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domingo, 5 de março de 2017

SOBRE O FIM DA FILOSOFIA - 2015 revisado, e vai de novo para minha amada filha Isabella Fortes

Creio que a filosofia e aqueles que se ocupam dela parecem estar todos bloqueados numa espécie de momento de transição entre o logicismo e o existencialismo. Paramos em um vão de acesso em que estas duas correntes se encontram. Como a pororoca encontra as águas do oceano, as cores e as águas se misturam. Não se trata somente de rótulos de um ou a prática e métodos de outro. Se trata da nossa conexão entre reflexão e vida real, e não somente a nossa vida pessoal ou a nossa reflexão pessoal sobre a vida. O pensamento tem que ir sim para além do eu, para além do próximo e alargar cada vez mais nossas fronteiras de compreensão. Mas também precisa ir para além da escola, ir para além dos dogmas da melhor escola - nem analítica, nem continental, nem crítica, nem niilista, nem estrutural ou idealista - os rótulos não são a questão, são tratamentos da questão.O movimento de redução e simplificação pode envolver tanto a redução do enquadramento quanto a ampliação excessiva do foco. Numa perspectiva só se avista o detalhe do detalhe e na outra somente aquilo que é grandioso aos olhos ou aos conceitos. A superação disso parece estar sendo construída por quem consegue compreender as duas tradições e ultrapassar as fronteiras que desde o século XIX dominam a cena. Estou prescindindo aqui sim do marxismo que é redutível - com muito esperneio justo, mas ineficaz, ao existencialismo, mas ele volta - e do tomismo que é redutível também ao logicismo e ou filosofia analítica. Mas aduzo aqui alguma coisa sobre a saída possível: o conhecimento humano sofreu uma dilatação tão grande e uma especialização tão grande que ainda resta papel para organizar formalmente isso e conectar isso com a vida. A crise é sair do clichê fixo e se arriscar. E não serão nem os cosmólogos e nem os neurocientistas que vão fazer este trabalho para além de suas especialidades, não. A proeza retórica de arguir o grande avanço da ciência parece que não tem olhado direito para o nosso mundo real e seu estado deplorável sob um viés histórico e humano e ainda é preciso fazer isso até que a filosofia acabe com sua tarefa de garantir a reflexão ali aonde a dominação e a exploração continuam o governo dos homens. Dizem que quem não faz política, sofre a política dos outros, pois quem não reflete de fato sobre isto acaba sendo governado pela reflexão dos outros. E até onde sei a gente ainda quer ser livre, feliz e viver em sociedades justas. Então, a corujinha ainda tem muito barulhinho para fazer...

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