Powered By Blogger

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Claude Lévi-Strauss: 1908-2009

As ciências humanas e sociais perdem um dos seus maiores pensadores de todos os tempos. A ciência perde um grande revolucionário do século XX. O pai do estruturalismo em etnografia, antropologia, literatura, culinária e sociologia era um filósofo. E digo isto, com o mesmo sentido que eu diria que Hanna Arendt era uma filósofa, ainda que ela recusasse esta designação. Não haveria como não enquadrá-la neste conceito. E o mestre Claude não escapa disto também, apesar do seu grande envolvimento com a teoria e a pesquisa sociológica. Primeiro por influência de Emile Durkhein. Segundo por conta da etnografia de Marcel Mauss.

Mas ele é um Filósofo. Primeiro por ter constituído teoria original e contra-intuitiva sobre temática conhecida, explorada e convencionalmente abordada. Segundo, pelo fato de, ao contrário de muitos outros hoje, ter frequentado efetivamente um curso de filosofia, ainda que este não seja um critério excludente de que outros cientistas não possam ser filosófos. E, em terceiro lugar, por ter criado quase do nada uma grande corrente original e muito fértil de pensamento. O Estruturalismo não seria nada sem o impacto metodolóigico dos textos e dos conhecimentos desvendados por Levi-Strauss em suas pesquisas.

E, "nós" cientistas sociais brasileiros - o que inclui aí ex-presidente, Florestam Fernandes, Octavio Ianni, Paul Singer, et alii, perdemos um mestre que plantou aqui algumas das sementes fundamentais da sociologia, antropologia e filosofia brasileiras. Digo isto porque é assim que deveríamos olhar para esta passagem de Levi-Strauss. A história da influência deste cientista sobre as ciências tupiniquins e a filosofia brasileira - com o seu forte viés sociológico aliás - ainda precisa ser melhor contada e talvez esta seja a oportunidade para tal.

Se você pesquisar neste exato momento sobre isto encontrará informações ambíguas e fugazes. Claro, este é o dia e a semana em que teremos os melhores textos sobre ele. Os obituários trazem consigo esta característica revelam grandes qualidades e surpreendem os leitores porque são escritos para fazer isto mesmo. Dar destaque a algo que sempre foi passado como se fosse mais uma idéia comum na platitude das idéias dos sociólogos, filósofos e outros.

Ainda sequer interpretamos a obra deste autor de uma forma mais coletiva e pública. E é um dos outros fatos curiosos este: o fato de que, ao contrário de diversos outros paises, a sociologia ainda não é uma moeda corrente entre os cidadãos brasileiros. Se você caminhar em Paris ou em diversas cidades francesas e perguntar quem foi Claude Lévi-Strauss talvez descubra o que eu estou a querer dizer com isto.

E, posto isto, considerando que ele também estudou as características sociais e antropológicas de grupos e tribos brasileiras maior ainda é o nosso desafio. Não vou dizer nada aqui sobre isto. Qualquer texto hoje tratará disto. Dos três anos na USP recém criada. Do encontro surpreendente e espantosos - atenção na palavra - com tribos indígenas brasileiras. Algumas delas não tem mais sequer o rastro de tanta aculturação que sofreram. E é um ponto importante este: saber que a nossa civilização exterminou objetos de conhecimento deste notável antropólogo e etnógrafo.

Em sua obra Tristes Trópicos precisamos ler à contrapelo para perceber importantes anotações sobre o nosso povo e nossa cultura. E neste exato momento devem haver pelo menos uns 30 jornalistas culturais se ocupando de fazê-lo ou refazê-lo mais uma vez. Faço a aposta de que todos os cadernos culturais da próxima semana virão requentar aqui o Cru e o Cozido para servir aos curiosos leitores. Mas os bastidores parecem dizer autre chose, por exemplo, parece haver uma rejeição cultural brasileira as idéias de Lévi-Strauss. Vamos ver isto mais de perto quando começarmos a debater o que foi mesmo que ele viu em nós. Quais estruturas ele mapeou da nossa cultura originária e social.

É um bom momento para abrir as páginas de seus livros e compreender melhor a sociologia do século XX e o estruturalismo.

Descanse em paz...afinal deixaste para todos nós da humanidade uma boa obra que merece a nossa atenção.

Voi-lá...

Nenhum comentário:

Postar um comentário