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domingo, 22 de março de 2015

LAMENTO POR MARILENA E POR TODOS OS BRASILEIROS - A EDUCAÇÃO DEPOIS DE AUSCHWITZ

Leia a história de MARILENA VILLAS BOAS PINTO (1948-1971)

“Estudante do segundo ano de Psicologia da Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro (RJ), Marilena passou a viver na clandestinidade a partir de 1969. Juntamente com seu companheiro Mário de Souza Prata, ela foi presa e morta nos primeiros dias de abril de 1971, no Rio de Janeiro. Ambos eram integrantes do MR-8, com militância anterior na ALN. A versão oficial divulgada pelos órgãos de segurança registrava que, em 2 de abril, os dois teriam entrado em enfrentamento com agentes da Brigada de Paraquedistas do Exército, na rua Niquelândia, no 23, em Campo Grande. Mário teria morrido na hora, enquanto Marilena, ferida, teria falecido posteriormente. Segundo relatório de prisão feito por Inês Etienne Romeu em 1981, Marilena foi levada para um sítio clandestino em Petrópolis (RJ), que ficou conhecido como “Casa da Morte”. Em abril de 1997, Inês confirmou tal informação: “A pedido, confirmo integralmente o meu depoimento de próprio punho, sobre fatos ocorridos na casa em Petrópolis-RJ, onde fiquei presa de 8/5 a 11/8 de 1971. Esse depoimento é parte integrante do processo no MJ-7252/81 do CDDPH, do MJ. Nesse depoimento está registrado que o ‘dr. Pepe’ contou ainda que Marilena Villas Boas Pinto estivera naquela casa e que fora, como Carlos Alberto Soares de Freiras, condenada à morte e executada.”

No dia 15 de março de 2015, em meio às manifestações em São Paulo, foi visto um cidadão chamado Carlinhos Metralha discursando e sendo aplaudido pelos manifestantes contra o governo Dilma, em plena Avenida Paulista. Ora, para quem não sabe, Carlinhos Metralha, é um ex-agente do DOPS, um sujeito  responsável – como o nome já diz – por algumas execuções covardes de jovens que foram aprisionados em combate contra a ditadura militar. É o mesmo sujeito que com a maior cara de pau disse que não havia tortura na ditadura militar, enquanto  existe uma abundância de depoimentos de vítimas com dolo físico e psicológico comprovados da mesma prática e que, além disso, matava jovens a sangue frio; ele teve participação em casos de detenção ilegal, tortura e execução. Dentre tudo que foi visto na manifestação isso é uma das coisas que doem na alma de qualquer ser humano. Quando Adorno afirmou que após Auschwitz a educação teria certas tarefas, me vejo aqui desfiando palavras contra certa possibilidade de que aquilo se repita.

"A exigência que Auschwitz não se repita é a primeira de todas para a educação. De tal modo ela precede quaisquer outras que creio não ser possível nem necessário justificá-la. Não consigo entender como até hoje mereceu tão pouca atenção. Justificá-la teria algo de monstruoso em vista de toda monstruosidade ocorrida. Mas a pouca consciência existente em relação a essa exigência e as questões que ela levanta provam que a monstruosidade não calou fundo nas pessoas, sintoma da persistência da possibilidade de que se repita no que depender do estado de consciência e de inconsciência das pessoas. Qualquer debate acerca de metas educacionais carece de significado e importância frente a essa meta: que Auschwitz não se repita. Ela foi a barbárie contra a qual se dirige toda a educação. Fala-se da ameaça de uma regressão à barbárie. Mas não se trata de uma ameaça, pois Auschwitz foi a regressão; a barbárie continuará existindo enquanto persistirem no que têm de fundamental as condições que geram esta regressão. E isto que apavora. Apesar da não-visibilidade atual dos infortúnios, a pressão social continua se impondo. Ela impele as pessoas em direção ao que é indescritível e que, nos termos da história mundial, culminaria em Auschwitz."


Theodor Wiesegrund Adorno

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