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quinta-feira, 31 de maio de 2018

Sobre a Morte que eu Quero - Fim - 2


Bem - no final - você olha para a vida que passou e pensa nas lembranças dela. Sente que é o fim da linha e não consegue mais avistar nenhum capítulo a mais como possível ou um pequeno episódio pela frente. Então espera, como num tempo comprimido, a visita chegar. Entende com serenidade que a luz vai se apagar e não tem mais medo do escuro. Está pronto para atravessar pela última vez a cortina entre a vigília e o sono e ter o sono mais profundo e enigmático possível. Mas não tem medo. Olha para o mundo e pensa apenas que vai acabar se diluindo nele por inteiro. Do pó me fizestes e ao pó voltarei. Sente que não é só o corpo que irá passar por isso, mas também todas as lembranças, ideias, afetos e sentidos que encontrou durante a vida inteira. Do menino que está aprendendo a caminhar e sorri no primeiro passo equilibrado ao avô que olha o neto repetir o mesmo gesto que um dia viveu. Não tem dor e nem sente mais o frio e o calor, mas escuta o próprio coração batendo e pulsando e reduzindo o seu compasso e conta como contava os passos de alguém chegando mais perto o tempo comprimido da vida toda. Nesse segundo exato, sente em si, em seu corpo e mente milhões de anos passarem pelos olhos porque sua vida não é só sua e sua existência não é mais a expressão de um indivíduo ou de uma parte de tudo que há. Estou completamente integrado ao mundo e essa sensação traz um conforto inesperado, mas muito bem vindo. Fim.

P.S.: Fiz isso agora a noite inspirado em Hölderlin e outros. Não tenho medo algum mais e entendo tudo.  Me sinto parte de tudo. Estou vivendo uma experiência muito profunda nos tempos que passam por força de leituras e vivências. Tenho a impressão de que certas coisas que li durante toda a minha vida até hoje se apresentam em minha reflexão com um sentido que não tinham e articuladas com essa vida de forma muito aplicada. Concluí algumas coisas que julgo especiais. Só o amor nos permite enfrentar a morte. Entre a vida e a morte só o amor realmente conta. Todo o resto só tem sentido se ele estiver presente. Talvez seja essa a chave da serenidade ao final e da nossa integração à existência.

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