Powered By Blogger

sábado, 15 de agosto de 2015

AINDA SOBRE A FOME DE ABSOLUTO, NOSSAS CRENÇAS E NOSSOS GOSTOS

Penso que temos problemas conceituais e de perspectiva aqui. Esta relação entre crenças, sentido da vida e absoluto é altamente afetada por nossas inclinações involuntárias, pelos nossos hábitos e crenças adquiridas, mas também, à medida que vamos elaborando uma compreensão e muitas vezes interpretação de tudo que supera esta base cultural, avançamos,  por nossas disposições deliberadas, sejam elas conceituais e reflexivas ou simplesmente de gosto (aqui faço menção direta aquilo que nós preferimos).

Também adquirimos crenças em nossa formação e em nossos momentos dedicados à reflexão. Nossas crenças tem esta espécie de matriz permanente e que em alguns casos parece flutuante entre crenças desejadas e expectativas, formas de sua aquisição, tipos de fixação de crenças e também na modalidade ou seu status de verdade ou credibilidade em crenças plausíveis e possíveis, crenças duvidosas e crenças ás quais atribuímos verdade ou certeza.

Tenho notado - e não quero ser relativista aqui, mas apenas apontar como uma direção de pensamento - que este desejo de absoluto, ou vontade de poder, impulso de controle, busca da totalidade, esta diretriz de método de possuir uma análise completa do tema ou problema ainda está buscando um absoluto, certa extinção de um resto indomável ou inexplicável. Ainda há para mim ai uma espécie de grande impulso da razão de isolar ou cercar nossas paixões, o indeterminado e o duvidoso. Isso que chamam de vontade de acreditar em algo absoluto se traduz para mim numa espécie de dispositivo de gosto ou preferência, pois tendemos a preferir  sempre a possibilidade de que exista algo absoluto, uma solução definitiva ou uma explicação final. Aqui há uma espécie de gosto para mim. 

E na história da ciência vemos esta mesma ambição e gosto por uma certa forma de absoluto que parece irrenunciável. Quando digo gosto aqui eu creio que se trata de algo que vai mudando por influência cultural exterior a nossa base original e que acaba por fazer evoluir nossos anseios estéticos e morais de um tempo a outro nesta vida, por conta de vivermos em sociedades cuja diversidade de oferta e visibilidade de oferta cultural é bem mais ampla que aquela encontrada pelos modernos, pelos viventes europeus do século XIX, XX e que no século XXI é ampliada mais ainda.  A esperança também é uma crença e tenho visto que mesmo após francas e claras decepções nós persistimos acreditando em algo melhor, em algo superior.

Eu não sei se está fé se perde assim tão fácil. Tenho pensado nisto e vejo ela minimizada, mitigada, encolhida, mas que vez ou outra se regozija com qualquer coisa que possa lembrar ou satisfazer por mínimo que seja aquela esperança ou desejo. A arte substitui este absoluto sim. Ao meu ver porque envolve uma certa forma de totalidade acabada e que conversa internamente com outras obras e externamente com o mundo e nós mesmos fazemos e traçamos estas conexões. A arte também tem suas decepções quando lemos a obra completa de um autor ou quando ocorre certa decadência ou decaimento do talento de um gênio, pois muitos não conseguem se manter no que chamo de topo da montanha alcançado, decaindo seja em sua vida seja em sua obra. E estas decepções ocorrem de muitas formas. Nós tendemos aqui a voltar a um grande tema metafísico que envolve a relação entre nossas teorias científicas e até onde elas nos acompanham em nossa fé em atingir algo absoluto ou completamente determinado.

Na arte isto também é uma espécie de meta e na vida não podemos desprezar este desejo também. Penso, enfim, que isto vai sendo modalizado e alterado ao longo da vida e segundo nosso acesso a conhecimentos, experiências e também avaliações dos acontecimentos e relações que estabelecemos entre eles e nossas crenças, expectativas, ideias e gostos.

Por fim, é claro que quando te respondo ao tema da fome de absoluto com uma espécie de doutrina ainda que mal desenhada do gosto em nossas volições creio estar te dizendo que esta fome não existiria se não fosse em alguma medida saciada e satisfeita, ainda que tenhamos muitas decepções, desprazeres e ainda muitos banquetes indigestos pela frente e ao longo da vida e da nossa dedicação a refletir sobre ela. 

Agradeço aqui a bela provocação para esta reflexão pelo amigo e colega Alexandre Noronha Machado. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário