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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

DO RISO E DO GRACEJO: ESBOÇO OU NOTA DE UM PREFÁCIO

O riso é uma das atividades mais nobres e simplórias do homem, visto que é facultado a todos e mesmo àqueles que tem manifestamente alguma dificuldade para gracejar, o fazem silenciosamente com a boca cerrada, na certeza de ampla impunidade, mas de duvidosa e aparentemente insuspeita desconfiança dos demais, posto que sei sintoma emocional se apresenta também nos cantos da boca e no movimentar cintilante de alguns olhos graciosos. Sua superioridade ou inferioridade pode porém ser apenas ilusória. E isso, este riso, ocorre ou como sinal de satisfação ou como uma espécie de desafogo perante a tristeza. Bergson percebeu em seu famoso ensaio que ele é sempre intensional e que contrasta com a realidade que enfrentamos, nos diferenciando e destacando do mundo das coisas e dos demais seres incapazes disto. Neste último efeito, assim entendo, o vemos já como uma estratégia da consciência ou do que alguns chamam do limiar entre consciência e inconsciente cujo traçado irônico inclui e exclui certas coisas a medida que evoluímos moralmente o que passamos a encarar tudo aquilo que se passa em nosso pensamento como objeto de juízo, aprovação, reprovação, correção, negação ou afirmação com mais ou menos palavras segundo nossa inspiração e imaginação nos ajudam a refertar. Freud tratou o riso sob o nome e a forma de chistes e dizia em uma obra sua que ele é um mecanismo pelo qual liberamos impulsos socialmente reprimidos, frequentemente relacionados ao sexo e à agressividade. Isso nos leva, então, ao meu ver e poupando vocês que me lêem de detalhes e exemplos que corroborem isso a dois motivos do riso: um primeiro que é o não poder dizer e um segundo que é apenas substituir as palavras por um gesto. Numa das passagens que mais me emocionou ao ler e ao assistir no livro e no filme O Nome da Rosa, de Umberto Eco, ocorre aquela revelação decisiva e surpreendente aos leigos e inocentes de riso fácil de porque certas obras de Aristóteles e outros gregos e romanos eram proibidas: porque causavam intenso prazer e colocavam seus leitores às gargalhadas, revelando, dos homens que as lêem, facetas pouco sérias e verazmente, na opinião da moralidade elevada e altamente repressiva,  muito diabólicas e de altíssima ou baixíssima, seria melhor dizer neste caso, periculosidade. E assim o riso foi enquadrado na categoria de um  mal e de um mal maior. Devo reconhecer que me aborreço com o riso cínico e irônico, desrespeitoso e debochado á qualquer preço ou por qualquer coisa, porém, devo admitir que mesmo em mim que me pretendo sério – e que poderia dizer – tento me levar muito a sério, me ocorre todas as formas de riso do mais singelo ao canto da boca – tal qual uma Mona Lisa levemente graciosa e eternamente gracejante – às gargalhas mais histriônicas. E ainda tenho o terrível e malévolo defeito de falar rindo, que me foi e é repetidamente apontado por alguém muito próximo e que nem sempre consigo impedir ou corrigir, de tal modo que alguns sofrem para entender o significado do que digo, pois minha pronúncia e dicção prejudicada de vocábulos, silabas inteiras, palavras e frases fica ininteligível e seu sentido passa a ser impensável por meus interlocutores, ainda que eu tenha em meu sentido interno a mais ampla convicção de estar apenas a temperar com graça minhas palavras e rir de mim e das coisas que digo. Isso, porém, não significa que minha auto-ironia não seja limitada, nem que eu aceite piadinha de mau gosto todo o tempo em que decorre meu dia, meu mês, meu ano, décadas e minha vida.      

Espero poder rir também do que reúno aqui... 

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