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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

SOBRE A USP - A SOLUÇÃO DO PSDB É MAIS DO MESMO

A crise que a USP, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, vive é pelo visto muito grave, mas alguns tentam indicar que é um problema isolado e que deve ser atribuído exclusivamente à má gestão de um reitor ou a alguma imperícia gerencial da instituição.

Ao tentar diminuir ou isolar esta crise da instituição, cumprem o único objetivo que é deixar sem avaliar a relação da instituição com o estado que é seu provedor e que indica seu reitor, deixar sem avaliar a relação entre a crise e uma falta de planejamento e também deixar de avaliar a relação entre esta crise e determinada política e concepção política que a presidiu e administrou nos últimos anos. Alguns, também para aumentar o calibre de soluções autocráticas – que são justamente as que levaram a USP ao pé em que chegou – pugnam contra a eleição de reitores pela comunidade acadêmica responsabilizando esta comunidade e a corporação de professores sobre isto.

Não vejo assim, até mesmo porque a indicação de reitor da comunidade escolar aponta uma lista tríplice ao governador indicar e nos últimos três casos a indicação não recaiu sobre o primeiro da lista ou o mais votado da comunidade.  Eu olho mesmo para uma falência de know how em gestão de coisa pública e da instituição. E a crise se deve a erros na contratação de professores, no planejamento do custeio da máquina da instituição e, também, para além da folha de pagamento ou das negociações salariais deveria se olhar para o fluxo e o volume dos repasses dos cofres estaduais ao longo dos últimos 30 anos. Não dá para uma instituição com 80 anos se elevar aos patamares científicos, acadêmicos e culturais que a USP chegou e cair por má gestão ou falta de expertise em gestão. Eu acredito que a crise da USP  é uma espécie de ponta do Iceberg isso ou que a crise da USP é o fio da meada que nos permite pensar, repensar, avaliar e refletir sobre como anda mesmo São Paulo.

Uma faceta que deixa visível e exposta uma crise de inteligência, de gestão e de planejamento do estado paulista.

E é justamente o contrário do que ocorre no Brasil, onde o estado brasileiro tem planejamento, desenvolvimento e estratégias setoriais e sistêmicas de gestão.

Sou um admirador à distância da USP, pois sou gaúcho e também estimo por demais a minha Universidade, a UFRGS, que tem tido boas gestões desde os anos 90, gestões que sobreviveram ao tempo de vacas magras da gestão de FHC e Paulo Renato de Souza e que com Lula e Dilma avançaram  muito colocando a UFRGS praticamente no topo do ranking nacional e latino-americano em muitos cursos e globalmente.

Mas admiro a USP, porque conheci nos anos 80 e 90 dos grandes êxitos e da importância desta instituição desde os tempos em que engatinhava na compreensão da cultura brasileira, da filosofia e das ciências humanas e não consigo mesmo compreender como é que um colapso de planejamento e provisionamento destes é possível numa das pontas mais aguda da elite intelectual, técnica e cultural brasileira e não consigo dissociar isso de uma crise de estado e de gestão, crise de conhecimento e de capacidade operacional, uma crise de expertise também em gestão pública e isso é uma crise institucional que se deve a uma política de gestão e uma forma de gestão. É absolutamente impossível e inadmissível aceitar as teorias mistificadoras e que fazem mistério glorioso das causas desta crise.

Isso não pode mesmo ser só reflexo de uma gestão porque é uma escola inteira de administração que está falindo junto. E envolve um aspecto interno e externo a instituição. Por exemplo, eu fiquei curioso em saber quem foram os reitores escolhidos por lista tríplice desde 1988 que não foram os mais votados pela comunidade?

Tendo a não considerar que a crise se deva à votação da comunidade, mas sim a perda de expertise ao longo do tempo - o que é uma crise técnica e política -  e em virtude das escolhas dos governadores, as quais destoando da indicação majoritária da comunidade podem ter menos legitimidade e perder aquele apoio orgânico (uso Max Weber aqui) que pode ser um diferencial no planejamento, engajamento e envolvimento de todos ou da maioria no objetivos institucionais e acadêmicos. E sobre o tema do provisionamento de recursos aqui, também fico na dúvida sobre os valores dos repasses e etc. Porque isso que acontece lá é inimaginável em uma instituição com tantos recursos humanos qualificados atuando nela.

Tem um debate bem bom para ser feito ai. Eu - talvez por ingenuidade ou excesso de credulidade - acredito que a democracia fortalece uma instituição cuja racionalidade é sempre constituída por debate e não por afinidades pessoais ou inter pares. E a participação dos servidores, estudantes e professores nas decisões e nos debates me parece ajudar nisto.

Tenho somente o exemplo da instituição por onde passei, na UFRGS eu creio que a democracia tem feito muito bem. Hoje minha visão é externa, pois estou a quase 20 anos longe da comunidade acadêmica, mas de lá para cá tivemos eleitos Hélgio Trindade, Wrana Panizzi e Carlos Alexandre Neto e eu creio que todos eles seguiram diretrizes e um planejamento contínuo que sempre foi debatido na comunidade acadêmica. Fui membro do Consun, representante de alunos no Departamento e Instituto de Filosofia e Ciências Humanas e presidente de Casa do Estudante,  e tenho muito orgulho porque mesmo nas diferenças, nos debates e nas negociações se crescia coletivamente isto se deve à forte participação dos segmentos.

Vi muita coisa ser recuperada, restaurada e progredir de lá para cá - com certo distanciamento - mas não tenho dúvida de que a democracia fez bem àquela instituição. Ela sobreviveu bravamente ao período de vacas magras do FHC e quando as coisas começaram a melhorar com Lula, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul estava preparada para crescer.  Hoje, um ex aluno e ex-professor daquela nossa geração é o Ministro da Educação e muitos que de lá saíram e por lá passaram, contribuem.  Não quero ser um advogado de gauchismo, porque nãos e deve desprezar as contribuições de outros e ficar só com os seus, mas creio muito que a experiência democrática na universidade nossa tem sido exitosa. O nome do projeto era muito sugestivo lá no começo: UNIVERSIDADE VIVA!

Agora me surpreende muito que as soluções clássicas que consistem em sacrificar ao rebanho e não ao mau pastor – como cobrar mensalidades, demitir professores e baixar salários, sejam sempre apresentadas como um artifício vergonhoso de desresponsabilização e de entrega ao velho modelo neoliberal que já deveria ser passadista.

Um estado como São Paulo já chegou a este ponto em virtude do desacerto deste tipo de política e vão repetir o modelo na solução deste grave problema?

Não se trata de um tabu ao meu ver o impedimento a esta política tradicional, se trata de considerar  inaceitável a solução que trata de não resolver o problema e que fica menoscabando responsabilidades políticas.

Estão, na verdade, fazendo com a USP a mesma coisa que fizeram com muitas empresas públicas, colocam em insolvência para privatizarem, fazem má gestão para jogar a culpa no povo ou nos cidadãos. Tudo se passa como se este vírus neoliberal tivesse tido seu efeito retardado para a segunda década do século XXI.


Como tamanha incompetência e incapacidade de gestão se preserva no poder? Isso é que não é trivial porque repete o modelo, o velho modelo que entregou nas mãos dos competentes grandes empresas e depois as privatiza pro incompetência. 

E vou terminar minha lamuria e ladainha dizendo que nem a separação do PSDB do PMDB, cuja fração gaúcha esteve bem apaixonada pelo neoliberalismo com FHC junto, resolve este enigma que se repetiu em todo o Brasil de norte a sul, de leste a oeste. Aqui no RS com o apoio da GRANDE MíDIA foi feito isso com muitas coisas também.

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