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segunda-feira, 14 de agosto de 2017

SOBRE O PAI CULPADO

A gente leu muita coisa neste domingo aqui. Ontem foi dia dos pais. Fica sempre uma sombra sobre os pais culpados rondando esse dia. Tem uma contradição de fundo que ninguém ousou tocar ainda. Pelo que li pelo menos. Parte da luta feminista para mim consiste também em se aceitar que as mulheres não são obrigadas a serem mães e também não são obrigadas a serem boas mães, simplesmente - ainda que não seja simples isso - porque elas podem não conseguir ser mães ou boas mães. Mas com os homens o papo continua igual. Tudo se passa como se os homens fossem obrigados a ser pais ou bons pais, fora isso o inferno para eles. Eu creio sinceramente que ninguém é obrigado a nada. A lei pode impor tuas responsabilidades, cobrar compromissos, mas não será por ela ou por força dela que serás uma boa mãe ou um bom pai. Portanto, eu tenho orgulho de ser pai e me acho um  pai razoável, mas não creio mesmo que todo homem deve ser pai ou bom pai, porque pode não conseguir ser isso, assim como muitas mulheres também não conseguem ser boas mães. O episódio da última música do Chico Buarque mostra isso também. Conheci crianças abandonadas por mães e por pais. Conheci pais e mães naturais que não conseguiram ser tal coisa. E eu não vou ficar fazendo aquele jogo de culpa e pecado, condenação ou martírio por isso com eles. Desejo que eles sejam compreendidos e que se auto-compreendam também. Eu acho ótimo ser pai - é uma das principais experiências da minha vida - e conheço outros pais e mães maravilhosas e impressionantes, mas também conheço super mães e super pais de pessoas medíocres e mesquinhas, mimadas e que são tão super protegidas que são incapazes de compreender as dificuldades dos outros, são tão auto suficientes por conta de todo o apoio que receberam que não conseguem compreender ou ter qualquer empatia com quem não teve todo esse apoio. E ai entra o meu fulcro nesse debate. Ser pai ou ser mãe não é questão de culpa ou de mérito, é apenas uma entre tantas outras experiências da vida e alguns podem ser infelizes nisso e, se pode ser infeliz nisso tanto por excesso quanto por escassez, no entanto, nós não precisamos desprezar ou condenar essas pessoas, nossos juízos sobre elas sempre vão precisar ser relativizados e suavizados pelos elementos desconhecidos e imponderáveis que nos impedem de julgar, mas que podem nos abrir para compreender eles como são, como conseguiram ser e talvez pensar como eles podem ser. Ainda há, para terminar, por força das coisas e das gentes, pais e mães que foram infelizes em certas paternidades ou maternidades e felizes em outras. Penso que é bom deixar então um espaço para a redenção, assim como é bom compreender melhor os insucessos pelos limites não pela vontade ou apenas disposição de uma pessoa. Sei muito bem que amor, boa vontade para com o próximo e disposição incansável ajudam muito, mas nem todos conseguem ter. Portanto, é razoável não somente suspender o juízo sobre bons pais e boas mães e suas contrapartidas negativas, mas também ir mais devagar com o andor nessa procissão da vida.    

P.S. Minha primeira publicação no blog após quase dois meses sem colocar nada aqui. Muita coisa no facebook não veio para cá e ainda tem uma tonelada de inéditos e não publicados de uma vasta produção que desde o incio do ano tem ocorrido quase de forma incontrolável. Creio que nos próximos dois meses estas coisas todas vão acabar aqui. Abraços.