Powered By Blogger

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

FOUCAULT – WALK IN THE LINE

“Eu compreendo bem o mal-estar de todos esses. Foi, sem dúvida, muito doloroso, para eles reconhecer que sua história, sua economia, suas práticas sociais, a língua que falam, a mitologia de seus ancestrais, até as fábulas que lhes contavam na infância, obedecem a regras que não se mostram inteiramente à sua consciência; eles não desejam ser privados, também e ainda por cima, do discurso em que querem poder dizer, imediatamente, sem distância, o que pensam, crêem ou imaginam; vão preferir negar que o discurso seja uma prática complexa e diferenciada que obedece a regras e a transformações analisáveis a ser destituídos da frágil certeza, tão consoladora, de poder mudar, se não o mundo, se não a vida, pelo menos seu “sentido”, pelo simples frescor de uma palavra que viria apenas deles mesmos e permaneceria o mais próximo possível da fonte, indefinidamente. Tantas coisas em sua linguagem já lhes escaparam: eles não querem mais que lhes escape, além disso, o que dizem, esse pequeno fragmento de discurso – falado ou escrito, pouco importa – cuja débil e incerta existência deve levar sua vida mais longe e por mais tempo. Não podem suportar ( e os compreendemos um pouco) ouvir dizer: “O discurso não é a vida: seu tempo não é o de vocês; nele, vocês não se reconciliarão com a morte; é possível que vocês tenham matado Deus sob o peso de tudo que disseram; mas não pensem que farão, com tudo o que vocês dizem, um homem que viverá mais que ele.””

Michel Foucault. A Arqueologia do Saber.

Na última página e parágrafo da conclusão.    

Nenhum comentário:

Postar um comentário