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terça-feira, 2 de outubro de 2018

O PESADELO DOS PROFESSORES ESTADUAIS PRECISA ACABAR


O PESADELO DOS PROFESSORES ESTADUAIS PRECISA ACABAR

A hipótese de Sartori e Leite irem ao segundo turno nos coloca frente a um filme de terror em andamento. Pior do que isto é imaginar que as duas opções significam apenas prosseguir no roteiro de humilhação e desprezo dos educadores estaduais.

Com Sartori, passamos quatro anos sem reajustes, com salários parcelados e atrasados e tivemos muitas perdas nas nossas condições de vida e de trabalho. A possibilidade de prosseguir nisso é algo que coloca em desespero muitos educadores, faz outros abandonarem de vez a carreira e vai transformando a nossa categoria num conjunto de pobres assalariados e sem perspectiva nenhuma de melhora. O PMDB fez muito mal aos educadores no período 2015 a 2018.

Com Leite do PSDB, temos uma perspectiva aparentemente desconhecida e incerta, mas não creio mesmo que este vá fugir muito do modelo já conhecido de gestão do PSDB que foi aplicado em minha cidade – São Leopoldo com PSDB e PMDB juntos - entre 2013 e 2016 com resultados desastrosos, violência contra educadores e também queda ou estagnação do IDEB municipal. No estado do Rio Grande do Sul, com Yeda Crusius, o modelo também foi aplicado e, no estado do Paraná, com requintes de crueldade, Beto Richa promoveu até mesmo um massacre covarde e violências contra professores a céu aberto. Já no estado de São Paulo, o requinte é combinar violência e dissolver os vínculos dos educadores com as escolas e promover ao máximo contratos temporários. O modelo que é aplicado duramente em Porto Alegre por Nelson Marquezan Júnior tem também outros requintes. Tratam eles sempre de precarizar as condições de trabalho dos educadores. Flexibilizar ao máximo os contratos e reduzir os direitos dos educadores.

Como educador estadual pressinto então muitas ameaças graves vindas de ambos, Leite e Sartori: o fim do plano de carreira dos educadores e a dissolução definitiva dos contratos de trabalho com demissões em massa de professores sob a justificativa de redução do custo de máquina pública, mais fechamento de escolas e percebo que até mesmo o ensino médio noturno passará a ser alvo de questionamento em sua oferta.

A abordagem típica desses caras é só fazer as contas, reduzir os gastos e privatizar ou terceirizar os serviços.

Quem botar seu voto em Sartori e Leite estará autorizando a aplicação desse modelo neoliberal que só serve para esvaziar e reduzir o estado passando a iniciativa privada determinados serviços.

Aos professores que apoiam isso é bom lembrar que as condições de trabalho e sobrevivência na iniciativa privada não são melhores. Nessa abordagem o educador se transforma em figura descartável, substituível e dispensável. O efeito imediato dessa política no sistema de educação será piorar as condições de trabalho e sobrevivência, porque os salários passarão sem reajustes, mas não somente isso, é bem possível que ocorra um achatamento dos salários em virtude dos vínculos mais precários e da perda do plano de carreira e das possibilidades de progressão.

Não custa lembrar aos esquecidos ou aqueles que acharam irrelevantes os reajustes recebidos nos governos Olívio Dutra 1999-2002 e Tarso Genro 2011-2014, nos dois governos nosso plano de carreira foi respeitado, foram feitos concursos públicos para o ingresso na carreira e os salários foram pagos em dia com reajustes na maior parte dos casos acima da inflação.

Rosseto e Ana já prometeram pagar os salários em dia e viabilizar as melhorias necessárias para as condições de trabalho dos educadores. Então, eu realmente não entendo porque alguns colegas insistem mesmo em arriscar perder muito mais com Leite ou Sartori, ao invés de começar a recuperar alguma coisa como já foi o caso com Olívio e Tarso.

Pelo bem da educação estadual e dos educadores do estado eu voto #RossetoAna #13 sem titubear e além disto faço campanha intensamente.

Grande abraço.

Na imagem um servidor público estadual aplica o #EleNon no Sartori e o #EleTbNão no Leite.

Quem tá certo é esse servidor.



quinta-feira, 20 de setembro de 2018

TOMADA DE POSIÇÃO


TOMADA DE POSIÇÃO

Aprendi a observar com mais cuidado as opiniões, posições e expressões dos políticos e dos homens e mulheres públicos, das autoridades e, também, das celebridades em geral, após uma advertência de um professor de filosofia que dizia basicamente que política é a arte de tomar posição. Meu professor João Carlos Brum Torres, não dizia exatamente que era uma arte, mas que o segredo da política é tomar posição. Hoje, passados alguns bons anos dessa lição, eu penso que ele seguia algo como uma inspiração sartreana desde jovem. Não conheço toda a história de militância dele, mas sempre observei suas tomadas de posição e de outros e percebia e percebo o quanto ele valorizava esse gesto e sua responsabilidade nisso. Assim, apesar de nossas divergências partidárias e também algumas refregas eleitorais, sempre pude considerar sua posição como importante no debate. E é assim até hoje, por exemplo, quando ele se posicionou contra o golpe de Temer ou quando considerou um crime o fechamento da FEE – Fundação de Economia e Estatística, entre outras posições que o separavam das iniciativas dos membros do seu partido.   

Ele queria dizer com isso que a questão não era tanto se a posição estava certa ou errada, mas sim que ela demonstrasse uma abordagem alternativa à realidade e à opinião frágil ou fraca sobre ela.

Numa perspectiva mais formal, nós podemos até mesmo fazer inquérito sobre as posições divergentes e tentar monitorar a evolução dos acontecimentos para ver que posições se mostraram acertadas, quais, mesmo erradas ou equivocas, contribuíram para a reflexão pública sobre determinado assunto e, também, quais representavam apenas um beco sem saída ou a mera negação de uma outra perspectiva ou posição.

Na trajetória política deveria ser balanceado isso de alguma forma. Alguns somam pontos por sua lucidez e eventual ousadia em tomar posição, outros perdem pontos por simplesmente vomitarem suas biles, seu ódio, raiva ou grosseria no debate público.

Com o tempo se aprende a observar a mísera diferença entre fanfarrões, oportunistas, parlapatões, grossos e a perceber a grandiosa diferença daqueles que se expressam com responsabilidade e serenidade de tal modo que conquistam nosso respeito e deveriam receber mais atenção do público, enquanto os demais deveriam ser desvalorizados no grande mercado de ideias políticas. Porém, ocorre que de vez em quando observamos uma espécie de surto de insensatez e algumas figuras grosseiras cujo destino deveria ser a nota de pé de página da história, procuram ter capítulo especial como se tivessem algo a dizer, algo a ensinar e algo a fazer, mas não.

Lembrei deste tema da tomada de posição ao saber que uma menina muito querida se posicionou contra o coiso e faz isso muitas vezes ao dia porque não suporta a ideia de ver o Brasil nas mãos desses caras e que tem também muitas precauções contra a mentalidade que ele desperta ou dissemina em seus apoios. Ela toma posição e argumenta todos os dias por #EleNão e #EleNunca.

Eu fico muito orgulhoso ao ver isso. Porque sei que assim ela assume posição e responsabilidade pelos assuntos públicos e vai à medida que o fizer com juízo e serenidade conquistar o respeito público e contribuir de alguma forma para a sociedade. Para aqueles que gostam de ficar sobre o muro, seja por prudência seja por auto preservação, talvez seja importante observar que quem não tem posição ou não contribui no debate público, tem muito pouco a dizer na esfera privada que tenha algum valor e que o valha.

Tomar posição é da essência da política e só quem toma posição compreende o quão sério deveria ser o tratamento dado aos assuntos públicos.



P.S.: Homem fraco em política é aquele que é incapaz de controlar a sua ambição e vaidade nos assuntos públicos. E, em geral, quem não controla essas duas partes de sua alma comete sucessivamente um absurdo ou estupidez atrás do outro. Num seriado que assisto, há um homem mau para cada temporada e a mocinha se vê às voltas com ele. Na vida real, há muitos homens maus e a maior parte deles se engendra sobre a proteção vaidosa da expressão homens de bem que apenas esconde o propósito de fazer mau a outros seres humanos. Veja que aqui ambição está em desmedida e que toda vez que ela aparece e triunfa, ocorrem tragédias. Eu admiro e respeito muito todas as pessoas que estão lutando contra isso e respeitando aqueles que estão ao seu lado, bem como, respeitando, na expressão de suas palavras, mesmo aos seus adversários. O estado de beligerância não será desarmado sem essa atitude e os alegados extremismos deveriam ser melhor sopesados no espectro político brasileiro. Nesse sentido, eu só vejo dois lados no cenário todo. Um, daqueles que usurparam o poder ou que querem persistir fazendo isso e, o outro, daqueles que resistem e vão continuar lutando contra estas tentações e iniciativas. Assim, para mim, homem fraco e homem mau é aquele que se posiciona do lado dos primeiros. O resto é apenas ensaio de diferença.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Merli - 1


MERLI - DEBATE NA 33• FEIRA DO LIVRO DE SÃO LEOPOLDO - RS

Nesta quinta-feira, às 19 horas, vou conversar com a Professora Elvira Hoffmann, apaixonada pela série e com o público que prestigiar o evento. Tudo com a mediação e a proteção do mestre Jari da Rocha, Diretor de Cultura da Secretaria Municipal de Cultura e Relações Internacionais de São Leopoldo.

A SÉRIE E O ENSINO DE FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO

Convido para comparecerem ao debate sobre esta série e apresento algumas considerações sobre ela aqui. Sem spoiler nem da série e nem da minha fala sobre ela para a ocasião.

A série tem como personagem principal Merli que é um professor de filosofia razoavelmente excêntrico, crítico e que se arrisca muitas vezes em relação ao ambiente escolar, em algumas errando e em outras acertando, mas que é muito dedicado e que estabelece uma relação intensa e dialética com seus alunos e alunas e também colegas na escola. É um personagem muito bem construído pelos autores e pelo ator, cujas experiências apresentam uma espécie de somatório de muitas experiências de outros educadores que são orientados pela ousadia e criatividade. Ele encara as contradições da vida e provocativamente gera nos alunos e alunas uma espécie muito singular de autoconhecimento e autocompreensão que os estimula a ter uma vida refletida em suas relações com os outros seres humanos.

Na série, é importante destacar, os jovens alunos, meninos e meninas apresentam características muito bem boladas e construídas em seus personagens. Apesar da turma ter 25 alunos, a série se concentra nas vivências e experiências de 11 alunos e alunas. Os demais da turma são coadjuvantes sendo citados e nominados apenas mais cinco. Os demais alunos da escola figuram no cenário dando uma bela ambientação e ideia de um ambiente escolar completo. Destaco em relação a escola mais duas coisas. De um lado a estrutura física da escola é razoável e também o fato da escola ficar em frente a uma bela praça arborizada - na minha opinião isso poderia ser uma diretriz excelente para todas as escolas brasileiras.

Em quarenta episódios a série apresenta os três anos na formação do ensino médio de jovens espanhóis, em Barcelona, em uma escola pública de ensino médio. A série nos permite estabelecer claramente uma leitura da experiência formativa dos alunos e alunas, as contradições e conflitos geracionais entre alunos e pais, os conflitos e desafios pedagógicos inerentes ao espaço escolar e também consolida - ao meu ver - um paradigma educativo que é fundado no conhecimento dos alunos e alunas por parte dos professores.

Um outro aspecto muito importante e bem trabalhado na série é a questão da educação afetiva e sexual dos adolescentes com exemplos muito bem trabalhados sobre este tema, seja no universo dos jovens, seja no universo dos adultos, pais e professores. Ao mesmo tempo, a série nos permite ter uma visão da educação como uma atividade e uma prática de cuidado e de proteção, apoio, amparo e compreensão dos jovens. As experiências em três anos mudam a compreensão dos jovens e promovem o seu amadurecimento, melhorando suas relações sociais e afetivas. As questões de sexualidade e gênero tem papel fundamental também ao longo de toda a trama.

No que respeita aos conteúdos filosóficos ministrados pelo professor Merli é preciso destacar a inclusão de autores mais contemporâneos a uma série de autores considerados mais clássicos. O tratamento resumido dos autores é exemplar e auxilia muito aos professores e professoras da disciplina a repensarem ou trabalharem estes autores e os temas elegidos em cada um deles. Creio que a principal lição pedagógica da série se expressa no seguinte: é possível lecionar filosofia no ensino médio desde que se estabeleça uma relação entre os temas dos autores e as questões existenciais atuais suscitadas pelas vivências dos alunos, alunas, professores e professoras. Em meio a isso tudo destaco quatro ou cinco temas que me parecem centrais na série toda: a sinceridade, o segredo, a surpresa, a mentira e a verdade. E isso no que toca a questões de adultos e de jovens.

Por fim, a minha impressão pessoal é que a série valoriza de forma muito adequada um método dialético e libertário de ensino de filosofia, quer dizer, o uso do diálogo, da interrogação e da provocação sistemática e ousada da leitura, reflexão e expressão dos alunos e alunas em relação a si mesmos e ao mundo, dissolvendo preconceitos e confrontando as tendências a mera reprodução de conteúdos, convenções e tradições.

Daniel Adams Boeira - Professor de filosofia licenciado na UFRGS em 1993 e que exerce o magistério em escola estadual desde 1998,  atualmente na Escola  Estadual Olindo Flores da Silva, em São Leopoldo, Rio Grande do Sul.

Dirigismo Cultural: Queer Museum e a reação a estética autoritária.


Dirigismo Cultural: Queer Museum e a reação a estética autoritária.

A pretensão de dizer o que deve ser criado, exposto e usufruído é a expressão máxima do dirigismo cultural. Se segue a ela também a determinação de como você deve ou pode viver. Você só pode gostar disso. Você só pode viver assim. Você deve morrer assim. O sacrifício vale a pena. Todos os sinais estão dados.

É muito mais conveniente para o sistema rebaixado e planificado pelo império da burrice, impor uma estética, tal qual um sistema completo de determinações.  Pelo achatamento estético da sociedade e da arte, passa o trem e suas malas carregadas de ódio e raiva. A energia a necessária para o grande sacrifício.

Na Alemanha onde houve talvez um dos maiores laboratórios disso o mau gosto era impuro, degenerado, contra uma tal estética Ariana. Era uma estética clássica mas sem o caráter dionisíaco e livre ou agônico. Por isso, que foi tão fácil sacrificar a metade do povo alemão em duas guerras. Na primeira pela ambição imperial da nação que quer ter supremacia política e econômica na Europa. Um gesto de coragem de um povo e de heroísmo de seus jovens. Depois a raça pura se vinga daqueles que a exploram, com a máxima violência do que segue o sacrifício de milhões de judeus e outros povos. Na Rússia socialista, o realismo impõe a máxima impessoalidade também. Depois, só o grande pai Stalin, a personificação da nação. Por isso, o sacrifício de milhões também foi possível. Tanto na implantação e primeira década de consolidação do regime, depois na perseguição aos traidores internos, por fim, na própria segunda guerra cujo sacrifício dos russos é absolutamente imbatível em números e em consequências. Veja que o gosto dirigido ou bem dirigido permite grandes milagres que vão da estética à demografia. Não vou falar aqui de outros exemplos. Na própria América, a estética foi absorvida pelos esforços de guerra. Na Inglaterra e mesmo na França a resistência aos invasores forjou uma estética ou contra estética de sobrevivência. No Brasil da ditadura militar quase toda a MPB afinou o samba em uma estética de sobrevivência para escapar ao dirigismo cultural da censura.

O que o MBL tenta fazer hoje é justamente isto: tentar impor um metro, uma medida e determinar os limites da arte aceitável e tolerável. Não se trata somente de uma conduta de censura.

 Com a militância gaúcha mais conservadora desse movimento surgiu a fração mais reacionária e moralista do MBL. A contradição é tão grande com as frações de SP - e coloque o PSDB "de fé" por traz disso, que talvez a melhor cura seja trazer a musa nua e verde amarela para o sul e fazer ela militar nesse meio por liberdade sexual e orgiástica no movimento. Aqui no sul o MBL caminha então para a sublime purificação da carne, provavelmente num esforço desesperado de encontrar santidade por traz do seu venal pecado golpista. É fácil de entender ou ensaiar uma explicação do fenômeno aqui no Santander: eles estão desesperadamente em busca da pureza estética.

Compatibilizar isso com Alexandre Frota, Dória e sua faxina estética nos grafittis paulistas, Marquezan e seu apaixonado secretário de cultura, que encontrou o novo Caetano na política, são expressões do mesmo dirigismo cultural. Se vingar esse esforço de dissimulação e purificação, só precisamos aguardar os sacrifícios. Como diz a voz da experiência: isso ocorre assim desde que o mundo é mundo. O dirgismo cultural ou o cânone moral fazem um esforço de planificação é achatamento justamente para levar a padronização, a supressão do diverso, do rebelde - do livre? - para permitir a justa e firme direção ao grande sacrifício de purificação e salvação. Não é preciso voltar à idade média ou à Grécia e Roma antigas para saber no que vai dar.

Nietzsche tinha razão na sua grande intuição dialética entre o apolíneo e o dionisíaco. Quanto maior o esforço numa direção, maior o saldo na conta da direção oposta. Ou seja, a sociedade super livre, moral, organizada, limpinha, esconde em seu bojo a realização do maior caos e sacrifício. A beleza de Apolo, solar e celestial é intocável, já o Dionisíaco e seu instinto carnal pode ser destruído. O dirigismo cultural do MBL é uma façanha histórica, pois  ensaia, na estética, aquilo que busca no social: a aniquilação do real, do carnal e da expressão do diverso. Só podemos agradecer a iniciativa de acelerar com seu gesto extremado a reação contrária que precisa ser cada vez mais forte, porque é vital para a sobrevivência da liberdade real de criar, expressar, viver e pensar. O MBL tem, portanto, uma contribuição a dar ao Brasil com essa contradição entre o que chama de liberdade e aquilo que esconde em sua limitação conceitual e estreiteza essencial, onde é apenas um movimento que se quer "livre de alguma coisa", como aliás o nazismo se queria livre dos judeus e de mais alguém, ao ponto de querer e acabar sendo livre do próprio povo. É genial o efeito manada que encontramos ao prosseguir nessa análise, porque podemos perguntar todos aqui agora: o sacrifício vai chegar de que forma e quando?

Pois aviso que já chegou. Você que não está percebendo ou te tocando.  Olhe para os teus direitos, sendo dilapidados e destruídos com  a ironias e metáforas insuperáveis - do que a propaganda do "não importa como você chegou até aqui" do Santander é talvez  símbolo mais insuperável do grupo golpismo curativo e libertário, da agenda golpista inteira, olhe nas reformas trabalhista e previdenciária, olhe para os milhões do Geddel e os milhões do Temer,   olhe bem as riquezas nacionais que sofrem mais uma vez a sanha do entreguismo, olhe para os educadores em greve, olhe para as políticas sociais exterminadas, para a democracia vilipendiada, para os abusos e arbitrariedades na justiça, olhe para a fome, a miséria e a desorganização material e espiritual da vida das pessoas. O dirgismo cultural é apenas a contrapartida estética do golpismo, assim como a reforma educacional do novo ensino médio, é apenas a realização na escola sem partido ou do partido único de um projeto de purificação e da supressão da diversidade. O dirigismo cultural não é sintoma, mas justamente o modelo adotado para achatar e preparar a plebe rude e pseudo ilustrada, para o grande sacrifício. A ponte para o futuro nos leva a todos para o abismo. Será que precisamos de mais avisos ainda? Me parece também, para lembrar como está caminhando o santo e seu andor, que precisamos mais uma vez de uma estética articulada e diversa de sobrevivência. E é bom que se aproveite os vãos de liberdade que ainda sobrevivem para fazer uma nova guerrilha cultural e impedir a consolidação desse novo dirigismo cultural. Aqui nosso impulso estético é vital.

P.S.: Texto publicado no ano passado por ocasião  da censura ao Queer Museum pelo MBL e que foi aceita pela direção do Santander Cultural de Porto Alegre.

AMIZADES E QUALIDADES - REVISTO


AMIZADES E QUALIDADES

Quando a gente começa a se interessar por uma pessoa, seja qual for o interesse, a gente passa a prestar atenção nela. Observar e avaliar com cuidado seus gestos, palavras, comportamento e modos. Se começam a descobrir os valores e princípios dela. Ao que conduz a sua ação. É um processo bem consciente no meu caso. Não sei quanto a outros, mas comigo isso é um processo em que aprendo muito também sobre a minha percepção das pessoas. Quando a pessoa demonstra uma qualidade, seja ela qual for começamos a registrar e ir confirmando se essa qualidade é solitária ou isolada. Observamos também se essa qualidade ou virtude se mantém, em diversas circunstâncias. Se passa a ver se não há outra qualidade associada a ela. Cria-se até uma certa expectativa em relação a isso e, assim, se passa a ter uma ideia do caráter e da alma da pessoa. É como se olhássemos para dentro dela e percebemos sua estrutura moral e de valores. Com o tempo, essa pessoa pode demonstrar falhas, erros ou até mesmo vícios, manias e coisas ruins com o que não concordamos ou não aceitamos, mas quando gostamos dela isso fica um pouco ao largo e não traz prejuízos grandes a imagem positiva que temos dela. Porém, nesse momento a avaliação se prepara para subir de nível. Você começa a usar mais boa vontade e paciência, começa-se a compreender mais do que julgar. Isso explica porque mantemos certas pessoas nas nossas vidas, porque apesar dos pesares, elas ganham mais valores e qualidades na nossa tabelinha de julgamentos. Nossa sensibilidade passa a aguardar o próximo gesto. Ponderamos, então, as suas qualidades e apostamos em que essas qualidades vencerão as demais notas características e triunfarão sobre elas. É nesse momento exato que começamos a ajudar essa pessoa mais do que antes. Quando isso acontece, ela também começa a perceber esse processo ao seu modo e, assim, ambos se ajudam. Raramente falamos sobre isso. Mas é assim que acontece e é assim que as pessoas encontram no outro a possibilidade de mudar e evoluir. Isso gera um relacionamento de amizade e afeto mais durador. Quando isso acontece é maravilhoso. Eu só posso agradecer por receber esse tipo de atenção e tenho muito prazer em dar atenção dessa natureza a alguém. A gente começa a aprender com as qualidades do outro e ajuda até a aperfeiçoar elas. E assim seguimos.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

BANALIZAÇÃO DE PARADIGMAS: MACLUHAM, GOEBBELS, HITLER & BOLSONARO - Para o Gabriel Dos Santos


Enquanto a roda da história ainda está girando e podemos dizer alguma coisa antes do fim definitivo de nossa liberdade e da democracia brasileira.




Recebi um questionamento ou pedido de auxílio e orientação de um ex-aluno sobre dois temas de Marshall MacLuhan. Os dois temas não me eram muito distantes, mas fui rever isso. Trata-se do que ele apresenta como distinção entre meios quentes e meios frios de comunicação e também o que é paradigma midiológico ou tecnológico?

Confessei de saída que não tinha domínio do autor. Em seguida me dispus a dar uma “olhadinha”. Fazendo isso me defrontei com dois temas que estão relacionados diretamente a um tema que já me desafia em reflexões sobre o que ocorre na cultura e nas sociedades que vivem fenômenos regressivos de volta a sistemas mais autoritários e menos democráticos e o abandono de uma perspectiva emancipatória ou progressista.

A única pista que encontrei sobre isso em minhas especulações – que merece verificação ou demonstração, refutação ou correção dos historiadores e dos especialistas, é basicamente certa coincidência nos períodos históricos desses processos: em quase todos que observei há uma espécie de avanço dos meios de comunicação ou de circulação de informação e de conhecimento que causa certo atrito entre as visões tradicionais e as visões mais elaboradas ou reflexivas e no mais das vezes as visões tradicionais ganham num primeiro momento por simplificação e as forças progressistas resistem – com diversos tipos de vítimas, entre elas a verdade e a justiça entre os homens e mulheres – para mais adiante conquistarem algum terreno, após uma árdua disputa de valores e de concepções de vida e de sociedade. Abaixo meu debate que deixo como contribuição especulativa e prospectiva talvez de alguma saída progressista ao impasse que vivemos com fascistas, golpistas, usurpadores, manipuladores e interesseiros inescrupulosos que fazem pouco caso da democracia ou em relação a vida dos cidadãos comuns, ainda que apelem justamente ao sentimento de insegurança dos cidadãos comuns e “banais” para triunfarem.

A segunda questão do paradigma midiológico é simples para mim. Envolve apenas a ideia de que uma nova tecnologia de comunicação traz consigo um novo paradigma dominante. Observo que o conceito de paradigma foi utilizado de forma muito importante em filosofia da ciência por Thomas Kuhn nos anos 60 para marcar as mudanças de concepção e visão do mundo que ocorrem quando as ciências mudam, após uma árdua batalha entre paradigmas concorrentes para explicar os seus fenômenos. Após, um período em que a ciência normal e a ciência revolucionária concorrem disputando entre elas seguidores ou após o desaparecimento dos defensores da ciência normal, ocorre um período de transição e a mudança.

O termo paradigma tem sido usado e disseminado largamente na academia e já está de certa forma popularizado e banalizado também. Mas veremos adiante que esse é uma espécie de risco de teorias novas ou de novos conceitos tendem a ser apropriados, simplificados e mesmo que suas definições sejam muito claras – o que no caso de Kuhn é controverso por muitas outras razões internas ao tema de filosofia da ciência – ocorre com ele um empobrecimento e achatamento. Pode se dizer que as teorias de Darwin, Comte, Marx, Freud, Nietzsche, Foucault e muitos outros e outras autoras sofrem o mesmo processo.

Assim, apesar de achar essa questão do paradigma mais importante do ponto de vista histórico, cabe aqui uma aplicação mais ampla ao meu ver. Você pode compreender muitos processos do tipo de uma revolução industrial ou tecnológica e também tentar analisas as suas consequências sociais, políticas e culturais a partir disso. Em se tratando de formas e novas formas de produção, disseminação, distribuição e deturpação de conhecimento, comunicação, informação e formação de opinião veremos o tamanho da minha especulação e seu alcance no tempo atual.

Aliás, tenho pensado muito que a cada avanço nas comunicações, desde Gutemberg ocorrem dois processos combinados. De um lado, o acesso a mais informação e conhecimento e, de outro lado, uma espécie de rebaixamento e simplificação do conhecimento e da informação que marca os conflitos de opiniões e, também, algo como uma regressão cultural ou um retrocesso civilizatório que nos coloca de novo frente aos abismos da barbárie e das guerras de extermínio. Os exemplos desses meios novos: literatura, jornal, novelas, revistas, rádio, televisão, internet, telefonia, não exatamente nessa ordem. Após um momento ideológico de instabilidade e dos seus riscos regressivos, tipo fascismo na América, na Europa e no mundo, mas quem quiser pode dar uma olhadinha nas revoluções modernas, no século XIX e todo o século XX, como lhes aprouver, vejo que ocorre um reequilíbrio e um avanço de forças progressistas.

Se minha tese está correta, o que ele chama de meio quente não existe mais porque, por maior que seja a definição da mensagem sempre vai haver participação e distorção ou interpretação o que vai diversificar o sentido e rebaixar a qualidade do conteúdo por simplificação e banalização.

Tem um fenômeno, assim me parece, semelhante em economia no que eles chamam de taxa de confiança que envolve a formação das expectativas nos agentes econômicos e sociais e a disseminação de uma certa interpretação após concorrência dos fenômenos econômicos que chegam simplificados aos consumidores. As ondas de consumo de determinados produtos e o marketing por traz disso, faz uso desse mesmo mecanismo. Simplificação e confecção de um atrativo ou embalagem ao produto ou mensagem.

Para mim, usando a terminologia de MaCLuhan, com certa distorção deliberada e intencional, esse processo deveria ser considerado hot ou dançante enquanto o outro seria mais passivo e contemplativo. Ao contrário do que ele mesmo propugnava. Quanto maior a definição, mais quente o processo. Não sei se me entendem ou se me faço compreender. Quero dizer que o que torna uma comunicação mais conflitiva e poderosa e o que gera um maior engajamento é justamente a sua alta definição e seu alto poder de disseminação. Então, quanto maior a disseminação e definição maior a influência e a participação dos expectadores na defesa de suas ideias. Essa seria a base da manipulação de massas e dos efeitos manadas que temos assistido no Brasil promovidos por forte direcionamento de retos na mídia dominante e nos setores dominantes e elitistas contra alternativas progressistas e mais populares.

Estou, com todo risco inerente a isso aqui, cruzando áreas bem grandes de conhecimento aqui. Mas é uma reflexão especulativa que pretende apenas provocar.

Quando Macluhan fala em menos informações, nos meios frios, em outras palavras, ele parece esquecer que essa simplificação dissemina standards de interpretação, chavões e simplificações que tendem a ser mais conflitivas porque jogam fora o que já existe de qualitativo no tema.

Meu exemplo objetivo é Bolsonaro que está conseguindo doutrinar um bando de preguiçosos mentais, com muita anti intelectualidade e criando uma horda quente de opinião em torno de si com algumas poucas ideias simples e absurdamente estúpidas que jamais teriam vez se não fosse esse ciclo de imbecilização e banalização do conhecimento e da informação que vivemos, com impactos elevados em setores antes imunizados a isso, como o judiciário, os cursos de direito, economia e outras carreiras de novel superior. É quase a mesma coisa que Hitler e Goebbels fizeram na Alemanha. Lá também empresários, intelectuais, quadros superiores de estado e um populacho caminharam para o sacrifício de seus concidadãos judeus e de si mesmos em duas guerras.

Curiosamente ele faz isso acompanhando um ciclo de disseminação da comunicação via celular, smartphones, redes sociais e quetais. Na mesma onda do Donald Trump.

Bem, chega, vou voltar ao meu soninho filosófico.
Boa noite!

domingo, 2 de setembro de 2018

SIMONE DE BEAUVOIR – MEMÓRIAS


Por que eu gosto de Simone de Beauvoir? – Uma provocação bem recebida a que vou tentar responder aqui dando um passo à frente.

Você quer saber mesmo? – Preciso perguntar isso para tentar compreender se esta provocação tem importância e relevância real e efetiva para você.

Pois bem, eu gosto muito de ler os textos autobiográficos dela. Mas também comecei a gostar dos seus romances. É interessante que não estou falando aqui de seus ensaios ou do clássico feminista dela, O Segundo Sexo, mas é assim que tem sido comigo. Ela é uma boa memorialista e para a história do existencialismo ou do grupo que circulou em torno de Sartre, ela é uma excelente fonte. Gosto da precisão e do modo como ela narra tanto os episódios de sua vida, quanto as suas descrições do comportamento dos seus contemporâneos. Ela poderia ser caracterizada como piedosa nessas descrições dos demais e impiedosa em relação a si mesmo. O metro que ela usa para si mesmo é diferente do metro para com os demais.

Não sou especialista em literatura, mas por causa dela e de Virginia Woolf tenho dado muito mais atenção às escritoras do século XX. Creio que o estilo literário dominante nos seus textos autobiográficos, quanto em seus romances que misturam muito o elemento da ficção com elementos biográficos, ultrapassa a fronteira da moral tradicional ou convencional. Às vezes a ficção fica melhor e em outras vezes as biografias são melhores. Estou lendo, já faz algum tempo, com vagar e reflexão, o texto dela que me dá o repto dessa resposta, A Força das Coisas, me faz ter todas essas notas aqui. Nessa obra, ela mesma faz a crítica de suas ficções e conta algo mais sobre suas ambivalências em relação às suas obras, tanto as peças de teatro quanto aos seus romances, e gostei muito do que ela faz. Uma característica que fica ressaltada nela é que escreve suas obras meio que como uma resposta ao seu tempo, uma resposta às ideias e obras de outros e ela mesma relativiza e faz a crítica de suas próprias obras. O que eu gostei foi da lucidez e da clareza com que ela explícita suas razões e ideias que nem sempre parecem ficar claras em suas ficções. Semana passada quando li uma certa crítica  ao Murakami também fiquei pensando nisso. A diferença está entre saber ou vislumbrar as intenções dos autores ou buscar traços de gênio e de alta inspiração. Porém esse estilo corre o risco de parecer raso e uma narrativa mais trivial. É isso que talvez aborreça alguns críticos, a semelhança dela ao estilo memorialista.

O ponto favorável, porém, parece ser bem esse: ter certo grau de informação sobre contexto de produção literária e compreensão das intenções da autora. Simone é uma testemunha altamente reflexiva da história e dos fatos do seu tempo. Mas confesso minha insuficiência para avançar muito nesse debate. Em parte, porque não li toda sua obra e de outra parte porque também não li e não tenho domínio do contexto todo e das obras e personagens que são suas contemporâneas e às quais ela faz referências constantes. Nesse sentido, a leitura dela poderia parecer algo para os especialistas no período e nas escolas literárias do entre guerras e pós guerra na França. Fico imaginando o que resta para nós no Brasil que possuímos temos uma boa tradição memorialista – ao meu ver – mas temos raros escritores que tentam fazer este esforço de relacionar a filosofia, a literatura e as autobiografias de seu tempo. Nesse sentido, sinto certo prazer com Simone, pois ela me dá aquilo que eu não conseguiria juntar sozinho de seu tempo, obras e autores.

Eu gosto dela, portanto, por diversos motivos bem curiosos. Gosto das ideias dela e da forma como ela as apresenta com uma certa clareza e finesse, mas sempre indo direto no ponto. Eu não diria que ela é menos filósofa que Sartre, nem menos importante. da mesma forma que quando leio Hannah Arendt, não vejo nela um filósofa menor que Heidegger, ainda que para mim Heidegger seja um verdadeiro gigante ou, como diz Paulo Faria, Heidegger “parece o cara que leu tudo”. No caso dela, porém, podemos estar enganados em muitos sentidos, mas isso não ocorre justamente porque ela é menor, mas sim devido a sua grandeza e excepcionalidade   - com todos os riscos que toda forma de grandeza acarreta. Entre estes riscos, o fato de que aumentam as possibilidades de interpretação, deformação e incompreensão. Penso também nesta condição feminina na filosofia: o fato de que as filósofas tem essa extrema ocultação de suas obras por, aparentemente, tratarem de questões laterais ou de fronteira na filosofia. Uma coisa que parece colocar sempre a mulher ou o feminino na lateral dos combates. Não sei se uma figura ou metáfora cai bem aqui. Penso que não. mas me vem a calhar uma certa semelhança com o que ocorre com a guerra, a meia guerra só é vivida nas laterais da história. A verdadeira guerra ocorre dentro de nós mesmos, em especial daqueles que não estão nas cadeiras do estado maior contemplando o teatro de operações. E a consciência disso às vezes nos suaviza e às vezes nos enfurece. Nenhuma filosofia sobrevive ao engano ou ao sonho. No entanto o pensamento de Simone me parece vivo, presente, ativo, bem acordado por assim dizer.

Posso estar enganado, mas creio que deveríamos olhar com mais atenção para estes fenômenos das mulheres na filosofia do século XX. Na maior latitude possível. O que inclui aqui Rosa de Luxemburgo, Simone Weil, Susan Sontag e também algumas que ficam nas áreas de fronteira entre a literatura e a filosofia, a história, a antropologia e mesmo em ciências exatas e biológicas.

Afinal, são sim obras do pensamento de um tempo, reúnem testemunhos, ideias e também novas formas e concepções de se encarar a vida. Algumas hoje podem parecer triviais, mas no seu tempo não o foram. Simone de Beauvoir foi capaz de narrar com lucidez as suas vivências e o seu tempo e percebe-se nela claramente a relação entre o curso do pensamento e o curso da vida.



Obs.: Na imagem, a obra de Simone de Beauvoir, A Força das Coisas, primeiro volume com o marcador de página que recebi de lembrança direto da China de minha amiga APS.

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

NÃO DEIXE O AMOR PASSAR - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e, neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça:

Deus te mandou um presente: O Amor.

Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O AMOR.



Carlos Drummond de Andrade

domingo, 19 de agosto de 2018

APROXIMAÇÃO - CLOSER - PERTO DEMAIS



Creio que é um dos filmes mais intrigantes do ponto de vista dos envolvimentos amorosos e do compromisso consigo e com o outro. O amor parece nele algo sagrado, mas impalpável e o sexo algo trivial e palpável. Mas a ênfase mais importante para mim, aparece no estabelecimento de um vínculo de confiança e segurança que não parece mais possível, após certos acontecimentos. Dos encontros emocionantes e acidentais aos provocados e procurados, você percebe uma dinâmica que oscila entre o jogo, a sedução, a atração e a permanência ou impermanência seja pelo abandono do objeto do desejo, seja pela traição simples, que só é possível porque alguns e algumas acreditam mesmo que amor é posse. Daquela gotinha de maldade e perversidade, à malícia e perversidade que leva à vingança e a retaliação. Todas as cenas aparecem nos intrigando com as condutas e ocupações ambíguas das personagens.

Spoiler: Alice é uma stripper que parece estar fugindo de uma desilusão amorosa e que encontra um jornalista, Dan Woolf, ocupado da coluna de obituários do jornal e que sonha em publicar um livro e virar escritor. Num lance de olhos entre os dois na rua, Dan se apaixona por Alice à primeira vista. Anna é uma fotógrafa profissional que conhece Larry e casa com ele. No meio disso, Dan é seduzido por Anna e mantém um caso com ela até que Larry descobre e resolve lhe dar um revés que vai acabar revelando a personagem de Alice como alguém superior em caráter em relação a todos eles. Caráter aqui é caráter amoroso e afetivo. 

  

Não só nos tais tempos líquidos e frágeis em que vivemos - Bauman era tão pessimista quanto a possibilidade de um vínculo estável nesses tempos, mas também no fato de que ele representa bem o caráter ambíguo e difícil das aproximações, reciprocidades e do respeito pelo outro. Navegação em tempestade e sob o regime da insegurança e da incerteza. A possibilidade do amor depende de uma firmeza de intenções, da persistência no propósito e tal coisa parece exigir pessoas muito mais determinadas. É a personagem da Natalie Portman que concentra em si o melhor caráter, apesar do seu ofício. Sua personagem é menos volúvel do que os demais e isso deve nos lembrar nesse filme que de fato no amor e nas relações nem tudo é somente o que parece, mas que há em algumas pessoas um caráter radical que mistura coragem de amar e decisão de se libertar de relações doentias ou fugazes.

No ciclo dos afetos - e isso parece mesmo uma figura de retórica - em que os altos e os baixos, essa oscilação e instabilidade, nos desafia. É tal como uma espécie de situação instável e oscilante em que os oportunistas, os jogadores, os interessados e os comprometidos se misturam e se confundem. Nós nos vemos envolvidos apaixonada e desapaixonadamente e essa intensidade nos engana na maior parte dos casos. Não temos um medidor ou um termômetro exato para deliberar. É preciso intuir e ser mais sensível aos sinais revelados e ocultos para sair desse labirinto de encontros e desencontros, perfeições e perdições, descobertas e esquecimentos. 

Recomendo sim 

CLOSER...

Aqui um dos temas de estudo do meu núcleo temático e existencial. O amor, a moralidade e a cognição.

Depois de revisar e reeditar este texto do ano passado, fui dar uma volta e lembrei de uns insights que eu tive na última vez em que vi este filme. O principal é que Closer, ou Closet (a analogia de Fechado ou guardado). Perto Demais é uma analogia com algumas questões cognitivas bem importantes para mim. Muito próximo, pois a primeira questão é que ao estar perto demais às vezes não se enxerga nada. Que é preciso tomar uma certa distância para compreender o peso das paixões, do amor e dos afetos. A segunda é que perto demais é quase fechado e exclusivo e a exclusividade não ajuda mesmo a evitar certos riscos quando não se está fechado, próximo ou perto demais. Que a ideia de confinamento na relação nos engana muito a respeito da segurança ou firmeza da relação.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

ROSSETTO E ANA AFFONSO



Por Daniel Adams Boeira*

O Partido dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul homologou no domingo, 5 de agosto, em sua Convenção Estadual, as chapas majoritária e proporcional para a disputa no estado neste ano de 2018. O Clube do Comércio, local que sediou o encontro partidário, é simbólico: nele, da década de 20 à de 60 do século XX, os maiores oradores e líderes da política gaúcha fizeram discursos da sacada para o público que se espalhava pela Rua da Praia, em frente à Praça da Alfândega. Os mais de 600 delegados e delegadas do PT-RS saíram do Clube do Comércio unificados para a décima eleição que o partido disputa no Rio Grande do Sul (sem contar a de 1989, quando o RS foi determinante para levar Lula ao segundo turno contra Collor). Após acordo com o aliado histórico PCdoB, anunciado na segunda-feira, 6 de agosto, a pré-candidata Abigail Pereira (PcdoB) ao governo do RS abriu mão da disputa para ocupar a pré-candidatura na segunda vaga para o Senado, ao lado do senador Paulo Paim (PT) que busca a reeleição. E o PT, ora veja, volta a apresentar uma “chapa pura” ao governo do estado. A última vez em que isso ocorreu, em 1998, significou a primeira vitória estadual do partido, liderado então por Olívio Dutra tendo como vice o atual postulante petista ao comando do Palácio Piratini.

A chapa ao governo do estado está composta pelo sociólogo Miguel Soldatelli Rosseto para governador e a pela professora Ana Affonso para vice-governadora. Ambos carregam consigo signos importantes de militância partidária e respeitáveis trajetórias políticas dentro do partido e nos cenários políticos regional, nacional e internacional. Construíram toda a sua trajetória de militância no Partido dos Trabalhadores. Pertencem a gerações distintas, Rossetto com 58 anos e Ana Affonso com 45. No entanto, ambos marcam uma importante renovação partidária, pois sucedem os candidatos e ex-governadores Olívio Dutra (1999- 2002), de quem Rossetto foi o vice quando era ainda mais jovem do que Ana; e Tarso Genro (que governou de 2011 a 2014). Olívio e Tarso foram forjados na luta civil, urbana, acadêmica e sindical, contra a ditadura midiática-civil-militar brasileira que perdurou de 1964 a 1985. Olívio foi fundador do PT e Tarso ingressou na legenda em meados dos anos 80. Miguel Rossetto iniciou sua militância já na fundação do PT, no início dos anos 80. Ana Affonso, por sua vez, inicia sua atuação partidária em meados dos anos 90. Ambos já tiveram mandatos parlamentares: Miguel foi deputado federal eleito no pleito de 1994. Ana foi vereadora de São Leopoldo por dois mandatos (2005-2008, 2009-2010) e foi eleita deputada estadual no pleito de 2010. Atualmente, Ana está no terceiro mandato como vereadora e dá um passo importante na sua luta política ao assumir a pré-candidatura a vice-governadora.


Uma das destacadas afinidades entre Miguel e Ana é que eles têm relações políticas e tiveram domicílio eleitoral em São Leopoldo, cidade mais antiga do Vale do Sinos e da qual se desmembraram, por emancipações em sequência desde o século XIX, a maioria das cidades da região. Rossetto nasceu em São Leopoldo, em 1960, reside em Porto Alegre desde os anos 90, e iniciou sua militância estudantil e sindical sendo fundador e dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) – a maior central sindical da América Latina e a 5ª maior do mundo. Também foi presidente do Sindipolo – Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Polo Petroquímico de Triunfo, de 1986 a 1992. Os pais de Rossetto são de origem italiana e vieram dos Campos de Cima da Serra para São Leopoldo. Já Ana Affonso nasceu em Maldonado, no Uruguai e veio ainda meninota para o Brasil, sendo, portanto, uma cidadã brasileira. Os pais de Ana, sindicalistas, trouxeram a menina acompanhada dos irmãos mais velhos para São Leopoldo – onde é professora da rede pública municipal com mais de 25 anos de magistério, tendo sido também presidente do Ceprol-Sindicato, das professoras e dos professores municipais.

Ambos, Miguel Rossetto e Ana Affonso, foram forjados na luta social e sindical nessa importante e dinâmica cidade da imigração alemã originária no Brasil e de importância histórica para o estado e para a luta dos trabalhadores. São Leopoldo é terra de imigrantes e seus descendentes, não só alemães – tem na cultura da diversidade, e da tolerância ao diferente, uma das suas marcas e valores. O lema, inclusive, revela: “Fé, Cultura e Trabalho”. O município, situado a 34 quilômetros da capital, continua recebendo imigrantes – como é hoje o caso da comunidade senegalesa. É curioso porque o leopoldense Rossetto é um emigrante da cidade levado pela militância política. Desde muito jovem saiu da terra natal, morou e mora há muitos anos em Porto Alegre; durante o período como deputado federal e depois ministro dos governos Lula e Dilma Rousseff, em Brasília. E ainda um breve período no Rio de Janeiro.

Conhecendo Rossetto e Ana acredito, contudo, que a principal característica comum a ambos é a forma amorosa, ou a amorosidade, como dizia Paulo Freire, com que fazem política. E, principalmente, gostam das gentes. Quem não gosta de gente não deveria meter o bedelho na política.

O PT e a Esquerda gaúcha podem ter certeza de quem têm dois grandes quadros políticos muito comprometidos nessa disputa, com paridade de gênero, e com unidade programática para mudar o Rio Grande. Afinal, é isso o que o povo quer. E eu vivi para ver isso, com muito orgulho, carinho e esperança. Aposto no nosso companheiro e na nossa companheira e em todos os militantes sociais para essa boa luta!

*Daniel Adams Boeira, licenciado em Filosofia na UFRGS, é professor da rede pública estadual de São Leopoldo. Ativista na luta ambiental, cultural e da educação. É militante orgânico do Partido dos Trabalhadores.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

ESCREVER PARA NÃO ENLOUQUECER?


A literatura parece mesmo ser uma espécie de remédio ou terapia para as loucuras do mundo.

Não é só o mal-estar da civilização, mas também o frequente mal-estar dos indivíduos com os outros e consigo mesmos. Essa situação desconfortável que a consciência literária expressa de forma mais próxima da perspectiva existencial do que a crítica filosófica ou política. O mal-estar abordado na literatura moderna não é uma abstração ou uma abordagem da superestrutura ou dos mecanismos de dominação e exploração. O mal-estar é visto na micropolítica do cotidiano (Foucault) ou nas pequenas formas e modos das relações humanas e da auto representação dos sujeitos que parecem ter uma consciência cindida em papéis sociais desagradáveis e personas convenientes ou inconvenientes.    

Tem um ponto de determinados processos existenciais em que não há culpa, arrependimento e nem redenção ou superação possíveis e, no fundo da consciência iluminada ou muito nítida de todos nós, mesmo que houvesse cada uma das alternativas acima, não é possível voltar atrás.

O tempo passou, as coisas aconteceram do modo como se deram, com maior ou menor compreensão nossa e não tem volta. Você percebe isso todo o tempo e essa parece uma perspectiva enlouquecedora para alguns. Depressão, neurose, grosserias e indelicadezas de toda ordem se apresentam aí.  

Acabo de comprar e ler com certa relutância aborrecida por me frustrar com o que adquiri e a expectativa que tinha em relação ao material de uma biografia não autorizada de Bukowski. A decepção que pode ser mitigada por pesquisa e busca de mais informações, foi por conta da minha percepção pós compra de que o material apresentado deve ter passado por uma censura prévia e que ele não foi apresentado com o cuidado que eu esperava, desde a caracterização dos receptores das correspondências até mesmo notas mais esclarecedoras sobre os conteúdo. E me parece que não são postas todas as correspondências ali também. Só uma coletânea de curiosidades ao longo dos tempos de 1945 e 1993 de correspondências entre Bukowski e seus editores. Em resumo, tenho em mãos um último livro de Bukowski ou, melhor, um amontoado de cartas dele para os seus editores, cujo título póstumo escolhido é Escrever para Não Enlouquecer. O título é bem evocativo do que que trato aqui como um insight muito bom para a literatura moderna.




Esse mote parece se reapresentar muito para os escritores e escritoras modernos. Tenho uma vasta coleção de modernos que parecem expressar isso. Não li, é claro, todos os modernos, mas a lista pequena que possuo já me satisfaz nessa direção. Kerouac, Virginia Woolf, Salinger, Henri Miller, Kundera, Nabokov e muitos outros. Alguns são muito explícitos nisso, já outros parecem sobrevoar a questão da loucura como um episódio que só diz respeito às suas personagens. Mesmo aqueles que enlouquecem expressam essa dimensão terapêutica também. (Moderno aqui para mim é de Machado de Assis ou 1900 para cá.)

Vejam isso:

"Às vezes cogito como é que todos os que não escrevem, não compõem ou não pintam conseguem escapar da loucura, da melancolia, do pânico inerente à condição humana"
Graham Greene

E olha que tem muita gente que escreve e que faz as outras coisas apontadas por Greene – pintar, tocar uns instrumentos, cantar e outras artes - que também não escapam da loucura, da depressão, da melancolia e do desespero. Que de alguma forma enfrentam ela nos seus processos, por mais serenos e resolvidos, descolados ou bem tratados que pareçam.

Todos sofrem e precisam mesmo aprender a lidar com isso para sobreviver e talvez viver melhor.
No caso dos escritores parece haver uma dinâmica que pode ter resultados múltiplos. Escrever para não enlouquecer ou escrever e enlouquecer. Escrever sobre as loucuras e tratar delas quase enlouquecendo. De qualquer modo, vejo que muitos escritores e escritoras se põem, ao escrever, a enfrentar esses dilemas e essa ambiguidade ou ambivalências do seu ofício.

Escrevem com sofrimento, descrevem os sofrimentos e as angustias. Mas não dá para dizer que Freud é culpado desse viés. Parece que essa angústia e esse sofrer são de fato os motes da vida moderna como temos que tentar compreender ela.

Essa vida nos coloca em multidões que parecem multiplicar os impasses, os dilemas, as possibilidades e escolhas, porém também parece aumentar no tempo certa pressão de algo como impossibilidades. Isso é o que eu quis dizer com esse aspecto sem volta das nossas escolhas, não porque não se possa voltar em muitas coisas, escolhas ou decisões, mas a volta não apresenta jamais as mesmas possibilidades anteriores.

Por isso, esse escrever parece ser também um ensaio das vidas. A imaginação é mobilizada sobre as matérias e os elementos da experiência e das vivências do autor ou autora - algumas que ele ou ela, é bom que se diga, apenas testemunharam - e na fina trama da escrita são adicionadas as ficções, os codinomes ou códigos que passam a traduzir algo para uma vida paralela a vida real.

Escrever para não enlouquecer ganha então um elemento autobiográfico, mas tem também seu elemento de reparação e/ou mesmo vingança sobre o que ocorre.

Escrever para não enlouquecer passa então bem longe de uma piada ou de uma brincadeira, pois parece passar a ser um ofício através do qual se escreve como que para refazer no imaginário aquilo que se vivenciou, também aquilo que se desejou e também aquilo sobre o qual erguemos a recusa por intolerável e inaceitável.

P.S.: Esta é a terceira versão deste esboço de tratamento da relação entre literatura e loucura. A primeira versão foi publicada no Facebook, uma segunda mais curta no Instagram, já esta terceira é um poco mais ampliada e detalhada. Pouca coisa se acrescenta. os bastidores desta abordagem são a leitura de Virginia Woolf, um debate sobre o filme As Horas com mais dois professores da rede municipal de educação na quarta feira passada dia 18 de julho de 2018, quatro anos após ter assistido este filme que me jogou para dentro da literatura de forma assombrosa por me incitar a refletir sobre a relação entre ficção e biografia, a questão da subjetividade feminina na literatura e na filosofia e também sobre a relação entre cinema, literatura e filosofia. O texto de Bukowski, autor que eu lia como terapia e descarrego da dureza, aridez e geleira das investigações filosóficas, nos meus últimos três anos de formação em filosofia, para aliviar das reflexões lógicas, metafísicas e éticas - aqui também políticas - li ele também  com outros selvagens da literatura americana Beat por influências de Cândido, Alain, Rodrigo, Monstro do Pântano e outros amigos da Casa do Estudante. Depois disso, Kerouac, e os pares Simone de Beauvoir e Jean Paul Sartre, Martin Heidegger e Hannah Arendt me vieram como temáticas de ensaio - estão aqui ainda os produtos mal acabados disso tudo. Leio agora, por fixação temática, tudo que posso sobre Virginia Woolf e outros autores de Bloonsbury que, aliás, são contempoâneos de Ludwig Wittgenstein em Cambridge e, por assim dizer, são a expressão modernista da prosa inglesa que acompanha o surgimneto da filosofia analítica em Bertrand Russel e G. E. Moore.  Por fim, todos eles me interessam muito em minha abordagem histórica do modernismo nos anos 20 que me parecem ser um dos momentos mais férteis e interessantes da cultura ocidental. Inclusive no Brasil, no Rio Grande do Sul e na nossa São Leopoldo que também vivia uma certa belle epoque naquele período do centenário da imigração alemã no entre guerras. Nada mais será como naqueles dias, mas talvez tenha algo lá que possa nos ensinar a passar melhor pelos tempos atuais. Assim como, nos tempos terríveis que vivemos é preciso também escrever para lidar com toda essa "loucura" e mal-estar.

terça-feira, 5 de junho de 2018

REBATIMENTO ENTRE HISTÓRIA E FILOSOFIA NA MODERNIDADE - RELATO ESQUEMA EXPLICATIVO DE AULAS - 2012


REBATIMENTO ENTRE HISTÓRIA E FILOSOFIA NA MODERNIDADE
Na minha introdução à Filosofia Moderna, inserida no curso de filosofia para o ensino médio, em especial para as turmas de segundos anos do mesmo, me senti desafiado a relacionar a História da Idade Moderna com a Filosofia Moderna. Em parte, porque há uma determinada relação e uma determinada ligação para mim evidente entre os avanços científicos modernos e os avanços políticos modernos e o curso do desenvolvimento dos fatos e processos históricos e das obras e vidas de muitos filósofos ou pensadores modernos. Esta ligação ou relação nos envolve num problema que poderia ser discriminado de diversas formas. De um lado, a relação entre a modernidade e as tradições da antiguidade, medievalidade, e as tradições judaico cristãs e as tradições Greco-romanas. Isto em relação ao passado, aos fatos do passado e as obras e idéias dos pensadores anteriores aos modernos. Creio que poderíamos tratar isto como influencias, heranças e diferenças. E descobrir e compreender estes regimes de relações no ensina muito sobre o que realmente é moderno ou novo no pensamento moderno. De outro lado as relações entre os fatos modernos e as idéias modernas o que requer certa capacidade de dar atenção a detalhes, pequenos fatos e ingredientes que compõem o cenário e seus elementos modernos e também perceber grandes linhas de desenvolvimento dentro da história moderna. Algumas que representam grandes processos históricos de natureza complexa, tanto política quanto economicamente, quanto religiosa ou culturalmente, para usar as categorias que tenho usado para discriminar e classificar em fatores os fatos ou processos históricos. E ainda é preciso traçar as relações e os contatos entre estes dois universos de coisas distintas como idéias e fatos. Vejo um problema razoável ai. Ocorre talvez na idade moderna maios do que antes ou depois uma relação aparentemente causal entre idéias e fatos e fatos e idéias. Porém sendo mais rigoroso nãos e pode tracejar tão facilmente isto e seria de prudência e maior clareza se evitar justamente aqui a atribuição de causalidade e determinação haja visto que as idéias provém de indivíduos, no limite grupos de indivíduos, que elas sofrem alterações na recepção ou reprodução, que elas sejam interpretadas ou compreendidas de forma diferenciada do que foram concebidas e também são traduzidas para a realidade dos fatos co acréscimos ou faltas ou, melhor seria dizer, são alteradas ou até mesmo adulteradas em seus conceitos em vias de sua realização ou institucionalização. Então em parte por estas razões e em parte por outras vou adotar aqui neste ponto na conexão, ligação ou relação entre História e Filosofia, fatos e processos históricos e idéias e obras filosóficas a expressão de rebatimento. Retiro esta expressão do meu Professor João Carlos Brum Torres cujo uso tem certa regularidade, de alguns textos de arquitetura e planejamento urbano, de algumas análises econômicas de impacto entre esferas inferiores ou superiores de estado ou de organizações políticas. Ao dar uma busca sobre o termo reconheci o seu universo de origem na geometria plana.  Bem não vou me dedicar e detalhar as acepções de cada um destes registros de uso, mas sim passar a forma como o compreendo e ao que creio que ele permite compreender ou exemplificar em uma linguagem mais coloquial. Uso rebatimento pensando no que ocorre dentro de um jogo de tênis quando após o saque – a iniciativa do adversário cabe a você responder ou rebater a bola lançada ao teu campo devolvendo-a ao campo do adversário. Caso você não rebata ou a bola vá fora ou o ponto é dele ou o ponto é seu. Caso ele dê um saque tão forte que você não consiga sequer rebater e a bola passe por você em alta velocidade será chamado de Ace. E isto me basta para resumir a relação entre fatos históricos e idéias como uns respondendo aos outros ou não através de sujeitos históricos que assimilam ou não a bola lançada ou a jogada lançado por um ou outro. Então explicar a relação entre filosofia e história na idade moderna evolveria descriminar e compreender os rebatimentos entre uma esfera e outra de assuntos humanos. Como há certa e notória dificuldade inicial, de determinar quem saca primeiro ou quem rebate depois a gente adota a orientação de reconstruir um cenário com os elementos do inicio da idade moderna para se perceber em que ambiente os filósofos modernos iniciam o seu processo de formulação e construção de idéias seja para a política seja apara ciência ou outros assuntos.              

PLANO DE OBRA 2013 - ESBOÇO DE LIVRO SOBRE FILOSOFIA - O IMPENSÁVEL


A - ANOTAÇÕES SOBRE A FELICIDADE EM ARISTÓTELES
A - O QUE ME FEZ ESTUDAR OUTRAS COISAS?
A - REFUTAÇÃO DE ARISTÓTELES EM GAMMA 4 (SOBRE OP PNC)
A - SOBRE A VERDADEIRA CORAGEM – ARISTÓTELES
A CRISE – EINSTEIN
AA - O QUE ME FEZ ESTUDAR FILOSOFIA? – PORQUE FILÓSOFO? E SUA JUSTIFICAÇÃO
AAA - APRESENTAÇÃO
AAA - DO RISO E DA GRAÇA – REFLEXÃO PREPARATÓRIA
AAA - IMPENSÁVEL - ESQUEMA DO LIVRO
AAA - O QUE EU REÚNO AQUI?

BIO - SCHOPENHAUER POR SAFRANSKI – BIOGRAFIAS

C - AINDA SOBRE A GLÓRIA – ALICE NO ESPELHO
C - CARTA À MINHA MÃE (FALTA)
C - CLAUDE LEVI-STRAUSS
C - CRÍTICA E AUTO-CRÍTICA: A CURA PELA DÚVIDA
C - FILOSOFIA E POESIA, HOLDERLIN, PLATÃO, SÓCRATES E JOBS
C - GENEROSIDADE E CETICISMO – 2012
C - JOVENS E SEUS POETAS
C - MÚSICA E FILOSOFIA – RUDIGER SAFRANSKI
C - MÚSICA E PENSAMENTO
C - O CAMINHO DAS LETRAS, DAS ARTES E DA CULTURA: UMA DÁDIVA
C - ODISSÉIA – O ENCONTRO DE ULISSES E AQUILES
C - PORQUE JOBS AQUI?
C - REFUTAÇÃO DO CETICISMO DE BERKELEY POR SAMUEL JOHNSON
C - SCHOPENHAUER E A MÚSICA
C - SOBRE CALVINO, BORGES E A IMAGINAÇÃO
C - SOBRE EDUCAÇÃO ESTÉTICA
C - SOBRE O DIÁLOGO POR BORGES
C - WALTER BENJAMIN - DOCUMENTO DE CULTURA E DOCUMENTO DE BARBÁRIE

D - A FILOSOFIA EM PRIMEIRA PESSOA
D - DESCARTES – PREPARANDO UMA PROVA
D - O FUNDAMENTO DO SUCESSO NO SUJEITO
D - O PROBLEMA DO PENSAMENTO –
D - O QUE É VIVER SEM FILOSOFAR? DESCARTES
D - OS 400 ANOS DE RENÉ DESCARTES (TEXTO COMEMORATIVO DE 1996 REVISTO E AMPLIADO)

D - RENE DESCARTES - A DÚVIDA NOS PRINCÍPIOS DE FILOSOFIA
D – W - O TRACTATUS E A RÉS COGITANS

E - A REPRODUÇÃO E A EDUCAÇÃO
E - MELANCOLIA FILOSÓFICA POR DAVID HUME
E - SANTO TOMÁS DE AQUINO – COMO É POSSÍVEL ENSINAR?

E - SOBRE A MELANCOLIA DE DURER (HEIDEGGER E BEETHOVEN)
F - A ACME DOS FILÓSOFOS ATUAIS
F - A APOLOGIA DE SÓCRATES
F - A BUSCA DA FELICIDADE  - PURSUIT OF HAPPYNESS
F - A CONDENAÇÃO DE SÓCRATES: PLATÃO E A DEMOCRACIA
F - A INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
F - A METÁFORA DO CAVALO
F - A REPÚBLICA DE PLATÃO
F - A VIDA QUE VALE A PENA SER VIVIDA EM PLATÃO
F - ARISTÓTELES - METAFÍSICA - LIVRO 1 CAPÍTULO 1
F - ARISTÓTELES E KANT NA CABEÇA
F - AS MALDADES E PERVERSÕES
F - CASTORIADIS – DAS CERTEZAS E DAS MIGALHAS
F - CHEGA DE MEDIOCRIDADE – CASTORIADIS
F - COERÊNCIA E PLATÃO
F - COMEÇANDO A LER HEGEL
F - COMO EDUCAR OS JOVENS PARA SEREM HONESTOS E NÃO EXPERTOS?
F - DOS HOMENS E ANIMAIS – PASCAL
F - E JEAN PAUL SARTRE INVADIU A AULA HOJE
F - EXTERNALISMO – PEQUENA REFLEXÃO
F - FILOSOFIA ANALÍTICA VERSUS FILOSOFIA CONTINENTAL
F - FILOSOFIA E AMOR A FILOSOFIA
F - FREUD – MOISÉS E O MONOTEÍSMO – DOGMATISMO E RELATIVISMO
F - FREUD E A MEMÓRIA DA CARNE
F - FREUD E O MAL-ESTAR DA CIVILIZAÇÃO
F - FREUD NA BBC
F - FREUD, IRLANDESES E CRAIC
F - HÁ MONSTROS EM TODAS AS COISAS
F - HEIDEGGER COMEÇA JUSTAMENTE PELO FIM ÚLTIMO OU PELO FIM DE TODAS AS COISAS
F - HOLDERLIN E O FRAGMENTO DO HYPERION
F - K - A BOA LÓGICA DE KANT E A INTRODUÇÃO AO FILOSOFAR
F - KANT E ARISTÓTELES E O GOSTO
F - LENDO SOBRE SÓCRATES
F - MEU PRIMEIRO TRABALHO DE FILOSOFIA
F - MINHA CAVERNINHA QUERIDA 0 CRÍTICA A DAVID COIMBRA
F - NOTAS SOBRE FILOSOFIA ANALÍTICA - FREGE E DUMMETT
F - O DESEJO DE UM OUTRO – KOJEVE
F - O EU DESGRAÇADO DA FILOSOFIA: HEIDEGGER E WITTGENSTEIN
F - O FILÓSOFO E O ERRO
F - O HOMEM UMA INVENÇÃO RECENTE – MICHEL FOUCAULT
F - O MILAGRE GREGO
F - O SOL DE SPINOZA
F - OS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS
F - PARAR DE FILOSOFAR?
F - PLATÃO – VIDA E OBRA
F - PLATÃO A ALEGORIA DA CAVERNA
F - PODER - FOUCAULT
F - QUAL É MESMO A LINHA DE FRONTEIRA ENTRE LÓGICA E FILOSOFIA?
F - SARTRE - A IDADE DA RAZÃO
F - SERÁ QUE A FILOSOFIA VAI PARAR UM DIA?
F - SOBRE A FILOSOFIA ALEMÃ
F - SOBRE A IRRELEVÂNCIA DA FILOSOFIA BRASILEIRA
F - SOBRE A RELAÇÃO ENTRE VIDA PRÁTICA E A VIDA TEÓRICA
F - SOBRE AS CRISES DOS ADOLESCENTES
F - SOBRE INTERPRETAÇÕES FILOSÓFICAS – PIERRE AUBENQUE
F - SOBRE MUDAR NOSSO ESTILO DE PENSAR
F - SOBRE O ESTALO DO PENSAMENTO E DO FILOSOFAR
F - SOBRE SER DURO NA VIDA - A MEDIDA EXATA
F - SOBRE USAR A CABEÇA PARA SE DISTRAIR
F - SUJEITO E VERDADE – CORNELIUS CASTORIADIS
F - TALES DE MILETO – NOTAS 1
F - TALES DE MILETO CONTRA OS DEUSES?
F - TRANSIÇÃO DE PARADIGMAS – THOMAS KUHN
F - VERDADE E MÉTODO & MÉTODO E VERDADE
F - VERITAS TEMPORIS FILIA
F - VOCÊ NÃO ESTÁ SEGURO NO QUE DIZ? – MICHEL FOUCALT

FA - MINHA PRIMEIRA AULA DE FILOSOFIA 1992 – 2012 – MEMÓRIA
FA - SUBFUNÇÃO PENSAMENTO FILOSÓFICO – AULAS
FAZER O ANTES, DEPOIS & O DEPOIS, ANTES
 FILOSOFIA, O AMOR E AS IMPOSSIBILIDADES

H - HEIDEGGER – POR SAFRANSKI

I - O PERIGO DAS IDEIAS – CIORAN

ITALO SVEVO – A CONSCIÊNCIA DE ZENO E A AUTO-IRONIA

JANEIRO DE 2013 – O QUE FAÇO AQUI E AGORA

K - AQUI OS DOIS CONCEITOS DE FAZER FILOSOFIA DE KANT – APONTADO POR PROF. DR. PAULO FARIA
K - ARTE, ABELHAS E LIBERDADE EM KANT
K - KANT – A CRÍTICA
K - KANT E O PNC DE ARISTÓTELES: UM ESBOÇO (1996)
K - SOBRE A POSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO HUMANO – KANT E DESCARTES

L - SOBRE O MELHOR DOS MUNDOS POSSÍVEIS DE LEIBNIZ

M - A MEMÓRIA É UM EXCESSO
M - MEMÓRIAS DE UM HOMEM SILENCIOSO – DIGRESSÃO
M - SOBRE ESCREVER MEMÓRIAS

N - APRENDER A LER OS DETALHES – NIETZSCHE
N - DISTANCIAMENTO DO OBJETO DE NIETZSCHE
N - FRIEDRICH NIETZSCHE - VONTADE DE PODER - FRAGMENTO 1066 - ITEM 5
N - FRIEDRICH NIETZSCHE - VONTADE DE PODER - FRAGMENTO 1067
N - NEGAMOS AS CAUSAS FINAIS - NIETZSCHE
N - NIETZSCHE – SOBRE CONVICÇÃO
N - NIETZSCHE POR FOUCAULT
N - SOBRE A DOMINAÇÃO NO PENSAMENTO

O - ANOTAÇÕES SOBRE OPINIÕES
O - PORQUE NÃO DISCUTO CRENÇAS?
O - PREÂMBULO PARA UM DEBATE DE CRENÇAS, OPINIÕES E JUÍZOS
O - SILÊNCIO, PENSAMENTO E JUÍZOS
O ARGUMENTO DE MOORE SOBRE O “BEM”
O DESAFIO – GOETHE
O PESO DE PAPÉIS DE GILBERT RYLE

P - MAX WEBER – POLÍTICA COMO VOCAÇÃO
P - SOBRE PERSPECTIVA, SUPERVISÃO, VISÃO, PROXIMIDADE E DISTANCIAMENTO DAS COISAS
P - SOBRE TESTAR O CARÁTER DE UM HOMEM DANDO PODER A ELE
P - UMA VELHA CARTA SOBRE RECONHECIMENTO

R - A ÉPOCA DE OURO DA CIVILIZAÇÃO EUROPÉIA
R - CRISE NA UNIVERSIDADE DE OXFORD NA ERA THATCHER
R - FUTURISMO E JANUS: A DESCOBERTA DE ARTHUR KOESTLER
RAZÕES E DECISÕES

SER VERDADEIRO, NÃO PROFUNDO
SOBRE COINCIDÊNCIAS, SINCONICIDADE, NOMES PRÓPRIOS
SOBRE O DUALISMO CATEGORIAL E O MANIQUEISMO
SOBRE O GRANDE UNIVERSO E A QUESTÃO COSMOLÓGICA

T - AS PESSOAS EM TEMPOS DIFERENTES

V - A DURA REALIDADE SEGUNDO MEU PAI
V - ACEITAR O INFERNO E TORNAR-SE PARTE DELE – ITALO CALVINO
V - ALEGRA-TE AO EQUILÍBRIO
V - AMOR, COGNIÇÃO E CETICISMO
V - AS PESSOAS QUE NÃO MUDAM, MUDA É O NOSSO OLHAR SOBRE ELAS
V - COMO SE SENTE UMA MULHER?
V - DA DIFERENÇA ENTRE A ATRAÇÃO FÍSICA E MENTAL
V - DA NATUREZA SELVAGEM – THOREAU 2012-2015
V - DE FRENTE PARA O SOL - IRVIN YALON
V - DO AMOR SUBLIME – BENJAMIN PERET
V - FINITUDE, TRAGÉDIA E DESAPARECIMENTO
V - HANNAH ARENDT E MARTIN HEIDEGGER: PEQUENO ENSAIO SOBRE A
V - HOLDERLIN - CURSO DA VIDA
V - HOUSE, DESISTÊNCIA E DEPRESSÃO
V - KIERKEGAARD – COMPREENSÃO DA VIDA
V - O AMOR É A MEDIDA DA ALMA
V - O EXEMPLO DOS GÊNIOS E A SUA INCOMPREENSÃO
V - O FRACASSO LHE SUBIU À CABEÇA – PITTY
V - O HOMEM SEM QUALIDADES – ROBERT MUSIL
V - QUEM VAI VENCER NO FINAL? – LUZES DA RIBALTA – CHARLES CHAPLIN
V - SCHOPENHAUER – A SOCIEDADE DOS PORCOS ESPINHOS
V - SIMONE DE BEAUVOIR - quer saber mesmo o que eu penso? Eu gosto dela.
V - SITUAÇÕES DIFICEIS E ZONA DE CONFORTO
V - SOBRE ESCOLHAS E CONSEQUÊNCIAS
V - SOBRE O AMANHECER E O RECOMEÇAR
V - SOBRE O ESQUECIMENTO
V - SOZINHOS NO MUNDO – ORSON WELLES
V - UM REFLEXO MENOR DO SOL

W - BIRTH’S OF WITTGENSTEIN (1997)
W - ENTENDER OU NÃO ENTENDER UMA PROPOSIÇÃO – WITTGENSTEIN
W - LUDWIG WITTGENSTEIN - INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS §428
W - O EU EXISTENTE E O EU DA REGRA (1994)
W - O PENSAMENTO PESCADOR DE WITTGENSTEIN (2013)
W - WITTGENSTEIN E A REDUÇÃO DO PENSAMENTO À PROPOSIÇÃO  (1995)