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sexta-feira, 16 de março de 2012

CULTURA COMO PRIORIDADE: ANOTAÇÕES DE UM DIÁLOGO NO FACEBOOK

CULTURA COMO PRIORIDADE

Reflexões matinais: você precisa ter liderança política e qualidade de gestão para colocar cultura como prioridade.

Não há outra alternativa.

Tal reflexão tem sido provocada pelo debate sobre gestão cultural que ocorre no Brasil hoje. A idéia de colocar a cultura como prioridade é uma espécie de desafio a todo gestor cultural, ativista cultural e ao público em geral.

Nesta semana li uma entrevista de Marta Porto em que o tema é também apontado como desafio para a gestão do MINC, mas me veio à cabeça o desafio de qualquer atividade cultural em geral. Ter cultura como prioridade depende de liderança e de qualidade de gestão, não basta ter os recursos e os programas, ou a mera vontade política, é preciso liderar o processo e dirigir de alguma forma o processo, seja por um coletivo, seja por agentes culturais reconhecidos e não meramente empossados ou alçados a gestão por delegação.

Não rola, diria um amigo, a comunidade não dá aval mais para certas inconsistências e a comunidade cultural brasileira em todos os níveis é sim seletiva e exigente. Por isto surgem debates sem resolução no último período, também por conta da incapacidade de convencimento e persuasão daqueles que deveriam ser os mediadores do processo de gestão cultural entre sociedade e estado. Por outro lado, suponho que surgem novas lideranças no cenário cultural que de certa forma geram um processo de contestação, mas há que se saber lidar com isto também, afinal, “o novo sempre vém”.

Postei no meu perfil do Facebook o que acabou gerando um bom diálogo com Flávio Jesus Moreira em resposta a algumas das suas colocações disse mais ou menos o que segue com algumas alterações para publicar aqui e ampliar a abordagem que foi muito pontual em relação a quatro outros temas que foram daquele modo simples encadeados ou encordoados como segue: sobre a passagem disto para a administração de empresas em geral – o que em sociologia podemos chamar de mudança cultural e alguns gostariam que fosse uma mudança estrutural; o tema desafiador da criação dos líderes para tais mudanças; o tema do preconceito em relação aos políticos e a aparente falta de contato entre estes e gestores privados ou empresariais; e o tema mais geral da construção da democracia no Brasil.

Ainda que talvez tenha menos interesse, este debate pode migrar com este mesmo conteúdo para a área empresarial ou de gestão em geral, ou, como no caso que me foi sugerido, para a Administração de Empresas. Mas essa abordagem me auxilia a lembrar algo que nem sempre pensamos: a gestão é por si mesmo um ato de construção, manutenção ou transformação cultural.

Assim, visto deste modo, fica valendo, então, outra máxima derivada de certo modo da minha reflexão matinal de que para ter liderança política é preciso ter compreensão cultural também.

Sim, é verdade que nos ressentimos de uma certa falta de lideres capazes de enfrentar a realidade, mas tem uma coisa que me dou conta como professor. Lideres precisam ser criados e educados, apoiados e compreendidos de uma forma estranha à primeira vista. Muitos consideram que liderança é um talento. Outros apontam que para liderar é preciso servir, mas eu não creio que esta seja a abordagem mais importante.

Porque o que vejo nos lideres, no seu desenvolvimento, biografias e etc, me parece incontestável que todos eles também erram. E no começo de sua jornada erram muito. Isso me leva a crer que um sinal de sua distinção não é simplesmente resolvido com o que chamam de visão, mas sim a ousadia de contrariar ou propor novas abordagens ou velhas abordagens de um modo novo.

Eles passam por um momento muito ousado, porque se arriscam a fazer algo que a grande maioria das pessoas jamais ousam fazer tão espontaneamente: pensar para além da matilha ou da manada.

E é uma arrogância isto, o que provavelmente provoca alguma rejeição inicial e simbólica

Quero dizer com isto também que desenvolver liderança não é só uma questão de talento e sorte. Precisamos muito aprender a reconhecer estas pessoas ou estes tipos de pessoas e incentivá-las, inclusive, compreendendo seus tropeços iniciais.

Falo da perspectiva de um professor que incentiva e apóia jovens ousam ou que ambicionam ser lideranças, mesmo sabendo que as vezes comprarão e vão aderir a conflitos que da minha perspectiva são desnecessários ou injustos ou despropositados.

Mesmo contra mim mesmo como professor.

Assim, parece após a observação de um tempo que deve haver um tipo de miopia inicial nas lideranças. Que nos seus primeiros passos isto também parece ser distintivo

Pelo que tenho aprendido com a minha experiência porque sempre observei uma rejeição que se dá nos primeiros passos. Na escola é aquele aluno que compra qualquer briga para defender uma posição, alguns são mais prudentes, mas sempre aparece aquele momento em que há um conflito que bem visto não faz sentido.

Outro assunto é a relação disto com a formação política. Penso que há um erro aí de avaliação de que na política há deficiência de formação. O espaço político é uma selva.

Tendo a respeitar muito os líderes que sobrevivem e se mantém neste espaço selvagem.

Mesmo que eu não goste de alguns deles por posições ou atitudes, mas não é uma coisa tão trivial assim sobreviver a um regime de competição em que a hierarquia e o poder estão sempre em cheque.

Em que estabilidade é somente o nome fantasia de um período de tempo entre uma eleição e outra, mas que nunca existe de verdade.

Na política o líder é testado sistematicamente todo o tempo por qualquer um, sem exceção.

Penso que na política a maior deficiência é exclusivamente de gestão e de compreensão de tramites burocráticos e que qualquer pessoa tem muito a aprender sobre liderança com qualquer político mediano, seja vereador, líder sindical, liderança social, deputado, prefeito e etc.

Mas por outro lado, é muito comum que a sabedoria dos políticos seja subestimada, mas é um erro fazer isto. O excesso de pretensão comum, aliás em pessoas que tendem a supervalorizar a formação e os espaços e padrões de gestão da iniciativa privada. Quando a gente ingressa na iniciativa privada e estuda padrões de comportamento percebe este desnível de liderança também.

Na iniciativa privada a diplomação e a formação continua do jovem até o adulto, nos bancos escolares, promove um tipo de liderança estranha até, salvo aqueles com muito felling emocional e social, vemos sempre uma liderança técnica.

Nesse sentido eu creio que também deveria haver um cursinho sobre política para os cidadãos em geral. As eleições são uma etapa disto. Uma etapa em que poderíamos aprender mais sobre liderança em que poderíamos escolher as lideranças que queremos.

Mas talvez tenhamos que criar instrumentos mais diretos de aprendizagem para aperfeiçoar a nossa democracia.

Os líderes são ao fim e ao cabo, na democracia, fies representantes dos seus liderados e só se constituem obtendo reconhecimento e adesão às suas idéias. Numa empresa podem colocar um cara com o currículo carregado, mas ele vai ter sim que obter ainda adesão as suas idéias apesar de deter um tipo especializado de conhecimento e ter recebido poder na hierarquia quase que por procuração.

Creio que tivemos um muito bom diálogo para chegar até aqui. Acabo de editar este texto para publicar no meu blog e se você olhar no meu mural verá que citei uma entrevista de Marta Porto na qual ela fala da necessidade de dar prioridade a cultura. Atuo na gestão cultural e creio que a cultura é um importante desafio para sociedade e o estado brasileiro.

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