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terça-feira, 14 de outubro de 2014

SOBRE OS ERROS NAS PESQUISAS ELEITORAIS,

Para os amigos Nilson Lopes com quem fiz pesquisas um dia, e para o Renato Janine Ribeiro que é o melhor gerador de debates que conheço no facebook hoje...

Desculpe o tom especulativo aqui. Não sou especialista neste tema, mas tenho mais amigos sociólogos que podem explicar isto, seja pelo viés estatístico e pelo viés metodológico, seja por outro viés. Vou então, expor minhas opiniões de forma bem aberta sobre isto.

Eu creio que estamos num cenário novo, que para os pesquisadores perder o pé na realidade é preciso que algo tenha mudado. Que há uma dinâmica nova e mais intensa de tomada de posição, de circulação de informações, me parece inegável. Tanto pelas tecnologias da informação quanto pelas relações sociais que me parecem mais dinâmicas e menos horizontais. As influências de classe não me parecem seguir somente da dominante para a subordinada. Devem haver algumas identidades mais difusas na sociedade atual. E certas categorias me parecem ter sido dissolvidas também. Podemos manter nossas posições clássicas de suspeita sobre pesquisas, podemos até bradar contra a desonestidade, mas eu creio que nenhum instituto se mantem no erro ou somente por incidir em um resultado. Deve haver um fato novo ai, algo que ainda não foi contemplado na metodologia e na feitura do perfil. Talvez seja a nova classe média e uma ampliação de setores e extratos diferenciados nela de acordo com a forma como se deu esta transformação e como se constituiu a diferenciação cultural, religiosa e política nisto. Uma amostragem estatística depende da possibilidade de reduzir um universo dado a um universo menor e melhor preservando a sua representatividade nos cortes e nos extratos. Assim, dá para criticar à vontade, mas é preciso reconhecer que o eleitorado sofre mais influências exteriores e que provém de mais meios de comunicação e também que o efeito manada pode ter se apresentado em alguns casos. E penso que o grande poder do efeito manada na opinião pública foi bem exibido no ano passado nas manifestações de junho que para mim demonstraram, a instantaneidade e espontaneidade da mobilização em diversos centros urbanos de médias e altas populações. Vimos as mudanças de opinião se alterarem sobre diversos itens e governos. Temos que olhar também para novos recortes regionais e buscar os novos pólos de disseminação de informação nos mapas regionais e nas redes sociais. As mudanças de escolaridade e de tipo de interação social em muitas faixas etárias e classes também tem efeitos. Então deve haver  uma nova sociedade se formando sobre as interpretações normalizadoras e tradicionais que precisa ser vista mais de perto e melhor compreendida. E existem também muitos efeitos represados do sistemático bombardeio sobre a política e os partidos políticos neste sistema social.

Para terminar e exemplificar vejo o caso do RS em 2014. Aqui nos sul, o PP ainda não juntou os cacos e nem entendeu como a candidata a governadora deles que era favorita 3 semanas antes do pleito no primeiro turno, foi superada pelo candidato do PMDB no segundo turno e que acabou por ficar com o PT para disputa final. Mas neste caso é preciso levar em conta que o PT inteiro bateu nela por vínculos com a ditadura militar, por um CC fantasma no senado e que nos debates a performance dela caiu feio. E, por fim, aqui no RS, no domingo do primeiro turno na pesquisa boca de urna dava Olívio Dutra (PT) para senador vencendo o Lasier Martins (PDT), o que acabou sendo desmentido nas urnas por 2.6% dos votos. E neste caso era um confronto definitivo entre praticamente dois maciços culturais e políticos do estado. O primeiro, um líder praticamente unânime da esquerda gaúcha e o vencedor um comunicador com 40 anos de exposição na televisão e rádio do Rio Grande do Sul. Só posso arguir a partir disto, enfim, que onde há  intensa informação e contra-informação a margem de erro é mais suscetível a uma certa dinâmica mais intensa de debate e de tomada de posição por parte do eleitorado. Em escala nacional a dissolução de Marina foi presidida por algo parecido.

Então, talvez seja interessante compreender melhor os novos e velhos vetores que formam opinião e como eles incidem hoje sobre as preferências do eleitorado, em longo, médio e curto prazos.


A questão da suspeita é interessante retoricamente, mas cientificamente é preciso encontrar o diagnóstico mais preciso do que ocorreu. Porque isso pode nos ajudar a encurtar a distancia entre as nossas análises e a realidade, e entre os governos e a sociedade também.

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