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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

CONSERVADORES E RADICAIS

PAULO EDUARDO ARANTES: "A esquerda no Brasil é moderada. O outro lado não."


Os conservadores tradicionais e os moderninhos tem uma característica muito notável: são autoritários radicais. Eu estava mesmo dando uma lição sobre Democracia e Liberdade ontem, para qualificar a diferença entre Conservadores, Liberais e Progressistas em relação à passagem sobre a polis grega de Hannah Arendt em que ela defende a interpretação fatual de que os gregos consideravam política um método não violento de resolver os assuntos públicos, e daí apareceu este tema no debate sobre o radicalismo dos conservadores. Aliás Justamente ontem que se comemoram os 59 anos de aniversário do ato de rebeldia de Rosa Parks em 1 de dezembro de 1955 contra a segregação racial.

Em minha lição conclui que toda direita é radical, que todo conservadorismo se recusa a ouvir o outro lado e a negociar. E não é muito difícil juntar todos os dias exemplos deste tipo de intransigência e intolerância basta assistir os debates no Congresso Nacional, porque lá se identificam facilmente os elementos autoritários e conservadores nitidamente por uma postura, método e conduta de intransigência e intolerância. A veemência e o fanatismo das falas deles são notáveis. E quando adotam tanto o estilo agressivo quanto o debochado, percebe-se claramente o desprezo e o desrespeito às posições dos outros. O que também é uma forma autoritária de conduta. 

Lembrando a luta pelos direitos civis americanos e uma cena de Newsroom, em que o âncora muito bem  representado por Jeff Daniels da emissora lembra a uma advogada abismada em uma banca que um ano antes de Rosa Parks, a “menina” com 42 anos que foi a lider ou que gerou o estopim do boicote aos ônibus em 1955. O exemplo do Jornalista-âncora, que não precisa verificação agora é que em 1953 a história teria sido diferente se a líder fosse uma negra, com dois filhos, que era prostituta, que não freqüentasse a igreja da comunidade e que lutava então para poder andar no ônibus dos brancos. Quer isso fizesse ou não toda diferença não importa, mas é notável no perfil moderado da causa que justamente a negra ajustada, cristã e boa devota da paróquia local foi quem liderou a luta por direitos civis em seu primeiro capítulo com manifestações. Ela era moderada e os radicais no caso eram o brancos, que sequer aceitavam ouvir suas razões e negaram elas até o final. E quanto a isto não pode ser dito que foi superado, apesar do presidente Obama ser negro. Como, podemos ver  ainda hoje os prefeitos ou Majors de muitas cidades americanas – como vimos semana passada - ainda montam uma estrutura e equipe policial majoritariamente branca para cuidar dos bairros majoritariamente negros de suas cidades. E radicais são os negros? 

Na real é uma obviedade em qualquer lugar do mundo isto. Martim Luther King era moderado, os brancos do sul é que eram radicais... E aqui no Brasil, em geral, só vence nas urnas a esquerda democrática e moderada.... E, por outro lado, na bancada mais conservadora só se elegem os mais raivosos e sectários. Como vejo é preciso entender isto de uma vez por todas e acabar com as ilusões e velhas pretensões autoritárias, totalitárias e absolutistas de certa fração da esquerda progressista que acredita que vai conquistar ou tomar o poder e implementar goela abaixo a agenda e o programa mais radical. E toda crítica à conciliação, políticas de transição, negociação e composição peca justamente por isto de princípio. 

Penso com respeito a isto que falta dialética a certo setor do marxismo ocidental brasileiro. E esta posição não me transforma em um entreguista nem em alguém que não quer mudanças radicais, mas somente em alguém que dá uma outra resposta para o "como fazer". Que não é muito diferente aliás da resposta dada por todos que fizeram e que conseguiram fazer e cumprir o feito de resistir ao tempo e promover mudanças. 

Os dois flancos do embate são ainda o político e o cultural e no cultural, observo, que andamos perdendo muito ultimamente. Também porque não defendemos com tanta clareza que nada é mais radical e revolucionário do que o diálogo, ouvir razões e argumentar num tempo de violências, explorações e de formas de dominação tão mesquinhas e com tanto desprezo pelo outro. Do que a raiva dos nordestinos, dos negros, dos índios, dos gays e lésbicas, dos ecologistas, dos sem terras é só uma pontinha da maldade e da velha perversidade conservadora.

Para mim a nova direita não surgiu após Julho, mas sim se fortaleceu após julho com este tipo de raciocínio infantil e mecanicista e purista do 8 ou 80, tudo ou nada, ou do que o Sakamoto chamou de binarismo e eu tenho chamado de novo absolutismo político. E os sinais disto estão já bem claros nos comportamentos e juízos de certos eleitores e simpatizantes. 

E esta intolerância se encontra muito bem com o perfectismo e o esquerdismo de alguns que só aceita a esquerda autêntica com muito discurso e pouca ação, muito programa e pouca gestão.

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