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segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

O LIMITE E O FIM DA REPRESENTAÇÃO - PEQUENA NOTA EM BERGMAN

Abri Imagens de Bergman, na manhã de hoje na página 220 e comecei a ler sobre DEPOIS DO ENSAIO, na voz de Ingmar Bergman e eis que fui dar uma bisbilhotada e encontro esta bela crítica e de certa forma introdução e contextualização do tradutor da peça ao português Amir Labaki e descubro que a peça está sendo encenada no Brasil. 

E fico feliz porque uma das coisas que eu mais gosto em Bergman é a busca de um significado e o realismo que aparecem sempre em suas obras. No presente caso tenho intuído muito sobre o tema do limite e do fim da representação via artes plásticas - donde cheguei pela lógica - e agora isto me aparece claramente também nas palavras dele. Não sei se por um motivo exclusivamente emocional, mas também por uma certa imposição da verdade e da dignidade dos nossos sentimentos verdadeiros. Bergman fala claramente ai contra uma forma ou técnica de representação que busca a verossimilhança e me parece que na sua objeção à esta técnica  há somente um requisito a busca não somente de um suporte para uma personagem parecer ter tal ou qual sentimento, emoção ou situação sendo vivenciada numa certa intensidade que provoque a comoção da platéia e a admiração da crítica ou de um analista, mas sim o sentimento verdadeiro, o que há de sagrado no sentimento e na emoção que se encontra "depositada" ou construída em uma peça justamente por sua grandeza e qualidade. 

Eu sinto mesmo que ele percebeu que o limite da representação é justamente o fim da representação. Que o auge ou ápice de um sentimento e de uma personagem só é realmente atingido quando desaparece o liame entre representação e representado, quando o sentimento ou emoção se apresenta em sua plenitude sem nenhuma gota de representação no ator. Quando o ator passa a ser o outro em sua verdade. Veja que ele fala disso para nós a certa altura (p.226 de Imagens) e conclui com a questão de como dar um Epílogo à altura deste tema. Bergman diz que:

"Penso e repenso se afinal não quero deixar também o teatro. Hesito. Às vezes ele me parece imensamente divertido, outras não sinto vontade de continuar. Esta minha dúvida se relaciona com a opinião que tenho quanto atécnica de interpretação. Se fosse músico não teria quaisquer problemas. Mas isto de criar uma ilusão, de representar! Os comediantes representam comédias e eu os incito a isto. Por vias tortuosas tentamos conseguir impulsos emocionais que o público irá tomar por sentimentos, até por verdades. Ora isso começa a ser difícil. Sinto uma aversão crescente perante o próprio milagre da interpretação teatral. Ao mesmo tempo ainda há obras dramáticas que me atraem...mas isso é porque vejo certos atores nos papéis nelas existentes, atores que possuem uma capacidade total e rara para interpretá-los. Penso nessas coisas com calma. Não farei uma ruptura abrupta. à minha mesa de trabalho distraio-me o mais que posso. Escrevo para meu prazer, não para a eternidade. A questão é saber como irei organizar o Epílogo."

Não se trata para mim, pelo menos, de uma autoficção em Bergman por conta de suas narrativas autobiográficas, mas sim de uma busca da verdade e do fim da representação em sua vida. Ele me parece querer a todo instante em Imagens dissolver as ilusões - inclusive as nossas -ou colocá-las em seus devidos limites. E isso não ocorre porque ele estava deprimido, mas sim porque toda a trama de sua vida pelo que se depreende das suas narrativas envolve para mim uma busca da consciência, mesmo quando esta não lhe é confortável. 

Veja o texto de Labaki Bergman e autoficcao em depois do ensaio.    

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