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domingo, 30 de maio de 2010

TREZE DOMINICAL - NÚMERO 1

TREZE

1. Hoje a Zero Hora Dominical se superou, na capacidade de ser francamente tendenciosa e incapaz de pensar para além do modelo PSDB de ser gestor público, ao publicar matéria com a pergunta guia sobre o que fazer para melhorar a educação no Brasil apresentando três modelos de política educacional para comparar. Imagina só você. Os modelos são o finlandês, o americano e o paulista. Mas que CATZO hein! Não preciso nem falar do modelo paulista aqui, mas é absolutamente questionável que um estado que não consegue vencer em nenhum item o RS em qualidade de educação e que é governado continuamente a mais de 15 anos pelo PSDB venha a ser erigido como modelo pela ZH.


2. Outra pauta que me chamou atenção. O debate sobre a política externa brasileira faz com que Lula seja criticado pelo acordo construído com a Turquia e o Irã e o Serra passe a semana dizendo besteiras sobre política externa com a franca cobertura da imprensa golpista e tudo se passa como se a única bobagem dita por ele foi sobre a Bolívia. PIG é PIG! Como diz o PHA...


3. Sobre a educação em São Leopoldo – não tenho a menor dúvida de que é necessário estabelecer e construir um fórum mais amplo da educação em São Leopoldo reunindo as redes pública e privada, estadual e municipal, técnica e de nível superior para discutir como estabelecer metas comuns e relações qualitativamente superiores as da mera transferência de alunos de uma escola para a outra ou de um nível de ensino para o outro. Um exemplo do absurdo é o nível de distanciamento entre as supervisões de estágio das licenciaturas e as escolas em que os alunos formandos fazem seus estágios. Sem se tocar aqui também na necessidade do intercâmbio permanente e ampliado entre pesquisa, extensão e educação em todas as redes e níveis. Dilma tem razão quando fala em uma base educacional orientada pela ciência para promover o desenvolvimento do Brasil.


4. Da diferença entre ossada e filé. Boa parte das pessoas olha para quem tem uma posição de prestígio, poder ou autoridade e imagina que isto se deu por uma mágica ou foi produto da esperteza. Em alguns casos pode até ser possível isto e em alguns casos é gritante a capacidade de alguns de só pegar filé ao ponto. Mas a grande maioria tem é que enfrentar a ossada, o osso duro de roer, aquela carcaça gigantesca deixada pelos que já passaram desta vida ou posição para outra. De ossada em ossada seguimos então. Aliás aqui vale a máxima do Zé Bonitinho das Idéias: "porque vou dar duro na lógica se posso ficar, sobreviver e enriquecer só na retórica." Merece tomar um Fêmur de T. REX na cabeça.


5. Amanhã – segunda-feira as 9 horas da amanhã - vai acontecer na Câmara de Vereadores um Debate importante sobre a História Social e Política do Vale dos Sinos. SEMINÁRIO DA HISTÓRIA SOCIAL E POLÍTICA DO VALE DO SINOS e programação da SEMANA do MEIO AMBIENTE 2010. Com Rene Gertz, Eloisa Capovilla, Ary José Vanazzi e Márcio Linck. É um bom debate este. Gostaria muito de estar lá e vou tentar ir.


6. Lá no Olindo esta Semana é de Conselho de Classe do Primeiro Trimestre com atividades de segunda a quarta. Minha turma a 2N1 está preparada e orientada. Ocorreram alguns problemas de freqüência e comportamento infantil neste trimestre, mas creio que já estão ocorrendo mudanças positivas. Afinal uma turma que concentra entre seus membros Conselheiros eleitos do Conselho Escolar, lideranças do Grêmio Estudantil e presidente do COM não pode ficar nesta fase. Eles devem crescer e se preparar para darem o grande salto do Tigre para bem longe da gaiola do ensino médio, de preferência caírem com as quatro patas em um curso superior ou em um bom curso profissionalizante.


7. A comissão municipal da Consulta Popular elevou de 40 para 70 o número de urnas para a votação programada para 23 de junho. Tem demandas muito importantes para São Leopoldo sendo construídas e que pedem o apoio dos cidadãos e cidadãs. Mais informações pela imprensa logo aí na frente.


8. Hoje teve concurso para recenseador do IBGE. E neste ano tem o Censo 2010 que vai qualificar e atualizar as nossas informações demográficas sobre o povo de São Leopoldo, do Vale dos Sinos, do Rio Grande do Sul e do Brasil. É uma excelente iniciação à pesquisa sociológica participar de um Censo. Aprende-se algo sobre metodologia, aplicação de instrumentos e também processamento e análise de dados. É comum o recenseador bem sucedido acabar por optar pela ciência e a pesquisa social.


9. Hoje lembrei da casa do meu avô na chácara lá do Caí. Por conta de uma tábua para o piso da casa da minha sogra que era quase da mesma cor que o taboão da varanda da casa do meu avô. Ali aonde eu ficava brincando com meus soldados e canhões. Até que houvesse um grande ataque daquele pastor alemão afetuoso e brincalhão aos meus soldados. Pensei até em reconstruir a planta baixa e a perspectiva de memória e depois construir com o Lego, como tenho feito com muitas coisas.


10. Nesta semana tive que domar a minha própria fúria depois que minha mãe de 76 anos foi ferida num conflito com uma vizinha de 26 anos. Fui obrigado a tirar uma satisfação e a medir o tamanho do problema. O motivo era fútil, mas as vezes um motivo fútil pode encobrir coisas piores. Um dia escreverei muito sobre o grave problema que advém às pessoas que tem déficit de audição. Quem as escuta pensa estão brigando e alteradas. Minha mãe ainda tem aquele sotaque alemão. Não preciso dizer mais nada...


11. O Fossatti tanto fez que se foi. É uma pena porque o time do Inter está todo desorganizado. Taison tá mal pacas. Ganhamos de 4 a 1 do Atlético Paraná com um único toque de sabedoria do auxiliar – o qual demonstrou muita inteligência – ao afirmar no intervalo que quem deveria estar nervoso era ele. Rssss.


12. No tarô este número é correspondente ao Enforcado. Descreve aí uma situação em que o sujeito não tem saída, mas é uma situação em que ele se meteu voluntariamente é quase como o sacrifício de Cristo. Curiosamente o enforcado é enforcado pelo pé. Deveria ser chamado de O Pendurado, não o enforcado. Provavelmente o motivo para isto já foi citado aqui é o caso da vontade, mas é preciso dizer também que ele sai dali, se quiser, me parece, portanto, um personagem, uma encenação. Neste sentido podemos perguntar qual a intenção do personagem o que ele quer nos dizer? Trata-se talvez da diferença entre vontade e desvontade? (Desvontade foi um conceito que criei ironicamente para explicar porque a gente não faz o que deveria fazer com tranqüilidade e que nem importa tanto sacrifício assim. Foi aplicado primeiro ao caso de uma amiga que pensava se iria ou não visitar sua mãe no dia das mães.) Ora, ora, entramos nesta por opção.


13. O meu partido teve diretório estadual neste sábado. Ao sair para um outro compromisso vi o nosso Governador chegando e cumprimentei ele com este vocativo. Agora vai...

OBS. O TREZE que eu apresento neste domingo é um projeto meu para o BLOG. Tentar escrever pelo menos esta coluna com treze assuntos uma vez por semana. O primeiro é, assim, o TREZE DOMINICAL.

sábado, 29 de maio de 2010

DENNIS HOPPER - UM ATOR ADMIRÁVEL - APESAR DO BAD BOY

MANOHLA DARGIS

Ator, cineasta, fotógrafo, colecionador de arte, homem de grandes quedas e de uma capacidade de sobrevivência ainda maior - Hopper jamais explodiu. Ao contrário dos vilões e malucos que interpretou ao longo das décadas - o psicopata com problemas maternos em Veludo Azul, o terrorista ressentido de Velocidade Máxima - sobreviveu aos bons tempos, aos maus tempos e a alguns momentos terríveis. Cavalgou em sua moto pelos anos finais da era de ouro de Hollywood, e ao mesmo tempo introduziu um novo cinema, em Sem Destino. Foi amigo de James Dean, interpretou o filho de Elizabeth Taylor, trabalhou com Quentin Tarantino. Foi rico e infame, achado e perdido, foi a revelação do cinema e seu último sobrevivente.

Recentemente, Hopper, que completou 74 anos no dia 17 de maio e andava recluso, voltava às notícias. Em março, seu advogado, em um processo contencioso de divórcio, envolvendo Victoria, sua quinta mulher, anunciou que o ator estava com câncer de próstata terminal e sua saúde o impedia de comparecer ao tribunal.

Na mesma semana, o emaciado, mas sorridente, Hopper surgiu em companhia de Jack Nicholson para assistir à cerimônia de inauguração de sua estrela na calçada da fama em Hollywood. Nicholson, o tempo todo ao lado do amigo, estava com uma camisa espetacularmente feia, decorada com o padrão da bandeira norte-americana e as silhuetas dos dois motociclistas malfadados de Sem Destino, o filme que fez de Hopper diretor e permitiu a Nicholson abandonar os filmes irrelevantes e de baixo orçamento. Foi um momento sublime e ridículo de Hollywood, a um só tempo real e completamente forjado.

Também foi o gesto perfeito para Hopper, que se alternou entre realidades aparentemente contraditórias por boa parte de sua carreira, vestindo uma tanga para Tarzan and Jane, Regained Sort of..., de Andy Warhol, em 1963, e trabalhando no papel de um informante em Os Filhos de Katie Elder, com John Wayne.

Inspirado por Vincent Price (sim, aquele Vincent Price), ele se tornou colecionador de arte e comprou um par de quadros juvenis de Warhol por US$ 75 - adquiriu outras obras-rimas de artistas como Roy Lichtenstein, Jasper Johns e Jean-Michel Basquiat em circunstâncias semelhantes. Mais tarde, quando Sem Destino foi lançado, Warhol imortalizou Hopper em silk screen e refletiu sobre a influência que exercia sobre o ator "com aqueles olhos loucos". Warhol declarou que "você nunca sabe de onde as pessoas aprenderão alguma coisa".

Sem Destino, um marco do cinema

No caso de Hopper, as linhas de influência talvez fossem mais claras do que pareciam inicialmente, variando da bandeira dos Estados Unidos em um dos quadros de Johns, por exemplo, à que o personagem de Peter Fonda usa como alvo nas costas de seu casaco de couro em Sem Destino. Hopper, que começou a pintar e a fotografar, largou a pintura e posteriormente a retomou em diferentes momentos de sua vida. Ele não tinha apenas olho excelente para comprar arte, também levou sua estética ao limite e, ocasionalmente, além dele.

Entre as mais notáveis das estratégias formais em Sem Destino está a edição propulsiva, dissonante, que caracterizava o trabalho de um dos grandes amigos de Hopper, o cineasta de vanguarda e artista plástico Bruce Conner.

Sem Destino reteve uma posição privilegiada na história do cinema norte-americano, ainda que menos por sua experimentação formal do que pelo impacto percebido do filme sobre a indústria cinematográfica, ilustrado em livros que ressaltam o papel desse trabalho na salvação de Hollywood. Em termos grosseiros, o filme sobre motociclistas da era da contracultura foi produzido com um orçamento de US$ 400 mil e faturou US$ 20 milhões na época do lançamento, provando que, com a estratégia correta de venda, a cultura alternativa era capaz de atrair os consumidores ("um homem saiu à procura da América. E não conseguiu encontrar...") E, no final de 1969, quando o filme foi lançado, essa estratégia de vendas se provou perfeita, especialmente junto às audiências jovens que viam personagens com os quais eram capazes de se identificar na história de dois motociclistas - Wyatt (Peter Fonda) e Billy (Hopper)-, que depois de uma grande venda de cocaína viajam sem rumo pelo sudoeste do país e terminam mortos por um caipira agressivo.

Sem Destino foi grande sucesso no festival de Cannes de 1969, onde ganhou o prêmio de melhor primeiro filme. Ao estrear nos Estados Unidos, meses mais tarde, Andrew Sarris explicou seu triunfo na França em parte recorrendo a comparações com o Vietnã, escrevendo que "motocicletas, materialismo, misantropia e homicídio há muito servem como corretivos adequados sobre a vida norte-americana, para os europeus, e nunca mais do que neste ano de lei & e ordem e dos sangrentos combates em Hamburger Hill". Sarris se impressionou acima de tudo com a interpretação brilhante de Nicholson no pequeno papel de George Hanson, um advogado sulista alcoólatra a quem Wyatt e Billy conhecem na cadeia. Outros observadores, como um fã apaixonado chamado Richard Goldstein, que defendeu o filme no New York Times, viam algo mais: "Quero acreditar que Sem Destino represente o pôster de viagem para um novo país".

O filme certamente se tornou um modelo para o novo cinema norte-americano, mais jovem e emancipado do controle intelectual dos estúdios, em uma declaração de independência criativa que teoricamente durou até o momento em que o grande tubarão branco de Steven Spielberg devorou as bilheterias seis verões mais tarde, dando início à era moderna do cinema. De sua parte, Hopper, definido pelo crítico de cinema Peter Biskind como "o chapado guru da contracultura", continuou a ser o personagem principal na lenda de Sem Destino, tanto porque Hopper dirigiu, editou e protagonizou o filme quanto devido ao seu temperamento, aos seus abusos com as drogas, à sua arrogância lendária e à completa desorientação que ele exibiu ao longo das filmagens. (Hopper e Fonda dividem o crédito pelo roteiro com o escritor Terry Southern.)

Entre altos e baixos

Há um lado negativo em estar vinculado a uma lenda, e Biskind termina por vincular Sem Destino aos homicídios da família Manson, uma conexão que se deve ao menos em parte à reputação cada vez mais amalucada que Hopper criou em Hollywood. Hopper, que se descreveu como "maníaco" para Biskind, alimentava essa imagem com abuso de LSD, fetiche por armas, tendência por falar demais a jornalistas e surtos de violência física que culminaram em uma agressão à sua primeira mulher, Brooke Hayward, na qual ela saiu de nariz quebrado. Biskind termina sua avaliação sobre o novo cinema dos Estados Unidos nos anos 60 e 70 citando uma fala de Wyatt em Sem Destino: "Nós fizemos tudo errado".

Muita gente que acompanhou Hopper em sua encarnação seguinte deve ter pensado o mesmo. Em 1970, ele começou a rodar The Last Movie o último filme, o mais profético dos títulos. Financiado pelo estúdio Universal - os grandes estúdios estavam obcecados pela cultura jovem àquela altura -, ele viajou aos Andes peruanos para rodar um filme sobre um dublê que, depois do final da produção de um violento western, decide ficar para trás. Interpretado por Hopper, o dublê se apaixona por uma prostituta local, dirige um show sexual para turistas depravados e toma parte de outra filmagem, encenada pelos indígenas locais com equipamentos feitos de galhos de árvore - e tudo isso não necessariamente na ordem acima relatada.

Lisérgico e lírico, repulsivo e fascinante, The Last Movie é um instrumento bruto - uma cena mostra uma mulher norte-americana vestida em casaco de peles posicionada ao lado da foto de uma criança africana faminta - e nem de longe tão incompreensível quanto sua fama dispõe. Hopper disse que era uma história sobre os Estados Unidos e comparou o filme a uma "pintura expressionista abstrata, na qual o pintor revela as linhas do rascunho, mostra as pinceladas, permite que a tinta escorra". A crítica Pauline Kael aproveitou essa metáfora e comparou a edição de Hopper, consideravelmente mais frenética do que em Sem Sentido, com a de um pintor que rasga suas telas.

O consenso era o de que ele havia destruído sua carreira, ainda que seu maior erro, desconsiderados o excesso de bebida e drogas, talvez tenha sido permitir a presença de jornalistas nas locações. Os repórteres compareceram, viram o pior e seus editores propuseram manchetes como Dennis Hopper: Bem Alto nos Andes. A reportagem mais negativa pode ter sido uma matéria de capa da revista Life, que mostrava Hopper de chapéu preto e com uma flor em uma mão e uma bola de futebol americano no outro braço. "Seria de admirar que estejamos na situação em que estamos", escreveu um leitor indignado da revista, "quando nossos filhos consideram que detritos como esse são seus heróis?"

Primeiro Sem Destino e agora isso! Havia pouca dúvida de que os exageros pessoais de Hopper prejudicaram o trabalho, mas se The Last Movie tivesse dado lucro provavelmente a história relatada seria diferente. O filme não teve chances, no entanto - mal lançado, alvo de zombarias e logo descartado, mais ou menos como Hopper. O ator se manteve afastado do público até que voasse às Filipinas, em 1976, para interpretar o repórter fotográfico chapado em Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola. Tagarelando como um macaco alucinado, com câmeras penduradas do pescoço, recitando versos de T. S. Eliot, sujo, descabelado e completamente maluco, o personagem é uma maravilha, mas doloroso. A linha entre a presença de Hopper na tela e sua reputação do outro lado das câmeras parece indistinta, e isso causa incômodo - o que também se aplica a diversos dos papéis posteriores que ele desempenhou.

Se o prazer de seu desempenho vem acompanhado de desconforto é porque Hopper aparentemente nunca teve medo do ridículo - uma qualidade importante em um ator. Poucos de seus colegas conseguem alternar humor e comédia da maneira enervante que ele demonstrou em Veludo Azul, de David Lynch.
Onde começa o personagem e acaba o ator? Não se sabe, e esse desconhecimento era o espaço em que Hopper operava. Antes que ele começasse a falar demais, tanto nas telas quanto fora delas, essa abertura pessoal podia parecer encantadora, como quando ele foi fotografado lendo Stanislavsky no estúdio de Rebelde Sem Causa. Hopper tinha 17 anos, interpretava um malfeitor chamado Goon e escutava atentamente os pronunciamentos de James Dean, que o aconselhou a começar a tirar fotos e a ver o mundo emoldurado. Anos depois, essa mesma sinceridade causava engulhos, como em The American Dreamer, um documentário sobre a produção de The Last Movie no qual Hopper tira a roupa e demole a barreira entre público e privado (a cena está disponível no YouTube).

Havia algo de repelente naquele excesso de exposição, mesmo que fosse essa a qualidade que atraía as pessoas a continuar assistindo. Há momentos em que tamanha franqueza parece uma espécie de autoexploração, como em Hoosiers, um drama sobre basquete no qual ele interpreta um alcoólatra tentando deixar a bebida. Mas foram momentos como esses que fizeram de Dennis Hopper o homem que ele foi: a disposição de remover a pele de maneira dolorosa, como em alguns de seus trabalhos como ator e filmes que ele dirigiu, entre os quais Out of the Blue, uma história brutal sobre o amadurecimento de um jovem.

Em fevereiro, Peter Bart, colunista da Variety e ex-executivo de cinema, refletiu sobre a carreira de Hopper, escrevendo que ele "se saiu muito bem como ator, cineasta, colecionador de arte e fotógrafo, e fez todo o possível para se autodestruir em todas essas arenas". Barta acrescentava que "parece impossível que alguém tenha estrelado um filme como Assim Caminha a Humanidade e ainda assim perdido o estrelato, ou dirigido uma obra essencial como Sem Destino mas desaparecido como cineasta". É uma das formas de contemplar uma carreira, ainda que diversas mostras de arte, retrospectivas de filmes e livros como Dennis Hopper & the New Hollywood e Dennis Hopper: Photographs 1961-1967 revelem uma vida diferente, que Bart provavelmente não compreenderia.

Se essa vida não se ajusta às ideias de estrelato que temos é porque Hopper mapeou seu caminho sem ajuda praticamente desde o começo. Já que quando ele assinou com a Warner Brothers, em 1955, o velho sistema dos estúdios estava entrando em colapso, o ator não teve muita escolha a não ser determinar sozinho o seu rumo. Ele abandonou os estúdios, foi a Nova York estudar com Lee Strasberg, começou a colecionar arte, estrelou o filme experimental Night Tide e colaborou em um projeto de arte com Marcel Duchamp. Fotografou seus amigos famosos nos estúdios e fora deles, e o reverendo Martin Luther King Jr. no Alabama. Ajudou a fazer de Nicholson um astro e a salvar o cinema dos Estados Unidos. Nada mal para alguém que "fez tudo errado".

Nos arquivos da Margaret Herrick Library sobre Hopper, em Beverly Hills, há um resumo biográfico datilografado, um texto de seis páginas típico dos esforços dos estúdios de cinema em 1959. O texto menciona seus créditos como ator e medidas (1,78 metro de altura, 72 quilos de peso), e conta uma história charmosa. Hopper estava completando 23 anos naquele ano, havia retornado de Nova York a Los Angeles e não estava trabalhando muito. Mas o texto aponta que ele se mantinha ocupado. "Quando não está trabalhando, Dennis acorda por volta das 10h, lê Nietzsche (e teatro moderno) à beira da piscina em seu apartamento em Hollywood, visita galerias de arte e livrarias e assiste a filmes estrangeiros. Ele é intenso em tudo que faz". E estava apenas começando.

(Tradução: Paulo Migliacci)

nota: ELE MERECIA UM TEXTO DESTE TAMANHOA AQUI. Jamais me esquecerei do impacto de Sem destino em mim. Derrubou de uma vez por todas o mito da América boazinha. E a trilha sonora é recomendável para qualquer um.

Obs. Quero agradecer o comentário do Goliardos, mas informar que o texto acima não é meu. Pois copiei de um texto apresentado no terra por MANOHLA DARGIS (e traduzido por Paulo Migliacci,) a qual é a editora chefe da crítica de cinema do New York Times cuja assinatura é facultativa a todos que quiserem exercitar o seu ingês e aumentar o seu conhecimento e nivel de informação recebendo por e-mail as deadlines da capa do NYT. Cito aqui no bom espírito de apontar, inclusive aos meus alunos e amigos, um exemplar de qualidade de um necrologio.

Destaco a qualidade do texto e a abordagem compreensiva da personagem que foi Dennis Hopper. Creio que se todos tivessem uma vida como a dele não haveria graça nenhuma a vida dele, mas por outro lado a vida de todos nós bem compreendida é extremamente interessante: basta olhar melhor e de mais de perto.

Mas este é um outro papo sobre vida comum e biografia de homens e mulheres notáveis que me leva a afirmar que toda vida vivida com um sentido autêntico é notável, com seus altos e baixos e a luta pela sobrevivência, crescimento e recuperação dos danos e prejuízos que todos temos na vida. Somente uma pessoa muito pusilânime ou cínica olharia para a vida dos demais mortais julgando que a sua é superior. Pois bem, Dennis Hopper foi um outsider, um artista que arriscou tudo e apostou tudo na vida - como diz a autora acima - foi capaz de comprar coisas que não valiam nada e que hoje valem milhões e foi capaz de gastar milhões com coisas que não valem nada, pelo menos à primeira vista. Mas esta parte do riscado foi parte da forma através da qual ele deu um sentido à sua vida, um sentido superior - é preciso admitir, mas não superior a sua vida, superior aquilo que você ousaria admitir como sentido da vida.

O sentido da vida não está fora dela. Como diria Wittgenstein.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

DOS PREFEITOS AOS PRESIDENCIÁVEIS: QUESTÕES IMPORTANTES

18 DE MAIO DE 2010

Por Homero Pavan Filho

Questões aos pré-candidatos à Presidência da República

http://portal.cnm.org.br/sites/5700/5770/18052010_perguntas_corretas.pdf

1. A autonomia dos Municípios é frequentemente violada pelos governos e pelo Congresso. Para citar apenas um exemplo, a maior parte das desonerações tributárias dos últimos anos foi feita à custa de receitas partilhadas com Municípios. Os prefeitos perguntam: seu governo continuará fazendo bondade com chapéu alheio?

2. Atualmente existem 390 programas federais, instituídos quase todos por atos administrativos e não por leis e cuja execução tem sido transferida aos Municípios. Esses programas criam cada vez mais responsabilidades para os Entes locais sem que as fontes de financiamento acompanhem seus custos. Tomemos como exemplo o Programa Saúde da Família (PSF), em que o custo de cada equipe gira em torno de R$ 24 mil, e o repasse do governo federal varia entre R$ 6 mil e R$ 9 mil. Como o(a) senhor(a) pretende resolver o problema do subfinanciamento dos programas sociais?

3. Em relação à regulamentação da EC 29, se eleito, o(a) candidato(a) vai insistir na criação de uma contribuição social da Saúde para financiar os gastos do setor ou dará apoio ao projeto já aprovado pelo Senado, que vincula 10% das receitas da União aos gastos em Saúde, da mesma forma como Estados já são obrigados a aplicar 12% de sua arrecadação e os Municípios, 15%?

4. Existem no Brasil, segundo dados do IBGE, 8,8 milhões de crianças de 0 a 3 anos de idade fora da creche. O custo para oferecer matrícula a esse enorme contingente supera a cifra de R$ 38 bilhões anuais, dos quais apenas 39% seriam cobertos pelo Fundeb. Isso porque a creche é a etapa mais cara da educação básica e cada criança custa, em média, 61% a mais do que o ensino médio. Na divisão dos recursos do Fundeb, entretanto, o aluno do ensino médio recebe 50% a mais do que o da creche. Que medida concreta adotará para garantir que os Municípios possam dar acesso a essas crianças na creche?

5. Uma série de leis federais já aprovadas ou em tramitação no Congresso ameaçam produzir um verdadeiro caos nas contas municipais, contrariando os preceitos da Lei de Responsabilidade Fiscal. É o caso do piso nacional do magistério, do piso do agente comunitário de saúde e também dos reajustes anuais do salário mínimo. Só com os pisos dos profissionais da saúde pública (agentes comunitários e de endemias, médicos, enfermeiros, farmacêuticos e outros), o impacto financeiro em um ano é superior a R$ 49 bilhões, o que representa mais de 90% da receita do FPM 2010, inviabilizando a administração municipal. Como seu governo pretende efetivar os pisos salariais sem sobrecarregar os cofres municipais e sem ferir a autonomia do Ente?

6. A Lei do Petróleo de 1997 criou uma espécie de Imposto de Renda especial sobre os lucros do setor petrolífero, mas, em vez de dividi-la pelo FPM e FPE, como ocorre com a receita normal de Imposto de Renda, destinou essa participação especial do petróleo a uma minoria de Estados e Municípios. Atualmente, apenas 29 Municípios brasileiros e 4 Estados, além da União, têm acesso aos R$ 11 bilhões anuais da participação especial do petróleo, quando esta é uma riqueza de todos os brasileiros. O(A) senhor(a) é favorável a redistribuir a participação especial (Royalties) entre todos os Estados e Municípios do Brasil? Qual sua opinião sobre a emenda apresentada pela CNM ao Senado?

7. O governo afirma que os Municípios devem à Previdência Social R$ 22 bilhões e cobra retendo suas parcelas do FPM. A CNM estima, por sua vez, que o INSS deve aos Municípios R$ 26,4 bilhões, dos quais R$12,4 bilhões se referem à apropriação indevida de valores prescritos de acordo com a Súmula Vinculante nº 8, do STF. Os Municípios têm protestado contra essa cobrança e solicitado a realização de um encontro de contas, mas isso lhes é negado. Seu governo fará o encontro de contas ou continuará a cobrar o que não lhe é devido e não querendo pagar o que deve aos Municípios?

8. As catástrofes e os desastres naturais estão se tornando cada vez mais frequentes no cotidiano da população brasileira. Nos quatro primeiros meses deste ano, mais de mil Municípios tiveram homologadas Situações de Emergência ou Estado de Calamidade. Os governos têm se mostrado despreparados para enfrentar essa realidade: faltam recursos, critérios adequados para sua distribuição e celeridade na sua liberação. Esse sistema definitivamente não está funcionando. Como seu governo enfrentará essa questão?

9. Os Municípios receberam da União, desde 2007, mais de R$ 18 bilhões de transferências para execução de obras e aquisição de equipamentos, grande parte das quais previstas em emendas parlamentares individuais e liberadas sem qualquer critério técnico. Gostaríamos de saber sua opinião sobre isso e sobre a proposta que a CNM está encaminhando no sentido de acabar com as emendas parlamentares individuais e criar um sistema de repasse por meio de um Fundo Nacional Municipal, pelo qual todos os Municípios do país seriam beneficiados.

terça-feira, 11 de maio de 2010

O Mal-estar na Civilização - Sigmund Freud - para SOCIOLOGIA NA ESCOLA

I

É impossível fugir à impressão de que as pessoas comumente empregam falsos padrões de avaliação - isto é, de que buscam poder, sucesso e riqueza para elas mesmas e os admiram nos outros, subestimando tudo aquilo que verdadeiramente tem valor na vida. No entanto, ao formular qualquer juízo geral desse tipo, corremos o risco de esquecer quão variados são o mundo humano e sua vida mental. Existem certos homens que não contam com a admiração de seus contemporâneos, embora a grandeza deles repouse em atributos e realizações completamente estranhos aos objetivos e aos ideais da multidão. Facilmente, poder-se-ia ficar inclinado a supor que, no final das contas, apenas uma minoria aprecia esses grandes homens, ao passo que a maioria pouco se importa com eles. Contudo, devido não só às discrepâncias existentes entre os pensamentos das pessoas e as suas ações, como também à diversidade de seus impulsos plenos de desejo, as coisas provavelmente não são tão simples assim.

Um desses seres excepcionais refere-se a si mesmo como meu amigo nas cartas que me remete. Enviei-lhe o meu pequeno livro que trata a religião como sendo uma ilusão, e ele me respondeu que concordava inteiramente com esse meu juízo, lamentando, porém, que eu não tivesse apreciado corretamente a verdadeira fonte da religiosidade. Esta, diz ele, consiste num sentimento peculiar, que ele mesmo jamais deixou de ter presente em si, que encontra confirmado por muitos outros e que pode imaginar atuante em milhões de pessoas. Trata-se de um sentimento que ele gostaria de designar como uma sensação de eternidade',um sentimento de algo ilimitado, sem fronteiras oceânico',por assim dizer. Esse sentimento, acrescenta, configura um fato puramente subjetivo, e não um artigo de fé; não traz consigo qualquer garantia de imortalidade pessoal, mas constitui a fonte da energia religiosa de que se apoderam as diversas Igrejas e sistemas religiosos, é por eles veiculado para canais específicos e, indubitavelmente, também por eles exaurido. Acredita ele que uma pessoa, embora rejeite toda crença e toda ilusão, pode corretamente chamar-se a si mesma de religiosa com fundamento apenas nesse sentimento oceânico.


NOTA 1: O Mal-Estar na Civilização de 1929 ( Das Unberhagen in der Kultur, também pode ser traduzida por Descontentamento ou Insatisfação da Cultura) é uma obra de oito capítulos de lavra tardia de Sigmund Freud (1856-1939)que junto com O Futuro de uma Ilusão, também traduzido por alguns por O Destino de uma Ilusão (1927)e O Homem Moisés e a Religião Monoteísta, já comentado de forma superficial aqui, pertence a um conjunto de obras que se destinam a tratar de um lado da Religião ou daquilo que os homens chamam de sua religião e de sua importância para os homens e também da gênese cultural das civilizações e das sociedades, com o preço que se paga pelo que chamamos de progresso. Importante dizer aqui que Freud não trata a Religião como uma coisa-em-si, mas sim como algo próprio do ser humano, algo que ele faz de si e para si.

Ora, para Freud o Mal-Estar é sempre presente na civilização tendo em vista que não ocorre civilização sem algum tipo de sacrifício do desejo individual. Desejo individual que pode ser traduzido como desejo sexual ou como desejo inato ao homem e que tem origem em sua estrutura psiquica, sendo a fonte de gozo e de satisfação. Esta é sacrificada em prol da civilização. Sacrifício este imposto pelo princípio de realidade. Do ponto de vista social nos interessa compreender que por traz deste mito de que a sociedade é um resultado do incrível progresso do homem sobre a terra há um desconforto que não se cala. Porque sempre pensamos ao sermos o que somos no que deixamos de ser. Assim como um adulto tem uma certa nostalgia de suas liberdades juvenis, também o homem civilizado sente-se prisioneiro de cadeias que um dia não existiram. Estas cadeias são representadas pela Cultura, Moral, Religião, Direito e Estado, mas alguns as chamam de convenções sociais. Fica deste modo marcada no homem e na mulher a repressão imposta pela sociedade sobre o seu desejo. E neste meio social eles vivem sendo policiados, vigiados e alienados do seu pleno desenvolvimento através do princípio de prazer. É este o preço que se paga e tal é a origem do Mal-Estar, desta inadequação corrente em sociedade.

Nestes dois primeiros parágrafos ele escreve naquele estilo conhecido e destacado por quase todos os seus leitores, de um lado expõe a questão que o ocupa e, de outro lado, promove aquele balanço pendular entre as suas opiniões e as do leitor para levá-lo adiante, ao seu ponto específico. Eu tenho verdadeira admiração pelo estilo sincero e dialogado de Freud. Promove um raciocínio cauteloso e que vai tateando os problemas até deixá-los cercados e bem claros para a tomada de posição definitiva ou quase definitiva. Destaca-se aí também a sua coragem e audácia usual em contraditar o senso comum e os pseudo-sábios. Note-se os seus porém, todavia, contudo, entretanto e o emprego de todas as adversativas insinuando e expressando sempre que "as coisas não são tão simples assim". Todas as vezes que eu o leio eu percebo um raciocínio estratégico extremamente cerzido na construção do argumento.

O emprego de falsos padrões de avaliação destacado por Freud, na primeira linha, deve ser combinado com o fato de que é corrente avaliarmos como bom, excelente ou ótimo o resultado de PODER, SUCESSO E RIQUEZA em nossa vida, em detrimento de outros resultados que poderiam ser, por exemplo, SABEDORIA, AMOR, GLÓRIA, PRAZER ou FELICIDADE. Mas não é tão simples assim. Não se trata simplesmente de construir a via da ambição e a via da abnegação, nem de construir a diferença entre a vida ambiciosa e a vida feliz. Freud está a se ocupar aí, pelo menos assim me parece, com o que é que significa uma vida plena também. Nesse sentido a procura de um Padrão de Aavaliação verdadeiro seja sobre valores ou necessidades e prioridades nos desafia a sermos capazes de erguer um critério universal que nos permita reconhecer o que seria bom em absoluto para a nossa vida, ou seja, o que verdadeiramente teria valor na nossa vida.

Freu não tende a ser muito piedoso com a nossa vida não. No mesmo primeiro parágrafo ele contradita, de certa forma, esta perspectiva de encontrarmos um verdadeiro padrão de avaliação com dois problemas: de um lado, no argumento, "corremos o risco de esquecer quão variados são o mundo humano e sua vida mental", ou seja, esquecer a tamanha diversidade de opções são colocadas em nosso mundo humano e também o sem número de ocupações e estímulos que povoam nossa vida mental; de outro lado, também num argumento aparentemente diversionista, Freud apõe à nossa capacidade de determinar e superar as discrepâncias entre os nossos pensamentos e ações, a "diversidade dos impulsos plenos de desejo" que devem, então ele conclui, dificultar e aumentar o grau de dificuldade nesse nosso modo de ver as coisas. Assim, apesar de ser impossível fugir a impressão de quão tolos e falseados são os nossos juízos e padrões de avaliação que consideram, admiram e estimam a busca pelo PODER, pelo SUCESSO e pela RIQUEZA, não temos como desconsiderar estas coisas como também presentes em nossas vidas, em nossos juízos e, note-se bem, mesmo os notáveis e grandes homens pouco compreendidos pela multidão podem também ser estimados admirados e tomados como exemplo também de membros da multidão, haja vista a diversidade de nossos impulsos, ambivalências e discrepâncias que, assim me parece também, juntas não resolvem a questão.

De um ponto de vista sociológico, creio que a importância deste tema - que no fundo é uma pedra de toque para o tratamento da religiosidade e de sua perspectiva humana, é impor a nós o desafio de considerar duas coisas como mui desafiadoras para o conhecimento social: 1. a dificuldade de julgar a intencionalidade dos agentes sociais, e 2. a dificuldade de promovermos uma abordagem mais ampliada sobre os objetivos e motivações dos sujeitos sociais. Na condição em que estamos, entretanto, pelo menos já sabemos que ao obscuro objeto do desejo de cada um de nós coloca-se também o desafio do difícil reconhecimento do padrão de juízo para julgar se este desejo é compatível ou coerente com algo que verdadeiramente tenha valor nesta vida.

No grande vale de lágrimas que é o mundo, podemos, pelo sim e pelo não, lamentar menos e e tentar compreender mais o que realmente acontece quando se elegem objetivos na nossa vida. Questionar o nosso padrão de avaliação sobre nós mesmos e sobre os demais já é um passinho a mais neste processo social.

sábado, 8 de maio de 2010

DISCURSO DO FILHO DO ALMIRANTE NEGRO NO LANÇAMENTO DO NAVIO DA TRANSPETRO JOÃO CÂNDIDO EM PERNANBUCO

O filho do Almirante Negro

Por Nonato Amorim

Nassif & Amigos, eis o simbólico discurso de Adalberto Cândido, filho de João Cândido, na entrega do petroleiro que leva o nome do seu pai, em Suape. Abs.

Senhoras e Senhores, meu cordial bom dia!

O lançamento ao mar do navio João Cândido, neste dia, nas águas que banham Pernambuco – este maravilhoso Estado cantado em prosa e verso como LEÃO DO NORTE – reveste-se de significado muito especial. Trata-se da primeira embarcação da fase de revitalização da indústria naval do país, pelo Estaleiro Atlântico Sul, e é primogênito da nova frota da Transpetro.

É especial porque foi o próprio presidente da República que sugeriu o nome de batismo do navio. É especial não só para a família de João Cândido e de seus companheiros marinheiros. É especial para a sociedade brasileira, pois esta homenagem, neste ano do centenário da Revolta da Chibata, consagra o reconhecimento de uma luta justa e digna travada contra os maus tratos que existiam na Marinha do Brasil, em defesa dos direitos humanos.

Não cabe aqui e agora reabrir feridas do episódio histórico.

Mas é fundamental nos situarmos no que ocorreu entre os dias 22 e 27 de novembro de 1910, na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, uma semana após a posse do marechal Hermes da Fonseca como presidente da República.

Aliás, muito antes daquele período, o descontentamento dos marujos – em larga maioria, filhos de escravos ou ex-escravos, negros e mulatos, pobres e analfabetos – já era uma bomba a explodir na Marinha do Brasil. Os marujos recriminavam os castigos físicos e o excesso de trabalho. Também enfrentavam problemas com a alimentação de péssima qualidade e escassa. A lei Áurea, em 1888, não extinguiu o costume covarde da chibata aplicada aos marinheiros pelos oficiais como punição disciplinar.

As 250 chibatadas dadas no marinheiro Marcelino Rodrigues Meneses foi o estopim para a revolta. O meu pai João Cândido e mais de dois mil marinheiros, então, se rebelaram. E posso dizer que, pela primeira vez, um Almirante Negro assumiu o comando dos navios da reconhecida Esquadra Branca, que era orgulho do país, e que em 1910 era considerada a terceira potência naval do mundo.
Senhoras e Senhores,

Quase cem anos depois da Revolta da Chibata, enquanto a Marinha ainda se mantém atrelada à idéia de que o episódio foi uma insurgência, o Estado vem procurando retificar os erros cometidos contra os marinheiros.

Nesse sentido, o presidente Lula, em julho de 2008, sancionou o projeto que anistiou João Cândido e os outros marinheiros participantes da Revolta da Chibata. É bem verdade que o artigo que previa o pagamento relativo às promoções póstumas e indenizações por morte aos familiares dos anistiados foi vetado, no meu entender, injustamente. Essa reparação ainda será feita.

Quero, como representante da família de João Cândido, expressar meu agradecimento ao presidente Lula pela iniciativa tomada no sentido de acertar o episódio histórico no seu devido lugar na história brasileira.

O navio petroleiro João Cândido vai singrar a imensidão dos mares com a nobre missão de transportar riquezas naturais brasileiras. Desejo que isso possa ajudar, efetivamente, na política de desenvolvimento econômico com justiça social. Nos mares e nos portos de qualquer parte do mundo, o navio será a nossa referência de grandeza e dignidade.

Vida longa ao João Cândido.

Muito obrigado.

NOTA: Faço questão de transcrever isto aqui porque é um Discurso que vai para os livros de história do Brasil. Com muito orgulho. Obrigado Lula.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

SOBRE O BOLSA FAMÍLIA - PAULADA NO PSDB/DEM DO RAFAEL GALVÃO

Sobre o Bolsa Família

O Bolsa Família se transformou em uma das principais pedras de toque do governo Lula por uma razão: ele funciona, como nenhum outro antes dele.

Maior programa de transferência de renda do mundo, o Bolsa Família estabeleceu uma quebra de paradigma importante no modelo de assistência social. Até a era FHC, assistência social era basicamente dar um dinheirinho a famílias em situação de miséria e esperar que o pai não gastasse tudo em cachaça. Com o Bolsa Família, o governo Lula estabeleceu diferenciais importantes que transformaram o programa em uma alavanca não apenas para o alívio da situação de desespero de milhões de famílias brasileiras, mas em um instrumento de desenvolvimento social.

Os números são os seguintes: há 19.653.677 famílias no Cadastro Único, que mapeia as famílias pobres e servem de base para a definição das políticas sociais do governo. Dessas, 15.729.878 famílias têm perfil para serem atendidas pelo Bolsa Família — ou seja, estão abaixo da linha de pobreza. Finalmente, desse universo, 12.494.008 são atendidas pelo programa.

Não é só isso. O PSDB/DEM, expressando o tipo de pensamento mais canhestro da direita brasileira, alega que o Bolsa Família incentiva a “vagabundagem”; não é incomum ver idiotas de classe média ou alta dizendo em tom jocoso que as pessoas não vão mais trabalhar, vão apenas fazer filhos para receber o benefício — é um desrespeito ao povo brasileiro dizer algo do tipo, levando-se em conta que o Bolsa Família é uma renda complementar e não é suficiente para sustentar completamente uma família.

Felizmente os números desmentem esse tipo de imbecilidade: de acordo com o IBGE, 77% das famílias atendidas pelo BF trabalham formal ou informalmente (entre os não beneficiados, o número cai para 73%). Mais ainda, 99,5% dos beneficiados que tinham algum tipo de ocupação não deixou de trabalhar porque passou a receber o Bolsa Família. Na verdade, o programa acaba incentivando o empreendedorismo, ao dar mais possibilidades aos beneficiados de gerar mais renda.

O Bolsa Família é dado às famílias, não a indivíduos. Às mães, preferencialmente, por serem elas as cabeças da maior parte das famílias pobres e porque, quando há um chefe masculino, ele não é exatamente confiável. Curiosamente, isso acaba modificando bastante as relações de gênero justamente entre as camadas mais baixas da sociedade. Além disso, o Bolsa Família não tem prazo de validade. É concedido enquanto as famílias precisem delas, e suspenso definitivamente apenas quando sua faixa de renda muda. Ou seja: quando melhoram de vida.

O principal diferencial do Bolsa Família e os programas assistenciais anteriores está em um fator simples, mas decisivo: a condicionalidade. Para receber o benefício, cada família precisa cumprir algumas condições básicas. São condições simples, como manter os filhos na escola, seguir o calendário de saúde — vacinação, pré-natal, etc –, e participar dos programas de capacitação profissional e geração de renda. Ou seja: em vez da esmola que o PSDB dava a uns meninos por aí, o Bolsa Família é um processo amplo e consequente de inclusão social.

Uma das vertentes do discurso do PSDB/DEM de demolição do Bolsa Família é o de que falta uma porta de saída. Falam isso por ignorância ou por má fé. Porque o próprio mecanismo do Bolsa Família é, por si só, uma porta de saída. Assistencialismo barato como o praticado pelo PSDB/DEM é dar o dinheiro e fim de papo. Em vez disso, para poder receber o Bolsa Família cada família beneficiária precisa cumprir uma série de condicionalidades, além da óbvia que é estar comendo o pão que o diabo amassou com o rabo. O Bolsa Família obriga as pessoas a estudar, a cuidar da saúde. Isso é a porta de acesso à cidade. E de saída da miséria.

Mais objetivamente, eles esquecem que, além dos cursos de qualificação e geração de renda diversos, o governo Lula lançou, ano passado, o mais específico Plano de Qualificação Profissional para Beneficiários do Bolsa Família, uma série de cursos profissionalizantes que buscam aumentar o nível de empregabilidade dos beneficiários. Os primeiros cursos se dirigem à construção civil, setor da economia que tem absorvido mais mão de obra em grande parte devido às obras do PAC.

Finalmente, o Bolsa Família movimenta a economia. Por causa da renda complementar proporcionada por ela, as pessoas compram em suas comunidades — para horror do PSDB/DEM, que se irrita ao ver que as pessoas votaram em Lula e vão votar em Dilma porque depois de muito tempo passaram a realizar esse ato tão insignificante do ponto de vista macroeconômico chamado “comer”. Comprando, elas fortalecem o comércio, que se anima a vender a prazo porque sabe que vai receber no dia certo. O Bolsa Família acaba gerando mais empregos; para usar uma expressão cara aos tucanos, cria um “ciclo virtuoso”.

Ou seja: é um programa completo dentro de suas atribuições, que vai muito além do meramente “assistencialista”, como gostariam os tucanos olhando com saudade para o seu Bolsa Escola — que para outros é apenas a prova de sua incompetência na área social.

Diante disso, o discurso do PSDB/DEM tem sido, no mínimo, esquizofrênico. Há os que atacam o programa dizendo que ele não presta, sem nunca citar números. E há aqueles que tentam reivindicar sua paternidade creditando o

A única coisa que realmente foi feita durante o governo FHC foi o início da formação do Cadastro Único, em 2001. Só isso, mais nada. A não ser, claro, que se tente creditar ao Bolsa Escola, o programa assistencial de Fernando Henrique, a origem do Bolsa Família.

O problema é que comparar os dois é, para usar a única palavra adequada, uma palhaçada.

O Bolsa Escola tucano era dado a crianças que freqüentassem a escola, ponto, e não cobrava nenhuma condição além da frequência escolar. O benefício era suspenso quando ele completasse 14 anos, independente de sua situação.

Resultado: não resolvia o problema, porque não havia um sistema de promoção social. Pior ainda, muitas vezes até agravava a situação, porque assim que o menino completava 14 anos e o benefício era cancelado a renda de famílias inteiras diminuía repentinamente. Isso, sim, era esmola. O Bolsa Escola fazia parte da mesma tradição paternalista que deu ao país o vale leite e o vale gás, e que possibilitou as imensas filas em frentes às sedes estaduais da antiga LBA.

Enquanto isso, do Bolsa Família uma família só sai se deixar de cumprir as condicionalidades — quando, aí sim, o programa passaria a ser esmola, porque seria dinheiro apenas dado, sem compromisso de melhoria social — ou se seu nível renda aumentar e ela se erguer acima da linha de pobreza — em outros termos, quando ela passa a não precisar mais do auxílio do governo. É isso, essa consistência e consequência, que faz do Bolsa Família um projeto diferente e tão bem sucedido.

Desde a criação do programa, 4,1 milhões de famílias foram desligadas do programa, porque seu nível de renda aumentou.

4,1 milhões de famílias que saíram da miséria. E eles são só uma parte dos 23 milhões de pessoas que, ao longo do governo Lula, saíram da linha de pobreza absoluta.

Apenas para efeito de comparação, durante todo o governo de Fernando Henrique Cardoso apenas 2 milhões de pessoas trilharam o mesmo caminho. Talvez não pudesse ser diferente: a cada crise econômica — e eles conseguiram quebrar o Brasil três vezes –, a primeira coisa que o governo FHC fazia era cortar os investimentos sociais, porque afinal de contas tinha o tal do superávit primário para manter. Também para efeito de comparação, é só lembrar que na crise de 2008, que a boa governança brasileira transformou em marola, o governo brasileiro na verdade aumentou os investimentos nessa área.

O PSDB/DEM sabe disso, embora não alardeie por aí porque faz mal à sua imagem. É por isso que quando os tucanos falam que o Bolsa Família aprofunda a miséria, é porque partem do exemplo do projeto pífio que conseguiram realizar. Se baseiam na própria incompetência para julgar a competência dos outros. O Bolsa Escola é só o que eles sabem fazer, e só o que conhecem. E não concebem que alguém possa fazer algo melhor.

RAFAEL GALVÃO

NOTA: Quando leio textos legais nos outros blogs copio e colo. Do blog do Rafael Galvão ali ao lado. Tem mais de onde veio este.

EFEITOS DO BOLSA FAMÍLIA NA EDUCAÇÃO - DO BLOG DO NASSIF

Efeitos da Bolsa Família sobre a evasão escolar

Por Bruno

Bolsa Família tem impacto positivo sobre evasão escolar dos adolescentes

Do Valor de hoje

Alunos cujas famílias recebem dinheiro do Bolsa Família apresentam melhores índices de aprovação e abandono escolar que os estudantes regulares da rede pública brasileira. Esse é o principal resultado do cruzamento de informações entre o Educacenso e o Sistema Presença, ferramenta do Ministério da Educação (MEC) que verifica se os filhos dos beneficiados do principal programa social do governo federal estão indo à escola.

De acordo com dados cedidos ao Valor pelo MEC, dos 500 mil alunos do ensino médio de 16 e 17 anos que recebem o Bolsa Família 81,1% passam de ano, enquanto a taxa de aprovação média dos mais de 7 milhões de jovens do censo escolar de 2008 no antigo colegial é de 72,6%. O índice de abandono da escola nesse ciclo educacional chega a 7,2% entre os beneficiários de transferência de renda do governo e 14,3% entre o total geral de estudantes contabilizados pelo Instituto de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão de estatísticas do MEC.

No ensino fundamental, que concentra mais de 30 milhões de crianças matriculadas da 1ª à 8ª séries, a taxa de evasão dos mais de 9 milhões de alunos beneficiários do Bolsa Família é de 3,6%. O restante dos estudantes dessa etapa apresenta índice de 4,8% de abandono da escola. Em termos de aprovação, os alunos do ensino fundamental que não recebem apoio social têm melhor desempenho, com taxa de 82,3%, ante média de 80,5% daquelas crianças cujos pais recebem recursos federais.

Segundo Daniel Ximenes, diretor de estudos e acompanhamento das vulnerabilidades educacionais do MEC, a diferença de desempenho – em termos de frequência e rendimento – está diretamente relacionado com os benefícios do Bolsa Família recebidos pelas famílias pobres.

“A transferência de renda condicionada provoca alerta e cobrança por parte dos pais e reforça o desafio de fazer as crianças permanecerem na escola com maior regularidade. No longo prazo, isso ajuda a corrigir trajetória ruim no processo educacional brasileiro entre crianças e jovens da turma da pobreza”, afirma Ximenes.

O diretor do MEC aproveitou para divulgar resultado do mais recente monitoramento de frequência escolar do Bolsa Família, referente aos meses de fevereiro e março. O balanço mostra que 95% dos 14,117 milhões de crianças e jovens beneficiários com identificação escolar cumprem a regra de frequência exigida pelo programa. O acompanhamento revela que 276,9 mil alunos estão abaixo da exigência e 322,9 mil sequer têm um registro de frequência, totalizando quase 600 mil crianças em situação irregular.

Nesse caso, os beneficiários podem ser punidos pelo Ministério do Desenvolvimento Social, que coordena o programa. Para receber o benefício do Bolsa Família em dia, uma das condicionalidades é que os pais matriculem os filhos na escola. Os alunos de até 15 anos precisam manter participação de, no mínimo, 85% das aulas a cada mês. A determinação para adolescentes de 16 e 17 anos é de frequência a pelo menos 75% das aulas

PARA CONHECIMENTO

sábado, 1 de maio de 2010

PRIMEIRO DE MAIO HISTÓRICO

Daqui a alguns anos o que aconteceu hoje parecerá algo normal no Brasil.

Um Presidente da República participando das festividades do Dia do Trabalhador.

Por enquanto ainda gera aquela ogeriza de classe média e da burguesia.

Quem dirá então com empresas estatais investindo nesta festa.

Claro para eles as empresas estatais devem investir tão somente em convescotes empresariais e técnicos. Festa só para eles.

Bem minha filha....isso passa....um dia será diferente...

Vivas aos trabalhadores do Brasil!!!!