Eu entendo em parte o que
acontece com muitas pessoas em relação ao seu próprio passado.
O passado cumpre uma espécie de
papel de peso na sua forma de ver as coisas no presente e construir
perspectivas de futuro.
Muita coisa as prende às perdas
ou ganhos do passado.
Mas o passado não pode e não deve
ser o guia para deliberar o tempo todo sobre o futuro.
Também as nossas experiências e
as nossas crenças sobre elas precisam ser postas em questão.
Não existe e nem precisa haver
interpretação definitiva ou questão fechada sobre o nosso próprio passado.
Ou seja, você não é obrigado a
ficar preso a interpretação que você tinha de suas experiências.
Pode mudar isso e parece mesmo
que fazer isso facilita na sua libertação desse peso.
Somos mais justos com nossas
experiências quando fazemos isso.
Tanto o nosso peso quanto as
culpas e também o papel dos outros em relação ao teu passado podem mudar.
Se você não mudar isso pode
passar o resto da vida ruminando com os mesmos elementos e o mesmo sofrimento
ou as mesmas ilusões do seu passado.
Salvo se você deixar que isso
aconteça.
Nossa avaliação do passado incide
sobre nossas decisões atuais.
Comparamos experiências e
projetamos a sombra e a luz delas sobre as nossas perspectivas atuais.
E quando as justificativas para a
decisão sobre o presente e o futuro, são inferiores a ela, então é só uma
questão de decisão mesmo.
Creio que as razões do passado e
da experiência pregressa devem sempre ser levadas em conta, mas são na maior
parte dos casos inferiores às questões e aos elementos postos no presente.
Olho para isso como se houvessem
camadas diferentes de razões.
As razões do passado são apenas a
base, mas não a base definitiva dos nossos raciocínios.
Precisamos atualizar elas com os
elementos do presente.
Pressupor que algo pode estar
oculto também pela sombra do passado e que as expectativas do futuro também
podem encobrir isso.
Então, eu discordo mesmo deste
recurso generoso da gente em buscar as razões principais onde elas não se
encontram mais.
Será isso um impulso neurótico ou
paranóico?
Será isso o reflexo de um impulso
a se auto boicotar?
Será isso uma espécie de negação
inconsciente de si mesmo e talvez do outro?
São perguntas possíveis para se
pensar nesse peso do passado.
Não sei, mas desconfio que é algo
que acaba sempre limitando os cursos de ação e as possibilidades do presente e
do futuro.
Se as razões do passado fossem
definitivas, não haveriam variações nos cursos de ação frente às circunstâncias
semelhantes.
Veja que não é um tema
conceitual, de mérito ou de princípio, a decisão de não fazer ou fazer é só uma
decisão.
E ela começa justamente quando as
condições para fazer não são criadas ou quando são e você percebe que é
possível se diferenciar do passado adverso ou diverso do presente e do futuro
aberto em perspectiva.