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sábado, 4 de fevereiro de 2017

HISTÓRICO DO CARNAVAL: UMA BREVE CONTRIBUIÇÃO PARA O RESGATE DO CARNAVAL DE 2017 EM SÃO LEOPOLDO

O Carnaval de São Leopoldo tem uma história cujo inicio e surgimento ainda está envolta em certos mistérios, mas que possui já parte de sua história revelada por alguns testemunhos de historiadores, pesquisadores e em memórias de alguns de seus participantes já históricos. Esta história pode ser narrada em algumas etapas que são marcadas pelos espaços de atuação, modalidades de organizações e relações competitivas ou meramente recreativas e as instituições envolvidas. Vamos abreviar aqui uma reconstrução disto, dando ênfase maior aos períodos, às entidades e aos desfiles para revelar sua importância e mostrar seu potencial.

Nestas diversas etapas que podem ser arroladas, destaca-se muito o período de 2005 a 2012 em que o carnaval leopoldense, com apoio e investimento do poder público, com patrocínios e com intensa produção e participação popular conquistou muito destaque e qualidade, e, com isto, muita expressão estadual. Após isto houve um período de descenso do carnaval em que não ocorreu desfile oficial, o que levou a dois desfiles participativos em 2015 e 2016 em que as escolas se unificaram e realizaram um desfile integrado em caráter colaborativo e não competitivo.

O desafio em 2017 é resgatar e retomar esta festividade de forma modesta ainda, mas bem organizada, intensamente mobilizada e com qualidade e ampla participação da população e das comunidades carnavalescas e suas agremiações. Por isto o carnaval se constituiu e sempre foi importante na cidade em virtude de representar e apresentar as relações sociais, promover incremento cultural e uma dinâmica econômica na cidade, seja em grandes desfiles e uma grande organização e estrutura, seja em eventos mais particulares em sociedades ou em pequenos blocos ou cordões.

A união dos carnavalescos em parceria com o poder público é, porém, um evento recente. Nem sempre ocorreu, mas hoje adquire importância fundamental e passa a ter, com o apoio da iniciativa privada, um caminho para a sustentabilidade. Vamos contar um pouco desta história para exibir o potencial e o desafio de se retomar o carnaval em São Leopoldo no ano de 2017.

Em seus primórdios era um entrudo de rua, na última quadra do século XIX passou para a modalidade de bailes de salão e atraia festeiros de Porto Alegre e que se deslocavam pela viação férrea pioneira. No início do Século XX, em especial já nos anos 20, haviam desfiles na Rua Grande em que a população festejava o carnaval com integração social e de forma mais popular. Conforme registros do historiador Germano Moehlecke (1), este tipo de desfile teve início em 1923, sempre na Rua Independência – Rua Grande -, envolvendo dezenas de blocos carnavalescos e atraindo os moradores da cidade para a festa de forma mais intensa. Haviam cordões e diversos grupos que cumpriam o papel de organizar a participação dos foliões. Depois, a partir de 1928, os desfiles pela rua mais famosa de São Leopoldo passaram a ser organizados pelo Clube Recreio Juvenil, contando com eleição da Rainha do Carnaval. A folia estendeu-se, aproximadamente, até 1943. Os moradores permaneciam nas sacadas por horas, cantando marchinhas e jogando serpentinas ao alto, colorindo o chão de pedra. Os blocos costumavam ser formados, em sua maioria, por cerca de 20 veículos adornados que levavam várias pessoas a bordo. Carros alegóricos de menor porte em relação aos atuais transportavam os destaques.

Entretanto, grupos também participavam a pé. Os foliões se integravam à festa devidamente fantasiados, incorporando marinheiros, palhaços e pessoas do sexo oposto. “Os blocos ensaiavam e cantavam duas ou três marchinhas pela Independência” contou Moehlecke. Isto era combinado com bailes de salão nos clubes sociais de toda a cidade e também com uma espécie de intercâmbio na região e com a capital do estado. Entre o final da segunda guerra e os anos 80 surgiram os blocos carnavalescos que deram grande prestigio e foram formadores de diversos sambistas, coreógrafos, cenógrafos e que fizeram o carnaval leopoldense chegar a ser campeão gaúcho através do Bloco Os Cobras nos anos 70.

De meados dos anos 50 até meados dos anos 90 ocorreu também uma espécie de incremento no tema dos desfiles de fantasias. Muitos coreógrafos, estilistas, costureiros e destaques em fantasias atuaram em nossa cidade e daqui disputaram certames estaduais e nacionais. É importante citar também a nossa razoavelmente continuada escolha, eleição, seleção e indicação de uma montagem de corte de Rei Momo e suas princesas que vem de larga tradição no carnaval municipal remontando também aos anos 20 e prosseguindo até os dias de hoje.

Assim, sobre os blocos, como relata Ramão Carvalho “É no final dos anos 50 que surgem na cidade dois importantes blocos, que entremearam a fase do carnaval de salão para o carnaval de rua. Foram fundados dentro das duas Sociedades mais importantes de São Leopoldo: na Sociedade Orpheu, surge o bloco vermelho e branco: Os Cobras. Na Sociedade Ginástica, o bloco azul e branco Os Dragões, que além de abrilhantar o carnaval de São Leopoldo, traçariam uma disputa de muitas décadas, inclusive na participação do carnaval fora da cidade, pois competiram nos campeonatos estaduais promovidos pela EPATUR de Porto Alegre na Avenida Borges de Medeiros, marcando definitivamente outra “era” do carnaval, e, inclusive inspirando outros blocos e também inovando nos desfiles e nas disputas do carnaval.” (2) Em meados dos anos 70 surgem também os cordões e o Cordão Oficial da Sociedade Orpheu merece destaque por sua longa vida que prosseguiu até o final dos anos 90.

A partir dos anos 80, esta matriz carnavalesca forma a base para o surgimento das Escolas de Samba que são hoje as bases das sete escolas de samba em atividade e que são localizadas em diversos bairros e regiões da cidade. Logo em seguida, em meados dos anos 80, o carnaval passa, então, a receber atenção efetiva do poder público e a integrar de forma oficial um calendário e uma programação cultural que no inicio resumia-se a um desfile e que logo em seguida chega a um desfile oficial com campeonatos entre as escolas e com a participação de diversas agremiações. Com apoio e patrocínio de empresas e com intensa participação das comunidades de praticamente todos os bairros e regiões da cidade o carnaval leopoldense chegou a ser considerado, no seu ciclo mais positivo de 2005 a 2012, o Terceiro Carnaval do Rio Grande dos Sul em qualidade técnica, organização e público. Apesar disto, é importante registrar neste histórico que não ocorreram desfiles oficiais em 1987, 1988, 2001, 2015 e 2016 (3).

Os desfiles de carnaval tem sido organizados com parceria do poder público municipal e a Associação das Entidades Carnavalescas Recreativas e Culturais de São Leopoldo - AECRCSL.

Já as escolas de samba. que vamos arrolar em seguida, tem tido também muitas atividades e participado dos desfiles oficiais. A Sociedade Cultural e Beneficente e Carnavalesca Império do Sol, fundada em 1988, (Campeã em 1994, 2002, 2004, 2006, 2009, 2013 e 2014) e que foi sede também de um ponto de cultura com formação de ritmistas e passistas para o carnaval entre 2008 e 2012. Já a Escola de Samba Acadêmicos do Rio Branco, fundada em 1982, (Campeã em 1985, 1986, 1989, 1990, 1991, 2005, 2008, 2012) do bairro com mesmo nome é a escola mais antiga em atividade na cidade. Segue a Sociedade Recreativa Cultural Beneficente Imperatriz Leopoldense, criada em 1995, localizada no bairro Feitoria ( que foi campeã em 1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2003, 2010, 2011). Está, porém, em inatividade a Escola de Samba Gladiadores da Feitoria, fundada em 1990 ( que foi campeã em 1992,1993, 1995, 2007.) e está inativa desde 2008. Além disso, existem mais escolas que tem disputado os desfiles intercalando segundos e terceiros lugares e que merecem constar aqui como a União da Vila (fundada em 2004), a Academia de Samba da Zona Norte (fundada em 2006), a Imperadores do Sul (fundada em 2006), a Estação Primeira de São Léo (fundada em 2007) e a Sociedade Recreativa Carnavalesca Beneficente e Escola de Samba Alambique Leopoldense, que foi fundada em 2008.

O Grupo Cultural Anastácia, que atua desde 1995, tem também desenvolvido um trabalho de carnaval muito respeitado e com muita pesquisa e formação.

Já nos últimos dez anos começaram a surgir também grupos de carnaval aparentemente menores, como o El Gato, Não cutuca que eu me empolgo, o Grupo Alambique que se transformou já em escola de samba, e que com a venda de abadas, bom samba e intensos roteiros com trio elétricos pela cidade tem atraído também foliões.

Esta festa centenária tem se revelado, então, através das suas realizações uma importância cultural para a cidade, pois promove a integração e o envolvimento de diversas comunidades, estimula uma cadeia produtiva semi profissional em alguns casos e profissional em outros, mostrando um grande potencial de incremento econômico, projeção de sua marca e expansão em qualidade técnica e cultural.

Outro fato importante é a participação popular que comparece nos eventos bem organizados e projetados, onde se conta sempre com um expressivo público, sempre registrado acima de 100 mil pessoas nas noites de desfiles e nos bailes. O que atinge quase a metade de toda a população da cidade e conta com a presença de uma parte bem representativa de simpatizantes do carnaval da região do vale dos sinos e da capital e mantém também intercambio com escolas de renome de outros estados. Tentamos aqui exibir um bom apanhado porque isto mostra o potencial da promoção deste evento em nossa cidade.

São Leopoldo, 29 de janeiro de 2017.
Prof. Daniel Adams Boeira
daniel_boeira@yahoo.com.br

P.S.: O presente texto foi elaborado como contribuição para o projeto de carnaval 2017, é limitado em profundidade e talvez tenha alguns equívocos e imprecisões, por isto mesmo aceito sugestões, correções e depoimentos serão bem vindos também. As críticas também são bem vindas e argumentos mais ainda. Agradeço todas as contribuições e a compreensão generosa dos amigos e amigas desde já.

NOTAS:

1. GERMANO MOEHLEKE, historiador recentemente falecido com diversas publicações e pesquisas sobre a história de São Leopoldo, foi entrevistado em 2009 sobre a história do carnaval para uma reconstrução da importância do evento pela Diretoria de Carnaval da Secreatria Municipal de Cultura de São Leopoldo.

2. RAMÃO DAUINHEIMER CARVALHO, carnavalesco, mestre sala premiadoe destacado e historiador do carnaval, publicou no blog SETOR 1 este resumo sobre os blocos de São Leopoldo foi retirado de sua publicação em http://www.setor1rs.com.br/2014/06/um-cantor-vira-solista-interprete-e.html.

3. Boa parte dos dados sobre as escolas e os desfiles oficiais foram retirados dos verbetes sobre o carnaval de São Leopoldo presentes na Wikipédia nos seguintes endereços:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_campe%C3%A3s_do_carnaval_de_S%C3%A3o_Leopoldo

https://pt.wikipedia.org/wiki/Resultados_do_Carnaval_de_S%C3%A3o_Leopoldo

Na FOTO ABAIXO rendo homenagem à minha primeira contribuição ao carnaval. Um Dia num salão dos anos 60 eu já tava na festa...


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