O filho do Almirante Negro
Por Nonato Amorim
Nassif & Amigos, eis o simbólico discurso de Adalberto Cândido, filho de João Cândido, na entrega do petroleiro que leva o nome do seu pai, em Suape. Abs.
Senhoras e Senhores, meu cordial bom dia!
O lançamento ao mar do navio João Cândido, neste dia, nas águas que banham Pernambuco – este maravilhoso Estado cantado em prosa e verso como LEÃO DO NORTE – reveste-se de significado muito especial. Trata-se da primeira embarcação da fase de revitalização da indústria naval do país, pelo Estaleiro Atlântico Sul, e é primogênito da nova frota da Transpetro.
É especial porque foi o próprio presidente da República que sugeriu o nome de batismo do navio. É especial não só para a família de João Cândido e de seus companheiros marinheiros. É especial para a sociedade brasileira, pois esta homenagem, neste ano do centenário da Revolta da Chibata, consagra o reconhecimento de uma luta justa e digna travada contra os maus tratos que existiam na Marinha do Brasil, em defesa dos direitos humanos.
Não cabe aqui e agora reabrir feridas do episódio histórico.
Mas é fundamental nos situarmos no que ocorreu entre os dias 22 e 27 de novembro de 1910, na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, uma semana após a posse do marechal Hermes da Fonseca como presidente da República.
Aliás, muito antes daquele período, o descontentamento dos marujos – em larga maioria, filhos de escravos ou ex-escravos, negros e mulatos, pobres e analfabetos – já era uma bomba a explodir na Marinha do Brasil. Os marujos recriminavam os castigos físicos e o excesso de trabalho. Também enfrentavam problemas com a alimentação de péssima qualidade e escassa. A lei Áurea, em 1888, não extinguiu o costume covarde da chibata aplicada aos marinheiros pelos oficiais como punição disciplinar.
As 250 chibatadas dadas no marinheiro Marcelino Rodrigues Meneses foi o estopim para a revolta. O meu pai João Cândido e mais de dois mil marinheiros, então, se rebelaram. E posso dizer que, pela primeira vez, um Almirante Negro assumiu o comando dos navios da reconhecida Esquadra Branca, que era orgulho do país, e que em 1910 era considerada a terceira potência naval do mundo.
Senhoras e Senhores,
Quase cem anos depois da Revolta da Chibata, enquanto a Marinha ainda se mantém atrelada à idéia de que o episódio foi uma insurgência, o Estado vem procurando retificar os erros cometidos contra os marinheiros.
Nesse sentido, o presidente Lula, em julho de 2008, sancionou o projeto que anistiou João Cândido e os outros marinheiros participantes da Revolta da Chibata. É bem verdade que o artigo que previa o pagamento relativo às promoções póstumas e indenizações por morte aos familiares dos anistiados foi vetado, no meu entender, injustamente. Essa reparação ainda será feita.
Quero, como representante da família de João Cândido, expressar meu agradecimento ao presidente Lula pela iniciativa tomada no sentido de acertar o episódio histórico no seu devido lugar na história brasileira.
O navio petroleiro João Cândido vai singrar a imensidão dos mares com a nobre missão de transportar riquezas naturais brasileiras. Desejo que isso possa ajudar, efetivamente, na política de desenvolvimento econômico com justiça social. Nos mares e nos portos de qualquer parte do mundo, o navio será a nossa referência de grandeza e dignidade.
Vida longa ao João Cândido.
Muito obrigado.
NOTA: Faço questão de transcrever isto aqui porque é um Discurso que vai para os livros de história do Brasil. Com muito orgulho. Obrigado Lula.
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