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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

FINITUDE, TRAGÉDIA E DESAPARECIMENTO: A CULPA DE TODOS NÓS


A nossa humanidade e seu sentido da vida, nas sociedades ocidentais, parece que levam muito tempo – em seu processo de maturação moral e de construção de uma relação plena com a vida e sua indesejável negação, a morte – até que conseguem reconhecer pelos seus líderes, seus homens e mulheres, pensadores e poetas, que o trágico, o triste fim e o desaparecimento, são fenômenos usuais e regulares do mundo da vida (lebenswelt).

Entender que algumas personagens deste “grande vale de lágrima que é o mundo” ( como bem dizia Shakespeare em sua expressão mais dura sobre a realidade mundana) estão implementando esforços contínuos e persistentes na sua própria extinção física. Restará algo delas em nossos corações, algo superior se aprendermos a aceitar esta condição, se expiramos esta culpa e isentá-las também de um aparente pecado em sua irracional forma de levar a vida.

Quanto mais a humanidade demora, nos seu afã existencial,  para entender isto, mais ela investe sua existência na fantasia vã  e tola da ambiciosa e perversa racionalidade de que tudo pode ser controlado, que tudo pode ser previsto e que tudo pode ser evitado. E, com isto, mais ela investe na construção de uma culpa que é por gerações e gerações transferida para o sobreviventes.

Que todo mal pode ser evitado é assim uma fantasia e uma promessa que o homem constrói com seus belos esforços científicos e retóricos na tentativa de assumir e compreender sua finitude. Mas temos que nos entender sobre a vida real e suas finitas possibilidades. Pois nós continuaremos convivendo com pessoas trágicas, com pessoas que procuram seu próprio fim de uma forma persistente e que empregam todos os seus esforços para se dissolverem em seus vícios, caprichos e manias.

Mesmo que nós tivéssemos abolido a grande competição entre acesso a saúde mental e acesso a saúde plena, entre saúde privada e saúde pública, ainda haveriam aqueles que persistentemente procuram chegar o mais rapidamente e dolorosamente possível do seu triste fim.

Com todo o conhecimento disponível hoje para evitarmos as doenças, as insanidades, os delírios destrutivos e auto-destrutivos, mesmo assim vemos claramente que alguns dentre nós se auto excluem de qualquer opção racional  e de bom juízo nesta vida. E não adianta culparmos os sistemas, os programas e todos os mecanismos desenvolvidos ou mal desenvolvidos para evitar o mal maior.

Nossos amigos vão continuar dizimando suas existências com suas escolhas, seus gestos de liberdade máxima. Quando me comparam pessoas que faleceram com muitos familiares em volta, para os seus cuidados, com aqueles ou aquelas párias ou solitárias que se vão como indigentes abandonados eu fico pensando sobre qual é mesmo a diferença entre eles?

Pois bem, nenhuma. Ambos se colocaram para a vida de um modo trágico e nós – suas testemunhas, devemos nos compadecer – mas não devemos nos sentir culpados, nem procurar culpados, pelo resultado desta caminhada, pois não fomos nós que escolhemos e fizemos as opções de cada um deles. Para um pai que assiste seu filho desaparecer de forma trágica, nada disto que é dito aqui é consolo. Para uma esposa ou um companheiro que vê seu marido desaparecer. Para um filho que vê seu pai ou sua mãe desaparecer. Para um irmão ou irmã, para um amigo, um colega ou alguém próximo que assiste impotente um belo ser e uma bela pessoa se extinguindo pelos riscos que corre, pelas escolhas e poR quase que uma vontade própria, não há explicação.

Mas nós temos que aprender a conviver com isto, nós temos que aceitar esta condição que nos escapa, que depende do arbítrio – mesmo quando para nós ele é absolutamente insano.   

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