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terça-feira, 31 de março de 2015

UMBERTO ECO E SEU NOVO ROMANCE: JORNALISMO E ERUDIÇÃO, TEORIAS E CONJECTURAS

Um colega da filosofia muito caro meu, afirma ao linkar este que “Muitos colegas da filosofia torcem o nariz pra ele, consideram-no algo como um impostor, que se mete onde não devia e tal ("que fique com os romances"). Bernard Williams o admirava. Pra mim, um exemplo simpático de lucidez.” (Renato Duarte Fonseca) e outro ao comentá-lo lembra Deleuze “que tinha medo de Eco, dada a erudição dele.”  

Muitos filósofos torcem o nariz para qualquer coisa que não faça parte da sua dieta confortável e previsível até de problemas e soluções, métodos e teorias. Porém, isso não é uma refutação do que ele ou outros pensam, nem mesmo chega a ser uma negação cujos termos sejam claros é apenas uma questão de gosto, de hábitos e de preferências e nem justificações nem demonstrações são apresentadas. Eco tem muitas virtudes, uma delas é de ótimo escritor a outra é de realizar uma reflexão própria que muitas vezes nos surpreende "porque nunca pensei nisso?", mas também tem a erudição e a leitura, a interpretação e a capacidade de transmissão e síntese que poucos possuem.  Todos nós devemos temer a erudição, pois quem tem erudição possui uma mais larga fonte de onde podem vir coisas velhas ou novas por afirmação, negação, correção ou superação. E só o manejo deste acervo ou arquivo cultural requer muita lucidez mesmo. Então, tem razão sobre a lucidez dele Renato e eu creio que ele faz algo que alguns filósofos julgam que não é mais tarefa deles produzir um olhar crítico ou uma perspectiva crítica sobre o mundo, sobre a vida e sobre o modo como olhamos para isso.

E, só para pegar o texto, creio que sim, que a Internet - ou certa produção de informação e debates via internet - vai não somente tomar o posto do jornalismo mau, mas vai calhar por destruí-lo porque junto disso eu creio que vai ocorrendo também uma depuração das informações e se ampliando o debate sobre tudo que é veiculado de forma inconteste ou pouco rigorosa nas mídias. E isso envolve o jornalismo e a internet numa luta por sobrevivência entre qualidade e instantaneidade.

Lendo a  entrevista dele (EL PAIS - "A INTERNET VAI TOMAR O LUGAR DO JORNALISMO MAU" UMBERTO ECO.) eu creio que ele já cumpre o papel de apontar a necessidade de mais discernimento e senso crítico na leitura de tudo, o que aliás é sempre recomendado, independente da fonte, da erudição da fonte e de sua lucidez, da autoridade do jornal, da tradição ou da simpatia do novo emissor de notícias. A distinção dele entre fatos relevantes e pura lama deveria depurar o conteúdo de muitos juízos por ai e talvez poderia melhorar os debates também e quem sabe salvar o jornalismo do seu fim. E a única forma do jornalismo se salvar será justamente ele voltar a ser um orgão confiável de produção e  difusão de notícias, informações e opiniões sobre fatos. Ou seja, ou se acaba com a máquina de lama ou o jornalismo não sobrevive mesmo. Parece um imperativo e o problema de todos os imperativos é justamente o mesmo de sempre: quem terá juízo para reconhecê-lo e lavá-lo até as últimas conseqüências? Com a palavra os jornais que ainda querem sobreviver, nem que para isso virem semanários mais depurados e façam a crítica com qualidade das notícias divulgadas na imediatidade da internet e dos noticiários de teve. Creio que isso envolve um movimento de slow devolvendo ao  jornalismo de qualidade o ritmo e a profundidade semelhante ao dos anos 60 e 70. Quando tinha  dez anos certas notícias chegavam com uma semana de atraso, mas chegavam, mais tratadas e bem informadas. Isso também significa que a notícia instantânea deveria exigir mais critério em sua edição e formatação. O que me lembra aquela serie NEWSROOM... 


Por fim, não dá para ter uma perspectiva nem positiva nem negativa a priori, pois  a síntese temporal disso ainda aguarda um outro futuro cuja descrição ainda não possuímos. Isso é então um juízo acompanhado de uma conjectura, mas vem de Eco que justamente se dedica a refletir sobre isto e que sabe bem conjecturar. Vamos ver....   

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