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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

BREVE COMENTÁRIO NA EXPRESSÃO DE PAULO FREIRE SOBRE DISCURSO, AÇÃO E MUDANÇA NA EDUCAÇÃO

"De nada adianta o discurso competente se a ação pedagógica é impermeável a mudança". Paulo Freire

Sobre discurso, ação e mudança muita coisa já foi dita em vários domínios. Mas há que se atentar que neste caso, ao meu ver, trata-se de uma refutação de um tipo de discurso pela sua prática conservadora e que não aceita a mudança. A impermeabilidade á mudança é sustentada por uma espécie de alegação de competências ou se quiseres saberes. Mas vou mais longe aqui, pois há também a alegação de incompetências e não saberes para resistir à mudança e neste caso a resistência à mudança não se dá somente por competências , mas sim por inseguranças e instabilidades e pela falta de certa tranqüilidade para enfrentar a mudança.

Ou seja, trata-se de um discurso que ou bem afirma competências e saberes para recusar a mudança pedagógica proposta ou bem afirma a ausência destes saberes e competências para empreender a mudança. A contradição, portanto, entre discurso e prática  nos domínios das pedagogias apontada por Paulo Freire não vale exclusivamente para a mudança, vale inclusive para a manutenção de uma ordem pedagógica cuja ausência de reflexão e de formação permanente acentua a acomodação e a resistência à mudança. Quando Paulo Freire, nesta expressão que analisamos agora fora de seu contexto original, usa a chave “de nada adianta” podemos pensar também que mesmo o excesso de permeabilidade à mudança, sem a devida reflexão e criticidade, também de nada adiantará, pois provocará a mudança aparente ou cosmética, a mudança por adaptação e não a transformação da realidade educacional.  Assim, a velha forma de admiração ingênua engendra aqui também uma pseudo-mudança que durará até que a vida os separe.

Se colocarmos em detalhes as mudanças propostas e das quais e com as quais muitos se ufanam de simpatizar, defender ou esposar, encontraremos também outras contradições entre discurso e práticas, entre um discurso competente e altamente apropriado e uma ação que não impõe a emancipação dos alunos, não liberta os jovens de seus medos de fracasso, nem os professores dos seus temores de incompetência. Há, portanto, uma outra contradição que acompanha o “discurso competente” que consiste justamente em justificar sua prática inter-pares e frente aos alunos usar como argumento o tradicional, o velho argumento de autoridade que funda escolhas teóricas, metodológicas e conceituais em sua preferência, juízo exclusivamente pessoal e que jamais admite o questionamento.  É comum o discurso competente ser uma espécie de discurso de seita com fundamento subjetivo numa crença geral sobre os sagrados objetivos e os melhores resultados da prática docente segundo certa acepção ou escola. Ao renunciar a problematicidade de toda prática – com um discurso competente – se consolida a barreira para mudança.


Eu só vejo uma saída aqui: compreendermos a medida em que este discurso de competência sustenta as crenças do educador ou educadora e ir aos poucos e dialeticamente apontando outras perspectivas para dissolver a resistência a mudança e se reconhecer melhor a sua necessidade. Isto é, deve haver confronto, conflito e problematização radical das idéias, mas é preciso compreender e levantar claramente de onde vem a reação à mudança e não somente confrontá-la sem a apresentação e análise de suas razões.  

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