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sexta-feira, 28 de março de 2014

UNIVERSIDADE, DEMOCRACIA E UMA SOCIEDADE ABERTA NO BRASIL

"O ressentimento contra a universidade - que está na base tanto dos comentários fascistas que aprovam porrada policial contra estudantes (o motivo, pouco importa) quanto nas reclamações de escritores contra uma 'academia' que supostamente não dá atenção à literatura contemporânea (no fundo, modo hiperbólico com que tais autores se referem às suas próprias obras e, talvez, quando há alguma generosidade, às de seus amigos) - não passa, no mais das vezes, de ódio à liberdade, ou, mais precisamente, de inveja pela liberdade alheia. Porque, convenhamos, apesar dos pesares, a universidade, sobretudo a universidade pública, numa sociedade como a brasileira, é um dos poucos lugares em que trabalho e liberdade não são antitéticos" (Eduardo Sterzi).

As pessoas, em geral, gostam de culpar as instituições pelas ações e condutas das pessoas que estão nelas, e algumas pessoas também gostam de se esconder sob o manto das instituições para fazerem o que fazem.
Imagino uma espécie de ideologia abstrata ai, que faz as pessoas encobrirem seus erros sob o manto da instituição.  E isso parece eximir de responsabilidade e obrigações supervenientes  algumas pessoas, mas não creio que seja mais o caso de se considerar e pensar desta forma sobre isto.

O caso da invasão da UFSC pela Polícia Federal e a discussão que se gerou a partir disto com ódios e horrores e também o caso da violência policial contra jovens e, na mesma direção, a violência de “jovens” contra policiais ou jornalistas, também, é parte desta encenação abstrata que na cabeça de alguns encobre suas responsabilidades e na de outros autoriza o fim das instituições ou a responsabilização delas pelos atos de seus membros. Mas o nosso problema aqui não é mesmo de mentalidades é de violência e de certa violência simbólica.

A universidade e a polícia são claramente instituições, mas alguns jovens andam também atuando como se assim o fossem, como se seu status etário lhes desse tal escudo....e a questão é que não há um escudo sob uma instituição...    

Creio que o Brasil está mudando, as instituições também e as pessoas também. Penso que os jovens tem um papel decisivo nisto  e tenho me dado conta de que a cada dia que passa os jovens se tronam mais e mais responsáveis pelas formas das instituições. E me é algo incrível dizer isto, isto é, que esta geração mais do que todas as outras anteriores tem determinado a lógica institucional brasileira.  

Penso que o Brasil vai mudar muito ainda no sentido de uma superação destes processos todos. Mas isso haverá de ser feito de forma consciente e refletida e não apenas por impulsos, agressões ou digressões. A mera negação de uma proposição não a torna falsa, e nem a mera negação de uma instituição  a torna obsoleta por si só. A questão é então saber como somos e como queremos ser e como queremos que a sociedade e suas instituições sejam. E isso deveria valer tanto para quem está dentro como para quem está fora destas instituições.

Não tenho nenhuma razão, entretanto, apesar dos pesares para ser contra as instituições. As instituições acabam sendo produto das concepções e das ações dos homens e mulheres que nelas atuam. Seus estatutos e regras, métodos, prioridades e finalidades – em organizações democráticas, mais ou menos hierárquicas  – são definidos por coletivos.   Imagino que este tipo de debate deve ser mais promovido e incentivado, porque também ai trata-se da democracia, da qualidade da nossa democracia e da qualidade dos serviços públicos e da dignidade do trabalho intelectual ou científico e, também, do tema da produção da importância e do valores e da produção cultural em geral.

Eu concordo com o Eduardo Sterzi que há, na forma como alguns criticam certas instituições como as Universidades, também uma espécie de ódio à liberdade ai e também uma inveja à liberdade do outro. Isso vale também em parte à crítica aos jovens e também a crítica aos processos inovadores e aos processos, por exemplo, para pegar um outro lugar onde o trabalho e a liberdade não são antitéticos, do pessoal do Fora do Eixo ou da Mídia Ninja.

E isso ocorre nitidamente em discursos que desprezam de um lado ou de outro os trabalhos de outros. Numa sociedade competitiva isso ocorre com mais freqüência ainda e, voltando ao tema da universidade, como o ingresso nessas instituições públicas – seja por vestibular ou concurso, como o progresso na carreira e a disputa por recursos se dá nem sempre de forma transparente ou justificável publicamente, fica esta sombra sobre as instituições.

É algo interessante isto que nos picos dos montes da racionalidade filosófica, científica e cultural o “dar razões” ou “justificar ações” e “explicitar os critérios” sejam ainda encobertos por uma espécie de superestrutura auto-referida e estabilizada inter-pares, sem transparência alguma, cuja aparente justiça se mantém indevassável. Quem fica dentro e quem fica fora estão, assim, por força desta forma e deste padrão sempre num certo desacordo, desacerto e desentendimento.

Cada um destes dois lados, entretanto, tem seus sacrifícios (o fora e o dentro), mas penso que precisamos repensar mais as fronteiras entre ambos e os acessos e a qualidade disto como um processo social e, portanto, público.

Não queria usar o termo SOCIEDADE ABERTA, mas creio que ele traz para além de Popper a questão crucial ai da transparência  e do debate público e creio que qualquer passo na afirmação disso vai nos trazer mais progressos e menos ranço, mesquinharia, proselitismo e exclusão.

A sociedade aberta que me interessa mesmo aqui é aquela que foi originalmente concebida pelo filósofo Henri Bergson. Em sociedades abertas, segundo ele, o governo é responsável e tolerante, e os mecanismos políticos são transparentes e flexíveis. O Estado não mantém segredos para si mesmo; é uma sociedade não-autoritária, uma sociedade em que todos são respeitados, com o conhecimento de todos. Liberdade política e direitos humanos são os princípios fundamentais que regem a sociedade aberta...e é um princípio bem liberal, mas contra o autoritarismo e o elitismo o liberal e o democrata são sempre grandes avanços. (veja também Sociedade Aberta nos verbetes da Wikipedia em diversas línguas, recomendo em Inglês, Francês e Alemão. Usei aqui parte do texto transcrita do verbete português.)

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