Creio que a filosofia e aqueles
que se ocupam dela parecem estar todos bloqueados numa espécie de momento de
transição entre o logicismo e o existencialismo. Paramos em um vão de acesso em
que estas duas correntes se encontram. Como a pororoca encontra as águas do
oceano, as cores e as águas se misturam. Não se trata somente de rótulos de um
ou a prática e métodos de outro. Se trata da nossa conexão entre reflexão e
vida real, e não somente a nossa vida pessoal ou a nossa reflexão pessoal sobre
a vida. O pensamento tem que ir sim para além do eu, para além do próximo e
alargar cada vez mais nossas fronteiras de compreensão. Mas também precisa ir
para além da escola, ir para além dos dogmas da melhor escola - nem analítica,
nem continental, nem crítica, nem niilista, nem estrutural ou idealista - os
rótulos não são a questão, são tratamentos da questão.O movimento de redução e
simplificação pode envolver tanto a redução do enquadramento quanto a ampliação
excessiva do foco. Numa perspectiva só se avista o detalhe do detalhe e na
outra somente aquilo que é grandioso aos olhos ou aos conceitos. A superação
disso parece estar sendo construída por quem consegue compreender as duas
tradições e ultrapassar as fronteiras que desde o século XIX dominam a cena.
Estou prescindindo aqui sim do marxismo que é redutível - com muito esperneio
justo, mas ineficaz, ao existencialismo, mas ele volta - e do tomismo que é
redutível também ao logicismo e ou filosofia analítica. Mas aduzo aqui alguma
coisa sobre a saída possível: o conhecimento humano sofreu uma dilatação tão
grande e uma especialização tão grande que ainda resta papel para organizar
formalmente isso e conectar isso com a vida. A crise é sair do clichê fixo e se
arriscar. E não serão nem os cosmólogos e nem os neurocientistas que vão fazer
este trabalho para além de suas especialidades, não. A proeza retórica de
arguir o grande avanço da ciência parece que não tem olhado direito para o
nosso mundo real e seu estado deplorável sob um viés histórico e humano e ainda
é preciso fazer isso até que a filosofia acabe com sua tarefa de garantir a
reflexão ali aonde a dominação e a exploração continuam o governo dos homens.
Dizem que quem não faz política, sofre a política dos outros, pois quem não reflete
de fato sobre isto acaba sendo governado pela reflexão dos outros. E até onde
sei a gente ainda quer ser livre, feliz e viver em sociedades justas. Então, a
corujinha ainda tem muito barulhinho para fazer...
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