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domingo, 13 de julho de 2014

QUEM VAI JOGAR? - ÚLTIMA REFLEXÃO SOBRE A COPA DE 2014

"Apanhar o que tu mesmo jogaste ao ar
Nada mais é que habilidade e tolerável ganho;
Somente quando, de súbito, deves apanhar a bola
Que uma eterna comparsa de jogo
Arremessa a ti, ao teu cerne, num exato
E destro impulso, num daqueles arcos
Do grande edifício da ponte de Deus:
Somente então é que saber apanhar é uma grande riqueza
Não tua, de um mundo."

Rainer Maria Rilke 

Epígrafe de Verdade e Método - Hans Georg Gadamer.

Rilke é um grande poeta alemão do inicio do século XX. A poesia e a arte são aqueles domínios que cativam nossos corações e boa parte dos que amam o futebol, o amam por suas emoções e por sua beleza poesia e arte. Mas o futebol é também uma grande aventura ontológica eu diria. E quando vamos para o reino da nossa existência não podemos mais desprezar o nosso método e a nossa compreensão para buscar nossa auto-realização. Eu tendo sempre a considerar que sem método não há verdade e que sem método não há êxito, sem ordem não há grandeza e que todo o resto é fantasia, assombração e pura mágica. E a mágica depende absolutamente do nosso descuido tanto para nos surpreender quanto para nós encantar. O pensamento mágico atrai muitos admiradores porque leva para a zona de conforto da liberdade plena e e do gozo completo e contínuo aqueles que não suportam a labuta, a dureza da vida e a seriedade do mundo. Mas quanta alegria verdadeira há no brincar? Quanta admiração há no prazer e no seu princípio?  

Não há nenhuma dúvida que, hoje a Copa das Copas termina com grandes resultados e com muita qualidade para todos os gostos.

Ela foi a melhor copa do mundo de todas que eu assisti desde 1974, e o Brasil organizou muito bem a copa. Esta Copa do Mundo fez muito bem para 12 cidades e suas regiões metropolitanas e 12 importantes estádios neste país que situam-se em regiões com unidade e diversidades culturais que precisam ser valorizadas. Além disto temos as diversas cidades que abrigaram algumas das 32 seleções. Restou um importante legado nos estádios, os quais não teriam sido reformados ou reconstruídos não fosse a copa do mundo. E, além disso, esta copa permitiu também uma apreciação melhor do evento e de eventos de maior grandeza para nós brasileiros destas gerações. A nota triste, porém, é que o Brasil perdeu com sua seleção por cartolagem e imaturidade. E eu adiantei razões contra um "pensamento mágico" que explicam isto antes em outras postagens já na terça e na quarta que tem sido corroboradas por muitos artigos, opiniões e posições por aqui e por diversos lugares. Tudo poderia ter evoluído melhor e poderia ter mudado antes e hoje a tarde poderíamos estar torcendo por nossa seleção no Maracanã, mas não deu, a mágica não rendeu e mais do que isso sucumbimos a um conjunto de erros e precariedades que tem explicação sim. 

O jogo final entre Argentina e Alemanha representa para mim uma incógnita, pois nele se enfrentam uma seleção com conjunto e força psicológica, com muitos jogadores de alto nível frente à uma seleção de ocasião, mas que possui dois predicados que ajudam - abstraindo-se das lições táticas elementares - um maravilhosos craque que se chama Messi e um time e escola de futebol que tem muita tradição em fazer uso de força psicológica e em enfrentar com galhardia qualquer adversário. É uma decisão que foi antecedida de uma espécie de quadrangular final para valer, pois ao contrário do que alguns imaginam, a copa foi muito competitiva, mas para estas duas seleções a coisa só foi séria de verdade nas últimas duas partidas. Não estou dizendo que ganharam um caminho pavimentado para a final, mas não posso dizer que não tiverem melhor sorte em seus caminho que os demais times que enfrentaram antes. Mas é um confronto entre duas escolas enfim. A garra portenha sempre foi uma solução frente a disciplina européia, porém a disciplina européia tem evoluído muito para o domínio do criativo, então vou assistir com muita curiosidade.este embate e desfecho de hoje. Não vou torcer para os argentinos simplesmente porque são latinos e nem mesmo torcer para a Alemanha para homenagear uma fração inteira dos meus antepassados. 

O futebol me serve para outras questões e apesar de ver nele uma encenação cultural, política e espiritual também, gosto muito de observar a sua lógica com o jogo. Com elementos, peças, dinâmicas e qualidades individuais. Se alguém queria um bom motivo para torcer para os alemães tem, mas também há bons motivos para torcer para os latinos. Às razões contrárias a este ou aquele aponho apenas que isto é um jogo, e um jogo tem seu sentido em si mesmo, não em algo que lhe é externo e a melhor forma de compreendê-lo é aquela que divisa no detalhe e no todo suas diferenças, valores e seu processo. 

O futebol é um belo exercício de compreensão. Isso pode nos levar para mistificações e em direção ao maravilhoso - e a publicidade explora isto, mas também pode nos levar a racionalizações e a exercícios superiores da nossa inteligência. Tenho admiração profunda pelos lances mágicos no futebol, pela presença do in explicável do maravilhoso, da arte e da sorte, mas também fico muito impressionado como este jogo serve para o exercício consciente de nossa racionalidade. Há uma diferença muito grande entre construir um resultado e obter um resultado. Se o primeiro depende de planejamento e trabalho duro, já o segundo depende mais de lances fortuitos, do imponderável e daquilo que nos espanta. 

Porém, eu tenho convicção que o maravilhoso sempre ganha mais grandeza, beleza e graça em meio ao construído, que a sorte coroa muito bem o trabalho bem feito dando-lhe a grandeza que nos espanta. mas o pensamento mágico vai continuar e vamos colher mais frutos disto no futebol ali adiante....porém, é bom que se diga: nunca foi tão clara a lição sobre o futebol como nesta copa...eu diria até que foi uma Copa do Mundo Pedagógica, pois foi a oportunidade de aprender como aproveitar melhor o brilho e o talento individual, o que fazer com esta posição clássica chamada Centroavante - Klöse será o último centroavante do futebol mundial, a importância do meio campo em sua função que deve equilibrar defensividade e ofensividade, de zagueiros disciplinados que guardam lugar na organização e na marcação, da importância do planejamento, da continuidade e do entrosamento entre os jogadores.

Ficou mais do que evidente a necessidade e a importância de se investir mais e melhor no futebol brasileiro, o que inclui os demais estádios, as categorias de base, o exercício e aprendizagem deste esporte na educação física, nos campos de futebol e, considerando-se, os milhões que rolam em passes de jogadores entre 16 e 30 anos no país e no mundo o desafio de segurar craques aqui e conseguir criar ou recriar uma tradição no futebol brasileiro. 

Ficou evidente também que é preciso ver por onde e como dar um fim ou mesmo regular e limitar o excessivo poder dos cartolas e da mídia na exploração exclusivamente comercial e mercantil do esporte.

E isso deverá ser feito de forma democrática, pelos cidadãos deste país, por nossos técnicos, ex-jogadores, jogadores dirigentes e admiradores que com alguma dedicação maior e mais séria ao futebol precisam PASSAR A LIMPO e DEBATER de fato o desafio do futebol brasileiro para o SÉCULO XXI. Não vejo como se escapar de uma necessária CONFERÊNCIA NACIONAL DO FUTEBOL BRASILEIRO.  

Na primeira década ganhamos uma copa, mas em 2014 fica muito claro que o sistema faliu e que estamos perdendo e que não é apenas uma transição de gerações o que levou aos dois resultados de 7a1 e 3a0 desta semana.

Que vença o melhor e que a bola continue sendo lançada para o futuro da nossa humanidade. Precisamos encontrar um lugar entre a Poesia e a Metafísica para o nosso futebol. Quem vai jogar? 

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