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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

SARNEY E AS MUDANÇAS

Eu ironizei que ninguém ia reclamar este voto da mais pura gratidão do Sarney para Tancredo ao votar em Aécio em 2014, que demonstra somente o quanto ainda somos governados pelos mortos e pelo passado. Afinal, TANCREDO estava lá nos estertores de Getúlio (1954), na contra-pressão de JK (1955-1959), no Golpe Parlamentarista contra Jango (1961) na queda de Jango (1964). Na anistia, abertura e transição de 1979 a 1985, e Sarney desde 1954 também estava lá (PSD (1954–1955), PST (1955), UDN (1955–1964), ARENA (1964–1983), PDS (1979–1984), PFL (1984), PMDB (1984–presente).) Não há nada de novo nisto que a agradável forma de proximidade ao poder dos golpistas, seus braços militares e civis, seus instrumentos tradicionais e sua corja de traidores e conservadores já não tenha feito antes.

Mas a verdade bem redonda é que este voto marca também um divisor de águas na política brasileira, entre o passado e o futuro, entre a velha política dos coronéis e das concessões federais e a nova política da cidadania, do fim das velhas raposas e dos Janjões, Playboys, Filhotes da Ditadura ou filhinhos de papai. Sarney ajuda e muito a deixar as coisas mais claras para quem quiser ver com toda nitidez em seus segredos e veleidades pessoais revelados e que vieram à público mais uma vez. E isto marca também a volta do tema da relação da governabilidade e da política de alianças que sofre entre as cordas da moralidade pública, fidelidade partidária, identidade ideológica e as tesouras do pragmatismo e oportunismo e também que país está a ser construído. 

Marca-se ai também o que tem sido a grande questão do país sobre a imprensa, a mídia investigativa e os limites dos direitos individuais e as questões privadas. Eu lembro muito neste caso de duas coisas além disto. 

Dos escândalos protagonizados por ACM, Jader et caterva sobre o Painel de Votação do Senado, e sobre todo o ônus que o PT paga por ser literalmente obrigado pelo sistema político vigente a se associar a um partido que está no poder desde a transição democrática. Não desprezo o PMDB, pois não desprezo os eleitores que ele representa, nem os seus trabalhos e dias de luta, vitórias e pressões e contrapressões, mas ele expressa justamente o limite do nosso regime democrático brasileiro que deve ser respeitado, mas que só será alterado com  uma reforma política. 

E aqui vale a mesma coisa que vale para o sistema dos EUA: não adianta cobrar que o OBAMA não faz ou não cumpre suas promessas e votar fortalecendo mais ainda justamente aqueles que impedem ele de fazer o que se propôs. Mutatis mutandis, vale a mesma coisa para o PT, Lula, Dilma e todos os que querem realmente mudar este país. E o Congresso Nacional eleito na última eleição é uma mostra gritante disto. Tanto a fragmentação como o fortalecimento dos vetores de negação da mudança, o fortalecimento das bancadas conservadoras e oposicionistas impõe um grande limite aos avanços do nosso país tão claramente e difusamente cobrados nas manifestações de junho de 2013. R Reforma Política é e será a grande mãe de todas as mudanças que este país precisa.  

De pouco adianta reclamar do Sarney, Maluf, Collor, FHC, PMDB e PSDB etc. e não compreender isto. E esta é sim uma pauta de esquerda. Sarney sai de cena no dia 1 de fevereiro de 2015 e eu ousaria dizer que se encerra este ciclo de transição brasileira, bem como, marca um dos últimos capítulos da Modernização Conservadora Brasileira.

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