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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

CONTEÚDOS INTENCIONAIS E CONTEÚDOS FATUAIS; A MALDITA DISTINÇÃO E PARENTESCO

Hoje fui obrigado a abrir mão de algo que sempre evito fazer, e após a interrogação de uma aluna sobre opiniões, me coloquei a fazer aquela maldita distinção entre conteúdo fatual e conteúdo intencional. Quando digo que fui obrigado, assumo que me senti obrigado e bem provocado a ser mais claro em minhas interpretações e pretensões de interpretações sobre certas teorias e fatos. E admito que é algo que mesmo hoje me confunde e que eu confundo também. É uma distinção maldita porque coloca em risco a possibilidade de verdade, e introduz a possibilidade de todas as nossas proposições serem apenas menores que verdadeiras, serem relativas à nós e não aos fatos, e, portanto, indecidíveis quando nosso acesso a certos fatos é dificultado ou mediado por uma miríade de outra interpretações e reconstruções,  em resumo, apenas aquilo que a gente gostaria que fosse o caso e não o que é o caso. Assim, uma determinada proposição filosófica sobre fatos pode apenas ser aquilo que eu preferiria que fosse o caso sobre fatos. O exemplo em tela foi a interpretação de Hannah Arendt sobre a política grega como negação da violência e a mesma aluna com seus colegas haviam acabado de assistir Pompéia e, no caso, lembraram neste filme que a violência foi chamada de apenas uma questão política entre outras questões políticas. No caso que é da natureza da política a violência. Sempre lembro de todas as guerras entre gregos numa hora destas. E me lembrei como nós gostaríamos que fosse diferente. Em especial para mim - e para Hannah Arendt e outros pós iluministas convictos - onde a violência aparece pela ausência de pensamento, a violência é a última alternativa para quem desistiu de pensar, ou a primeira para quem nunca aceitou as razões do outro ou sequer tentou compreendê-las. A maldição, parece ser aqui um detalhe pequeno mas decisivo para mim que é que o conteúdo intencional em juízos morais, também pode não ser verdadeiro, pode não ser confiável. Mas como eu posso saber? E para mim o caso mais maldito é justamente aquele em que tratamos do amor, pois é aí que a declaração tímida ou mais apaixonada de afetos e desejos fica entre o liame da verdade e da intencionalidade, bem em cima da divisa em toda sua ambiguidade e também com toda a ironia que é possível perceber. Você refere ao que sente e ao que quer, mas isso está em seu interior e eu não tenho a menor possibilidade de saber ou verificar alguma coisa sobre isto. Só me resta sentir aquilo que eu gostaria que fosse verdadeiro. Minha intencionalidade e razoabilidade se assenhora da situação e toca em frente, como se nada tivesse acontecido ou como se tudo tivesse acontecido, mas que, enfim, não faz diferença alguma porque não o sei.  E aqui, retorno ao caso da violência, como posso saber que a política grega não tinha a violência? Como posso saber que o amor, não tem dentro de si também algo semelhante como que a negação de si mesmo embutida e em semente, pronta para se enunciar. Gostaríamos que fosse diferente, muito...mas não podemos saber isso...e agora vendo Ingmar Bergman que dava tanta atenção para estas nuances, para estas formas e  circunstancias existenciais, para este vazio de sentido, entendo um pouco mais porque a intencionalidade parece tantos ser aquela velha traidora que nos engana a todo tempo, nos levando muitas ao oposto do prometido....e entendo porque é preciso ir com mais calma ainda...e muitas vezes deixar passar aquilo que mais gostaríamos, para poder encontrá-lo integramente na sua verdade.     

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