TESTAR O CARÁTER DE UM HOMEM DANDO PODER A ELE
P - UMA VELHA CARTA SOBRE RECONHECIMENTO

R - A ÉPOCA DE OURO DA CIVILIZAÇÃO EUROPÉIA
R - CRISE NA UNIVERSIDADE DE OXFORD NA ERA THATCHER
R - FUTURISMO E JANUS: A DESCOBERTA DE ARTHUR KOESTLER
RAZÕES E DECISÕES

SER VERDADEIRO, NÃO PROFUNDO
SOBRE COINCIDÊNCIAS, SINCONICIDADE, NOMES PRÓPRIOS
SOBRE O DUALISMO CATEGORIAL E O MANIQUEISMO
SOBRE O GRANDE UNIVERSO E A QUESTÃO COSMOLÓGICA

T - AS PESSOAS EM TEMPOS DIFERENTES

V - A DURA REALIDADE SEGUNDO MEU PAI
V - ACEITAR O INFERNO E TORNAR-SE PARTE DELE – ITALO CALVINO
V - ALEGRA-TE AO EQUILÍBRIO
V - AMOR, COGNIÇÃO E CETICISMO
V - AS PESSOAS QUE NÃO MUDAM, MUDA É O NOSSO OLHAR SOBRE ELAS
V - COMO SE SENTE UMA MULHER?
V - DA DIFERENÇA ENTRE A ATRAÇÃO FÍSICA E MENTAL
V - DA NATUREZA SELVAGEM – THOREAU 2012-2015
V - DE FRENTE PARA O SOL - IRVIN YALON
V - DO AMOR SUBLIME – BENJAMIN PERET
V - FINITUDE, TRAGÉDIA E DESAPARECIMENTO
V - HANNAH ARENDT E MARTIN HEIDEGGER: PEQUENO ENSAIO SOBRE A
V - HOLDERLIN - CURSO DA VIDA
V - HOUSE, DESISTÊNCIA E DEPRESSÃO
V - KIERKEGAARD – COMPREENSÃO DA VIDA
V - O AMOR É A MEDIDA DA ALMA
V - O EXEMPLO DOS GÊNIOS E A SUA INCOMPREENSÃO
V - O FRACASSO LHE SUBIU À CABEÇA – PITTY
V - O HOMEM SEM QUALIDADES – ROBERT MUSIL
V - QUEM VAI VENCER NO FINAL? – LUZES DA RIBALTA – CHARLES CHAPLIN
V - SCHOPENHAUER – A SOCIEDADE DOS PORCOS ESPINHOS
V - SIMONE DE BEAUVOIR - quer saber mesmo o que eu penso? Eu gosto dela.
V - SITUAÇÕES DIFICEIS E ZONA DE CONFORTO
V - SOBRE ESCOLHAS E CONSEQUÊNCIAS
V - SOBRE O AMANHECER E O RECOMEÇAR
V - SOBRE O ESQUECIMENTO
V - SOZINHOS NO MUNDO – ORSON WELLES
V - UM REFLEXO MENOR DO SOL

W - BIRTH’S OF WITTGENSTEIN (1997)
W - ENTENDER OU NÃO ENTENDER UMA PROPOSIÇÃO – WITTGENSTEIN
W - LUDWIG WITTGENSTEIN - INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS §428
W - O EU EXISTENTE E O EU DA REGRA (1994)
W - O PENSAMENTO PESCADOR DE WITTGENSTEIN (2013)
W - WITTGENSTEIN E A REDUÇÃO DO PENSAMENTO À PROPOSIÇÃO  (1995)

IRRACIONALISMO, A CRISE DA RAZÃO E A BEIRA DO ABISMO - INÉDITO DE 2014


IRRACIONALISMO, A CRISE DA RAZÃO E A BEIRA DO ABISMO

“Fiat lux”

Hoje recebi um panfleto cuja pergunta se aduziu à minha investigação filosófica sobre a crise da razão e seus temas atuais. Dizia mais ou menos assim: Qual a solução para os problemas atuais? - A Filosofia; - A Ciência; - A Bíblia; e eu fiquei me lembrando que em qualquer um dos casos dependemos da crença e do sentido das palavras.  Assim, como tenho diferenciado em alguns debates crenças e opiniões, de informações e conhecimentos e tenho também considerado que há sim um grau de conhecimento superior a outros sobre certos fatos e certos conceitos. Mas eu sei também que preciso ter paciência com o conceito e com os fatos.

Então eu creio que a única solução continua sendo só e simplesmente apenas mais e melhor pensamento...Ao contrário do que comumente parece ser pressuposto por muitos, a crise da razão não  é somente a crise da razão, ela é também uma crise de fé. Tanto as palavras que a razão usa para ser reconhecida, quanto as palavras que os homens de fé usam para tentar tomar do limite da razão seus fiéis, estão em crise.  E quando as seitas religiosas ficam disputando uma verdade com a filosofia ou a ciência, ao meu ver, elas cometem um erro, pois estão erodindo o sentido das palavras e prejudicando a sua própria fé que também depende deste sentido para confortar, aliviar ou dar esperanças aos seus fiéis seguidores.

Quanto mais se afirma a crise da razão, portanto, mais se assombram em desespero aqueles que precisam de certificações para andar na face da terra. E pior fica a situação, no médio e no longo prazo, daqueles que oferecem alicerces frágeis para assegurá-los de que as coisas podem ser melhores ou podem ser melhor compreendidas e explicadas. E isso também, porque, podemos repetir aqui, a crise da razão não é somente a crise de uma doutrina abandonada na longa estrada da vida, mas sim a crise de uma civilização inteira que não se pode mais chamar apenas de européia ou ocidental.

E o problema da crise não é o sentimento atual de errância, mas sim o velho pesadelo da perdição, da decadência e da perda de uma espécie de organização que dá o chão de conforto, o sentido último e laicizado de andar sobre um solo seguro. A crise da razão perturba porque ela aponta não um problema de agora, mas uma dúvida sobre o que virá depois. A crise da razão não é encarada nunca como uma crise passageira. Porém, quanto mais se nega a crise permanente da razão, para evitar todo este ranger de dentes e sofrimento – do que o fim da história do Fukuyama foi a expressão mais cativante já apresentada, mais fácil fica aos detratores semear a discórdia e o desentendimento, pluralizar versões da história e, ao mesmo tempo, substituir sem avisos as plaquinhas de PARE na estrada.

E assim à beira deste abismo sou obrigado a parar para pensar na pergunta da esfinge. Antes de prosseguir andando pela estrada que mais parece um labirinto cheio de armadilhas do que uma via de passeio repleta de lugares aprazíveis. É meu amigo, você quis estudar filosofia – me lembrei do NIN KIRIA agora, expressão acidental de um aluno que virou nome de time de futebol  - pensando que ia encontrar um remedinho para dada dor e encontrou um campo de batalha que é sistematicamente pisado e repisado, sem vitórias no horizonte e sem um fim à vista dos teus olhos. Por andar pensando demais em negatividade, criticidade, refutações, relativismo, ceticismo e dogmatismo acabei encontrando alguém que não dá à mínima pelota as teses de fronteira, aos limites de escolas e muito menos ainda à nomenklatura consagrada. E eu estou ali sentadinho, assim me parece, bem onde se recoloca o nó de fundação da razão e do que chamam racionalidade. Não sei mesmo se o velho confronto e o mútuo amparo entre idealismo e realismo, baseado nas incompreensões já conhecidas entre proposições fatuais e requisitos formais se resolveu ou se resolverá. Mas isso é uma forma também de cair em certo tipo de irracionalismo.

Ficar contemplando o outro a partir de si mesmo não é mesmo a mesma coisa que se olhar ao espelho. Parece haver uma espécie de prerrogativa e necessidade auto-conferida e procurada de demonstrar, seja por palavras e argumentos, seja por formulas e cálculos, o que pode envolver a adesão a regras, certa análise conceitual e preferências doutrinárias também. Essa prerrogativa é passada como um bastãozinho de corrida certificador de que a luta continua, de que a razão se perpetua em sua diversas manifestações históricas, ainda que sofra abalos, crises e eventualmente também seja corrompida por um vírus recorrente e que se manifesta também de forma razoável ao bom senso de plantão ou ao senso comum acomodado.

Mas a crise sobrevém porque nem todos os planos dão certo, paixões incontroláveis aparecem de toda forma na vida das pessoas e das sociedades e uma parte razoável da civilização se comporta mesmo como massa, uma manada que corre para cá e para lá no que toca a idéias, ideologias, valores e também regras. Há uma tendência ao perfectismo (já chamei de absolutismo isso e aparece na paixão por pena de morte, forca, guilhotinas, guerras e soluções extremas para todas as coisas) como bandeira de racionalidade, ou seja, alguns crêem que vão determinar um resultado moral, político e  social com 100% de aproveitamento. Até o esquerdismo anda nessa vibração ambiciosa  a grande zona de conforto que é representada quase como um pedestal inabalável, mas não olham para o tempo, a circunstancia e as pessoas, então o alicerce que até então era bom, muito bom ou excelente, dá uma tremidinha.

Então, alguns correm, outros se vexam e se acovardam, se calam e não se pronunciam até que o velho bedel ou o novo ou o mais novo estagiário de plantão vai lá e reforça os preguinhos do realismo deste pedestal e ganha assento nas cadeiras mais nobres do salão de festas. Dizem alguns que até super bonder lá já colocaram nos fundamentos racionais das coisas, mas com muito cuidado, pois logo abaixo do taboão desta grande igreja da história, há um abismo para o qual o idealismo providenciou e providencia sempre uma nova esperança confortadora e libertadora bem ao lado das ilusões abandonadas do passado.

Sei muito bem que também a retórica em demasia – que aqui só serve para emocionar e não convence ninguém mais - pode prejudicar e nos afastar da verdade, mas fico aqui fazendo essa graça provocando a mim mesmo para ver se satisfaço minha vontade de encontrar uma saída ou uma entrada. Até mesmo porque ainda é e continuará sendo a velha e boa retórica que deverá acompanhar as velhas e novas, remoçadas ou aperfeiçoadas palavras para persuadir os homens e mulheres deste mundo.

Bento Prado Junior, em resposta á acusação de irracionalismo à Gilles Delleuze – e para o conforto dos que querem crer em outras coisas ou ler somente novidades nenhum deles está mais vivo afinal - em entrevista sobre Delleuze na Folha em 1996, disse o seguinte:

"on est toujours l' irrationaliste de quelq'un" –  “sempre se é o irracionalista de alguém” e eu fico após este arrazoado pensando em quem será que vai me acusar do mais intolerável e insuportável irracionalismo para ver o parâmetro que atingi e também a condição de perigo que ele expressa. Pois aquele que nega o que digo pode negar em todo, em parte e pode mesmo fazer isso sem dizer nada, pois no caso atual, até mesmo na ausência de argumentos e fatos, alguns julgam estar refutando aos outros ou aos demais e juízo moral não depende mais de moralidade alguma somente da oportunidade e da vontade superveniente da circunstância.

O texto inteiro de Bento Prado Junior, com o qual – para pensar - vou encerrar mais essa manifestação intempestiva, quase contra tudo e quase contra todos, é o que segue:

“Irracionalismo é um pseudo-conceito. Pertence mais à linguagem da injúria do que da análise. Que conteúdo poderia ter sem uma prévia definição de Razão? Como há tantos conceitos de Razão quantas filosofias há, dir-se-ia que irracionalismo é a filosofia do outro. Ou, pastichando uma frase de Émile Bréhier, que na ocasião ponderava as acusações de "libertinagem", poderíamos dizer: "On est toujours l'irrationaliste de quelq'un" (Sempre se é o irracionalista de alguém). Não, não é necessário defender Deleuze dessa acusação, à qual certamente não lhe ocorreria dar resposta. Basta sorrir. Quanto à questão do "pós-modernismo", a atribuição -até onde posso perceber- cabe mais a Lyotard (que a transformou em cavalo de batalha em sua polêmica com os alemães) do que a Deleuze.”

Segundo ele pastichando Emile Brehier "sempre se é o libertino de alguém"....

E na segunda versão que encontrei deste mesmo objeto de pastiche: "sempre se é o metafísico de alguém", por Gilson Inannini, em Estilo e Verdade em Jacques Lacan.

E assim a Esfinge me olha e eu olho para ela antes de responder a questão e decidir se me vou ao abismo da perdição e ao fim de toda esperança possível ou se prossigo minha viagem e apesar de tudo continuo confiando em meu destino, sem desolação, sem chorumela e sem lamentações pelo que não foi, pelo que ainda não é e pelo que não chegou.  Haveria alguma forma de razão suficiente que justificasse a tua passagem por este mundo?...e como já gastei todo o sentido das palavras, me calo tranquilamente esperando a próxima peregrinação...

As aulas começam esta semana dia 26 e a vida continua...

Para Gramsci todos os homens são intelectuais - nota inédita 2013


Para Gramsci todos os homens são intelectuais, ainda que não exerçam papel na produção de produtos intelectuais...vale dizer que todos os homes pensam mas nem todos fazem do trabalho do pensamento seu ofício ou o exercem como função ou papel social.

Gramsci Cadernos do Cárcere.

“cada grupo social, nascendo no terreno originário de uma função social no mundo da produção econômica, cria para si, organicamente, uma ou mais camadas de intelectuais que lhe dão homogeneidade e consciência da própria função, não apenas no campo econômico, mas também no social e no político” (GRAMSCI)

A teoria das elites é “uma tentativa de interpretar o fenômeno histórico dos intelectuais e a sua função na vida estatal e social” (GRAMSCI)

* “ver melhor uma categoria intelectual de um grupo social dominante”

A questão é saber se elementos de um grupo dirigido a medida que ascendem politicamente se dispõe a abrir mão de serem parte dos grupos dirigentes.

Em “Intelectuais e a Organização da Cultura”(1989), Gramsci afirma como tese central que os intelectuais são um grupo social autônomo, com uma função social de porta-vozes dos grupos ligados ao mundo da produção.

SOBRE A EXISTÊNCIA DE UMA ELITE INTELECTUAL ATUAL - INÉDITO DE 2013


SOBRE A EXISTÊNCIA DE UMA ELITE INTELECTUAL ATUAL



"Embora com nomes diversos, os intelectuais sempre existiram, pois sempre existiu, em todas as sociedades, ao lado do poder econômico e do poder político, o poder ideológico, que se exerce não sobre os corpos como o poder político, jamais separado do poder militar, não sobre a posse de bens materiais, dos quais se necessita para viver e sobreviver, como o poder econômico, mas sobre as mentes, pela produção e transmissão de idéias, de símbolos, de visões de mundo, de ensinamentos práticos, mediante o uso da palavra (o poder ideológico é extremamente dependente da natureza do homem como animal falante). Toda sociedade tem os seus detentores do poder ideológico, cuja função muda de sociedade para sociedade, de época para época, cambiantes sendo também as relações, ora de contraposição ora de aliança, que eles mantêm com os demais poderes." 

In: BOBBIO, Norberto.Os intelectuais e o poder: dúvidas e opções dos homens de cultura na sociedade contemporânea. São Paulo: Editora UNESP, 1997. p.11



Tudo bem amigo Jorge, isto não refuta tua objeção à existência de uma elite intelectual que é ainda assim uma questão importante. Eu fiquei curioso com teu argumento sobre a inexistência de elites intelectuais. Quero aqui só pontuar algumas coisas como exemplos de uma análise geral deste tema, porque sinceramente eu desconhecia argumentos contrários a existência de uma elite intelectual e, também, porque é um tema que sempre me atraiu e que com tua provocação me coloquei a tarefa de refletir sobre ele livremente de novo. Me dedico a ele, também, por uma necessidade de abordá-lo por diversas outras razões de minha biografia e formação.

Não sou um especialista neste grande tema das ciências humanas, que foi praticamente tocado por todos os grandes pensadores no século XX. A lista deles é notável. Talvez isto explique porque eu desconheça esta discussão sobre a existência de tal coisa também. Porém conheço, por outro lado, muitos trabalhos e discussões interessantes sobre elites, elites intelectuais e intelectuais em geral e destes já conheci muitos trabalhos notáveis, inclusive.

Confesso também que é um tema que me atrai, por conta do papel que a gente também acaba assumindo na sociedade quando se participa politicamente de debates, quando se formulam propostas e criticas também e se faz isto assumindo posição naquilo que chamamos de espaço público. Seja através de artigos em jornais, postagens no Facebook, no Orkut um dia, em Blogs diversos ou no meu blog próprio.  A cada tomada de posição por mais simples que ela te pareça estamos entrando num debate em que se encena também uma disputa de hegemonia e de ideologia, estamos professando concepções de forma mais ou menos consciente dependendo da forma como olhamos para as idéias e do respeito que temos pela importância delas e também dependendo da nossa consciência à respeito das suas origens e de suas conseqüências.

Assim, o papel de intelectual é exercido primariamente no debate público. Papel este que se desempenha correntemente, na medida em que se adquire por formação regular – e isso vale para todos nós que avançamos nos estudos até o ensino superior ou no mínimo técnico - um conjunto de conhecimentos técnicos ou culturais, científicos ou de trabalho e se aplicam estes conhecimentos ao debate. Estes conhecimentos que nos habilitam a tratar das questões de uma forma mais racional e precisa ou racionalizada e eficaz nos colocam por assim dizer acima da média, mas somente quando os expomos publicamente e sofremos, por assim dizer, o juízo e o julgamento de outras opiniões e de outros debatedores.

Mas não basta ter opinião, conhecimento, ciência, técnica, arte ou formação, para ser considerado intelectual, é necessária certa atuação pública, é necessário expor-se publicamente. Ou seja, não basta ter seu lugar na academia ou ter qualquer prestígio acadêmico ou profissional para ser considerado um intelectual, é necessário explicitar certa tomada de posição, a expressão de uma opinião pública ou de uma posição a respeito de assuntos públicos e sociais.

Sejam eles polêmicos ou aparentemente consensuais. Segundo a maior parte dos historiadores que examinam a história das idéias e a história dos intelectuais, o termo intelectual surge por volta de 1898 por conta dos debates originados no caso Dreyfus, quando Emile Zola e outros tomaram posição pública contrária à prisão deste tenente francês. O artigo inaugural para esta expressão e exposição de uma posição intelectual é J’accuse de Emile Zola, e a designação de intelectual foi dada positivamente por Georges Clemenceau quando este ainda era um jornalista e agitador político do cenário cultural francês, antes de vir a ser eleito alguns anos depois senador e primeiro ministro.

Mas é polemica também sua dimensão e polaridade porque também outros usavam o termo pejorativamente à época no sentido de que “estes intelectuais estavam ou estariam se metendo em assuntos que pouco dominam”, como foi o caso Dreyfus, em que um oficial era acusado de traição. Isto, aliás, é corrente ainda hoje quando se percebe que alguns argumentam contra o uso de teorias ou de argumentos teóricos, em prejuízo de uma simplificação ou de um tratamento eminentemente prático. Tive muitas experiências de ser acusado de estar teorizando ou de testemunhar esta acusação vã. Mas sempre lembro que boa parte das argumentações de cunho mais teórico acabam dando mais robustez ao debate. 

É importante frisar aqui que este conceito ou categoria surge também com um debate feito via folhas de jornal, revistas ou panfletos que tinham incidência sobre a opinião pública e que isso gerava debate na sociedade sobre este ou aquele tema. E penso que isto é importante porque contribui para dar forma a opinião pública e a opinião das gentes sobre diversas assuntos e está também ligado ao surgimento de um espaço público realmente democrático também com ampla e plena liberdade de opinião.    

A Elite Intelectual é somente prima facie uma categoria usada para discernir melhor tipos de intelectuais e famílias de intelectuais em níveis de intervenção. Haveria assim intelectuais com baixa repercussão e intervenção e intelectuais de largo impacto o que define pertencer a esta elite. Assim, a sua capacidade de incidir nos debates e seu poder de persuasão marcariam o pertencimento a elite intelectual.  A explicação que encontrei para isto, esta mudança de nível e de impacto, é de que é um substituto ao conceito de Marx de classe dirigente, porque daria conta da dimensão reflexiva desta classe ou de um extrato desta classe que elabora sobre a tal uma certa direção da mesma, mas é preciso diferenciar aqui, porém, espaços de debates dentro de uma classe dirigente e espaços de debates no espaço público.

Isso significa também que pertencer à elite intelectual não é sinônimo de defender as mesmas idéias ou que a elite intelectual não é homogênea em pensamento não. Ao contrário, um conflito intelectual também se dá dentro de uma elite intelectual. E mais frequentemente há grandes e intensos conflitos intelectuais e ideológicos no meio de uma elite intelectual. E, em geral, estas disputas geram facções dentro desta classe dirigente. É exemplar o que ocorrem nas revoluções das quais temos conhecimentos em que frações políticas se formam sob a direção de certas lideranças que somam aspectos intelectuais e retóricos, ideológicos e pragmáticos.

Raramente verás um intelectual deste tipo “elitista” debatendo em registro inferior aquele que ele julga possuir, com a plebe então nunca o verás. Ele em geral é seletivo e faz escolha de seus adversários e de suas prioridades de debate. Mas também existem intelectuais que não pertencem a uma determinada elite. Aqueles que se constituem na vida sem muita direção cultural ou formação regular. Isso, esta condição inferior, pode ser algo permanente, mas pode mudar por avanço social ou na carreira acadêmica, política ou profissional. Mas, também, pode mudar por protagonismo próprio e  assertivas  decisivas ao longo de suas tomadas de posição. Em todo caso, como eu já disse vamos ter que ver na prática – ou seja, através de exemplos de aplicação e não como quimeras ou arquétipos de generalidade – usando tua expressão, se esta categoria é dispensável ou não.

Uso ela – e imagino que a maioria que a usa compreende mais ou menos desta forma – porque preciso discernir certos papéis desempenhados por intelectuais, bem como, suas relações sociais e com o status quo.  Assim, como outros que estudam a história, a cultura e a política também usam esta categoria.

Disse também que considero tua pergunta importante porque ela vem de onde vem. Talvez você possa ou deva me explicar um pouco mais sobre o que te levou a questionar isto. Isto é, apor um argumento sobre isto.

Ora, pelo que sei és um Arquiteto com militância intensa na defesa do patrimônio histórico e cultural, seja ele material ou imaterial, por suposto.   

Você fala em definições ou arquétipos genéricos no sentido de que referem a algo inexistente então. Mas tem um traço importante nestas definições e nestas generalidades das quais você fala: muitos cientistas classificam as coisas fazendo exatamente isto, diferenciando-as de outras, por suas funções, modos de ser e etc.

Assim, comparativamente, como os arquitetos ou historiadores da arte diferenciam correlatamente estilos e escolas estéticas.

No ano passado, por exemplo, para ficar no caso dos gaúchos, naquela pesquisa sobre a praça tive uma experiência de descoberta interessante sobre este tema. Acabei encontrando e me defrontando com uma função típica daqueles que são membros das elites intelectuais gaúchas no início do século. E há inclusive um trabalho interessante sobre isto que descobri do professor Sérgio da Costa Franco. As elites intelectuais cumpriam uma função importante que era de sustentar a ideologia positivista ou republicana via revistas e imprensa em geral. Parte do prestígio de Getúlio Vargas, para ficar só num exemplo, se constituiu através da Revista do Globo que foi criada e dirigida em seu início por Mansueto Bernardi – aquele ex-prefeito de São Leopoldo (1919-1923), o qual foi sucedido por Érico Veríssimo na direção da Revista do Globo e na Editoria da Editora Globo, quando Mansueto segue para a direção da Casa da Moeda após a revolução de 30.

Muitos destes intelectuais da elite cultural gaúcha faziam isto com empregos públicos ou assessorando políticos. E isso certamente ainda ocorre hoje de uma forma semelhante, ainda que seja mais comum se ter certa independência maior nos dias de hoje, através dos concursos públicos. Ainda que isto seja mais especializado e de certa forma caiba a parte mais visível disto mais aos atuais jornalistas e assessores de imprensa, não é invisível a relação de organicidade entre diversos intelectuais e partidos e organizações políticas.

Eles – os jornalistas - são e tem sido mais visíveis ao fazerem isto e não mais tanto aos típicos intelectuais. Mas me parece que isto tende a mudar com o uso mais intenso de redes sociais e debates de opinião nas redes sociais. Muitos são pessimistas com isto, mas eu tendo a ser bem mais otimista e vejo em blogs e outros meios grandes debates. Até mesmo no Twitter ocorrem debates e divulgação de idéias e links que levam para debates e penso que isto está democratizando também o acesso e os espaços para a opinião também. Ainda que a visibilidade disto seja mais difícil de tomar eu discordo dos pessimistas neste tema. Bem se isto estiver certo talvez o conceito de elite intelectual tenha que ser mais alargado, posto que não haverá mais espaço para uma estreita parcela de intelectuais de elite como formadores de opinião, posto que aumenta o seu número e também a diversidade de assuntos tratados. Talvez neste sentido deixe de existir uma categoria tradicional de elite intelectual e tenhamos que criar outra categoria que me parece ser a de ativistas.

Por outro lado, creio que há uma fantasia por trás das redes sociais de que as redes sociais estariam fazendo algo exclusivamente novo e isoladamente das velhas categorias de circulação dos intelectuais como a política tradicional e representativa. Sinceramente não creio nisto. Mas se você raspar a camada superficial dos discursos dos políticos vai encontrar intelectuais envolvidos em debates e em formulações deles. Acadêmicos, PHDs, Pesquisadores, Escritores, e Pensadores em geral de diversas ciências fazendo este trabalho de conceber, sustentar e legitimar-se enquanto elite e enquanto uma elite portadora de um projeto de sociedade. Não podemos dizer também que não existem muitas elites intelectuais nas redes sociais, inclusive com diferenças ideológicas entre elas. Pelo menos eu as observo claramente por me ocupar com isto a partir de uma vida orgânica partidária e também a partir do meu intercâmbio com a academia e de certa forma com intelectuais de outros partidos também. Vejo isso com certa simplicidade. Assim como você se ocupa com o tema do patrimônio Histórico e conhece diferentes intelectuais, profissionais e pessoas com formulações sobre ele, algumas das quais inclusive você pode discordar, mas que compartilham com você de debates e de pontos Ed acordo em comum, também vale isto noutros domínios e assuntos.    

Creio que este tema do patrimônio histórico com o qual me envolvi intensamente como tarefa de gestor e também de elaboração, comcepção e pesquisa, nestes últimos dois anos e que me foi apresentado pelos membros do COMPAC e também por você e pelo pessoal da Defender, não é um tema simples. Sei que não é uma questão sobre a qual se discute de uma forma simples e, desta forma, posso dizer que ele também é um tema que requer uma elite e um conjunto de intelectuais que o dominem para ser tratado. O que ultrapassa a mera simpatia pela causa, pois envolve mesmo efetivamente todo um ramo de conhecimento e de especialidades que não é simplesmente apreendido pelo leigo como eu.

Tuas perguntas sobre como definir a categoria de elite intelectual, quem a integraria, o que faz e o que pensa, me parecem ter sido tocadas já aqui e envolvem de fato a necessidade de avançar para dentro da pesquisa e ultrapassar as opiniões sobre haver uma instituição ou não desta classe ou categoria.  

Sobre as elites intelectuais há, também, toda uma área de investigação sobre este tema que fica limítrofe à sociologia, história, história das idéias, literatura, estudos culturais, ciência política, e são pesquisas muito interessantes porque falam sobre esta categoria dos intelectuais e suas diferenças enquanto elites também.

Por fim, para não deixar de filosofar um pouco mais.

Talvez tenhamos ai a dificuldade clássica que se estabelece com a diferença entre predicados de objetos e predicados de famílias de objetos.

Elite Intelectual não refere a um objeto em sua homogeneidade, mas sim a uma família de objetos cada vez mais diferenciados e que é, como tentei expor antes, cada vez mais democrática.

Talvez por isto esta aparência de quimera ou de artificialidade nos dê na telha.

O nosso uso da palavra arquétipo, por outro lado, somado à generalidade já nos traz problemas de outra ordem.

Nos leva para a pergunta de se existe uma figura clássica e representativa de Elite Intelectual, que creio que não.

Este tipo sequer é necessário para reconhecer a existência de uma elite intelectual mais ligada a um espaço de atuação e circulação de idéias, que é mais amplo do que nunca e que há ai mais uma forma de atuação, do que propriamente um tipo determinado de sujeito histórico.

O que se preserva das figuras clássicas talvez seja o engajamento e a persistência no debate, mesmo quando ele pareça encerrado.

E eu gosto de sempre anotar ao final de um debate destes é se você alcançou ou construiu suas posições com o propósito de produzir uma mudança social qualitativa e não apenas exibir sua verve retórica ou entabular um debate.



sábado, 2 de junho de 2018

SOBRE ANÁLISE FILOSÓFICA CONTEXTUAL OU INTERNA


Desde já reconheço meus limites. Mas vou ousar em algumas linhas expressar o que penso com esses limites. Admiro muito o trabalho de apreciação crítica e interpretação histórica, tanto quanto o trabalho de facilitar a compreensão de uma obra ou obras, autor ou autores, escola ou escolas em suas relações que atravessam tanto os limites da filosofia no sentido restrito, quanto das relações com teorias de outros campos. Creio que parte do trabalho filosófico é sim fazer a exegese interna, mas que também é necessário situar certos tratamentos em sua relação com outros tratamentos do mesmo tema ou de tema semelhantes. Tendo a simpatizar mais com certa ruptura dessa dicotomia entre leitura interna e leitura contextual. Essa dicotomia  me parece simplesmente ser produto da especialização e também de um espírito de escola com altas pretensões à originalidade, mas que muitas vezes desconhece tanto o que a tradição já elaborou ou reproduziu melhor. A interpretação de uma obra filosófica e a construção de uma história da filosofia mais ampla não poderá ser trabalho de poucos. Para mim, não deixa de ser um trabalho necessário tanto pelo seu caráter formativo quanto informativo.  Eu creio que a leitura da história da filosofia deve lidar com ambas as questões simultaneamente ou sucessivamente. De um lado, apurar a leitura de contexto, de influências, de ambiente e escola e também identificar os pares ou os bastidores de confirmação ou negação de determinada obra, teoria concepção e, nesse sentido, deve-se - porque é necessário compreender a obra internamente e nas suas relações com as demais obras do mesmo autor e sua biografia - cotejar ou comparar uma filosofia e uma abordagem filosófica à outras sim em especial quando tratam do mesmo tema. A tentativa de montar um esquema conceitual simplificador e mais analítico não precisa excluir o trabalho de investigação da estrutura profunda de uma obra e suas relações externas epocais ou históricas. Não creio mesmo que seja necessário fazer terra arrazada de tudo que não concordamos por que muitas vezes talvez nos falte a compreensão da inserção disso em seu contexto de produção e formação. Também simpatizo mais com um estilo de leitura mais generosa que tenta fazer um esforço para conceder o ponto nos termos em que o autor ou sua tradição o apresenta para só, então, passar a avaliar ou a  pretender, com alguma modéstia e prudência, investigar e esboçar sua legitimidade e relevância. Tenho por isso certa simpatia a Foucault e Delleuze, por que eles justamente pertencem a uma tradição que ousa ler a filosofia à contrapelo, o que não me parece apenas uma questão de negação ou de inversão de valores ou perspectivas interpretativas. Também leio ambos atento muito mais a fecundidade e a ousadia deles do que propriamente por usarem um metro ou cânone reconhecido. Não subestimo certas intuições de Nietzsche e Heidegger sobre o logos e a técnica. Creio que é razoável desconfiar mais daquilo que chamamos de racionalidade e lógica, não por sua consistência interna, mas por seu papel nas relações e nas questões externas ao mundo filosófico e ao edifício da razão ocidental. Ainda acho que devemos desconfiar muito de nós mesmos.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Qual é o escândalo?


Qual é o escândalo?

As imagens das crianças desnudas,
As facetas de danças imundas,
As caretas lambuzadas e as bundas,
Os animais entalados e as tundas?

Qual é o escândalo?

 As imagens experienciadas e fundas,
As mensagens subliminares e duras,
As risadas silenciosas e mudas,
As bestiais fantasias e culpas?

Qual é o escândalo?

As cruzes desenhadas e rotundas,
As palavras caladas e surdas,
Os olhares vendados em fugas,
O inferno que negas e a censura?

Qual é o escândalo?

As cadeias entupidas e imundas,
As escolas vazias e sujas,
As guerras e as pessoas que escusa,
Ou o mundo todo em sacrifício faceiro?

Qual é o escândalo?


Nota: Escrito em setembro de 2017, em virtude da censura do MBL ao Queer Museu no Santander Cultural e em apoio a liberdade. Foi lido em atividade do Coletivo Urbano de São Leopoldo no Bar Bonifácio na noite de 4 de outubro de 2017 e dedicado ao Coletivo Urbano e a essa luta por cultura livre, democracia e liberdade de expressão e de pensamento.