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quinta-feira, 30 de agosto de 2018

NÃO DEIXE O AMOR PASSAR - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e, neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça:

Deus te mandou um presente: O Amor.

Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O AMOR.



Carlos Drummond de Andrade

domingo, 19 de agosto de 2018

APROXIMAÇÃO - CLOSER - PERTO DEMAIS



Creio que é um dos filmes mais intrigantes do ponto de vista dos envolvimentos amorosos e do compromisso consigo e com o outro. O amor parece nele algo sagrado, mas impalpável e o sexo algo trivial e palpável. Mas a ênfase mais importante para mim, aparece no estabelecimento de um vínculo de confiança e segurança que não parece mais possível, após certos acontecimentos. Dos encontros emocionantes e acidentais aos provocados e procurados, você percebe uma dinâmica que oscila entre o jogo, a sedução, a atração e a permanência ou impermanência seja pelo abandono do objeto do desejo, seja pela traição simples, que só é possível porque alguns e algumas acreditam mesmo que amor é posse. Daquela gotinha de maldade e perversidade, à malícia e perversidade que leva à vingança e a retaliação. Todas as cenas aparecem nos intrigando com as condutas e ocupações ambíguas das personagens.

Spoiler: Alice é uma stripper que parece estar fugindo de uma desilusão amorosa e que encontra um jornalista, Dan Woolf, ocupado da coluna de obituários do jornal e que sonha em publicar um livro e virar escritor. Num lance de olhos entre os dois na rua, Dan se apaixona por Alice à primeira vista. Anna é uma fotógrafa profissional que conhece Larry e casa com ele. No meio disso, Dan é seduzido por Anna e mantém um caso com ela até que Larry descobre e resolve lhe dar um revés que vai acabar revelando a personagem de Alice como alguém superior em caráter em relação a todos eles. Caráter aqui é caráter amoroso e afetivo. 

  

Não só nos tais tempos líquidos e frágeis em que vivemos - Bauman era tão pessimista quanto a possibilidade de um vínculo estável nesses tempos, mas também no fato de que ele representa bem o caráter ambíguo e difícil das aproximações, reciprocidades e do respeito pelo outro. Navegação em tempestade e sob o regime da insegurança e da incerteza. A possibilidade do amor depende de uma firmeza de intenções, da persistência no propósito e tal coisa parece exigir pessoas muito mais determinadas. É a personagem da Natalie Portman que concentra em si o melhor caráter, apesar do seu ofício. Sua personagem é menos volúvel do que os demais e isso deve nos lembrar nesse filme que de fato no amor e nas relações nem tudo é somente o que parece, mas que há em algumas pessoas um caráter radical que mistura coragem de amar e decisão de se libertar de relações doentias ou fugazes.

No ciclo dos afetos - e isso parece mesmo uma figura de retórica - em que os altos e os baixos, essa oscilação e instabilidade, nos desafia. É tal como uma espécie de situação instável e oscilante em que os oportunistas, os jogadores, os interessados e os comprometidos se misturam e se confundem. Nós nos vemos envolvidos apaixonada e desapaixonadamente e essa intensidade nos engana na maior parte dos casos. Não temos um medidor ou um termômetro exato para deliberar. É preciso intuir e ser mais sensível aos sinais revelados e ocultos para sair desse labirinto de encontros e desencontros, perfeições e perdições, descobertas e esquecimentos. 

Recomendo sim 

CLOSER...

Aqui um dos temas de estudo do meu núcleo temático e existencial. O amor, a moralidade e a cognição.

Depois de revisar e reeditar este texto do ano passado, fui dar uma volta e lembrei de uns insights que eu tive na última vez em que vi este filme. O principal é que Closer, ou Closet (a analogia de Fechado ou guardado). Perto Demais é uma analogia com algumas questões cognitivas bem importantes para mim. Muito próximo, pois a primeira questão é que ao estar perto demais às vezes não se enxerga nada. Que é preciso tomar uma certa distância para compreender o peso das paixões, do amor e dos afetos. A segunda é que perto demais é quase fechado e exclusivo e a exclusividade não ajuda mesmo a evitar certos riscos quando não se está fechado, próximo ou perto demais. Que a ideia de confinamento na relação nos engana muito a respeito da segurança ou firmeza da relação.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

ROSSETTO E ANA AFFONSO



Por Daniel Adams Boeira*

O Partido dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul homologou no domingo, 5 de agosto, em sua Convenção Estadual, as chapas majoritária e proporcional para a disputa no estado neste ano de 2018. O Clube do Comércio, local que sediou o encontro partidário, é simbólico: nele, da década de 20 à de 60 do século XX, os maiores oradores e líderes da política gaúcha fizeram discursos da sacada para o público que se espalhava pela Rua da Praia, em frente à Praça da Alfândega. Os mais de 600 delegados e delegadas do PT-RS saíram do Clube do Comércio unificados para a décima eleição que o partido disputa no Rio Grande do Sul (sem contar a de 1989, quando o RS foi determinante para levar Lula ao segundo turno contra Collor). Após acordo com o aliado histórico PCdoB, anunciado na segunda-feira, 6 de agosto, a pré-candidata Abigail Pereira (PcdoB) ao governo do RS abriu mão da disputa para ocupar a pré-candidatura na segunda vaga para o Senado, ao lado do senador Paulo Paim (PT) que busca a reeleição. E o PT, ora veja, volta a apresentar uma “chapa pura” ao governo do estado. A última vez em que isso ocorreu, em 1998, significou a primeira vitória estadual do partido, liderado então por Olívio Dutra tendo como vice o atual postulante petista ao comando do Palácio Piratini.

A chapa ao governo do estado está composta pelo sociólogo Miguel Soldatelli Rosseto para governador e a pela professora Ana Affonso para vice-governadora. Ambos carregam consigo signos importantes de militância partidária e respeitáveis trajetórias políticas dentro do partido e nos cenários políticos regional, nacional e internacional. Construíram toda a sua trajetória de militância no Partido dos Trabalhadores. Pertencem a gerações distintas, Rossetto com 58 anos e Ana Affonso com 45. No entanto, ambos marcam uma importante renovação partidária, pois sucedem os candidatos e ex-governadores Olívio Dutra (1999- 2002), de quem Rossetto foi o vice quando era ainda mais jovem do que Ana; e Tarso Genro (que governou de 2011 a 2014). Olívio e Tarso foram forjados na luta civil, urbana, acadêmica e sindical, contra a ditadura midiática-civil-militar brasileira que perdurou de 1964 a 1985. Olívio foi fundador do PT e Tarso ingressou na legenda em meados dos anos 80. Miguel Rossetto iniciou sua militância já na fundação do PT, no início dos anos 80. Ana Affonso, por sua vez, inicia sua atuação partidária em meados dos anos 90. Ambos já tiveram mandatos parlamentares: Miguel foi deputado federal eleito no pleito de 1994. Ana foi vereadora de São Leopoldo por dois mandatos (2005-2008, 2009-2010) e foi eleita deputada estadual no pleito de 2010. Atualmente, Ana está no terceiro mandato como vereadora e dá um passo importante na sua luta política ao assumir a pré-candidatura a vice-governadora.


Uma das destacadas afinidades entre Miguel e Ana é que eles têm relações políticas e tiveram domicílio eleitoral em São Leopoldo, cidade mais antiga do Vale do Sinos e da qual se desmembraram, por emancipações em sequência desde o século XIX, a maioria das cidades da região. Rossetto nasceu em São Leopoldo, em 1960, reside em Porto Alegre desde os anos 90, e iniciou sua militância estudantil e sindical sendo fundador e dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) – a maior central sindical da América Latina e a 5ª maior do mundo. Também foi presidente do Sindipolo – Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Polo Petroquímico de Triunfo, de 1986 a 1992. Os pais de Rossetto são de origem italiana e vieram dos Campos de Cima da Serra para São Leopoldo. Já Ana Affonso nasceu em Maldonado, no Uruguai e veio ainda meninota para o Brasil, sendo, portanto, uma cidadã brasileira. Os pais de Ana, sindicalistas, trouxeram a menina acompanhada dos irmãos mais velhos para São Leopoldo – onde é professora da rede pública municipal com mais de 25 anos de magistério, tendo sido também presidente do Ceprol-Sindicato, das professoras e dos professores municipais.

Ambos, Miguel Rossetto e Ana Affonso, foram forjados na luta social e sindical nessa importante e dinâmica cidade da imigração alemã originária no Brasil e de importância histórica para o estado e para a luta dos trabalhadores. São Leopoldo é terra de imigrantes e seus descendentes, não só alemães – tem na cultura da diversidade, e da tolerância ao diferente, uma das suas marcas e valores. O lema, inclusive, revela: “Fé, Cultura e Trabalho”. O município, situado a 34 quilômetros da capital, continua recebendo imigrantes – como é hoje o caso da comunidade senegalesa. É curioso porque o leopoldense Rossetto é um emigrante da cidade levado pela militância política. Desde muito jovem saiu da terra natal, morou e mora há muitos anos em Porto Alegre; durante o período como deputado federal e depois ministro dos governos Lula e Dilma Rousseff, em Brasília. E ainda um breve período no Rio de Janeiro.

Conhecendo Rossetto e Ana acredito, contudo, que a principal característica comum a ambos é a forma amorosa, ou a amorosidade, como dizia Paulo Freire, com que fazem política. E, principalmente, gostam das gentes. Quem não gosta de gente não deveria meter o bedelho na política.

O PT e a Esquerda gaúcha podem ter certeza de quem têm dois grandes quadros políticos muito comprometidos nessa disputa, com paridade de gênero, e com unidade programática para mudar o Rio Grande. Afinal, é isso o que o povo quer. E eu vivi para ver isso, com muito orgulho, carinho e esperança. Aposto no nosso companheiro e na nossa companheira e em todos os militantes sociais para essa boa luta!

*Daniel Adams Boeira, licenciado em Filosofia na UFRGS, é professor da rede pública estadual de São Leopoldo. Ativista na luta ambiental, cultural e da educação. É militante orgânico do Partido dos Trabalhadores.